Bem Vindo às Cousas

Puri, se tchigou às COUSAS, beio pur'um magosto ou um bilhó, pur'um azedo ou um butelo, ou pur um cibinho d'izco d'adobo. Se calha, tamém hai puri irbanços, tchítcharos, repolgas, um carólo e ua pinga. As COUSAS num le dão c'o colheroto nim c'ua cajata nim cu'as'tanazes. Num alomba ua lostra nim um biqueiro nas gâmbias. Sêmos um tantinho 'stoubados, dàs bezes 'spritados, tchotchos e lapouços. S'aqui bem num fica sim nos arraiolos ou o meringalho. Nim apanha almorródias nim galiqueira. « - Anda'di, Amigo! Trai ua nabalha, assenta-te no motcho e incerta ó pão. Falemus e bubemus um copo até canearmos e nus pintcharmus pró lado! Nas COUSAS num se fica cum larota, nim sede nim couratcho d'ideias» SEJA BEM-VINDO AO MUNDO DAS COUSAS. COUSAS MACEDENSES E TRASMONTANAS, RECORDAÇÕES, UM PEDAÇO DE UM REINO MARAVILHOSO E UMA AMÁLGAMA DE IDEIAS. CONTAMOS COM AS SUAS :







sábado, 27 de fevereiro de 2010

Poção mágica

Tudo não passaria de um favor… Um daqueles favores que se fazem às pessoas que nos alimentam a alma a carinho e disponibilidade.
- Não queres ser meu vizinho?...
- Não quero o quê???
Mas, então, como assim?... Vizinho? Mas agora a amizade vai necessitar de andar de mãos dadas com a vizinhança? E, viperina língua a minha, ainda há vizinhos? Essa espécie não está no mesmo catálogo do lince ibérico? Pelos vistos, não… Quer dizer, em termos práticos, de vivência real, está. No mundo em que a gente se esconde por detrás de um monitor, onde as cordas vocais são substituídas pelo monocórdico tom de um teclado e os afectos se manifestam por “dois pontos, parêntesis”, há vizinhos, imensos vizinhos. Solidários, sorridentes, disponíveis… Desconhecidamente desconhecidos… Agradavelmente agradáveis…
Estranhos amigos estranhamente amigáveis… Como dizia, tudo não passaria de um favor… Depois, o contagiante entusiasmo de alguém que leva metade da minha existência fez o resto. Foi um pequeníssimo passo até à adesão a algo que me provocava incontáveis pruridos. As redes sociais… E, particularmente neste caso, um tal jogo de agricultura e pecuária virtuais… A coisa começou com aquele olhar de soslaio, sobrancelhas franzidas, desconfiança à deriva. Prosseguiu com uma postura de petulância, tipo “isto não é para mim”, desprezo a roçar o absoluto. Entretanto, a intriga apossou-se de mim: o que terá algo para deter a capacidade de já ter contagiado 76 milhões de pessoas? Resolvi baixar do meu pedestal e investigar o âmago, entender o umbigo, percepcionar a abrangência. E surpreendi-me… Mais que um jogo, relativamente bem elaborado, utópico porque se colhem morangos 4 horas após a sementeira e convivem pinguins com bananeiras, é um fenómeno sociológico. Que deveria ser passível de uma leitura profunda a uma certa realidade social em que vivemos mergulhados. A dependência do estatuto e dos conceitos materialistas ao mesmo associados conduziu ao isolamento social. Cada um por si e fé em Deus… Como adepto incondicional da pureza das emoções, da amizade, da entreajuda, da solidariedade… - ok… pausa… sei que sou lírico, mas gosto deste lirismo - … espantou-me, e espanta-me, aquilo a que venho assistindo ao abrigo de um simples jogo e de uma rede social. Recebo e envio pedidos de amizade a desconhecidos (simplesmente porque são amigos de amigos de amigos…). É anómalo, porque a amizade não se constrói a pedido, mas é real… Como se a gente vivesse numa incessante sede de contactos. E, pelo que posso apurar, vive! Em pouco tempo, sem saber muito bem como, tenho quase 200 amigos!!! Desses, cerca de 5% são meus Amigos na real vida que levo. Outros tantos, são pessoas que me “desconhecem” e às quais “desconheço” nas minhas incursões macedenses. As restantes, simplesmente foram aparecendo. Contudo, na vida virtual são meus amigos e vizinhos… Pedem-me ajuda, peço-a eu igualmente. E há sorrisos, conversas, comentários… E a insignificância de uns e outros reduz-se, de forma quase mágica, a um valor residual. Os seres com os quais me cruzo por Macedo, carrancudos, isolados, entregues a si próprios, surgem, invariavelmente, dotados de sorrisos nas suas imagens de perfil. Haverá alguma proibição que iniba as pessoas de sorrir pessoalmente? Que raio de medo colectivo este que se apoderou da gente, que a leva a recear expor-se quando incarnam um personagem real! E que, quando fazem de conta que são o “Zé da rede social”, se transfiguram, enviam presentes, sorriem de “dois pontos parêntesis”, são solidários, dizem “olá!”, partilham pontos de vista, geram cumplicidades! E, no que respeito me diz, nada como recorrer ao chicote da auto-flagelação, porque, a bem da verdade, também não fujo propriamente à regra. Outra coisa mais me espanta… Numa época de progressivo abandono das actividades agrícolas e pecuárias, o que conduz toda esta gente (eu incluído) a transformar-se em “agricultores virtuais”? Serão as afinidades pela terra? Serão estas conjugadas com o isolamento? O que conduzirá milhões de pessoas a “criar” galinhas, patos, porcos, coelhos, cavalos e outros animais mais? O que as levará a “lavrar”, “semear” e efectuar a respectiva “colheita”, quando o sector primário está votado ao abandono? O que motiva tanta gente a passar horas, por vezes, a “catar ovos” e “mugir vacas”? E, se um dia, a abandonada província transmontana se transformasse numa “farmville”? Poção mágica…

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O sopro da existência

Em termos meramente práticos, a morte tem supremacia sobre a vida. Na batalha da existência, a segunda acaba sempre por ceder. Resignação absoluta, não há volta a dar... Porém, enquanto nos mantemos em oposição ao sono eterno, vão surgindo figuras que se atravessam na empreitada e dão um pouco de luz à passagem. Infelizmente, as contingências da vida constrangem-nos a relegarmos para o esquecimento algumas delas. E só nos lembramos das suas marcas quando se torna impossível partilhá-las pessoalmente. É o caso da incontornável figura do Padre Neto. Ao ler a notícia do seu desaparecimento, mais que recordar-me da sua inconfundível figura de professor e das histórias a ele associadas, a minha memória foi instantaneamente acometida por uma sensação de injustiça. Não exclusivamente direccionada à figura daquele professor de Português que, do alto da sua sobranceria, nos massacrava com actividades embrionárias das, hoje, extra-curriculares. Foi a minha fonte para os meus parcos conhecimentos de Latim... A sensação de injustiça referida provém, antes, de algum (aparente) esquecimento de todos aqueles que marcaram a minha educação macedense. Há sempre um tempo para tudo, ainda que o mesmo provenha de uma ausência para a eternidade... Seria impossível listar todos os que acrescentaram um pouco àquilo que hoje sou. Dentro desse universo, há quatro pessoas às quais tenho que demonstrar a minha profunda gratidão por tudo o que me deram, enquanto aluno e enquanto pessoa. A primeira delas, a que me acompanhou nos meus primeiros passos, a inestimável Professora Maria Cândida. Segue-se-lhe a pessoa que, pela paixão com que me transmitiu a História, deixou a semente para semelhante sentimento que hoje nutro pela dita, o Prof. Fundo Ferreira. Finalmente, duas pessoas que me ajudaram a ver o mundo com cores distintas das que, habitualmente, um adolescente vê. Muito, muitíssimo obrigado, Prof. Jacinta e Prof. Clara!!! Um agradecimento extensível a todos os que aqui são omissos...

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A ignomínia do asfalto

O horrendo da sinistralidade também pode, por vezes, residir na aleatoriedade do macabro. Os últimos registos no cruzamento de Vale de Nogueira são a infeliz prova disso. Ao ler o relato da ceifa de mais vidas pelo fatídico IP4, a minha memória foi assolada pelos arrepios que me transtornam o espírito sempre que resolvo invadir a unicidade do Azibo. No regresso da invasão, apenas… A aproximação da reentrada no IP4, por muito empenho que coloque no alheamento de um inqualificável cruzamento, tolda-me o discernimento, pela irresponsabilidade de quem o projectou. Porque tenho consciência que, por muitas cautelas que tome, um dia posso ser o bafejado pela fava. Basta uma ligeiríssima distração para me candidatar a fazer parte de uma lista negra na qual não desejo estar incluído. Foi necessário trovejar incessantemente para apelar a Santa Bárbara… A crer no que é veiculado pela imprensa, na próxima época balnear já não será necessário atravessar o Cabo das Tormentas. Tratar-se-á de um remendo, apenas uma forma ilusória de não andar com as calças rotas. Disfarça… Um disfarce que vem na mesma senda daqueles com que o mutismo transmontano vem sendo alimentado. Dão-nos fast-food, comemos, enrugamos a cara e… calamos. Somos olhados como se a gente que se esconde para lá do Marão se tratasse de uma casta menor. Uma casta que não merece mais que um IP4 enferrujado pelo tempo. E promessas sempre adiadas, deste país que, ele sim, não merece a gente brotada no seu recanto nordeste. Uma gente que se entrega ao silêncio, deixando-se embalar pelas cantigas dos bandidos que lhe vão sugando a seiva e o pouco que tem. Prestamos vassalagem a um Estado que nos amputa os membros, castra-nos, retira-nos serviços básicos, deixa-nos entregues aos sortilégios de vias de comunicação mal amanhadas. E engana-nos com presentes embrulhados a veneno… Entretanto, a gente vai envelhecendo… E morrendo… Nem que seja a atravessar o IP4… Foto: Guillaume Pazat / Kameraphoto

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Caprichos do paladar

Quando a prolongada ausência desperta os suspiros da sua letargia, as saudades vociferando, num protesto virulento nascido da ausência... Quando os sentidos perdem o Norte, carregando o peso da longitude que os afasta da textura da terra-mãe... Retira-se, sorrateiramente, aquela compota com sabor a Trás-os-Montes, religiosamente guardada para um momento especial. Desperta-se o pão do Ti Luís do seu sono congelado. E aguarda-se pelo finar dos momentâneos protestos da alma... Não finam os ditos, não se sacia a alma. Recorre-se àquelas azeitonas especiais, treinadas para elevar as papilas gustativas ao éden, socorre-se uma alheira esquecida no desolador frio de um congelador. Salva-se a dita, que nos retribui o esforço com aromas únicos e distintos gostos. Repentinamente, lembramo-nos de visitar um velho amigo, perna que já foi, presunto, chamam-lhe os entendidos. E eis que, do nada, surge a antecipação de gostos pascais. Nada de transcendente, já não faltam os 40 dias... De súbito, ergue-se o gosto pela epopeia. "Não é tarde, nem é cedo! Fazemos um folar?" Reúnem-se as tropas... Ancestrais saberes na retaguarda... As alas, qual guarda-de-honra, farinha, fermento e ovos de um lado; azeite, manteiga e sal do outro... Na vanguarda segue a indómita vontade de seres a quem lhes corre sangue de xisto nas veias... Começa a batalha da tradição. "En garde!" Desfere-se o primeiro ataque, forças centradas no presunto, estocada após estocada, vai cedendo às investidas do gume afiado. Recobram-se forças, rapina-se um dos moribundos pedaços do desmembramento, acalma-se a seca garganta, enquanto se aguarda pelo apoio da retaguarda. Sábias mãos, veteranas de longas batalhas, saber de décadas acumulado. Investem as alas, imbuídas de uma abnegação tal que, em breves instantes, impulsionadas pela valentia da retaguarda, se confundem no campo de batalha em que um alguidar se transformou. São momentos de ansiedade, desfeita a ala dos ovos, confundida a da farinha. Entram as gorduras na liça, não se percebe o que em tempos foram. Pede-se ao repórter para abandonar o campo de batalha, mantém-se o mesmo em serviço nas imediações. Protesta o comandante, protestos em vão, diga-se. Afinal, dever de repórter é transmitir ao povo o que se passou. Imparcialmente! Terminada a peleja, honra aos vencidos, homenagem aos contendores. Enfeita-se o palco das cerimónias com escorregadia gordura, que os convidados não se podem pegar. Aquece-se o salão, não os apoquente o frio. E espera-se... Pacientemente, espera-se. Enquando os sentidos vão sendo atormentados pela invasão de odores a tradição que se vão acumulando no espaço. Não há forno típico, nem o inconfundível perfil aromático da lenha transmontana, mas há o familiar cheiro a folar! Aquele cheiro que me faz voar sobre Bornes, planar sobre o Azibo, desafiar a subida à Senhora do Campo, perder-me num labiríntico resgatar de memórias. E salivo... Qual reflexo pavloviano, salivo, ao mesmo tempo que inalo a atmosfera transmontana em que a cozinha se transformou. A angústia dos sentidos acalma-se, finalmente, com aquela única visão de uma obra de arte ligeiramente tostada. Como que a querer partilhar desta orgia de aromas e sabores, a Natureza decide aparecer no festim, presenteando os sentidos com outras cores...

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

O dia da Carne Vai

É um dia como outro qualquer... O céu assumiu a apatia do nem chove nem deixa chover (malandrices, apesar do espírito carnavalesco, não são para aqui chamadas)... Dia amorfo este, sem chama, sem o colorido de outros tempos. É por estas alturas que a omissão da fanfarronice me arrefece o espírito. Socorro-me das memórias, e de imagens surripiadas, com a devida autorização do "excelente fotógrafo". Poderia ter descido uns poucos de quilómetros. Mas não há Caretos e "Madamas"... E não há Podence, nem Lamas, nem Macedo, sequer. E não há frio cortante, por muito gélido que esteja o ar marítimo. Faça-se um recuo no tempo... A um tempo em que o Carnaval ainda era Entrudo. Os já por aqui mencionados "peidinhos engarrafados" faziam as delícias dos empertigados narizes. Vem-me à memória o velhinho "Ciclo" onde, numa das suas espartanas salas, um rapazola, hoje verdadeiro senhor macedense, resolveu que haveria de boicotar uma aula de Inglês. O nauseabundo aroma que premiou a atmosfera deixou a professora indiferente, por orgulho, ou por narinas entupidas. Cumprida a ordem de fecho das minúsculas janelas, os meus sensores olfactivos ainda se arrepiam com aqueles 50 minutos de degredo. E a minha memória visual regista aquela imponente figura que, ironicamente, ia repetindo: "What a pleasant smell! Don't you like it?"... A solidariedade fez com que ninguém o tivesse acusado... Cousas de outros tempos... Era um tempo em que os "stourotes" e os "rasca-paredes" mais não eram que uma inofensiva brincadeira que hoje transformaram em algo semelhante a um qualquer campo minado do Afeganistão. Tempo em que o Jardim era transformado no culminar de preparativos de um arsenal único representado pelas "bombinhas de Carnaval". Que eu saiba, nunca ninguém se "friu". Nem quando duas pessoas que eu bem conheço resolveram abafar o som da sequência de "bombinhas" com uma craterazinha aberta em pleno Jardim com recurso a dinamite... Não morreu ninguém, não se registaram feridos e não houve necessidade de chamar o helicóptero do INEM... Já se sabia que o dito das hélices não passava de uma brincadeira de Carnaval... Havia as "caretas" vendidas na Tabacaria, na Livraria, no "Snhô'Iduardo" ou no "Snhô'rmando". De um qualquer polímero que tresandava a plástico e que obrigava a destapar o anonimato de quando em vez. Os "disfraces" eram arrancados de esquecidos baús onde repousavam velhas lendas, mistura de rendilhados ocultados pelo tempo, trapos ultrapassados, "tchanatos" com histórias para contar. No final, ganhava o mais garrido e o mais esteriotipado. E dava a "risa" a todos... Especialmente quando não havia susceptibilidades feridas por ficar "imbuligado" com um cocktail onde entravam farinha, farelos, cinza e água. Parecia que a "sostrice" se assemelhava a medalhas de guerra. Quanto mais "côtras" houvesse para limpar ao final do dia, mais intensa tinha sido a jornada. E havia o terror dos Caretos, nada de etnográfico, nada de manutenção de tradições. Era o terror puro, em versão ligeiramente mais pacífica que uma guerra. Mas havia uma batalha de chocalhos que aterrorizava as raparigas que se refugiavam no primeiro esconderijo que encontrassem. E houve histórias de violência. Como aquela em que alguém despejou água a ferver em dois ousados que subiam pelas paredes de xisto... O que eu gostava era do pânico por que eram tomadas as mulheres. "Fuge, fuge, que já'i bãim!!!"... O fascínio por aqueles seres diabólicos que vinham em desenfreada correria em busca de vítimas superava qualquer medo. Ficava atónito, assistindo ao alvoroço da gente, enquanto aquelas figuras pintalgadas a lã colorida desciam a partir da eira, onde terminava o caminho vindo de Podence. Os chocalhos anunciavam o apocalipse! Um qualquer fim do mundo que eu não entendia muito bem. Tal como não entendia porque o mulherio se agarrava, em suplício, aos putos que circulavam pelas imediações do Cruzeiro. Ou porque, em última instância, se enclausuravam, horas a fio, dentro de perímetro marcado pelo adro. Respeitinho pela infância e pelo sagrado... No final, zarpavam os demónios de volta a Podence e contavam-se macabras histórias de indefesas donzelas que "ium ficar thchêinhas de maçaduras"... Haveriam de ter que dar o chá ao bafejado pela sorte dos casamentos anunciados a partir dum mega-funil, lá para os lados do cemitério... Com sorte, poderiam ter como retribuição uma "cacada", elaborada a partir de telhas velhas, do que se encontrasse, acompanhadas dos meus tão adorados "bulharacos"... Era Entrudo...

Cousas míticas

Há cousas cujo início é movido por uma qualquer paixão inexplicável. Explicável, talvez, no âmago da intimidade, onde moinhos são movidos a luz solar e células fotovoltaicas são alimentadas a vento. Contrariedades do ser ou ser contrário... As Cousas nasceram da sede de um objectivo muito pessoal, não transmissível publicamente (daí o anonimato do Cavaleiro Andante). Deveriam ter ficado na privacidade de dois seres que carregam a minha carga genética, como memória futura. Em pouco menos de dois anos transfiguraram-se e operaram uma reviravolta na minha forma de olhar um diário de bordo. As Cousas deixaram de ser um universo privado, onde, afinal, o mundo entra, e bem, sem pedir licença. Aconteceu o que desejado não era e o que agradecido hoje é. Caso em Abril de 2008 um qualquer mago previsse que, em Fevereiro de 2010, as Cousas teriam ultrapassado a barreira dos 20000 visitantes, dir-lhe-ia para ingerir menos alucinógenos... No presente, sinto-me lisonjeado pelo interesse dos que as visitam, macedenses, transmontanos, gente do mundo. Como tal, cumpre-me agradecer a todos os que têm dado vida às Cousas. Confesso que persisto em interrogar-me como tal foi possível. Não passo de um anónimo ser brotado de um mar de pedras, carrego o xisto nos genes e, quiçá, tenha sido a paixão que fez nascer as Cousas que impeliu as mesmas a ultrapassarem o restrito universo de quem tem conhecimento do mentor da sua existência. Fico grato, a sério que fico grato. Há cousas que nos fazem sentir que vale a pena ser macedense e, por inerência, transmontano. E há sempre um qualquer "Villar de Masaedo" ou "Tralosmontes" que detêm a capacidade de fazer mover um teclado... Obrigado!!!

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Intrudo intrado

Stou mim triste!... Ásti'ano num bou ber os carêtoze. Peis ó que se m'aparece, bierum eis a ber-m'a mim... Ou cousa q'sapareça. Bô, tamém c'o frio que fai, quim quer galderice? As que se botum mêas couratchas im cima dos atrelados é milhor que se cubrum c'ua samarra, c'os homes do tempo dizim que bem puri ua nubada. Num m'spanta, c'até aqui fai um fiazco, que já tibu q'ir pur uns toros pra pôr de strafogueiro, que num há alminha c'aguente. Ó q'm'ássim, inda bem q'inda há uns tchabascos que num s'importum de fazer o bailo. Bá, a berdade é que s'ou stibesse no mêo deis, num m'ingaranhaba. Um copetcho prá'qui, um tantinho de côdea pr'áli, cum cibeco de pita assada ou doutra cousa qualquera, amanhaba-se bem a cousa. Ó depeis era só pintchar prá'zquerda ou prá dreita, c'uas pintcha-carneiras pur'u mêo, acmudaba-se bem o intrudo. À neitinha inda nos astrebíamos a fazê uas cacadas, mas tínhamos q'nos amarrar, pra num nos berim. Mas, cmu'ou dezia, stou mim triste... Ma num é só pur num ber as madamas e os carêtoze! C'aqui tamém hai uas que sa põim mêas couratchas... Pra dezer a berdade, berdadinha, inté s'm'aparece q'stou mêo imbutchinado. E puruquê? Tinha terminado d'ir ber o entrudo à nha terra e num fui. Num s'amanhou a cousa e já num bou botar abaixo o butélo e as casulas secas. Mas já tibu a proba das alheiras, que mim bem me soube o cornitcho e o carólo de trigo do Ti Luís. Ma num é mesma cousa... Tânho cá os mous, mas é cmu se fôsse um caldo desinsaibido, c'o ar num é nada q's'apareça e num tânho carambelo pra'sbarar. Q'sa cosa, hei-d'adbertir-me na mesma! Num há butélo, hadim haber outras cousas mim sabrosas. Q'intrudo é und'um home quer!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

É mal, ninguém leva a Carnaval

Apetece-me trocar as voltas ao mundo, empurrar o Equador para os Pólos, inverter a rotação da Terra, deixar de vez o heliocentrismo e colocar o Sol... Ops!... Esperem lá... Sol? Escrevi "Sol"??? Rotação? Rotação, rotativas... Hummm... Tenho uma leve, levíssima, aliás, impressão que em menos de cinco minutos, qual teoria da conspiração, tenho à porta das Cousas aquela coisa que me faz lembrar a Lotaria, só por causa do cautelar... Como cautelas e caldos de galinha blá, blá, blá, blá, blá, blá, vou fazer uma pequena pausa para ir lá em baixo pedir ao segurança que se disfarce de jornalista. Afinal, estamos mal e ninguém leva a Carnaval... De regresso desta pequena metamorfose democrática, não me vou disfarçar de historiador e desatar para aqui a narrar a saga do aio de Afonso Henriques, nem a probabilidade de um qualquer presumível descendente Moniz... Também não me dedicarei a tratar o primeiro rei por Ibn Errik, ou uma qualquer outra forma de tratamento Moura, seja ela na versão sarracena ou numa mais moderna provável portadora da carga genética de Gueda, o Velho, mítico personagem do séc. XI. Caso o fizesse, seria enCrespar em demasia as águas ou, quem sabe, um desalmado vento que tomasse de assalto uma folha de jornal, saísse o dito para as bancas diariamente ou tivesse o mesmo honras de dia precedente do Sábado... Afinal, é Carnaval... Andará por aí algum "Facanito" à solta, de escuta em punho? É melhor precaver-me, disfarçando-me de Careto... Imporei respeito ao pretendente e os chocalhos abafarão a conversa... E ganharei na preservação das tradições. Umas tais que, não nos "pônhamus guitchos", serão carcomidas pela castração a que vamos sendo votados, ainda que, miseravelmente, votemos, e os nossos miseráveis votos nos "botem" na miséria... Um voto transmontano é um voto no desprezo... E, dizem os antigos, quem não se sente, não é filho de boa gente. Não terei a presunção de dizer que sou filho de boa gente, ainda que o seja, mas deixo espaço aberto para a discordância. Mas sinto-me! E aí, não há discórdia que pegue. E cada vez mais sinto que as migalhas que, subservientemente, acolhemos ao abrigo de um "samaritanismo" que nos compele a regurgitá-las de seguida, mais não são que evidentes tentativas que vão provando a nossa ineficácia como povo distinto. Por mencionar migalhas, sabe-se lá porque via, lembrei-me do PIDDAC. Como estamos em época carnavalesca, queria disfarçá-lo com qualquer coisa que rimasse. Um autarca transmontano antecipou-se, estranhamente afirmando que não estava interessado nem no PIDDAC nem no Mandrake. Como me retirou a potencial veia poética, sinto-me constrangido a buscar alternativas no aceitável espírito folião. Retomando a normalidade, é Carnaval, ninguém leva a mal... Lembrei-me dos "peidinhos engarrafados" da minha irrequieta juventude. Lembrei-me, ainda, de um termo que ficou mediaticamente famoso, a propósito de felinos: fedorento. Mas o que tem isto a ver com as migalhas do PIDDAC? Ah! Procurava uma rima e tinha pensado numa utilizada por antecipação... Como não sou autarca, como está este país mergulhado num retrocesso a lápis e carimbos, e como é mesmo Carnaval... Como já não disponho de "peidinhos engarrafados" e à disposição não tenho rima que me valha... Isto não é um PIDDAC, é um "TRAQUE"! Fedorento, mal cheiroso, bafiento, execrável... Um "traque" que merecemos, por tudo aquilo que não fazemos...

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Sussurros do Além

Há gestos inimitáveis, pedaços inexplicáveis gerados pela vontade de olhar uma terra com a distinção que a mesma merece. Por vezes, o eco das "Cousas" tem o sabor da utopia, a magia do infinito. Reconforta... O mail das "Cousas" foi recheado a surpresa. Uma inultrapassável surpresa, direi eu... Se o herói macedense não está vivo, algures num qualquer mítico universo, as suas perseverança e coragem substituíram a maça por um teclado... Não há Sandoval, há apenas outras coisas mais... Passo a transcrevê-las, com a devida vénia ao Martim...

«Caro Cavaleiro Andante.

Quer acredite ou não, a tecnologia celestial do século XIV dá-me para ir acompanhando os seus escritos e fico sempre emocionado quando os leio, só espero, como aquele que de vez em quando passa por aqui, um tal D. Quixote, que as suas palavras não sejam levadas, como as dele, pelos ventos que fazem mover os moinhos. Não no que diz respeito à minha pessoa, mas pelo que temos em comum, o gosto pelo torrão de terra que nos viu parir. Neste meu tempo ainda não existia a aerovip, nem tão pouco automóvel, ou a rede expresso e creia-me que não foi fácil andar, trotando ou galopando, fazendo intermináveis jornadas para levar o nome dos “Macedo” ao centro das emoções, ao centro das decisões, ao centro do mundo. Ir do umbigo ao coração, a distância era enorme e não somente a distância de um palmo. Mas, contrariamente ao que se possa pensar, no meu tempo viajava-se muito, explicarei mais tarde.

Estamos de acordo que, Macedo dos meus Cavaleiros, deveria, há muito, constar da história deste reino/república que se chama, há mais de 800 anos, Portugal e não por mim. Ainda há dias encontrei-me com o Vasco Pires, como deve saber, um da estripe dos Chacins, bisneto do Nuno Martins, o rapaz que acompanhava o conde estabre. Estivemos a recordar histórias do bisavô, homem Macedense de grande estatuto e de grande merecimento a quem lhe deveis maior reconhecimento.

Quanto a mim e aquilo que foram os meus feitos, mais não fui que fiel a quem sempre me tratou bem e em quem sempre confiei, o meu Rei e Senhor a quem justamente servi. Aquilo que se passou no campo de São Jorge, foi somente, como diria alguém do seu tempo, “ o homem certo no local certo e no momento certo”, mas aquele Sandoval estava mesmo a pedi-las. O meu Rei lá me encheu de terras e mercês, mas algumas foram, quase presentes envenenados, como aquela do Outeiro que me obrigava amiúde a guerrear com os nossos arqui-inimigos castelhanos, mas vá lá, as fazendas compensavam. Ainda não havia a mania das condecorações, recebia-se em géneros, o que era bem mais confortável.

Após a batalha real, aquilo a que vocês modernamente chamam Nação, quase que não existia, mas o seu resultado final (há quem diga que tive alguma coisa a ver com isso) serviu para nos galvanizar, para nos reorganizarmos como reino e assim partirmos para o maior e mais glorioso feito que uma nação poderia almejar – a descoberta geográfica do mundo onde hoje viveis – essa galvanização que nos tempos contemporâneos (a psicologia) lhe chamais auto-estima, abrangeu toda a colectividade (apesar de sermos poucos e com grandes carências, tempos de muita fome e maleitas), estava no seu máximo, nunca teríamos conseguido realizar tais feitos se não estivéssemos imbuídos nesse estado de espírito.

Como eu venerei todos os meus antepassados zelas, os tais que começaram a domar este torrão macedense, tendo sido por eles que tive a vida sacrificada que tive, também não vos ficaria mal lembrarem-se um pouco de todos aqueles que vos antecederam e vos transmitiram os genes, dos quais muito se podem orgulhar – olhem que vos faria bem à auto-estima.

Martim Gonçalves de Macedo»

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Estórias da História

Não nego a minha apetência para me arrepiar com a magnitude do pulsar da minha terra, ainda que as contingências da vida me tenham transportado para longe do epicentro. Não obstante a distância que subtrai intensidade às ondas sísmicas, sou detentor de um sismógrafo emocional que, por via do inexplicável que Macedo me gera, detecta os mais ínfimos sinais de abalo. Talvez por isso sinta a "bota" com tanta emoção. E talvez por isso sinta o complexo neuronal em ebulição sempre que o nome da minha terra vem à baila. Este é um orgulho que não escondo... Presunçosamente, vou passeando Macedo e, por inerência, Trás-os-Montes, espalhando pelos cantos a magia de uma terra que não se explica. Sente-se, apenas... Naturalmente, o Azibo alcandorou-se a ex-libris macedense. Naturalmente, gosto de lhe percorrer as entranhas, invadindo a sua privacidade, sentindo-lhe o respirar. Mas também gosto de sentir a pele percorrida pelo vento de Bornes, olhar o avermelhado solo do "umbigo do mundo", invadir as aldeias perdidas no tempo para os lados da Nogueira, perder-me por ancestrais caminhos das "minhas" Lamas e Nogueirinha. Entre outras coisas mais que o desfilar do calendário me vai impelindo a trazer às Cousas. Ultimamente tenho descoberto o "the dark side of the moon" (aproveito para prestar homenagem às sonoridades que deixei transformarem-se em culto musical). Paradoxalmente, um "lado escuro" que iluminou e incrementou o brilho do meu orgulho macedense. A Associação Terras Quentes poderia não passar de uma instituição mais, uma das muitas que, inúmeras vezes, vão surgindo ao sabor de escatológicos interesses que não é função das Cousas escalpelizar. Contrariando a minha inicial sensibilidade de desconfiança, a ATQ, no quase último decénio, encarregou-se de dissipar a lendária neblina que envolvia dois pretensos cavaleiros, mais as suas maças. Desenterrou vestígios de um riquíssimo passado macedense, tesouros ainda não completamente abertos. Trouxe à luz do dia pedaços ocultos pela voragem do tempo e esquecidos no imaginário popular. Ressuscitou obras devoradas pela incúria humana e deu vida a artesanais marcas gravadas em rochas. Hoje, encho-me de orgulho pela bibliografia que vai sendo recheada por artigos sobre a Terronha de Pinhovelo. Ou pela que vai tendo como ídolo a Fraga dos Corvos de Vilar do Monte e a sua representatividade na 1ª Idade do Bronze Ibérica. E, como anteriormente referi, há tesouros ainda por desvendar. Xaires será um deles, seguramente. A Necrópole do Sobreirinho será outro, um daqueles locais onde abunda um misticismo ímpar, guardião de segredos únicos. O futuro da história da "bota" macedense está ao virar da esquina, espelhado, desde já, pela Sala-Museu de Arqueologia e pelo Museu de Arte Sacra. A última Feira da Caça e Turismo revelou uma nova faceta desse futuro, visível na exposição do projecto para a obra com que Macedo será dotado e que, não duvido, encherá os Macedenses de orgulho. Será o culminar de um processo de restituição da glória a um esquecido herói macedense que é, afinal, herói nacional. Poderá parecer incongruente, mas Macedo é um pedaço de Aljubarrota. A aldeia de "Sam Pedro de Maçaedo" do séc. XIII deu ao mundo o braço que, em pleno séc. XIV, permitiu que os manuais de História contenham, hoje, a Dinastia de Avis. E o Mestre ficou-lhe grato, extremamente grato... A mesma gratidão devo eu, como filho macedense, à boa hora em que a Câmara Municipal resolveu estabelecer um protocolo com a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, corporizado na Associação Terras Quentes. Poderá soar a irrisório, mas hoje conheço o âmago da existência da minha "vila" e do meu concelho muito à custa do labor da ATQ, do seu trabalho, das suas publicações e do seu site institucional. Mais grato ficarei, futuramente, quando vir renascer, de cara lavada, um dos locais que marcou de sobremaneira a minha aprendizagem. Ansioso estou por ver Macedo no mapa da História de Portugal... Muito à custa de um heróico acto de um tal de Martim Gonçalves de Macedo...

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Voos do tempo

«Nunca serei velho; a velhice terá sempre mais 15 anos que eu»... E eu terei sempre mais uns quantos que o meu "Campeão". E nunca seremos velhos, os dois. Porque desde há 11 anos que aprendemos a rebolar juntos, a gritar em uníssono pelos golos da nossa equipa, a partilhar as aventuras de escola, mesmo que as minhas já se encontrem a alguma distância. E nunca se esquece a melhor forma de atirar uma pedra, de usar uma fisga, de dar uns pontapés na bola... Mesmo que o peso dos anos já tenha transfigurado a arte dos braços ou das pernas e saiam, por vezes, movimentos desajeitados. A recompensa do brilho de uns olhos azuis é bastante, num sorriso único de alguém sempre disposto a aprender mais uns truques com o "Daddy". E o "Daddy" também aprende, ou reaprende. A ser criança, a sonhar, a sofrer mutações na seriedade de um adulto. Há amizades assim... Há coisas valiosas que o dinheiro não pode comprar... Há tesouros assim... Eu tenho dois, corre-lhes Macedo nas veias, só para contrariar o que os papéis assinalam... E um deles cumpre hoje mais um voo do tempo...

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Cabos da Boa Esperança

«”A grande conclusão é que o Turismo é a grande esperança para o Nordeste Transmontano, o único sector em que os indicadores são positivos.” - Conclusões do seminário da Caça e Turismo, que decorreu em Macedo de Cavaleiros.» (Excerto de uma notícia da Rádio Brigantia)
No que me toca, enquanto Transmontano Nordestino, o indicador positivo é este mesmo: constatar que, publicamente, alguém responsável tocou na mais que provável galinha dos ovos de ouro para a não transformação de Trás-os-Montes, e mais especificamente no seu Nordeste, na coutada que já por aqui venho, insistentemente, referindo. É indesmentível que o deserto a que se referia um anterior ministro não se restringe à extensão que fica para além do Tejo… Nos meus áureos anos (se é que algum dia os tive) de bom rapaz, os meus amigos alentejanos diziam-me que éramos primos. O que nos distinguia é que eles tinham enviado os calhaus todos para o interior norte… Eu ria-me, dizendo que Trás-os-Montes e a Região Norte eram a autêntica paisagem. O resto eram conquistas… Mas tinham razão na consanguinidade. Mas por distintos motivos, revelados duas décadas após: o litoral é Portugal e o resto é, cada vez mais, paisagem. Pois aproveitemos a paisagem!!! E, “de caminho”, aproveitemos, também, uns “troquitos” de Portugal para o seu aproveitamento… Deixemo-nos de auto-estradas! Recentemente, um amigo dizia-me, a propósito dos meus incessantes protestos, que o asfalto era um pau de dois bicos. Tinha razão! De facto, se a auto-estrada coloca Trás-os-Montes mais perto, é incontestável que também facilita uma mais rápida fuga dos transmontanos que ainda restam… Deixemo-nos, de igual forma, de estéreis discussões acerca de Zonas Industriais! Mas nós temos indústria? E, caso esteja equivocado, confesso que é deprimente passear pelas ZI’s de cada uma das sedes de concelho do distrito bragançano… O que temos, então? Comércio, muito comércio, num conceito de comércio que não gera riqueza (a não ser para poucos)… Serviços, muitos serviços (cada vez menos, é certo, exceptuando o incremento de agências bancárias)… Agricultura, pouca agricultura, “pouq’tchinha, munto pouq’tchinha”… Somos uns depauperados, economicamente falando. Os indicadores económicos colocam-nos na cauda da cauda da cauda europeia. Isso, enquanto transmontano, é dor que suporto. O que é insuportável é a resignação. Entregámo-nos a um mutismo de reflexos pavlovianos, reagindo sempre que nos acenam com umas migalhas. Basta pensar na hipocrisia da EDP Solidária… Para os crentes, deixo uma sugestão: recheiem-me a minha conta bancária mensalmente, que eu não me importo de ser solidário… Adiante… Olhando para a mais meridional região de Portugal Continental: o Algarve. Quantos anos esperou por uma ligação rodoviária condigna? Imensos, imensos… Mas nunca deixou de ser Algarve. Tem indústria? Não, exceptuando umas conserveiras, alguma extracção de sal e a transformação de figos secos e amêndoa. Quer dizer… Tem indústria, se é que se lhe pode chamar indústria: a do turismo.
« - Olha-me para este ingénuo! A querer comparar o Algarve, a sua meteorologia e as suas praias com o interior transmontano»…
A verdade é que este ingénuo tem consciência que não temos figos secos (ou teremos poucos), mas temos a Batata de Trás-os-Montes, “tchouriços” e outras coisas mais. Não temos Vilamoura, mas temos o Azibo. Não temos o Corridinho, mas temos Pauliteiros e Caretos. E temos serras, montes e vales, rios e ribeiros, lobos e veados. E, não tendo o Atlântico, mergulhamos na intensidade do “Mar de Pedras” de Torga. E somos uma gente, da qual presunçosamente faço parte, única, distinta, talhada pelas rugas do tempo, enrijecida pelas agruras das geadas e afável pelo calor dos três de inferno. Seremos um pedaço esquecido, mas não devemos, jamais, esquermo-nos de nós próprios. Mas esquecemos, fazendo de conta que não existimos. A verdade é que existimos… Tratemos da nossa existência. Olhando com olhos de ver para a esperança do Turismo. Da última Feira vieram sinais de recuperação do que moribundo parece estar. A possibilidade de aproveitar o herói macedense para colocar o seu Senhorio no mapa da História de Portugal é um sinal de possibilidade de passagem do Cabo das Tormentas. Já vai longo o desabafo… Noutro dia, convidarei Martim Gonçalves de Macedo a tomar um prolongado café nas Cousas… Afinal, Aljubarrota, a Batalha, vivem de quê?...