Bem Vindo às Cousas

Puri, se tchigou às COUSAS, beio pur'um magosto ou um bilhó, pur'um azedo ou um butelo, ou pur um cibinho d'izco d'adobo. Se calha, tamém hai puri irbanços, tchítcharos, repolgas, um carólo e ua pinga. As COUSAS num le dão c'o colheroto nim c'ua cajata nim cu'as'tanazes. Num alomba ua lostra nim um biqueiro nas gâmbias. Sêmos um tantinho 'stoubados, dàs bezes 'spritados, tchotchos e lapouços. S'aqui bem num fica sim nos arraiolos ou o meringalho. Nim apanha almorródias nim galiqueira. « - Anda'di, Amigo! Trai ua nabalha, assenta-te no motcho e incerta ó pão. Falemus e bubemus um copo até canearmos e nus pintcharmus pró lado! Nas COUSAS num se fica cum larota, nim sede nim couratcho d'ideias» SEJA BEM-VINDO AO MUNDO DAS COUSAS. COUSAS MACEDENSES E TRASMONTANAS, RECORDAÇÕES, UM PEDAÇO DE UM REINO MARAVILHOSO E UMA AMÁLGAMA DE IDEIAS. CONTAMOS COM AS SUAS :







sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Contra-corrente

Seguisse a pança atulhada em rabanadas o normal processo digestivo e estariam as Cousas a regurgitar votos de próspero ano novo, pleno de felicidade, saúde e quejandos. Subitamente, o enternecedor crepitar da lenha que vai amansando as agruras da geada exterior relembra ao "Cousador" que ainda decorrerá mais um movimento de rotação, mesmo que o cu nada tenha a ver com as calças... Afinal, só amanhã termina o ano do "roubar, scut e tolhe"... Dadas as circunstâncias, não me apetece enveredar pela retrospectividade. Mais não seja, rima a coisa com idade e a cabeleira tingida aqui e acolá por alvos sinais faz questão de relembrar que a trintena do milénio já lá vai. Dê-se eufemística preferência à visão da alvura como apelo a uma subjectiva visão de charme... Adiante, que se interrompeu o dislate com precoces acordes de Cantares das Janeiras, grupo de venturosos resistentes à descida do mercúrio.
O aperitivo suplantou o tempero do voraz apetite de quem se aprestava para deglutir um azedo acompanhado por batatas e grelos. Agregada a fome com a vontade de comer, fustigada a presença com ramos de essência a terra, arrepiou-se a alma, certo é, que isto de revivescências tem que se lhe diga, e os lacrimais quase soltaram um grito húmido que se ficou pela lubrificação das pálpebras. De repente, esqueci-me da barragem do Tua, do helicóptero do INEM, da fantasmagórica imagem do "pouca-terra", das estações que definham, da saúde que não temos, do orçamento que - também - não temos. E senti o afago deste incomensurável abraço do Mar de Pedras que reprime as ténues saudades dos finais de tarde Atlânticos. Há retornos assim, manchados a inocuidade, talvez seja a demência em contraponto ao despovoamento, a crença na terra da oportunidade, onde gente vê as pedras em depauperação, impropérios do tempo, vêem os loucos a seiva da vida. E está o "bandulho" empanturrado a desejo, estava o azedo às portas da sublimação e os grelos de "cancelos" abertos à gula. O azeite, "tralhado" no seu repouso de Inverno, áureas gotas que perfumam os frutos da terra, uma pincelada de "binagre caseirinho" para enfeitar o gosto, e a excitação dos sentidos pelas coisas simples. É hora de descer as "scaleiras", a prole em alvoroço, talvez a "bila" esteja desperta para a última "bolta dos tristeze" do ano, luvas a postos, "garruços" a amansar o escalpe, "bota a samarra pur o lombo que t'ingaranhas"... No exterior o ar está impregnado a lareiras em erupção, gelam-se as extremidades olfactivas, sinto-me um alienígena em busca de vida acompanhado de um trio de resistentes, ao longe ainda ecoam as vozes dos Cantadores das Janeiras... E relembro tempos idos em que os forretas eram presenteados com "Estes barbas de farelos... Não têm nada pra nos dar... Só têm uma arquinha velha... Onde os ratos vão cagar"... Efeitos da contra-corrente...

sábado, 24 de dezembro de 2011

Boas Festas Macedenses


A suave angústia que precede a Consoada ganha contornos de Inverno adornado a estio quando as raízes se transfiguram em ramos e as folhas se fundem com o fruto, planta de vegetal reino saída, telúrica forma de arrepiar ficções de centrífugas viagens onde a densidade se fragiliza pela intervenção da fresca brisa com que o Adamastor de Bornes presenteia a chegada do Menino. Está quase, folga a tristeza, brinda o "tchupão" com a entrada do melhor "strafogueiro", "afola-se pra que pegue", choram os "butelos" por casamenteiros dias de casulas muitas. O resto da família está prestes a entrar neste mundo de renovados "ô, ô, ô!", anos de vénia à tradição, sorrisos distribuídos ao sabor da correnteza de dias que tomam o sabor da eternidade, num "déjà-vu" de sentidos abraços ou repenicados beijos, emoções tomadas de assalto por um qualquer arrepio a que chamam saudade, debita ao longe o "I wish you a Merry Christmas" do Tio Sam, ou expira a portugalidade - estranho conceito misturado a diáspora de trio de "éfes" - um bafo de "A todos um bom Natá...á...á...á...al". Entretanto, fustigam-se os indutores de triglicéridos e colesterol a inferno, excitam-se salivares glândulas com filhós regadas a pecado ou polvilhadas a elos de penitência, sonhos de irresistível volúpia, indomável aroma proporcionado por rabanadas. Ao longe espreita a aletria ou o arroz-doce, ou outro qualquer coisa doce que chamamento há-de ser para infusões de cidreira ou limonete... O nível de corrosão estomacal atinge insustentáveis picos, depenica-se aqui, surripia-se acolá, não sem ecoarem os protestos de sábias mãos da eternidade. Entretanto, fiel amigo chamado, alivia-se o torpor das brasas, simulações de espaciais naves sustentadas a tripé, "põe-l'o testo pra que ferba", tragam os "trontchos de coube" e os "rábinos", coloca o aurífero líquido na mesa, que as maçãs da terra direito têm ao aconchego. Há-de o repasto ser regado a "tantinha pinga", intercalada a rega com aspersões de histórias muitas, danem-se os controlos analíticos que hoje é Dia de Consoada... BOAS FESTAS!!!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Ventos de mudança



O irrevogável apelo das pedras, de sempre sentido, retorno a materno ventre, afago do âmnio, como se necessitasse a alma  de permanente polimento. Talvez incremente o brilho ou seja a luz ocultada por escuro túnel, saberão os deuses descarnar o porvir... Rasguem-se folhas de anciã sapiência, já o afirmam os antigos, quem muda Deus ajuda... É um analgésico dos desconfortos da fadiga, cataplasma que aplaca as dores da distância, é o futuro já ali ao lado, ao virar de arredondadas esquinas do Marão. Trás-os-Montes entranha-se, paradoxos de ópio injectado sem prévia massagem, sente-se apenas a picada da essência, e gosta-se, gosta-se, gosta-se e gosta-se. Depois, bem... Depois fica a léxica destreza amputada, insondáveis dicionários que abarquem tamanho acervo de cousas sentidas. Este sentir não se decifra, sinonímia ausente, volatilização dos signos, ou, proezas tamanhas, talvez seja o inacabado retrato de universal linguajar, simultaneamente entendível e indecifrável. É uma doença sem desagradáveis sintomas para lá da saudade, terapêutica esboçada a divinização das pedras, a veneração do xisto, a endeusamento da terra. Trás-os-Montes é um santuário de altares muitos, fusões de céu e serra, fado entoado a estranhos acordes de parelhas da memória, algazarras do silêncio, paz soçobrada pelo encantamento dos sentidos. É o êxtase, se tal existe, peles vincadas a agrestia, faces enrugadas pelo estio, despudor do tempo, marcas de arados de gelo e neve, e o paraíso, meu Deus, o paraíso! Escondido atrás de montes, ocultado por detrás de giestal do esquecimento, arredado da ribalta das luzes, quase omisso de turísticos roteiros. Para alguns é o chamamento de pétro útero, sonata ao luar, composição de inaudíveis sons que adoçam os tímpanos, peças de um teatro dos sonhos. Há certos vícios que não se explicam, gritam-se, espalham-se através da brisa das coisas simples, navegações sem alísios ventos ao sabor das marés do orgulho. Não sei o que sentiria se fosse súbdito de outro Reino que não o Maravilhoso. Mas sei o que sinto por ser filho das pedras, enteado do Azibo, bastardo de Bornes. É a intransmissível genética do xisto, carregada numa qualquer translocação que constrangeu a orquestra a tocar uma afinada sinfonia de ventos de mudança. A menina dança?...        

domingo, 27 de novembro de 2011

O arroz da D. Joaquina - Volúpias de dominicais pretéritos

Despertava o franzino imberbe, alheado ainda de lipídicas acumulações, vulgar pau de virar tripas, atlético porém, sublinhe-se, envolto em estremunhado olhar, destro óculo dessintonizado com oposto sestro, e o quase irreprimível desejo de permanecer no aconchego do ninho, embrulhado em ásperos, mas reconfortantes, lençóis de flanela. A atmosfera tresandava a Inverno nessas dominicais alvoradas, o bafo pulmonar decorava o feixe de luz que o candeeiro irradiava, infantis jogos fantasmagóricos da ingenuidade. Do exterior chegavam rumores da agrestia de Bornes, galinácea algazarra omissa e os suídeos em inusitado silêncio. Estranheza pela ausência de animal azáfama, tomava o petiz de assalto a varanda, perscrutar de horizontes com a velhinha figueira vergada pelo peso dos anos e as oliveiras do "Patchalica" em ranger de dentes, amparando com invulgar estoicismo a fina película de "carambelo" que lhes enrugava o fruto. Fugaz arrepio da espinha, extremidades enregeladas, era Domingo! Era dia de enfarruscar o sossego do patriarca, camuflava-se o moço enquanto desatava em heróica correria direccionando a voracidade de mimos para o quarto no lado oposto. Invariavelmente, era recebido com incomparável sorriso, malícia de confronto com a progenitora, cúmplice abraço protector. De soslaio, emboscado no leito paterno, espreitava as figuras do "Comércio do Porto" ou do semanário "Tempo", enquanto o aparelho debitava aquela estridência de imaterialidade patrimonial da humanidade ou, alternativas outras, sentia uma náusea provocada por alienígenas musicalidades de não menos alienígenas autores - "Berdi", "Putchini", "Mozarte" ou "Betoben" - cujos nomes esquisitos não conseguira ainda decifrar. O desfilar orquestral feria uns tímpanos mais habituados ao "Atirei com o pau ao gato" ou, épocas obliquamente douradas, heroicizada era a conterraneidade do "Arrebita", do "Carimbó Português" ou do "Bate o pé"... Tempos outros em que o país parava para deglutir os "Festivais" da Tonicha, do Mendes, do Carvalho ou do Tordo... A matriarcal voz de comando interrompia o efémero éden, anunciando o "mata-bitcho" servido, inesquecíveis "carólos" de pão centeio atormentados pelas brasas, afagados pela textura de lácteo derivado que os amansava com gordurosa relíquia. Era hora de transferência para o vetusto "scano", pendente mesa do improviso, pratos recheados a inconfundíveis e eternos aromas a torrada, o café do pote de ferro a contribuir para aromática orgia. Dispensava o leite - ah pois!, dispensava o leite - até os protestos confundirem a irredutibilidade do rapaz. E, abono da verdade, a espessa camada que preenchia a superfície da leiteira era irresistível! Emoldurava-se o alvo líquido a pó de cacau, incessante rodopio de frustradas tentativas de provocar o desaparecimento da nata. Soava a estranha magia, talvez fossem efeitos de calor emanado pelo "strafogueiro", ou contivesse alguma druídica poção o "caldeiro da bianda" pendurado nos "lares". Viriam as pressas, afinal era Domingo, dia do Senhor. Empertigado em domingueiro traje, "proa" da mãe, botas aprumadas com a verticalidade dos plátanos que engalanavam o terreiro, duo em procissão, talvez ao cortejo aportassem a D. Marquinhas, a D. Deolinda, o Sr. Pinheiro, ou ocasional vulto de dominical romaria à Igreja de S. Pedro. Na serenidade da Avenida das Flautas - jocosa corrupção de idos tempos da toponimicamente intragável Alexandre Herculano - era o centro transposto, a farmácia do Dr. Bento Marques a um lado, a sapataria do "Fernandico" a outro, a tabacaria do "Maldonado" de seguida. Mentais trajectos, não sem antes cumprir o ritual de verificação do termómetro da "Singer", haveria de chegar a "Casa do Pobo", a "Albertina Mendonça", o "Armando Mendes" e a saudosa "Cobrinha", respeitável senhora de infatigáveis respostas a impropérios da miudagem. Pecaminosas composturas em compensação, seria medalha de bom comportamento acolitar o sacerdote, velhas batalhas de correrias outras, fita da meta cortada muito antes do incontornável "Litcha" se digladiar com os sinos. Talvez um dia o S. Pedro tenha em consideração as manifestações do "puto" em eucarísticas celebrações... Culto finalizado, cumprimentos de circunstância, geral debandada, estômagos em aflitivos acordes, retrocedia o passo por idênticos caminhos em inverso percurso. Algures, lá pelo centro, haveria de estar o patriarca em solene espera, que o homem era pouco dado a públicas manifestações. Traçados destinos, escalava-se o "Monte-Mel", inebriante atmosfera de culinários efeitos, haveria a mesa de adornada ser por inconfundíveis iguarias, irrepetível arroz como só a D. Joaquina sabia confeccionar. O "arroz da D. Joaquina"... A estupefacção de assistir à aspiração de suculentos grãos, "tchitcha" quase esquecida, o rapaz entrava em indómito processo de voraz apetite apenas na presença dos vapores emanados daquela travessa de arroz, o "arroz da D. Joaquina"... Alternativas outras a risco de culinárias monotonias, avesso era o "puto" às ditas, ficava por vezes o "Pica-Pau" com as graças, glândulas salivares em desalinho pelo aspecto do magnífico "Bife na Caçarola". E havia sempre uma incursão ao "Café Central", parietais pinturas irrepreensíveis, ficava o petiz deslumbrado pela recriação da lavoura, figuras que o tempo e a modernidade apagaram e a memória não obliterou. Depois, a cadência de futebolístico calendário o permitisse, chegaria a hora de rumar ao velhinho campo pelado. Era a euforia das correrias do "Manel Fininho" ou das defesas do "Pardal", das bolas que perdiam o tino e voavam para as casas dos juízes, do desfilar de insultos às mães dos jogadores adversários e ao árbitro, os incessantes gritos de "Macedo, Macedo"... E a inesquecível figura do "Sô Capela" sempre "en garde" com o seu inseparável guarda-chuva... Eram volúpias de dominicais pretéritos...

sábado, 19 de novembro de 2011

Francolino Gonçalves - Purificações de alma nordestina

Vão influindo os vitupérios à génese nesta singular forma de colocar os periscópios da alma a vasculhar o cromossoma das pedras, estranhos degraus de expiação dos pecados, paulatinos dias de vergastadas na crença, inexpugnabilidade de xísticas muralhas atrofiada. Dobra o costado do orgulho com ignominiosas afrontas dos que, fé na ingenuidade, deveriam ter a epiderme sulcada a arribas do Douro, a neve de Montesinho ou a estio do Tua. Onde residirá a aberração cromossómica? Constará do mapa genético a existência de um novo haplogrupo nunca anunciado? Terá tido o Sahelanthropus uma paralela evolução? Quase inadvertidamente "scamoutchei as fuças" contra esta opacidade infame de ver processos de "bentas a jogar ó rou-rou" onde os protagonistas são, tal como eu, descendentes do reino pétreo. E não me conformo com a resignação de ver o meu Nordeste afrontado por grotescas piadas da razão... «Entom, pareuce que os bãodidos som quaise tuodos da tua terra, carago!»... Lá vou dizendo que a degeneração se terá devido a uma qualquer distracção, um mergulho no Mar da Palha talvez, ou terão os corredores de al-Lixbûnâ estranhos efeitos na translocação genética de alguns... "Racosam-se" os anéis e fiquem os dedos, apetece-me panegiricar, soltar loas ao vento, glorificar a excelência abafando a mediocridade. Afinal, neste assalto às paredes do orgulho, parece que o indigenismo macedense permanece em imaculado estado, o berço de tentáculos de fiscais fraudes, traficadas influências ou alvos capitais lá mais para o setentrião, oriente e ocidente irmanados, ficam meridionais principados entregues à bastardia. Desvirginados nunca sejam os filhos do concelho em forma de bota... Honra ao Gonçalves de Macedo, ao Martins de Chacim, ao Campos Vergueiro, ao Rocha Cabral, ao Almeida Pessanha, ao Pereira do Lago, ao Moura Pegado, ao Valfredo Pires, ao Figueiredo Sarmento, ao Pimenta Rêgo. Honra a tantos outros, os vivos, nados por inestimável fecundação do xisto pela brisa de Bornes, Pires Cabral à cabeça. Nesta exaltação da proveniência, olhe-se com redobrado interesse para o prestígio que flutua neste mar de indignadas águas. De repente, a Academia Pedro Hispano lavrou o impensável, na curta existência da sua anual decisão de premiar a excelência de culturais figuras, impalpável geminação de Grijó e Corujas, par de consecutivos anos com a conterraneidade em destaque. No ano transacto foi Adriano Moreira o galardoado, ímpar figura que apresentações dispensa, Grijó no mapa, ocultem-se controversas posturas, desvalorizem-se discordâncias, menosprezem-se concordâncias também, em sinopse de filho da terra, bailem apenas os genes das pedras. Segue-se-lhe Frei Francolino José Gonçalves, Corujas em alta por filho seu, Homem de religiosas letras, incontornável figura de bíblicas interpretações, insigne exegeta da Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém, membro da Comissão Bíblica Pontifícia. Creia-se nos louváveis encómios da crítica, alvoroço dos genes, e o mundial perito-mor no Profeta Isaías é filho de fornada de macedense ascendência. E acabou de ser galardoado com invulgar reconhecimento pátrio... É pouco? É muito? A este filho da terra, também, nesta convulsão de errantes personagens que desvirtuam a essência, doce compensação para a amargura, irradiado orgulho com proveniência no centro de Nordestina Pátria-Mãe, fica esta desmesurada algazarra dos genes, estranho bailado este de passos trocados, imaginária gaita-de-foles a compassar a dança em ritmos da ancestralidade...

domingo, 13 de novembro de 2011

Fermento da essência

Estranhos pesadelos estes, profecias do tempo, sinopses do futuro, talvez a soberania ganhe características aladas e se evapore, voe para lá das cordilheiras e aterre por terras outrora de Francos e Germanos. Hoje, artificiais evoluções da espécie, lembram-me os coloridos atlas onde pontificavam Checoslováquias, Jugoslávias e URSS, apanágio de dissensões por quedas de muro contrariadas, estranho continente retalhado este, sinto a invasão de hordas de Francozis e Germerquelanos, fórmulas neotribais em silenciosas cavalgadas. É um sonho apenas, fruto de ficcionais convulsões, prossegue a fuga metamorfoseado em insecto, nuvens de entomófagas plantas em perseguição. Empunham apelativos cartazes, impunes sorrisos, arregalo o olhar em desmesurada angústia ao conseguir vislumbrar um gordo "WIR SPRECHEN DEUTSCH", acompanhado a letras miúdas com um "NOUS PARLERONS FRANÇAIS"... Procuro desenfreadamente algo lavrado em "aborto" ortográfico, e nem um signo sequer, soa-me a travessia do Rio Lethes, o Lima do esquecimento. Não fossem as quase imperceptíveis aglutinações francófonas, sentir-me-ia amputado do cordão que me ligava à herança latina. Quase a despenhar-me no abismo, sou despertado pelos genes de xisto, alvoroçados com o prenúncio. Acordo do torpor, verifico que ainda consigo articular fonemas em Português, tento vestir a linguagem a traje pátrio, vermífugo para intelectuais disenterias, orgulhoso da persistência em "faCtos", numa "reCta" que me "direCciona" a pirâmides da essência, muito para cá do "EgiPto"... Ufa!!!... Afinal, tudo não terá passado de efémera insónia de um dos hemisférios cerebrais... Regressado a este pedaço à beira-mar, parte da Callaecia de idos tempos, o vento a fustigar arbóreas franças, dia de alerta laranja em contrastes de céu a cinza pintado, nesta penumbra de sarcófago do planeta quase claustrofóbica. Mas sabe bem compensar a aparente melancolia com o ruído do troar exterior em contraponto ao sossego de uns cavacos a crepitar, melomania adornada a gosto pessoal, prazeres estomacais aconchegados a assado de forno emoldurado a "castanea sativa", regados a vínico néctar dos deuses, prazenteira companhia dos que fazem de paredes macedenses refúgio... Macedo, dos Cavaleiros o foi, terra maldita de contestatárias vozes - alicerçadas razões por vezes - terra bendita para quem o tutano lhe suga a cada tentativa de amputação da distância. Neste desvario de aromas a Atlântico com desejos de homónimos do Azibo, apaziguados ânimos de fugaz incursão a vales e montes, apetece-me enaltecer a essência, vangloriar os feitos, ainda que os feitos se resumam à obliteração de inacabados túneis por tribos dos conquistados de Olisipo. Talvez sejam efeitos de propalada supremacia étnico-cultural de Túrdulos em migração... Que seja, deturpe-se o ditado, que para lá do Marão deveria mandar a unicidade dos que lá estão, acrescido mandamento aos que "proa" sentem pelo desprezo da aculturação. Será tempo de desmistificar, enalteça-se o que enaltecimento parece não ter - ou fantasiosas crenças nos vendilhões do templo. Em verdade vos digo, sinto-me tão europeu como um turco. Nesta finisterra ocidental, excêntrico extremo de estranha gente de acoplados genes de invasões muitas, não fossem celtas reminiscências de exacerbados contactos, ou vestigiais aspectos no fenótipo de presumível ascendência em suevos súbditos de Teodomiro ou visigodos partidários de Vitiza, julgar-me-ia num oceânico enclave infinitamente omitido de ocidentais cartografias, extravagâncias de ilhéu nunca descoberto. Apenas porque sou de Trás-os-Montes Oriental, terra de encantos muitos, Nordeste o dizem, lá para os lados de inacessíveis terras de "trás-do-sol-posto". E, objectivamente, que se danem lusitanistas teses paridas no desconhecimento de clássicos autores, viva a Lusitânia, mas Lusitano não sou. E viva a Callaecia também, mas de Calaico apenas terei a afinidade de ocidentais fronteiras. Viva ainda a Asturia onde incluída foi esta nordestina terra encravada nas fronteiras do esquecimento por reordenamentos do povo do Lácio. Mas, acima de tudo, viva a diferenciação de diferente ser, filhos de encavalitadas pedras, netos de montes e vales, bisnetos de direitas margens do "Durius" e de Tua e Sabor afluentes. E vivam históricas falácias de renascentistas epopeias, esqueça-se a forma como incluídos fomos no reino, exacerbem-se artificiais fronteiras de séculos muitos. Contas feitas, serei tão europeu como lusitano serei, à lusa pátria do Douro para baixo não renego, que isto de Português ser tem que se lhe diga, mas... De separatista longe estou - venham acusações muitas - num resumo à moral genética de enaltecimento da diferença. Partidário sou da existência de muitos "Amadeu Ferreira", inexpugnáveis cavaleiros da luta pela identidade. Que me perdoem os infanções da globalização, mas continuarei a dar preferência à genuinidade de "ua ráineta ou ua brabo d'smolfe" em vez de um bastante apelativo "apfelstrudel". Não regatearei encómios a um "bô butelo com casulas secas", dispensando o "saucisson d'Auvergne". Não prescindirei de um "bô trontcho de penca" relegando o "chucrute" a mero acessório ocasional... E jamais presentearei gustativas papilas com alheira recheada a galinha e pato, substituinda-a por aquela em que ancestral saber manuseia "intchedeiras co a massa de pão imbuligada em cibos de tchitcha gorda e couro, pita e parreco". Prefiro indubitavelmente "ua selada de tchítcharos" à equivalente de feijão-frade. O bacalhau sabe incomparavelmente melhor com "erbanços" do que com grão-de-bico. E hei-de persistir nesta insana forma de ter apreço por "sbarar no carambelo" ou fazer "pintcha-carneiras", ficar fascinado sempre que vejo "alustrar" enquanto cai uma "scarabanada", comer um "carólo de bola sobada" com um "cibo de lambisco"... E alegrar-me com a aparência de rugas tristes e cansadas, de gente simples que me dá um mundo distinto sempre que a visito... « - Ó carbalho que ma racontracosa, atão o lapardeiro stá infastiado? Bota cá um copo pra buber ua pinga, bai ó pipo si'u queres. E trai o presunto que stá imbarrado ó pé dos galelos. Qués a carotcha ou um carólo de cabo a rabo? Bá, abonda di o catcho do toco do picheperne que já o amandemos pró carbalhtchas. E num qués um tantinho de caldo? Olha q'é de casulas secas, q'ou bem no sei que t'im augas todo por ele»... Há, realmente, coisas fantásticas e distintas nas raízes, "or sim"?...

domingo, 6 de novembro de 2011

Paradoxos da interioridade

"Something is rotten in the state of Denmark"... Ou, corrompendo Hamlet, olvide-se um dos reinos vikings e adapte-se shakespereana tirada: "algo vai mal no Reino das Pedras"... Os resultados preliminares dos Censos 2011 causam-me alguma confusão mental. Talvez, num assomo de coragem, me veja na contingência de um regresso à saudosa Escola Primária - terei mais apreço em ser um aluno "primário", ao invés de aluno "básico" - local onde poderia apreender, de novo, as vantagens da aplicação de mentais cálculos. Circunstancialmente, na pior das hipóteses matemáticas, existiria a probabilidade de o meu par neuronal se abstrair da confusão, mais não fosse através de um compulsivo puxão de orelhas que lhe avivasse a destreza, e detivesse a capacidade de perceber o quase inversamente proporcional. Não será novidade para ninguém o culminar de um processo que se iniciou há algumas décadas. O concelho de Macedo de Cavaleiros, na mesma senda dos homólogos da interioridade, vem perdendo população. "Im Westen nichts Neues" - "All Quiet on the Western Front" - ou, recurso a nova tradutora corrupção, desta vez ao soldado Remarque, "A Nordeste nada de novo"... A confirmar a tendência de ermamento, nesta insana guerra de fomentados despovoamentos, a população macedense decresceu uns "meros" 9,2% em apenas um decénio. Recorrendo ao "observatório do positivismo", há territórios concelhios em pior estado de degradação populacional... Mas regressemos à Escola Primária... Seria aritmeticamente lógico que a um decréscimo populacional equivalesse uma mesma tendência no que ao património residencial respeita. Ou, alternativamente, já que a perenidade de tijolos e betão ultrapassa largamente a de carne e osso, que as taxas de crescimento urbanístico se mantivessem próximas do zero. Mas, incongruências do geral estado do Reino Pétreo, não só o número de edifícios se viu inflaccionado em 10,6%, como o número de alojamentos teve um inusitado crescimento de 14,4%! Ora, se diminui a gente, para que servem mais alojamentos? Em jeito de tentativa de limar um pouco a minha ignorância, em 2001 existiam no concelho macedense 0,59 alojamentos por cada habitante; em apenas dez anos, esse número aumentou para 0,74... Poderia tal ser representativo de uma substancial pujança económica, caso a tendência demográfica fosse no sentido ascendente. Mas no actual estado de coisas, que significado terá o ilogismo? Haverá alguém que detenha a capacidade de me explicar o paradoxo, como se eu fosse uma criancinha a gatafunhar com giz branco num quadro de negra lousa?...

domingo, 2 de outubro de 2011

José - Pedradas no charco do 44º Bispo de Bragança-Miranda

Tenho um grande apreço por uma rara espécie a que as gentes de terras do Tio Sam convencionaram epitetar de "mavericks" - um conceito para o qual, ao que julgo saber, não existe vocábulo equivalente na língua que foi vilipendiada por um qualquer aborto ortográfico. Um "maverick" será alguém que se destaca por trilhar caminhos inusuais, que assume o risco de não seguir os padrões habituais, que aposta na independência de pensamentos, agindo de forma intrépida para o seu próprio bem sem desvirtuar a essência de palmilhar os terrenos que contribuam, em simultâneo, para o bem alheio. Poderia estar aqui horas a fio em descritivo processo que, ainda assim, não conseguiria abarcar todo o conceito inerente ao potencial neologismo - talvez sejam limitações inerentes à não aceitação do atrás mencionado vilipêndio... Mas consigo, de indubitável forma, tipificá-lo através de um exemplo. Não um exemplo qualquer, não um daqueles espécimes que, honrarias dixit, são adornados por uma intensa graxa de cores diversas apenas porque foram elevados ao patamar de supremo pastor do rebanho do extremo nordeste do meu Reino. Prefiro vê-lo como distinta peça do rebanho, Cordeiro o é afinal, "alma mater" em masculina versão de modernos tempos, potencial "pater noster" de pródigos espíritos, líder de um exército de paz que parece ter acabado de transpôr o Rubicão proferindo uma nova versão do "alea jacta est". Soa-me a estranho esta alusão, não por do rebanho não ser, fisicamente distante, certo é, mas por tresmalhada ovelha ser por vezes, "maverick" o diria, na aparência de empertigada extremidade nasal. São as fugas ao estabelecido, rompimentos do "status quo", afinidades com posturas do quadragésimo quarto, cumplicidades com o Bispo que apreço tem por chamar o rebanho com recurso ao mel desprezando o fel. Não irei ao beija-mão, a essência não despedeçarei contra públicas manifestações, da fogueira vaidades, perdoem-me inacabadas inquisições, vassalagens de prestações muitas. Remeto-me à infâmia de presumida ausência, anonimato de roucos louvores, exaltação da diferença, chegará o dia de homenagem ao pastor que culto presta ao terreno e banal prazer de uns chutos na bola, ou de tributo prestar ao homem que, efémeros momentos, troca a mitra por distinta insígnia de Baden-Powell. Venha de lá a "canhota", ou "Sempre Alerta"... E venham também mais cinco, ou mais muitos, nos quais assumo, provisoriamente em tendência para o definitivo, me incluo. Arrojo ao patamar de humilde "grão de amendoeira", renovações de caducos mundos, resposta ao chamamento, anuência a distinto apelo, visíveis já eram as ondas, brisas de cardeais pontos na colateralidade de Novo ou Gomes, Eduardo ou Júlio, prenúncios de vagas do rejuvenescimento. Alegremente regrido, epopeia a tempos de infância de inabaláveis crenças, folga o costado de emigrado da fé, anime-se a esperança de tempos outros. Tiro-te o chapéu, José, ou tiro-lhe o chapéu, D.José Cordeiro, vingue a esperança de ver o meu mundo olhado com o inusitado, da semente nova árvore ou, controladas ambições, ramagens que amparem o torpor e raízes que sustentem o alheamento. E, já agora, pedir muito não seja, que esta transcrição do "Blogue de Grão de Amendoeira" mantenha a validade, muito para lá da sua recente publicação: «Ultimamente, a Comissão de Arte Sacra, em parceria com a Associação Terras Quentes, tem estado a promover a inventariação do património móvel. A diocese de Bragança – Miranda, lidera, a nível do país, no campo da inventariação, com mais de 11 mil peças já registadas, mostrando o seu empenho e trabalho desenvolvido e certamente que, D. José Cordeiro, continuará a dar continuidade e atenção»... A Diocese, o Nordeste Trasmontano, mais que merecer um Bispo assim, talvez precise de Homens assim. De amplas visões...

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Tesouros de Arte Sacra, a alheira de Mirandela e o vinho do Porto...

... o poder do marketing ou a sua ausência... Um dia, numa dessas passagens em relação às quais apenas nos recordamos da sua ocorrência, sem precisar datas, horas ou locais, apenas sabemos que aconteceram, algures, talvez no séc. XX ou, quem sabe, provavelmente já no XXI... Um dia, como dizia, visitei uma Feira do Fumeiro, não o impingido com selos de qualidade industrial, mas o nascido do artesanal, proveniente do acumular de empirismo de sábias mãos. Para estarrecimento da minha ignorância, no sector dedicado às alheiras, honra mirandesa às tabafeias, os espécimes que se alcandoravam ao patamar do nem sempre apelativo "mais caros" não tinham a sua origem em Mirandela! Denotando atroz desconhecimento, percorri o chamariz dos sentidos, enquanto me interrogava sobre o aparente paradoxo: as alheiras mais caras eram provenientes de Macedo de Cavaleiros! Seguiam-se-lhes no pódio as de Bragança, sendo acometido de amnésia no que respeita às detentoras do bronze. Mas não eram, seguramente, as de Mirandela... Porque essas, recordo-me, não sendo as mais baratas, ocupavam um lugar nas cercanias da cauda do pelotão. Mas então, acessos de vulgarização, as melhores alheiras, as afamadas, as supremas, não eram as de Mirandela? Ou sê-lo-iam em processo análogo ao do melhor vinho do mundo - subjectiva opinião corroborada por muitos - conhecido como do Porto mas parido na agrestia xística da meridional paisagem trasmontano-duriense? Curiosidade espicaçada, voltem-se os olhos para buscas outras, livrescas e afins, salde-se a dívida da ignorância e, judaicas metáforas de confirmação pendentes, que os foragidos da Inquisição refugiados ficaram em nordestinas terras - mais para a raia, meus caros, mais para a raia - e, a terem adulterado linguiças e salpicões, provável é que as tripas tenham tido primordial enchimento de pão e aves lá para os lados do Mirandum e não para os que ficam na quase homónima atalaia pequena. Mas não só, mas não só... Século XIX quase a finar, inauguração tinha o que agora submerso vai ser: o troço de linha férrea entre Foz-Tua e Mirandela. Dizem os anais que as alheiras ganharam inusitada fama pelo Reino (ter-se-ão empanturrado D. Luis e comparsas de tão nobre petisco na inauguração do que finado agora está?)... Dizem os mesmos que, no decurso dos anos em que Mirandela era detentora da estação de caminho-de-ferro mais setentrional da província, aí afluiam os produtores da tão sublime alheira para que a mesma chegasse aos exigentes paladares das extremidades litorais do reino. Não tardou muito a associação do topónimo aos exemplares de fumeiro... Louve-se o empenho dos da Princesa do Tua, aplauda-se o marketing associado à elevação da alheira a maravilha gastronómica. E aplauda-se, em simultâneo, o salpicão de Vinhais, o folar de Valpaços, as amêndoas de Moncorvo, o cordeiro de Bragança, a castanha da Padrela, o azeite de Murça, a posta Mirandesa, as cerejas de Afândega, o vinho de Carrazeda, a batata de Chaves... Há, até, "alóctones" Confrarias do Butelo e das Casulas merecedoras de aplausos!!! "Chlap-chlap" ao "tudo que é doutro lado", DOP, IGP, IPP (e, porque não, PQP) e Macedo tendo, efectivamente não tem... Mas, já agora, à laia dos que pouco têm por onde escolher, eleve-se a ícone gastronómico macedense o Lúcio de Escabeche, sem indicação de PPAA, que a dita Paisagem Protegida, condicionalismos geoestratégicos, vai sendo conotada - marketing dixit - com a sede distrital (diga-se, em abono da verdade, que os glóbulos macedenses se "gumitum" ao invés de darem voz a náuseas)... Quedos e mudos não ficando, deveríamos, em contingentismo, aproveitar as lacunas de preenchimento gastronómico-geográfico e elevar, em conjunto com o supracitado Lúcio de Escabeche, a "tchouriça-doce" a património da Humanidade Macedense, criando em concomitância, a "Confraria dos Tchítcharos e dos Erbanços" com a homónima do "Tchouriço da Língua e da Butcheira". Mais não fosse, dignificar-se-iam os proscritos da gastronomia "strasmuntana"... E seriam proclamados os omissos tesouros... Por menção a tesouros fazer, infâmia da alma, lembrei-me do jornal Público (afianço aos que fazem da má-língua modo de vida que não auferi um cêntimo que seja pela gratuita publicidade). O acossar da mente pelo dito periódico surgiu apenas como reflexo do muito que temos e do pouco que fazemos por esse muito que temos (será isto um pleonasmo?). Diz a publicidade que encabeça esta "sfoura scrita" que haverá 100 Tesouros da Arte Sacra Nacional. "Atão, s'há 7 Marabilhas d'Intcher o Bandulho, pur u que caralhitchas - No'Snhor me perdô - num habia d'haber 100 d'Intcher a Alma"? Neste delapidar do orgulho que grassando vai ao abrigo sabe-se lá de que vilipêndios, o tesouro que teve honras de abertura da centúria só poderá ser uma "cousa" insignificante. Será que os responsáveis do Público e do SNBCI (Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja) ensandeceram de vez? Lá é forma de inaugurar o desfile jornalístico dos ditos 100 Tesouros com uma peça proveniente do concelho macedense??? Diz a separata do Público a 22-08-2011: «O P2 inicia hoje uma série dedicada aos Tesouros da Arte Sacra Nacional»... Legenda acompanhada de uma figura familiar: a de São Miguel Arcanjo, ímpar representação do séc. XIV proveniente da Igreja de São Martinho de Vilar do Monte! Como se a heresia bastante não fosse, a 13-09-2011 é repetida a graça de proveniência no concelho macedense: é publicada uma imagem de Santo António dos Pães, do séc. XVIII, originária de Travanca! Heresia por heresia, "spitarum-se-me" os meus hereges genes macedense-trasmontanos... Não porque tenha visto algum "bitcho do outro mundo", mas tão somente porque, estranheza para alguns, das 18 digníssimas entidades que participação têm neste desfilar de distinção, uma delas é a Diocese de Bragança-Miranda, representada através do labor do inventário histórico-artístico conduzido por uma entidade demonstrativa do que melhor se faz por Macedo de Cavaleiros: a Associação Terras Quentes. Quer dizer... Apresento as minhas mais sinceras, honestas e demais "eras" e "estas" desculpas aos contestatários da distinção do parido por terras elevadas a concelho há pouco mais de 15 décadas. Tive um breve, mas intenso, colapso da alma (se é que possuidor sou da dita)... Penitencio-me pela tentativa de elevação da terra detentora dos calhaus onde fui orgulhosamente parido. Se "de Espanha nem bom vento nem bom casamento" (ainda que nutra uma certa inveja por "nuestros hermanos"), parodie-se em alternativo léxico e parece que "de Macedo nem boa brisa nem boa boda, parece tudo uma f... coisa e tal que rima com roda"... "E que fai uns indêzes de bez'im quando que se botum mim contchos e tchêos de prôa só pur u causa de terim nacido nua bila que num é milhor q'as outras mas, carbalhos que m'a racontracosum, bem m'ou finto que seija pior do q'elas"!...

sábado, 27 de agosto de 2011

As partículas da impunidade

Ocasiões há que potenciam esta, pejorativa para uns, irreprimível vontade de imergir nas saudades do saudosismo, redundâncias da alma. Não é traje a nostalgia, trata-se apenas de uma desequilibrada balança de três pratos. Na incapacidade narrativa de desenhar o espécime, pelo esquisso da irrealidade me fico, flua o imaginário num esboço de regressão temporal. Tempos houve, idos tempos não muito recuados, de despertar a respeito, e a respeito adormecer. Era injectado à nascença, como se, independentemente do género, a prole tivesse o lóbulo auricular adornado a invisível pendente. Era uma inapagável marca dos dias, subtil sinalética, entre coisas outras, de humilde vénia ao que propriedade alheia era. As parcas viaturas que circulavam por, poierentas algumas, artérias da minha "vila", detentoras não eram de alarmes, supérfluos acessórios para a pacatez. Estacionava-se o veículo, de antemão sabendo que, arcaicas manivelas rodadas, os vidros abertos seriam apenas um convite à invasão de moscas, ou outros alados seres. Sairiam com o andamento... Invariavelmente, não havia o peso do porta-chaves a corroer a algibeira: a chave de casa incrustada ficava, em diurna permanência, à vista de todos, na respectiva fechadura. E raramente, mas muito raramente, os tímpanos eram obsequiados com novas de "amigos do alheio". Hoje, melancolia da inversão proporcional, "rest in peace" ao respeito, ou "sit tibi terra levis", louvores à impunidade ou, instância última, razão tinha Lavoisier. Omitiu o químico francês o parágrafo único ao seu princípio de conservação da matéria: aplicado a humana essência, sérios riscos corre de deturpação por envenenamento dos costumes. É a corrupção dos dias, importação de sabe-se lá o quê, ou saber-se-á, será a globalização, ou desmesurado incremento de egocêntricos umbigos? É o capitalismo! - vocifera uma ala! É a anarquia! - protesta outra. É a sociedade! - outra clamará... Entretanto, incriminem-se policiais forças... "- Atão o sacana do polícia infiou ua lostra no bandido"? PONHA-SE A FERROS O POLÍCIA!!! "- Bô, e o bandido o que fezu"? NADA, SEGURAMENTE, PARA LÁ DE SER VÍTIMA DA SOCIEDADE... "- Roubou-l'o ouro à Ti Maria Miquinhas, indrominou o Ti Tonho Mouco, racoseu-le a reforminha e inda le botou as manápulas às goelas, q'o home stá tchêo de maçaduras no p'zcoço. E pra mangar co a gente inda se pôsu a méjar no adro da igreja"... COISA POUCA... "- E já foi acaçado"? TALVEZ... "- Dixo-mo o mou q'era o Tchico Aldrúbias, queitado. Tamém, o que querium? O pai obrigabó a ir prá escola pra ber se se fazia home. Dás bezes inda le punha ua aixada nas mãos pra q'aprendesse a num andar à boa baiela. Munto sofreu o indêze. Era um bô rapaze, nunc'às minhas bistinhas o birum trabucar, morreu-l'o pai quando l'sbarou a carroça das burras pur'a ribanceira abaixo. Foi a sorte do Tchico! Depeis do enterro num boltou a alapar o sim-senhôre nos motchos da scola. A malbada da mãe ind'ó queria botar áprender ua arte... Queitadinho do Tchico, depeis d'ua bida álombar co d'zprezo da sociedade, ind'ó querim infiar nos Corrécios! Sim uas mines ou uas cigarradas, sequera! E aparecesse-me que nim têm trabisão, nim intrenet nos quartos"... Entretanto, nesta metamorfose dos dias, prostituição de costumes, os "Tchico Aldrúbias" têm consciência dos "queitadinhos" que são, vítimas da sociedade, despudor dos tempos que correm. Sabem que navegam em águas de impunidade. Por isso não espanta a sucessão de vandalismo que vai assolando o que um dia era terreno sagrado, inexpugnável, inatingível, respeitável. Desta vez foi o Santuário de Santo Ambrósio, profanado, vandalizado, assaltado. Amanhã será outro, o nosso próprio santuário, quem sabe... E num qualquer depois de amanhã, ou tarde será, ou "dixo-mo o mou bruxo q'inda boltemos ós tempos de cabeças abertas ó berde"...
(NOTA: Primeira foto, autoria de Paulo Patoleia (captada no recinto de Santo Ambrósio) ; Última foto, autoria de Vale da Porca Digital)

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Reticências de abafada grandeza

Pouco dado sou a públicas homenagens. Creio na voz dos actos, acredito na sonoridade das obras. Finjo, por vezes, alhear-me da proliferação de súbitos encantamentos emoldurados a momentânea falsidade. Mas quedo-me pelo limbo do fingimento, fragrâncias de névoa, cachimbo inerte, prolongamento de tabaco com aroma a carácter (não existe à venda em tabacarias - banido de comerciais circuitos)... De privadas manifestações a subtil exteriorização sem recurso a festival, decorativos efeitos ou musical banda em alvorada, retrocedo ao degredo de um prosélito pintalgado a anátema. Por vezes, porém, não me contenho e, de exaltação em exaltação, provimento dou a esta quase vulcânica forma de enaltecimento ao que parido é por terras que deverão, um dia, ter sido calcorreadas por desenfreados Zoelas, antepassados da essência elevados a relíquia do esquecimento... Cousas outras, o direi... Chamem-se-lhes os descendentes, ou seguidores de passos, lhes chamem, que de certezas não é o mundo feito. Ou será, conveniências de passagem na esquina dos proscritos, vingue a modéstia, drenagem de terrenos aparentemente desprovidos de humidade, ou secas gotas de um estranho composto liquefeito. Abençoada abominação ao desperdício da sublimação da diferença! Perdoem-me os destinatários desta afronta aos princípios de remetimento à sobriedade. Ventos da montanha, não me contenho! É o gosto pela diferença, controverso gosto talvez, o duvido porém, que a unanimidade vai decorando almas outras, e silenciar não faço a esta súbita vontade de publicidade dar às reticências de abafada grandeza. Tem nome, duplo nome, distintos seres emparelhados a arte, pura, divina, abençoada a terra, temperada a distinta agrestia, vales e montes assolados por aroma a Trás-os-Montes, genes enraizados em xísticos solos. Cousas de inimitável voz, Kamané se proclama, Carlos Baptista o é, tela de som, catálogo de infindável arrepio... E cousas de quadros pintados a pincel de dedicação, apontadas objectivas, cores da essência, Cavaleiro, andante também, mas de caminhos com trauteadas músicas com pegadas de Valter... A voz e a imagem... Únicas... "Made in Macedo de Cavaleiros city"... http://www.youtube.com/watch?v=HEVPaUjXwaE

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

"Bô era! Atão Macedo é ua merda?"...

Assemelha-se a um pesadelo da invariabilidade dos dias. Ou talvez tudo não passe de um contrapeso à eternidade de um sonho trajado a lirismo, ressuscite-se Freud, adrenalina se inocule em Jung, ou requisição civil se imponha aos Sigmund em parceria com os Carl. Não é trampa mas defecou-a o felino (sempre soa melhor que o mais vulgar "não é merda mas cagou-a o gato")... Será uma alucinação dos dias, derivações em pasta de papel numa amálgama de difusos eucaliptos sem raízes sequer. Definitivamente, algias da alma, se é que almas há, somos um povo triste, macambúzio o dizia Junqueiro, vergado às traulitadas de quem convencimento nos deu de que a imprecação é arma de arremesso da inutilidade. A minha "vila" tem vida, por vezes, vezes outras engalanada é a foguetório de insonoridade para lá dos bandos alados que se guerreiam pelas melhores vistas sobre a Maria da Fonte e o Jardim toponimicamente marcado a luta de classes, reclusões de tempos outros que preferência têm pela omissão dos seus heróis numa qualquer gaveta do olvido. Fantasmagórica ou pejada de vida, o meu apreço por Macedo não se dilui pela insistência na volatilização, pinturas de altaneiras vozes de profecias com tonalidades a desgraça. Sorrateiramente, deixo-me envolver pela atmosfera Macedense. Ouço daqui, ausculto dali, e não fosse esta incomensurável paixão pelas raízes de xisto, arriscar-me-ia a marcar-me com um sinete de desenraizado. Pondero seriamente na consulta a um qualquer discípulo do progenitor da psicanálise. Demente devo estar, seguramente, ou terá a demência sido epitetada a valores outros que inclusão não dão à insanidade. Começo a ofegar com esta constante peregrinação de apóstatas. A cada passo que dou, a cada cadeira onde me sento, a cada inspiração deste impoluto ar, deparo-me com uma incrementada classe constituída por gente colonizada pelos ares que vêm do litoral, ou doutro telúrico espaço qualquer, desde que a léguas do vetusto "Villar de Masaedo". Aprecio particularmente os risos adornados a sarcasmo sempre que regurgito este sublime conduto com sabor a orgulho trasmontano. Soa-me a altivez decorada a hastes bovídeas ou, frequente-se a diplomacia, a mais elaborados e presunçosos chifres cervídeos. Depurações do espírito, talvez sirvam para disfarçar a impotência ou, instância última, "ignis fatuus" de proclamado pedantismo em pedestal com epígrafe "Amicos pecuniae faciunt"... Não que verdade não seja, que os euros íman são para as amizades, para degraus outros, quiçá, folga o carácter enquanto transpira a hipocrisia. Amanhã substitui-se a palmada lombar por afiado gume, que "mai fai", entretanto agucem-se viperinas estocadas de ofídeos, descanse o ego pela exaltação de pretensa maldade alheia. Oculte-se a própria inépcia na simultaneidade da vociferação da imbecilidade dos ausentes, há-de chegar o dia de vassalagem prestar aos que presenteados são com desdém. Sintomas dos dias... Aprecio esta dissolução, perversão de costumes, critique-se apenas, que as soluções são apanágio dos inexpugnáveis. E amanhã, os que hoje me falam, retribuir-me-ão com a singeleza do silêncio, numa qualquer esplanada em que a falta de amor-próprio parece falar mais alto, ou seja o pretensiosismo de um sociedade adulterada pelo conceito de "nouveau-riche", unhas calcinadas pelo ardor de trabalhos muitos, subjugadas a verniz, limadas a escuridão do pretérito. Transcrevo algo que li na edição deste mês de um exemplar da imprensa local: «O que hoje pode ler-se, nitidamente, no tecido urbano de Macedo, sobre a história de amor à cidade pode resumir-se deste modo: até 1960 Macedo foi amada pelos seus habitantes; de 1960 a 1980 foi amada pelos visitantes; de 1980 para cá deixou de ser amada.» Não arriscaria tanto, porque de 1980 para cá, ou de 1990, ou desde a viragem de milénio, não prescindi do amor à minha "vila", cidade a dizem. Mas paulatinamente me apercebo do desprezo a que os Macedenses a vão votando, tratando-a como uma manta de retalhos que talvez seja, mirando-a com o lancinante olhar de filhos pródigos. Depois ainda há um outro colapso... Em renovado recurso ao mesmo exemplar jornalístico, subscrevo inteiramente nova passagem, de novo autor: «O exercício cultural, o saber considerar e apreciar um acto de cultura, é apanágio dos povos mais evoluídos e representa um cume civilizacional protagonizado pelo homem. Sem cultura não há sociedade que evolua, não há democracia que se aguente. Sem cultura há crise, de certeza.» Qual presságio da frontalidade, sinto-me contagiado, num estranho constrangimento pela ofuscação pela realidade. Somos detentores de muito, provando pouco. Remetemos o legado entulhando-o num poço sem fundo, destituimos as pedras da realeza colocando no trono "voitures et maisons", "haus und auto", "coches y casas"... Talvez o que venha de fora seja indubitavelmente bom... Mas o que vejo cá dentro é indubitavelmente óptimo. Daí a intragabilidade da compulsão de ouvir insistentemente que "Macedo é ua merda"... É uma permanente recusa na deglutição. Se Macedo é "ua merda", aconselho os dignos apologistas de tal a irem viver para "Vila Nova de Trás da Salada". Como é exterior a Macedo, será segura e inquestionavelmente melhor... Quanto a mim, permanecerei nesta demência de acreditar que os defeitos são o primeiro passo para enaltecer as qualidades. Talvez um dia esta compulsiva paixão tenha cura. Até lá, remeto-me à insignificância desta estranha adoração pela terra que me pariu, seja ela pintada a laranja, a rosa, ou a outra qualquer cor... Cousas... Ou distintas degustações...