Bem Vindo às Cousas
Puri, se tchigou às COUSAS, beio pur'um magosto ou um bilhó, pur'um azedo ou um butelo, ou pur um cibinho d'izco d'adobo. Se calha, tamém hai puri irbanços, tchítcharos, repolgas, um carólo e ua pinga. As COUSAS num le dão c'o colheroto nim c'ua cajata nim cu'as'tanazes. Num alomba ua lostra nim um biqueiro nas gâmbias. Sêmos um tantinho 'stoubados, dàs bezes 'spritados, tchotchos e lapouços. S'aqui bem num fica sim nos arraiolos ou o meringalho. Nim apanha almorródias nim galiqueira. « - Anda'di, Amigo! Trai ua nabalha, assenta-te no motcho e incerta ó pão. Falemus e bubemus um copo até canearmos e nus pintcharmus pró lado! Nas COUSAS num se fica cum larota, nim sede nim couratcho d'ideias» SEJA BEM-VINDO AO MUNDO DAS COUSAS. COUSAS MACEDENSES E TRASMONTANAS, RECORDAÇÕES, UM PEDAÇO DE UM REINO MARAVILHOSO E UMA AMÁLGAMA DE IDEIAS. CONTAMOS COM AS SUAS :
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Cousas anómalas da interioridade
É já um hábito instalado ter um dos quaisquer “Jornal da Uma” por companhia, enquanto procedo á deglutição do almoço. Já me resignei a assistir a uma hora de notícias versando sobre desgraças e calamidades, qual política editorial de “velhos do Restelo”. Sendo esse desfile noticioso a antítese da forma como vejo o mundo, começo a ser possuído por dúvidas sobre a essência “carpe diem” da minha base de sustentação. Se chove, fico contente. Caso faça sol, fico contente também. Tenho que rever conceitos, porque começo a sentir-me deslocado… Não significa isto que seja um paciente ser vegetativo, que se limita a assistir à passagem de um dia para o outro, como se, ao invés de um ser vivo, fosse apenas um ser existente. Significa, tão só que, não me enquadrando na classificação de omnipresente e omnisciente, nada posso perante certas adversidades. Não desdenharia, contudo, de ser detentor do poder de evitar secas ou cheias… Em relação a essas, sou vencido pela resignação; em relação a outras, não sou vencido pelo cansaço. Essa é uma das causas das “Cousas”… Um pouco na senda da alcunha que ganhei numa instituição de ensino pautada por um extremo conservadorismo, pela luta que empreendi contra a rigidez de conceitos e comportamentos, ainda que, ideologicamente, muito me afaste do médico argentino que trocou um estetoscópio por outras causas e do qual herdei o efémero cognome. Retornando ao “Jornal da Uma”… Nos raros momentos em que sou obsequiado com relatos provenientes de além Marão, sou percorrido por uma onda eléctrica provocada pelo exacerbar do meu orgulho transmontano. E o tempo pára, por breves instantes… Foi o que hoje aconteceu aos ponteiros do meu relógio biológico, na sequência de uma notícia que, não sendo da minha “vila”, nem do meu distrito, tinha proveniência no vizinho vila-realense, mais concretamente numa aldeia situada no concelho de Boticas. Não fosse a audição prévia do que motivou a reportagem e diria que se tratava de uma qualquer aldeia do meu concelho, tal a familiaridade do sotaque da gente e das rugas desenhadas nos seus rostos. Sensação incrementada pela ausência de entrevistados com idade igual ou inferior à minha. Para que conste, já não tenho vinte anos… Nem trinta… É, por isso, sintomático o redesenho da minha cabeleira, onde os primeiros sinais de alvura me vão avisando para o charme dos “entas” (presunçoso…). Mais sintomático ainda é que todos os que facultaram a sua opinião me ganham aos pontos em sinais de charme. E não há, por aquelas bandas, a moda de ir à cabeleireira efectuar umas nuances da cor da neve… A genuinidade transmontana, marcada pelos já referidos sotaque e rugas, estava, de igual forma, vincada no trajar e nos reflexos da exposição da epiderme facial à intempérie dos “nove meses de Inverno e três de inferno”, contrastes à pureza emanada da cobertura capilar. Infelizmente, não são apenas os caracteres antrópicos a transformarem Trás-os-Montes numa região gemelípara. O envelhecimento gradual da população, a ausência de perspectivas, o abandono por parte do Poder Central, o isolamento a que a região esteve votada no decorrer dos séculos, tudo justificado, maioritariamente, por condicionantes geo-climáticas (não sei de que forma justificar o sucesso no país dos cantões), formam um conjunto de sinais (aos quais poderiam ser acrescentados outros de ordem histórica, sociológica, religiosa e, quiçá, genética) que transformam o tecido das freguesias transmontanas numa cada vez maior manta de retalhos. A proliferação de aldeias gémeas, privadas de faixas etárias reprodutivas, perspectiva um futuro de novas Banrezes, Carvas, Chorense, Paixão, Sta. Cruz da Vilariça, Bronceda… E as novas aldeias desertas não terão como motivo para o seu abandono lendas de ataques de formigas… Tê-lo-ão pela cadência com que o tempo dita as suas leis, fazendo aplicar a todos nós o “na natureza nada se perde, tudo se transforma”. Inevitabilidades… Nessa aldeia de Boticas não haverá acto eleitoral para a Junta de Freguesia. A fazer fé na notícia, existe um expediente legal (do qual era desconhecedor) que permite a uma freguesia com um número inferior a 150 votantes fazer a eleição do seu representante através de uma assembleia popular, especialmente se só se apresentar uma lista a sufrágio. Apanágio de tantas outras aldeias do distrito bragançano (e não é só no “anti-democrático” concelho de Macedo). Já vieram dois deputados pelo distrito, Mota Andrade e Adão Silva, a lamentar a ausência de confronto democrático em diversas freguesias. O única visão positiva que retiro daí é que essas freguesias não são bombardeadas pelo desfile de carros politicamente alegóricos, artilhados com instalações sonoras propiciadoras de eventuais otites. À semelhança do sucedido na minha adoptiva freguesia rural-piscatória na qual, se não estou equivocado, há sete ou oito forças políticas a quererem arrebanhar a Junta, mesmo situando-se a dita freguesia no “coiso de Judas“ do concelho... Ainda bem que a campanha termina hoje. Para lá de me exporem, compulsivamente, a sonoridades que arranham o meu canal auditivo, ainda tenho que efectuar, diariamente e mais que uma vez, a limpeza da minha caixa de correio e áreas adjacentes. Porque, quando o jornal de campanha não cabe, o dito fica à mercê da nortada… Regressando ao par de deputados, mais acrescenta: a manter-se esta conjuntura de primazia de listas únicas, deve ponderar-se o redimensionamento das células do poder local. Até que não discordo, mesmo que isso represente o risco de levantamentos populares em freguesias que eu conheço. Aleatoriamente, seleccionado um trio delas, e só fazendo referência às últimas duas Legislativas, é confrangedor verificar que votaram 47 e 52 eleitores na primeira; 52 e 58 na segunda; 61 e 46 na terceira. Com taxas de abstenção a rondarem, em média, os 50%, qual o custo real de manter um edifício de uma Junta de Freguesia, mais os respectivos honorários dos seus responsáveis, para uma população com pouco mais de 100 habitantes? Dá que pensar… Porém, não deveriam pensar esses mesmos senhores deputados que a sinalética que provém das freguesias já tem, em alguma medida, aplicação no distrito que representam (ou deveriam representar)? Mais que a perda de um deputado no distrito, o Plano de Ordenamento do Território, aquando da sua elaboração provisória, colocava Bragança à margem das cidades regionais… Sintomático… Como sintomático é não prestarem atenção à desertificação crescente, pensando em reordenamentos territoriais, quando deveriam apontar as suas baterias para retemperar as condições que são um óbice à permanência de gente. Por enquanto, tal como sucedeu ainda esta semana, vai-se nascendo em ambulâncias a caminho de Bragança. A permanecer esta tendência, suspeito que, quando Trás-os-Montes estiver transformado numa coutada, haverá ambulâncias que não terão, sequer, gente para as conduzir. Nessa altura resolve-se o problema, configurando uma nova divisão territorial… “- Atão, dund’és? - E ou que sei lá! Botarum-m’ó mundo no catancho d’ua imbulância. Só sei q’staba a mêo d’ua strada q’é da freg’sia de Macedo, cuncêlho de Bragança, destrito do Porto…” FICÇÃO???!!!… "- Abonda cá um cibo de presunto! - E ondi'u hai?"
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