Bem Vindo às Cousas

Puri, se tchigou às COUSAS, beio pur'um magosto ou um bilhó, pur'um azedo ou um butelo, ou pur um cibinho d'izco d'adobo. Se calha, tamém hai puri irbanços, tchítcharos, repolgas, um carólo e ua pinga. As COUSAS num le dão c'o colheroto nim c'ua cajata nim cu'as'tanazes. Num alomba ua lostra nim um biqueiro nas gâmbias. Sêmos um tantinho 'stoubados, dàs bezes 'spritados, tchotchos e lapouços. S'aqui bem num fica sim nos arraiolos ou o meringalho. Nim apanha almorródias nim galiqueira. « - Anda'di, Amigo! Trai ua nabalha, assenta-te no motcho e incerta ó pão. Falemus e bubemus um copo até canearmos e nus pintcharmus pró lado! Nas COUSAS num se fica cum larota, nim sede nim couratcho d'ideias» SEJA BEM-VINDO AO MUNDO DAS COUSAS. COUSAS MACEDENSES E TRASMONTANAS, RECORDAÇÕES, UM PEDAÇO DE UM REINO MARAVILHOSO E UMA AMÁLGAMA DE IDEIAS. CONTAMOS COM AS SUAS :







terça-feira, 31 de março de 2009

Politiquices e a praia de Adaúfe (?)

Que ligação poderá existir entre uma praia do rio Cávado, situada numa freguesia de Braga, e umas divagações acerca de Macedo de Cavaleiros? Em termos efectivos, pouca ou nenhuma... No entanto, ao efectuar a minha habitual leitura superficial à imprensa regional deparei-me, no Correio do Minho, com uma chamada que fez estremecer (ainda que ligeiramente) o meu orgulho no Azibo. «Adaúfe: praia fluvial entre as melhores na Zona Norte». "E então o 'meu' Azibo?" - questionei-me. Após ter abandonado a leitura na diagonal percebi que a "minha praia de estimação" era, afinal, a rainha das praias fluviais (título este que provém de um recente estudo da DECO). «Melhor do que Adaúfe, só mesmo a Albufeira do Rio Azibo, em Macedo de Cavaleiros — com ‘Muito Bom’ em todas as áreas apreciadas...» "Brinquemus ou quê? Q'isto num stá pra mangações!" Ou estará? Não possuo filiação política, apesar de estar convicto da ideologia com a qual me identifico. Como há muitos anos que ninguém (de forma efectiva) representa a dita em que acredito, estou capaz de, nas próximas eleições, votar no PSP - PARTIDO dos SEM PARTIDO (não confundir com a representante da segurança pública - oficialmente, pelo menos). Persisto na esperança de que algum iluminado (que não serei eu, certamente) tome a iniciativa da criação de semelhante força política. O meu mais profundo receio é que esse eventual líder adopte como lema do partido "Em Roma, sê Romano". Se assim for, não granjeará a minha simpatia, por ausência de originalidade. É que esse lema parece ser extensível aos actuais líderes partidários que fazem parte da mobília política deste país. Macedo de Cavaleiros teve honras de visita da líder (?) da Oposição. Para lá do mediatismo habitual e da curiosidade que me gerou o eventual reconhecimento de algumas caras familiares nas reportagens televisivas, não assisti a mais que um discurso político do "contra", na senda de semelhante feito muito mais à esquerda, e à manifestação diplomática do dito lema "Em Roma, sê Romano". Mas alguém esperaria que, em pleno coração do Nordeste Transmontano, surgisse um político a afirmar-se contra a auto-estrada transmontana? Talvez nas Berlengas isso fosse aceitável e merecedor de aplausos, mas em Trás-os-Montes correria risco semelhante ao da Ministra da Educação na recente visita que fez a Felgueiras... Porque isto de "politiquices" tem que se lhe diga... Não acreditam? Recentemente, num jantar social, um conhecido político da nossa praça, com o intuito de enaltecer as raízes dos presentes, cometeu a gaffe de "cascar" nos transmontanos, deixando entender que os ditos eram muito poucos para serem merecedores de algo que estava, nesse momento, a ser debatido. Como aqui o dito estava presente, sentiu as entranhas a fervilhar, pediu a palavra e retorquiu: "Excelentíssimo Senhor X, não lhe retiro a legitimidade de afirmar que os transmontanos são poucos. Não se esqueça, contudo, que mesmo em reduzido número, estão espalhados por todo o lado. E não se esqueça, também, de não repetir este discurso caso se desloque a essa terra de pouca gente, mas infinitamente boa." Tive direito a um pedido de desculpas e a sair do dito jantar com um sorriso de orgulho transmontano, "d'urêlh'á urêlha"!

domingo, 29 de março de 2009

Sra. do Campo

Há 30 anos era assim. Para lá do carácter religioso e da importância do profano para a comunidade, a Festa da Sra. do Campo era um acontecimento familiar. Cada um dos agregados familiares do clã reunia previamente os componentes para a merenda, alojando-os em canastras que, não me recordo por que meios, haveriam de aparecer depois da missa. Mas antes tinha que se cumprir o ritual da longa procissão, acompanhada ao som da mítica Banda 25 de Março. O Padre Quina seguia na cabeça de uma espécie de serpente humana, que acompanhava, devotamente, as imagens religiosas através da íngreme subida. Quando ainda era um rapaz mais às direitas, carreguei, pelo menos em duas ocasiões, com os andores. A primeira delas, o mais pequenino de todos, o qual, ainda assim, me deixou bem vincada nos ombros a marca do seu peso. No final, isso era assumido como uma "medalha de guerra" para mostrar aos comparsas e discutir qual o que tinha suportado o maior peso. Mas o que interessava mesmo eram as correrias pelo meio do giestal, numa competição entre rapaziada, para verificar quem tinha, no final, apanhado mais canas dos foguetes. Nunca apanhei muitas, porque estava mais preocupado com as trajectórias que as ditas tomavam depois daquela ensurdecedora sequência de "pum...pá...poum". Não fosse alguma acertar-me em cheio na "tola"... Agora a coisa está mais amena e, não vá o diabo tecê-las, os foguetes de cana deram lugar a uns estouros pirotécnicos de base terrestre, mas que provocam uns efeitos mais curiosos que a simples imitação de uma trovoada. De carácter obrigatório era a presença no "encontro". Caso contrário, mesmo que me tivesse desviado de todas as canas, arriscava-me a que um "mosquete" me acertasse em cheio. Era (como ainda é) um momento solene. Mas, há 30 anos atrás, havia algo que me deixava siderado. Ficava estupefacto com a quantidade de notas que penduravam nas fitas do andor da Sra. do Campo. E punha-me a sonhar sobre o que faria eu com aquele dinheiro todo... Com a falta de noção monetária, pensava que poderia comprar o "bazar" todo... Todinho!... Terminada a missa, era hora de dar a volta ao outeiro, prestando a última homenagem à guardiã do povo de Lamas. Com os estômagos a substituírem em ruído os últimos foguetes e a abafarem o som da banda, era hora da reunião do clã. Por tradição, sempre no mesmo local, rezando-se para que não chovesse. Estendiam-se as mantas, espalhavam-se os haveres, cada um procurava ocupar uma posição estratégica para melhor aceder ao "carólo" de pão e ao "cibo de tchitcha" que silenciariam os trovões estomacais. Nesse tempo, sabia tão bem um copo de laranjada ou de gasosa! E sabia ainda melhor a companhia da mãe, do pai, da avó, da tia-avó, dos tios, primos e todo aquele conjunto de gente que só via uma vez por ano, mas que me diziam que eram meus familiares. "Este é o primo de Corujas"... "Esta é a tia de Sezulfe"... "Aqueloutro é de Vilaverdinho"... Depois de reconfortados os estômagos e a alma, era chegado o momento por que ansiava. A recolecção das moeditas para "ir ó bazare". "Atão, já bais ós bilhetes? Toma lá cincroas..." Que me recorde, é a segunda vez na minha vida que não vou à festa... Espero que no próximo ano não seja a terceira... Que possa estar a "mandar abaixo a malga da sopa", depois de encher o bandulho na minha segunda casa em Lamas... "Ó cumpadre, bota cá um copu!" E que esteja a "mamar" o dito copo que já hoje me ofereceram via novas tecnologias... Na companhia do "Bite", do "Pintxe", do(s) "Compadre(s)", da "Calinha", do "Cebola", do "Alfaiate", do "Meco", do "Tchico", do "Tass'queiro" e de todos aqueles com quem andei em desenfreadas correrias atrás das canas dos foguetes... E "à bolta das árbures cum buracos"... "Juguemos ó fito?"...

sábado, 28 de março de 2009

Mais umas cousitas sobre saúde (ou falta dela)

P´á homenagem anterior ser completa, faltavam-me as jóias da coroa. Essas mesmas que me habituei a ver manuseadas pelo meu "velhote" enquanto se dedicava à leitura, a uma tertúlia de amigos ou a uma partida de damas. Ele "já lá está" e a grande maioria dos amigos também. De todos eles, uns mais rijos, outros menos, uns que tiveram uma durabilidade maior, outros cujo prazo de validade terminou mais cedo (entre os quais se inclui o meu próprio "velhote"), não me parece que nenhum tenha finado pelos excessos tabagísticos. Não! Não estou aqui a defender o tabagismo! Aliás, como bom pai (às vezes...), já tive oportunidade de alertar a descendência para os malefícios associados ao tabaco. Mas daí a quererem transformar o tabaco numa heresia, vai uma grande distância. E, afinal de contas, quem é mais passível de excomunhão social? O tabaco, os refrigerantes, a fast-food, a poluição automóvel, os incêndios e abates florestais, as listas de espera nos hospitais ou os hospitais que vamos deixando de ter? Aqueles nos quais esperava, um dia quiçá, ter direito a uns pulmões novinhos em folha, depois de tantos anos no meu papel de contribuinte, directo e indirecto, para a (in)Segurança Social que temos. O que vale é que o tabaco é o bode expiatório para todos os males de que enfermamos. Só não percebo é porque não proíbem, em definitivo, a sua venda, tal o papel demoníaco que parece representar... Como fumador, agradeceria de duas formas. Porque só se sente necessidade daquilo que existe e porque, um ano transcorrido, teria disponibilidades extra para gozar umas férias merecidas... Fora de aeroportos, filas de trânsito e centros comerciais...

Cousando sobre a saúde

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. E já não sei em que acredite, se em mentiras se em verdades... Em boa verdade (ou mentira), sinto-me incapaz de percepcionar onde terminam umas e começam as outras. Afinal, dentro da impunidade que (alguns) vão gozando no interior da podridão em que este país vai navegando, "o que hoje é verdade, amanhã é mentira" (ou vice-versa). Vou-me resignando a viver neste país do "nim". País cujos habitantes são o fruto da carga genética legada pela miscelânea de povos que por cá passou. Parece que não gostaram muito disto, porque acabaram todos por regressar às origens... Ainda que esse retorno tenha sido consequência de traulitada e contra-traulitada... Certo, certo, é que hoje somos um fidalgo arruinado com a mania das grandezas. Pensa-se em TGV's e abandonam-se as populações que precisam (sim, precisam!) da linha estreita para se deslocarem aos seus trabalhos, às suas consultas, às suas aulas ou à "feirita", encerrando-se, por tempo indeterminado as Linhas do Corgo e do Tâmega. Igual sorte já tiveram as do Sabor e, parcialmente, a do Tua. Viva o abandono! E viva o ostracismo, também! Não só o que respeita à população transmontana, pelo diminuto poder que representam os seus votos, mas também aquele a que foram votados os fumadores. Sim, esses mesmos que, tal como eu, contribuem para engordar os cofres do Estado com o imposto indirecto que pagamos. Precisamente, aquele que vai contribuir para se construir uma das maiores fontes de poluição numa cidade ou arredores, um AEROPORTO. Não sou a favor dos poluentes com os quais contribuo enquanto fumador. Longe disso! O que não engulo é a incongruência de se proibir o "fumo" num dos locais que mais contribuem para a desregulação atmosférica. O que não consigo deglutir são todos os que são favoráveis a um ambiente mais puro e não prescindem da sua viatura poluente nas deslocações para o seu local de trabalho. O que me provoca azia são os mentores da perseguição anti-tabágica que proibiram o "fumo" em centros comerciais, mas que estacionam nos respectivos parques subterrâneos onde a atmosfera é constituída, na sua maioria, por monóxido de carbono proveniente do conforto que representam os seus "bólides". E ainda levam os filhinhos a respirar tal pureza antes de uma incursão ao McDonald's. Viva a saúde em duplicado! Que os assassinos são, EXCLUSIVAMENTE, os mentecaptos fumadores! Não será grande motivo de orgulho, mas rendo aqui uma homenagem nostálgica às armas do crime que cometo há alguns anos...

sexta-feira, 27 de março de 2009

Brigadinho, Sô Pinto de Sousa!

Ou, dito de outra forma mais formal: "Muito obrigado, Excelentíssimo Senhor Primeiro-Ministro!"... O Magalhães é bom companheiro, o Magalhães é bom companheiro... Sei que pareço um tchotchinho, é verdade! Mas, se não fosse o Magalhães, estava desligado do mundo!!! Explicando... "No me creo en brujas, pero que las hay, las hay!" O meu portátil, companheiro de tantas lutas, foi vítima acidental de uma queda e ficou mudo e surdo. Passei para o desktop e, qual ataque cardíaco, acabou-se-lhe o pio sem me ter dado a mínima hipótese de lhe administrar 2 aspirinas antes de ligar para o 112 informático. Conclusão? Resta-me uma amostra de computador, perante o qual as extensões dos meus membros superiores se assemelham aos dedos do presumível Ieti. E tenho que assumir o papel de Lobo Mau na história do Capuchinho Vermelho porque os meus olhos parecem mesmo "munta" grandes a olhar para um écran em tamanho Lilliput. Ganhei algo: estou a passar pela experiência de me sentir na pele de um Gulliver! Mas funciona!!! Mesmo que me sinta um ignóbil em novas tecnologias, tal a quantidade de vezes que já pressionei a tecla "Back Space"... Caso contrário, esta última frase teria saído com algo semelhante a: "cAxo vontr'ario, eata grase teria sAídp co, açgo semeçhantr ." Quem mandou aos meus dedos crescerem depois de ter saído da Escola do Toural?

domingo, 22 de março de 2009

Sorefamonostalgia II

A história deste país jamais se afundará, mas vai-se afundando ele mesmo. Já há muitas vítimas do naufrágio deste "Titanic" à beira-mar plantado. Uma delas é a saudosa SOREFAME (e já lá vão uns cinco anos desde que foi "bombardierada"). E porque a trago aqui se, em boa verdade, as suas marcas são poucas ou nulas na mais mítica (para mim, claro está) linha do Tua? Precisamente porque, para chegar às "napolitanas" do comboio do Tua, fazia um longo percurso nas bem portuguesas "sorefames". A começar em S. João do Estoril, na linha de Cascais. Artilhado de mochila às costas, munido do passe social e do "cartão jovem CP", saía pouco após o jantar para dar início a uma maratona ferroviária superior a meio dia. No Cais do Sodré, apinhado de militares que se aprestavam para idêntica maratona em direcção à terrinha, era um "ver se te avias" para conseguir um dos "fogareiros". " - É p'a Sant'Ápolónia, se fachavor!" O Inter Regional (mais conhecido por Comboio-Correio) com destino a Porto-Campanhã saía à meia-noite e vinte. Antes de saber a plataforma da qual partiria, atestava o alforge com umas bifanas ou com umas "sandes de omelete". Invariavelmente, nos primeiros tempos fazia sempre a viagem apoiado nos membros inferiores. A ingenuidade desapareceu quando uns magalas macedenses me ensinaram a arte de conseguir lugar no dito "Correio". Bastava questionar as pessoas certas e as ditas informavam-nos, antecipadamente, onde se encontravam estacionadas as carruagens antes de serem rebocadas em direcção à plataforma. Um dia, descobri que as carruagens de 1ª Classe possuíam compartimentos, dotadas de uns bancos bastante confortáveis nos quais me poderia estender, dormindo até chegar a Campanhã. Como era detentor do "Cartão Jovem CP", até que não ficava muito dispendioso o bilhete até Macedo. Como a experiência já me tinha tornado um especialista nas manhas de viajar com algum conforto, entrava na dita carruagem, seleccionava um compartimento vazio e ocupava três dos seis lugares disponíveis (um com a mochila, outro com um jornal e o seguinte com um casaco). Deambulava pelo corredor ou pela própria estação, estando sempre de olho no "meu" compartimento. Alguém tão manhoso quanto eu haveria de ocupar os restantes três lugares (isso estava estipulado na Constituição da República Ferroviária...). Quando, finalmente, a composição partia, era só ocupar o assento da janela, ler o jornal e substituí-lo no seu lugar pela mochila. Normalmente, passado o "Braço de Prata" e a sequência de "abre e fecha" a porta do compartimento, podia refastelar-me, enquanto devorava, ao bom estilo romano, a primeira bifana, acompanhada de uma "cervejola". Com a última invasão no Entroncamento, era hora de saborear a conquista. Ajeitada uma almofada improvisada, ficava na companhia de Morfeu até à paragem em Gaia. Curiosamente, despertava sempre com o alvoroço das Devesas. Tomava o meu pequeno-almoço, já sentado, aguardando pelo ranger da ponte D. Maria Pia. Como nunca fui um grande adepto das alturas, só suspirava de alívio quando terminava a lenta marcha com que se atravessava a ponte. Mas fazia-o sempre debruçado na janela, procurando abstrair-me da ideia de me transformar em Ícaro, recorrendo ao ansiolítico representado por um cigarro. Depois vinha a barafunda de Campanhã e mais uma "marosca". Apanhava-se o primeiro comboio com destino a S. Bento com o intuito de conseguir um lugar no Regional que haveria de me levar ao Tua. Essa pequena viagem de ida (e depois de volta) era sempre feita de forma clandestina, fugindo, caso fosse necessário, do revisor que andava sempre de olho nos magalas chico-espertos. Como eu não era magala, safei-me sempre... O Regional partia às 07h45 de S. Bento. Marcado o lugar, ainda dava tempo para estender um pouco as pernas, passar um pouco de água pela cara e "colgate" pela dentadura. E para me reabastecer de mantimentos, que ainda faltavam mais de 6 horas até Macedo. A linha do Tua é uma das minhas paixões, mas, justiça seja feita, a homóloga do Douro não lhe fica atrás. A parte inicial do seu percurso nada tem de transcendente, mas a partir do momento em que o rio passa a fazer-nos companhia, atravessa-se uma região de paisagens deslumbrantes. Entre o serpentear ao lado de um rio que já foi selvagem e que foi dominado por mão humana, repunham-se as energias com mais uma bifana, enquanto se colocava a leitura em dia. Depois, chegava finalmente a estação do Tua. Chegava também a azáfama da mudança para a via estreita, para as "napolitanas" e para as histórias que por aqui já fui contando. Mas o que me trouxe aqui foram as "sorefames"... E o que me dói é assistir à hipoteca deste país. A SOREFAME não teve um funeral digno de uma empresa que chegou a fornecer o Metro de Los Angeles, o de Chicago ou o de Lisboa. Acabou como acabam muitas outras instituições deste país. Para mim, jamais acabará. Porque as recordações nunca morrem... E a memória dos homens também não. A viagem continua, mas fica sempre uma marca no sítio por onde se passou...

Sorefamonostalgia

"I confidently predict the collapse of capitalism and the beginning of history. Something will go wrong in the machinery that converts money into money, the banking system will collapse totally, and we will be left having to barter to stay alive."

Margaret Drabble (Escritora Britânica)
Guardian (London, Jan. 2, 1993)
Previsões para o ano de 1993

Para ser honesto, desconhecia a existência da autora desta premonição com 16 anos. Para complementar a minha confissão, nunca me atrevi, sequer, a ler qualquer livro da sua vasta obra. Algures, numa das suas novelas poderá estar a revelação sobre o remédio para esta afamada crise, colheita de 2008... Ou colheita de anos anteriores... Nesses mesmos onde se deu o colapso de ícones do sistema financeiro português, ainda que o mesmo tenha tido a sua génese nas aquisições e contra-aquisições, OPA's e afins, de míticas instituições que a todos (ou à grande maioria) serviram de fiéis depositárias das suas economias. Quem não se lembra do Banco Pinto de Magalhães? Ou do Banco da Agricultura? E dos Borges & Irmão, Fonsecas & Burnay, Totta & Açores ou Pinto & Sotto Mayor? E de um Nacional Ultramarino, Português do Atlântico ou Crédito Predial Português? Podiam funcionar na base de um certo arcaísmo bancário mas, mal ou bem, funcionavam. Valha-nos (?) a Caixa Geral de Depósitos, não só como digno representante dos "dinossauros", mas também como garantia (alguma...) que as espécies de "mamíferos" do género BPN não nos "mamam" as economias todas... Talvez tenha sido este tipo de parasitismo que sugou as entranhas a estandartes como a CUF ou, mais recentemente, a SOREFAME... Da primeira, lembro-me vagamente dos adubos... Da segunda, lembro-me das carruagens que me serviram de pernoita em muitas das minhas longas viagens... Vem aí "Sorefamonostalgia"... "Mai logo"...

A filha do Cabra



"O teatro é ... a mais alta tentativa de conseguir que cada um de nós se envolva na verdade que não existe" Eduardo Prado Coelho

Não é todos os dias que se tem o concelho de Macedo no "mapa" da revista Visão. Nesta rara ocasião, tiveram a visão de verificar que, no interior remoto e esquecido, também existe vida para além da solidão. Apetece-me ir de malas aviadas para Morais. Não o faria pela apetência ou incapacidade para o teatro. Fá-lo-ia, sem qualquer margem para dúvidas, pela capacidade que uma aldeia do meu concelho demonstrou ao criar condições para deixar de alimentar o monstro que nasce do isolamento. Dedicaram-se ao teatro? Poderiam ter-se dedicado a outra coisa qualquer? A dedicação foi à causa nobre de criar laços em substituição da sua ausência. Com o nascimento d'"A filha do Cabra" não veio ao mundo apenas uma peça de teatro. A acompanhá-la, veio a prova de que Morais não se limita a ter nas suas imediações o "umbigo do Mundo". Contrariando um pouco Prado Coelho, talvez seja o próprio umbigo da verdade que existe.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Dia do Pai

Neste dia recebo as melhores prendas do ano! Qual aniversário, qual Natal, qual outra celebração qualquer! Isto de acordar pela manhã e ter dois pirralhos a encherem-nos de beijos é do mais saboroso que há! Para lá desse acumular de "beijoquice" quando ainda mal abrimos os olhos (deve ser o único dia do ano em que não resmungo quando acordo...), é fantástica e indescritível a sensação de apreciar a libertação da sua ansiedade por presentearem o "cota" com os presentinhos que, com toda a dedicação, elaboraram na escola. Este ano tive direito a um jogo de dominó. Caso fosse um filho desnaturado e não me lembrasse do meu próprio "velhote", o dominó far-me-ia lembrar dele. Mais não fosse pelas célebres noites passadas no Café Central a olhar para aquelas peças rectangulares cheias de pintarolas numa das faces. Mas este dia de S. José era marcado por uma das coisas que mais me intrigou durante alguns anos. Por tradição, repetia-se a mesma conversa, nos poucos anos que tive oportunidade de privar com ele. " - Oh Mãe! O Pai não vem almoçar?" "- Não! Já sabes que hoje vai almoçar à serração do Sr. Carlos." "Ah! Já não me lembrava..." Até ao dia em que tive o privilégio de satisfazer a minha curiosidade. E lá me levou a almoçar no meio de tábuas, pranchas, serras e demais utensílios de carpinteiro. E só aí percebi a ligação com o carpinteiro S. José... E que a comida não vinha acompanhada de "serrim"...

domingo, 15 de março de 2009

Os heróis do "Toural"


Para complementar as histórias escolares, só faltava a "cambada" que, na sua grande maioria, me fez companhia no meu percurso, não só na escola do Toural como, à posteriori, nas aventuras do "Ciclo" e da "Escola Técnica". O restante, por ter seguido um caminho distinto, já o fiz na companhia de outros "tchotchos"... Pena, pena, é dois deles já não fazerem parte do mundo dos que podem reviver esses tempos... Para o Pedro e para a Cristina fica um obrigado póstumo pela amizade que me deram, pela que permitiram que eu lhes desse e pela partilha de muitas brincadeiras no recreio...

Cousas, lousas e magalhães

No Paleolítico era assim. Cerca de 20 milénios após (mais coisa, menos coisa, que as datações radiométricas por carbono, urânio ou árgon não são para aqui chamadas...), este rapazola já tinha deixado a arte parietal para se dedicar à arte móvel de escrevinhar em ardósia. Entretanto, as inovações do meu século das luzes (o vigésimo d.C.) foram trazendo cadernos em catadupa, de todas as cores e feitios. Mal me ajeitava com a caneta de tinta permanente do "velhote", acrescida da dificuldade de uma acessório obrigatório, que mais não era que um frasco ao qual chamavam tinteiro. Para obstar à dificuldade, o mais indicado foi recorrer às "Bic" ou, em alternativa, às "Molin". Mas a cereja nostálgica no topo do bolo da escrita será sempre representada pela miríade de acessórios bem portugueses da Viarco. Não me parece que nesse grupo se incluíssem as "aguças", as "borratonas" ou os utensílios para "safar", mas havia tantas "cores", embaladas em caixas de vários feitios! Nessa época de muitos sonhos, fazer desenhos era, tal como parece acontecer nas crianças de hoje, muito mais divertido e menos aborrecido que efectuar as obrigatórias sessões de leitura. Deve ser por isso que somos um povo de artistas... Analfabetos... Porque, analfabeto não é o que não sabe ler; é aquele que, sabendo, não o faz... O expoente máximo da evolução cultural é o fantástico passo de uma vulgar sem erros para um carregado de sinais de analfabetismo...