Bem Vindo às Cousas

Puri, se tchigou às COUSAS, beio pur'um magosto ou um bilhó, pur'um azedo ou um butelo, ou pur um cibinho d'izco d'adobo. Se calha, tamém hai puri irbanços, tchítcharos, repolgas, um carólo e ua pinga. As COUSAS num le dão c'o colheroto nim c'ua cajata nim cu'as'tanazes. Num alomba ua lostra nim um biqueiro nas gâmbias. Sêmos um tantinho 'stoubados, dàs bezes 'spritados, tchotchos e lapouços. S'aqui bem num fica sim nos arraiolos ou o meringalho. Nim apanha almorródias nim galiqueira. « - Anda'di, Amigo! Trai ua nabalha, assenta-te no motcho e incerta ó pão. Falemus e bubemus um copo até canearmos e nus pintcharmus pró lado! Nas COUSAS num se fica cum larota, nim sede nim couratcho d'ideias» SEJA BEM-VINDO AO MUNDO DAS COUSAS. COUSAS MACEDENSES E TRASMONTANAS, RECORDAÇÕES, UM PEDAÇO DE UM REINO MARAVILHOSO E UMA AMÁLGAMA DE IDEIAS. CONTAMOS COM AS SUAS :







terça-feira, 30 de novembro de 2010

Penhascos brancos

Talvez seja inédito, ou estejam os processos cognitivos atravancados de acumulações de esparsas memórias. Sábio ancião não sou, nem sábio de forma alguma serei, que a absoluta sapiência é omnisciente modo de estar, e gosto de ser burro que nem um tamanco, salutar forma de aspirar a cavalares promoções. E no enredo deste constante limar da ignorância, recurso a pergaminhos da memória, hercúleo esforço por trazer à tona uma qualquer naufragada imagem, não me recordo de nevões em Novembro. E se, acasos do destino, vir ressuscitado um perdido quadro do passado, já não irei a tempo de corrigir o que escrito está. Porque, simplesmente, não me apetece e, bastas vezes, gosto de ver saciados os apetites ou, lexicais variações de um polimento inverso, aprecio a saciedade dos não apetites. Não me vou vergastar por isso. Nem o vou fazer por não me lembrar do que lógico deve ser, que ilógico, ilógico, seria um nevão em Julho. E aguardo, serenamente, a chegada de um tempo que espero distante, onde darei rédea solta a esta sede de partilhar histórias e historietas, Macedo por timbre, Trás-os-Montes por escudo, netos e bisnetos por companhia. Algures num perdido alpendre de uma anunciada coutada, cachimbo de sôfregas aspirações, assim os pulmões o permitam, baforadas de idílicos aromas abaunilhados, entrecortadas por incursões a um pretérito onde a vida ainda reinava em província de amores muitos, Torga o sentiu, outros também. Nesse longínquo dia de um futuro-mais-que-perfeito, traições da memória não corrompam o éden, lembrar-me-ei que nevou nos últimos dias de Novembro do ano da graça de 2010. Não o da "Odisseia no espaço", o outro, o não ficcional, o dos Orçamentos e FMIs, afins e demais, bem me entende quem queira do entendimento fazer armadura para peneiras que já não tapam sóis. 2010, o da odisseia espacial, talvez, especial, também, para os desprevenidos crentes que, como eu, ingredientes são do bolo de massa atónita, num depauperado mundo que sustenta ricos fidalgos a submarinos e atrasados veículos anti-motim, desesperando numa pobre fidalguia de bloqueada gente à primeira mijinha de alvura, porque a desprotegida Protecção Civil se verá privada - diz a minha inocência - de verbas para um básico serviço público de desencarceramento de quem atascado fica à primeira mija dos deuses feita de tresloucados farrapos brancos. E fiquei com inveja, assim me confesso, pecados meus... Quem os não tem, seus também? Que a neve possui os seus encantos, encantos muitos os direi, e a chuva, doseada seja, também os terá. Mas não para quem aterrou no penico de Portugal, Atlântico por vizinho, produtiva terra onde quando não chove, há chuva. E mais chuva, e ainda um pouco mais de chuva, torrencial ou às pinguinhas, pingando torrencialmente, ou torrencialmente pingando. Ainda se pudesse fazer bolas de chuva para me confundir no infantil mundo da descendência! E nem as insanas versões para arquitectar um boneco de chuva resultam... O velho cachecol fica invariavelmente ensopado e são em vão as inúmeras tentativas de recolocar a cenoura a servir de apêndice olfactivo... Por isso fico a ruminar nesta abrutalhada forma de sã inveja. Também queria um "cibo de nebe", um "cibinho", só um "tantinho pra num ficar im augado"...

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Martinhadas e Castanhadas


"Ou cousa que se l'apareça"! Havia algo de místico, sobrenatural até. Seria um dia como qualquer outro dia, não ditasse o calendário situar-se na vizinhança de meados de Novembro, algures onde apregoava a tradição haver uma sinopse do estio, dizem-na Verão de um cavaleiro romano que virou bispo por ter corrompido a profecia de vigésimo primeiro século: uma tal de centúria em que são os pobres que desafiam a gravidade, não a do Isaac, que essa é coisa de maçãs, assim a dizem, mas a outra, a da situação! Assim de mansinho, para não ser rotulado de reaccionário, aquela que vem sendo madre de todas as cousas, cousas essas que incluem, a título meramente exemplificativo, nada de transcendente, juros da dívida pública no limiar da entrada em cena de Santo FMI (para os mais desatentos, o dito Santo é o padroeiro da Fome Mascarada Iminente, santidade meio a jeito de deturpação do globalmente parodiado por infiltrados agentes mediáticos). Ou a maléfica forma de impor ao mendigo que ceda metade da sua capa ao eminente cavaleiro... Apenas um prolongar da ausência de tréguas na milenar luta entre Sua Eminência e Nossa Iminência... Destravado espírito o meu que se deixa agrilhoar pela viperina condução de extremidades superiores de encontro a um teclado! "Atão, c'um lecença de Bosselências, ou juro pur estas bistinhas q'a terra e os bitchinhos hádim cumêre e inda juro tamém pur'us mous pecadinhos, que são mim pouquetchos, que fui dezbiado das nhas intenções pur estes malditos tóros das manápulas, que debium mas era star imbarrados pra que num s'apusessim desinquietos. Olha pró que l'habia de dar ó diatcho dos dedos! Ind'ós mando pró caralhitchas d'Antártida, pra ber s'amoutch'um tantinho, que bus-jiu digo ou. Dixu-m'u aldrúbias do Tonho Lingrinhas, o que s'amigou co'a galdéria da Miquinhas da Ti Alzira dos Poulos, que por lá num s'amanham homes ingrabatados q'indrominim o pobo cum IBAs de bint'i deis ou bint'i três pur cento, nim nos cobrum IMI se nos der na catchimónia de nos botarmos a fazer um ou deis iglus. E aparece-se q'os postes prás SECUTES num se sigurum no gelo... Peis, é berdade, num há batatas nim castinheiros, nim recos pra cebar, mas inda s'amanhum uns pinguins, que tânho que préguntar à minha se num ficum munto rijos si us strugir mim strugidinhos"! Entretanto, após este fogacho desviante, estou de regresso ao Planeta Europa, aqui bem perto da extremidade a que uns rapazolas colonizadores apelidaram de Finis Terrae... Não será a dita, porque o Colombo e o Álvares decidiram dar voz à sua obstinação, mas Finisterra não sendo, assemelha-se, cada vez mais, a "Cu do Mundo", desconhecendo-se se ficará no nadegueiro hemisfério ocidental ou oriental, porque andam por aí uns países a reclamar o epíteto, atente-se em privações de pátrias de verdadeiros filósofos. Ainda há filósofos? Pois... Terá derivado esta efémera cedência do controlo à hipnose por um teclado para uma agonizante filosofia barata? Um momento, que vou armadilhar os fusíveis que energia providenciam a este desregrado impulso de escrevinhar filosofando acerca do "infilosofável"... ... ... Dizia eu, quando o curto-circuito mental ainda não tinha ocorrido, que havia algo de místico, sobrenatural até (sim, logo no início desta "martinhada", antes da verborreia que incluiu pinguins e afins - ops, rimou...). O Dia de S. Martinho, o do "baiádêguipróbóbinho", era detentor daquele trágico ritual de apenas providenciar a extrema unção às castanhas após a degola das ditas, e depois do inferno a que eram submetidas numa enorme fogueira no terreiro, num qualquer comunitário terreiro, dos que possuem imensos donos sem terem donatário algum. Era grande o ajuntamento! Vinha o Zé Povinho, e o Povão Zé, estranhas simbioses geradoras de um simples Zé Povo, ou Povo Zé, onde cabiam a Senhora, a Dona, o Senhor e o Doutor. Nada de estratificações, nada de obsoletas ramificações de instituídos feudalismos, "népias"! Nesse dia vulgarizava-se a igualdade de classes, num hilariante disparate histórico em que, por um dia, reinava a utopia de direitos e deveres semelhantes, igualitárias neblinas que obliteravam milenares realidades. Era o Magusto, o "Magnus Ustus", a grande fogueira, ou reminiscências de um "Magus Ustus", ancestralidades de sementes celtas de um qualquer Samhain. Era a pureza vingadora das distinções, soturnas faces que soçobravam perante os enternecedores sorrisos que desenhavam caras "infurretadas" pela cinza, se desinibiam por gargantas acariciadas a jeropiga ou outro qualquer líquido alento para melhor digestão dos "bilhós". E provava-se o vinho, o novo, o velho, garrafões envoltos em vime em breve esvaziados ou, ternurenta tradição, as pipas transformadas em alcoólicas bicas, num desenfreado corrupio de provas em copo único. Que se danassem os micróbios! Aliás, a microbiana vida devia alhear-se da potencial mortandade em vespertinos finais de algazarras muitas, espíritos à solta, num atmosférico escambo de etílicos vapores, desenfreados diabos invasores de alheias adegas, contínuos ecos de desencontradas gargalhadas, ao sabor de mais "ua pinga", um "cibo" de presunto, quando o havia, um "tantinho" de queijo curado, do duro, daquele que se solta em finas lascas, lascando, de igual forma os dedos dos mais incautos. E voavam "carabunhas", resquícios de deglutidas azeitonas, imaginárias guerras sem baixas, onde as bestas eram braçais forças arremessadoras de salivados projécteis. Foi ontem, num pretérito algures perdido no tempo, resgatado de uma qualquer memória futura. E ninguém se "imbutchinaba" nessas batalhas onde toldados cérebros se aglomeravam num pequeno mundo de xisto...

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Associação Potrica - Lapadas, biqueiros e lostras no iletrismo



O maior mal não é o analfabetismo, é o iletrismo das classes dirigentes (Ricardo Jorge)

Para os mais desprevenidos... Há, reconhecidamente, um dialecto de "Tráze duje Monteje", com as suas especificidades regionais, sublinhe-se. Para os que, humildemente, o desconhecem, talvez tivesse sido mais eficaz ter no título "Pedradas, pontapés e estalos" (e para os que, com sobranceria o renegam, fica, simplesmente, "ua lapada, um biqueiro e ua lostra" para a renegação). Já para os afoitos dos neologismos, talvez a substituição do "iletrismo" por "iliteracia" se revelasse mais conveniente. Contudo, não pretendendo ser mais papista que o Papa, procuro - nem sempre conseguindo, é verdade - elevar a desbaratada Língua Portuguesa a um delicioso purismo, temperando a ousadia com um "cibo" de orgulho nas raízes. Conquanto, nos tempos que correm, lhe veja a pureza desvirginada por "atos de corrução" paridos por quem, numa "ação" de desvirtuar o ditado, aceitou que fosse ensinado o Pai-Nosso ao padre. Andarão o Luís, o Fernando, a Florbela, o Ary e outros mais "práguêjando ná séputura", a aviltar semelhante homicídio? Que pensará El-Rei D. Dinis, tresloucado poeta-lavrador que impôs o bárbaro Português como língua oficial dos diplomas? Que se dane, ainda se desconhecia a existência das terras de Vera Cruz e as traulitadas resumiam-se a ser sanadas por Tratados de Alcanices, e Tordesilhas ainda se anunciava longe... E, reconheça-se o factualmente indesmentível: os polegares apenas detinham desenvoltura para manejar espadas, maças e demais artefactos bélicos medievais para "infiar uas catchouçadas" nos do lado de lá, e para se defender das ditas, também. Hoje, dizem os especialistas em genética, o futuro será sorridente para uns tendencialmente mais extensíveis polegares, muito à custa da massiva utilização de novas tecnologias. Nada de anormal, nada de pecaminoso... O pecado mora ao lado, bem ao lado da correcta utilização de um tal de camoniano idioma, adulterado a "kstões de kem axa k ixo d screver é 1a xpriêxia dkls k tb é 1 xpetakulo" transcendente, mesmo que a transcendência se transforme num vocábulo inentendível. Adiante, que o Sabor ainda corre selvagem e o Tua ainda não inundou a linha... E adiante que, ocasionalmente, vão surgindo motivos para sorrir! Como uma tal de "Associação Potrica" ("Axoxiaxão Potrika" em "Portecladês", cabal demonstração de poliglota!), uma infame organização que, pasme-se, quer revigorar hábitos de leitura. Em cafetarias!!! Mas que "dexk/xideraxão" para quem apenas encara determinados locais como um vínculo à cafeína ou a etílicas formas de arejar a mente! Mas que atentado à liberdade de "xprexão"!!! Mas este rapazola, detentor de uma linguística insanidade de Cavaleiro Andante, aplaude, aplaude, e volta a aplaudir, aplaudindo novamente, numa prolongada ovação a mais esta tentativa de não anuir com a ostracização a que a Língua Portuguesa vai sendo votada através de ignominiosas formas de barata prostituição. Amparem-se os superiores membros, rubicundos que estão de tanto aplauso, limitem-se as suas extremidades a transfigurar os signos de um teclado em vocábulos de louvor a tão impagável iniciativa. Todavia, vou sendo assolado por uma inenarrável tristeza... Macedo estará à distância de um pulo, mas a minha dose de cafeína foi deglutida algures num "tasco" à beira mar plantado onde, em substituição do delicioso silêncio de um livro, ecoava pela atmosfera a aculturação de uma pronúncia que, não desmerecedora de crédito pela sua beleza, se inflitrou em forma de "á-cô-ré-dô" desde que uma Sónia de cravo e canela invadiu o mar português. Foi ontem, lá longe, a preto e branco... E foi hoje, bem perto, a cores... Nesse hoje apenas desejei, temporal arrepio dos sentidos, aspirar uma macedense atmosfera, temperada a Torga ou Junqueiro, condimentada a Pires Cabral ou Trindade Coelho, ou adoçada a monstros outros. Limitei-me à leitura da saqueta de sacarose, reli a saudade e tentei decifrar uma forma de aplaudir uma tal de "Associação Potrica", essa tal que convida para uma "Pausa para a leitura" nos cafés macedenses. Bem-haja! Porque o analfabetismo não reside naqueles que não sabem ler; mas sim naqueles que, sabendo-o, não o fazem... Impavidamente extensível ao iletrismo de certas classes...

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Sobrevivências com rejuvenescimento do espírito

Será a repetição uma apologia à perversidade de insistentemente escutar a surdez alheia? Ou soará a tal… Para lá da potencial catalogação de insanidade, encaro o repetitivo ser como um audaz, mas tenebroso também, violentador do silêncio das massas. As encefálicas, as cinzentas, as corporais e, para que ostracizadas não se sintam, as alimentícias também. Só para compor o ramalhete das massas, dê-se albergue aos hidratos de carbono, momentâneos desvios da atenção ao essencial, fica-se a pensar no amido e segue o baile do silêncio, entrecortado pelo ruído de umas bolhas de água fervente, frutos da convecção que faltando vai à minha resignada gente. Afunda-se a alma e renega-se a física, num desfilar de fluidos em que as moléculas compulsivamente rejeitam o efeito calorífico, apenas por ausência do mesmo. Derivações de uma qualquer densidade pétrea, não a da terra, não a que emana de geológicas entranhas, mas a do betão que insistem em impingir, à força de atoardas orçamentais, expoente máximo da indignidade com que uma cambada de umbigos com excessivo perímetro vai cerceando a milenar constatação de que todos estamos dotados de resquícios de cordão umbilical. «- Or om’zesta! C’um catancho, o Cabaleiro debe-se ter sbarrado contra um candiólo e ficou tchalotinho, o pobre home! Puri, sbarou no carambelo, scarnatchou-se todo e botou-se scaleiras abaitcho. Foi o mou que mu dixo, oubiu-lo no pobo ó Ti Tonho Gago, ma num me spanta que lu tânha intendido ó scontra, q’o home ingalêa-se co’as palabras e dás bezes dize deis e são déze! Mas inda cm’assim, aparecesse-me q’o Cabaleiro já num dize cousa cum cousa»… Não confirmo nem desminto, talvez seja apenas a indumentária com que o dito traja, carapaça como armadura, antídoto à propaganda com que um bando de falsários leva a cabo aquilo que noutras bandas seria apelidado de genocídio, macabras limpezas, redutoras da etnicidade que lavra na alma de um povo, silenciosamente conduzido ao lenocínio. Sim, porque os ímpetos carnais são dotados de várias vertentes! E as formas de exploração da carne resumidas não são ao propriamente dito… Triste sina a de um povo que “s’amoutcha”, vergastado pelo despotismo dos iluminados de beneditinos corredores, amansado pelo marketing de “train à grande vitesse”, depauperado por extintas “Sem Custo para os Utilizadores”, indiferentemente sodomizado por IVA, IRS, IMI e demais paridos verdugos do pouco que lhe resta. Penitência para alheios pecados, dez “políticos-nossos” e cem “avé-confrarias”, jejum por quarenta dias… E uma sorridente auto-flagelação, alegre suplício da alma (e da carteira também), venham de lá campanhas mais, eleitorais umas, estomacais as outras. “Bou-me mas é fitchar a matraca, num me bânha puri um AVC ou, transmontanamente, um ABC - Agonia por Bias das Cousas”. (Mentalmente, confesso que o C me faz derivar insistentemente para uma vernácula forma vocabular que rima com tostões, assim meio a jeito de conotações caprinas, mas não quero ferir susceptibilidades)… E, verdade seja dita, por caprino linguajar, o queijo de cabra que degustei no fim-de-semana fez-me esquecer as agruras temporais. E as espirituais também! Trás-os-Montes regenera-me a alma! Ainda que este fim-de-semana seja apologético de uma fogueira das vaidades, repetidas mostras em tapetes de arranjos florais, reina a hipocrisia por um dia, que bárbaro sou!, iluminada a ceráceas formas que, por efémeras, não desmentem a compostura de ser socialmente correcto uma vez por ano, na procissão de um rebanho que anda tresmalhado na restante dúzia de meses. Que se danem as sepulturas por 364 dias! Pois… Também sou do rebanho, mas sou uma ovelha ranhosa que se dá ao tresmalho no dia primeiro do mês que já foi nono… Na panóplia de opções, prefiro ausentar-me, numa debandada geral do ser, levando a companhia dos que já companhia me fizeram, relembrando-os numa privada cerimónia, algures num paraíso a que chamam Azibo, onde apascento as recordações a chamas de redescoberta de um mítico chão de onde brotam pedras, sobreiros, cogumelos, castanheiros e outras coisas mais. E onde as agora gélidas águas me aquecem numa orgia de inacabados sentidos, sou capaz de ver o som de um grasnar e ouvir imagens de um sol que se apresta a entregar-se a Morfeu, cheirar a textura da rugosidade das pedras e tocar os aromas que se desprendem da terra, provando a essência de nunca inventados sabores. É tão só um aconchego entre tantos outros que emanam de uma curta estadia pela terra que me esculpiu o ser. Fogueiras outras, que não as da vaidade, umas que aquecem a alma, o coração outras. Moram naquele abraço, num sorriso mais, tantas vezes repetido, na suave sonoridade de palavras traçadas a distinta pronúncia, vozes do povo, vozes da alma, vozes do querer. Residem naquele “capão” que se vai buscar para fazer o “magosto”, nos “stourotes” das castanhas que saltitam no velho assador, nos “bilhós” regados com jeropiga, nas gargalhadas que vão povoando o ambiente com o desfilar de histórias mil vezes repetidas e mil vezes aplaudidas a “risa”. Não cansam, reconfortam, embriagam o espírito sem etílicos vapores. E aliviam o fardo de um Dia de Todos os Santos onde, nos dias que correm, por de todos os santos ser, cabe também um qualquer Dia de São Nunca, padroeiro dos orçamentos, ou, controversas verdades “infurretadas” a inverdade, passou a caber também o Dia de São Pinóquio, incontestado padroeiro e defensor de “boys” ou, instância última, de “jobs” para os ditos… Perdoe-se o Geppetto, que não sabia o que fazia…