Bem Vindo às Cousas

Puri, se tchigou às COUSAS, beio pur'um magosto ou um bilhó, pur'um azedo ou um butelo, ou pur um cibinho d'izco d'adobo. Se calha, tamém hai puri irbanços, tchítcharos, repolgas, um carólo e ua pinga. As COUSAS num le dão c'o colheroto nim c'ua cajata nim cu'as'tanazes. Num alomba ua lostra nim um biqueiro nas gâmbias. Sêmos um tantinho 'stoubados, dàs bezes 'spritados, tchotchos e lapouços. S'aqui bem num fica sim nos arraiolos ou o meringalho. Nim apanha almorródias nim galiqueira. « - Anda'di, Amigo! Trai ua nabalha, assenta-te no motcho e incerta ó pão. Falemus e bubemus um copo até canearmos e nus pintcharmus pró lado! Nas COUSAS num se fica cum larota, nim sede nim couratcho d'ideias» SEJA BEM-VINDO AO MUNDO DAS COUSAS. COUSAS MACEDENSES E TRASMONTANAS, RECORDAÇÕES, UM PEDAÇO DE UM REINO MARAVILHOSO E UMA AMÁLGAMA DE IDEIAS. CONTAMOS COM AS SUAS :







segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A decrepitude de um sonho ferroviário e outras cousas não decrépitas

A minha alma ficou manchada pelas lágrimas que, hoje, não consegui chorar. Que a um homem, de quando em vez, também lhe dá para estas lamechices… A última invasão à “propriedade privada” (?) da Refer tinha-se saldado por um atentado ao inocente pé do meu pirralho, quando os despojos de uma guerra alcoólica de uns energúmenos atravessaram o seu calçado de Verão, alojando-se na sua tenra pele. Ultrapassado o susto e vencida a batalha da coagulação com a preciosa ajuda dos cuidados paternos e da actual matriarca, tinha ficado no ar a possibilidade de nova incursão, munidos de calçado mais resistente e de atenção redobrada à plantação de restos que deveriam estar acomodados no “vidrão”. Por insistência da mais velha da descendência, a aventura de transpor, de novo, o muro delimitador da Estação, ocorreu hoje. Quais “pequenos vagabundos” do séc. XXI, atrevemo-nos a explorar as entranhas expostas do abandono. Curiosamente, à mesma hora em que, há duas décadas, estaria, num qualquer Domingo, a aguardar a chegada das “napolitanas” que me conduziriam ao Tua. Hoje não houve mochila às costas, nem aquisição de bilhete, nem despedida emocionada daquela que viria a ser a mãe dos que hoje me acompanharam… Mas houve outra despedida… À própria estação, com emoção a rodos, e uma desesperada tentativa de não deixar transparecer a dor que me corroía a alma. Enquanto o abandono persistir, não volto a pisar aquele chão que fez parte, durante seis anos, da minha “Odisseia”… Há locais que mereciam melhor sorte que serem entregues à solidão e ao aprisionamento por detrás de umas portas de cuja memória resta apenas a silhueta. Há linhas paralelas consumidas pela vegetação e pela oxidação… Linhas que me conduziram, luzidias, ao inenarrável percurso que querem submergir… Hão-de consegui-lo, mas não apagarão as memórias de um indefectível defensor da manutenção da Linha do Tua… “Podem roubar-me a comida, mas jamais conseguirão roubar-me a fome”… A melhor forma de tratar a dor é a ingestão de um analgésico. Foi nesse sentido que decidi dispersar a atenção, dirigindo-me a terras do “umbigo do mundo”. Sob a ameaça de um céu que alternava os tons de azul com algodões sujos, recolhi o resto do clã e partimos rumo a leste, onde a terra assume tons avermelhados. Rendida a homenagem ao amigo que decidiu partir, no santuário arbóreo que lhe serve de último repouso, uma breve passagem na Mamoa que terá servido para idênticos fins para amigos de antepassados. À medida que a aldeia de Limãos se aproximava, avistavam-se, aqui e acolá, caçadores e os seus respectivos canídeos, justificação para o desfile de viaturas aparentemente abandonadas na berma da estrada. Antes da entrada em Morais, uma breve paragem para apreciar um parque de merendas que, de tão bem arranjado, transmite a sensação de não estarmos à entrada de uma aldeia perdida no tempo, Sobreda. A povoação de Morais surpreende pela relativa grandeza. A última vez que por lá tinha estado foi num tempo em que os princípios de Baden Powell me faziam ser “explorador júnior” no Agrupamento 602. Hoje fomos surpreendidos por uma qualquer festividade, daquelas que fazem parar o trânsito para dar passagem aos mordomos portadores da rosca. Apreciado o ajuntamento, foi hora de retomar a estrada em sentido contrário. Nova passagem no Santo Ambrósio, com a miudagem a insistir para descermos a Banrezes. Não era dia… O céu ameaçador aconselhava prudência. Convencimento conseguido… Uma derivação por estradas interiores, de encontro a Castelãos e a Vilar do Monte, antes da subida à serra e de um breve encontro com velhos amigos de anteriores campanhas eleitorais. E era hora de regressar às origens para mais uma patuscada, desta vez, na companhia do novo afilhado, estrela-mor, por estes tempos, da constelação a sete que já faz de mim um padrinho quase a tempo inteiro. Poderá parecer muito, mas “entchim-me de beijos e de tchi-corações” e não há nada no mundo que pague os sorrisos que me arrancam. E, para lá da impagável amizade, ainda tenho direito a ser presenteado, pelos novos papás babados, com um “lombinho d’adobo” fora de época, que faz as delícias das minhas papilas gustativas. Não há-de esta alma penada gostar tanto de regressar às origens?

1 comentário:

deep disse...

Os edifícios das estações, como as casas dos cantoneiros ou dos guardas florestais, assim como as escolas primárias não deixam de ser património a preservar. É lamentável que quem nos representa não tenha essa preocupação.
Cortou-me o coração ver a estação de Mogadouro e a escola de Montesinho em total estado de abandono, à mercê de alguns vândalos que aproveitam a noite para dar largas aos seus apetites destruidores.

Votos de óptimo fim-de-semana. :)