
De repente, surgiu do nada, qual Fénix renascida, uma entidade que suga a Trás-os-Montes 55% da produção eléctrica nacional, sem lhe dar nada em troca... Minto! Com os dentes todos! Afinal, a dita entidade tem 100 mil euros para distribuir pelos 10 concelhos abrangidos pelas futuras hidroeléctricas do Tua e do Sabor, ao abrigo de candidaturas, convenientemente com o prazo de um mês, para projectos solidários. Contas de merceeiro feitas, se cada concelho tiver a capacidade para apresentar um projecto, o meu fica com direito à fantástica verba de 10 mil euros.

Algo semelhante àquilo que a dita entidade deve estar a facturar no tempo em que demorei a escrever 7 ou 8 linhas... Um preço justíssimo para o atentado paisagístico e histórico a que a província transmontana vai ser sujeita. Como transmontano no qual corre (mesmo) sangue transmontano (porque, infelizmente, há os que, após transfusões efectuadas com água do Tejo, dão azo a processos adulterados de hematopoiese da qual saem eritrócitos que renegam a genética) sinto-me enganado, injuriado, ludibriado, e mais uma panóplia de "ados" aliado a outra de "idos" que não podem ser transpostos para a Língua Camoniana, ainda que, transmontanamente falando, sejam perfeitamente aceitáveis, ao abrigo dos "contra e racontra"...

Está bem... Qual é o problema? Só vão submergir uma jóia transmontana, não se trata de nenhuma hidroeléctrica no Tejo que envolva o desaparecimento das heranças manuelinas. Vai-se, apenas um marco de D. Luis I. Gostaria de ver idêntico tratamento a outro dos ícones "luisinos"... Caía o Carmo e a Trindade com um "terramoto da Invicta"... E o que faz o meu povo transmontano? Amanhã andará, feliz e contente, a circular no Energy Bus que a dita entidade que nos suga em duplicado porá à disposição das populações para que utilizem racionalmente a energia que produzem no seu território. Como dizia o medieval poeta francês, François Villon, "a necessidade leva as pessoas ao engano e a fome os lobos a sair do arvoredo"...

Será ignorância? Será ingenuidade? Será resignação? Alguma coisa há-de ser, porque continuamos a "ser comidos de cebolada" e parece que gostamos... Até posso ser ignorante e ingénuo, mas não me resigno... Nem quando olho para a última listagem do ranking das escolas secundárias... A melhor posicionada do distrito de Bragança é a de Miranda do Douro. Segue-se-lhe a de Carrazeda de Ansiães, ficando a de Macedo de Cavaleiros no terceiro lugar do pódio. Relativizando, não parece má a atribuição do bronze. O reverso da medalha surge quando Miranda ocupa, a nível nacional, o lugar 243... Ou quando Macedo se fica pelo lugar 308, sensivelmente a meio da tabela, que inclui 608 escolas... Quererá isto dizer que os estudantes do distrito são menos capazes para as "letras"? Definitivamente, não! Basta-me pensar nas inúmeras personalidades para as ditas dotadas... Excluindo certos universos, como o da política, um campo sempre minado, recordo-me, rapidamente, de Guerra Junqueiro, Trindade Coelho ou Pires Cabral. Sem necessidade de recorrer ao vizinho distrito e ao autor que mais imortalizou o "reino maravilhoso", Miguel Torga...

Por tal, excluo os factores genéticos... Será uma responsabilidade do pessoal docente? Não creio. Tenho gratas recordações do contributo que recebi na minha formação macedense. É um problema sociológico? Talvez... Mas parece-me mais um recuo a um velho tempo, no qual não vivi, em que a manutenção da iliteracia era garantia de submissão... Calem a gente que a gente não falará... Desertifiquem o território que uivos de lobo e bramas de veado podem silenciar-se de formas alternativas... E alcateias e manadas não votam... Eu não falo, grito, ainda que seja numa ridícula forma de desespero. Por paixão, jamais Trás-os-Montes será silenciado. Ainda que o xisto vá caindo...
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