Bem Vindo às Cousas

Puri, se tchigou às COUSAS, beio pur'um magosto ou um bilhó, pur'um azedo ou um butelo, ou pur um cibinho d'izco d'adobo. Se calha, tamém hai puri irbanços, tchítcharos, repolgas, um carólo e ua pinga. As COUSAS num le dão c'o colheroto nim c'ua cajata nim cu'as'tanazes. Num alomba ua lostra nim um biqueiro nas gâmbias. Sêmos um tantinho 'stoubados, dàs bezes 'spritados, tchotchos e lapouços. S'aqui bem num fica sim nos arraiolos ou o meringalho. Nim apanha almorródias nim galiqueira. « - Anda'di, Amigo! Trai ua nabalha, assenta-te no motcho e incerta ó pão. Falemus e bubemus um copo até canearmos e nus pintcharmus pró lado! Nas COUSAS num se fica cum larota, nim sede nim couratcho d'ideias» SEJA BEM-VINDO AO MUNDO DAS COUSAS. COUSAS MACEDENSES E TRASMONTANAS, RECORDAÇÕES, UM PEDAÇO DE UM REINO MARAVILHOSO E UMA AMÁLGAMA DE IDEIAS. CONTAMOS COM AS SUAS :







domingo, 16 de setembro de 2012

Um helicóptero do INEM como causa - a vida saiu à rua


Não desdenharia da possibilidade de enveredar por um desfilar de simbioses vocabulares eruditas. Dotado de uma parafernália de dicionários, enciclopédias, gramáticas e demais acessórios livrescos como leais conselheiros, dúvidas não me assistem acerca da capacidade de vomitar um bolo alimentar desenhado a algo que se assemelhasse a erudição. Mas não me apetece... Pelo contrário, surge-me uma irreprimível apetência para vernaculizar. Descansadas fiquem puritanas almas, apelo não farei à brejeirice, mas esforços não regatearei para alcançar a pureza da mais recôndita essência. Depois, plagiando o que insistentemente circulando vai por sociais redes, "Vão-se foder!"... Porque é assim, basta recorrer a um tasco perdido numa qualquer aldeia perdida deste perdido Nordeste e, salve-me Nosso Senhor, uma "manilha" mal jogada azo dará a um soltar de língua que, desmedidas palavras, executará um indomável "caralho'sta racontrafoda atão num te fize sinal q'o áze num no tinha ou". Assim mesmo, sem vírgulas ou demais pontuações, expelido com toda a força que os "botches" permissão derem, vozes entrelaçadas num "abonda di mais uas mines, q'o mou parceiro já num faze ztinção entre um baléte e ua sóta". Entretanto, descontroladas emoções, algum dos comparsas poderá sentir um aperto no peito, dor atroz que polui o discernimento, sente-se a vida a esvair-se, atrapalhações muitas, "tchamim o cent'i doze, q'o home se pintcha pró lado, que mim branco stá!". É assim no "fim do mundo", ficcionais âmbitos à parte, que de ficções está o mundo "tchêo", e de realidades "tchêo" está este "cibo" de terra confinado a geomorfológicas condições de Trás-os-Montes. Caros senhores à beira Tagus sentados: os mares nunca dantes navegados não se confinam a Atlânticos, Índicos ou Pacíficos; há também um Mar de Pedras, enviesado entre a Estrela Polar e o Sol Nascente, onde marinhos monstros não há, monstros os haverá, quando cá vêm tentando convencer as gentes que os calhaus à beira-mar paridos são de suprema casta, comparados sejam com ígneos ou metamórficos calhaus neste paraíso nascidos. Por isso ontem saí à rua! Confesso que desvirginei o meu comodismo, apenas porque me habituei à salutar santidade de um Pedro Hispano, de um Santo António ou de um São João, ali mesmo, quase ao virar da esquina, à mão de semear, sem necessidade de recurso a helitransporte que me garantisse uma chegada em 30 minutos (!!!!). Por isso ontem saí à rua!!! Porque viver em Soutelo Mourisco, em Vilar Seco de Lomba ou em Peredo de Bemposta é de uma distinção que deveria fazer roer de inveja aqueles que, recheadas contas bancárias, lustrosos gabinetes, se reduzem à imbecilidade de me tratar como um número. Por isso ontem saí à rua!!! E senti uma emoção nunca sentida ao ver a minha gente testemunhar a importância de umas hélices, ao olhar para a inocência de uma criança salva pela eficácia do que pretendem, agora, retirar-lhe. E emocionei-me ainda mais, ouvindo esta gente exposta à gatunagem de gabinete a entoar o Hino do país que lhe quer vilipendiar a pouca saúde que lhe resta. Paradoxos dos dias, descendentes das estirpes dos que infiéis acossaram, filhos dos que este pedaço ao reino agregaram, vergastadas sofreram para pertença terem a este flato lusitano que agora os quer ver morrer agarrados a giestas e castanheiros... Por isso saí à rua!!! Calma e pacificamente, trajado a luto, de palavras de ordem não abusando, coisas de feitio (ou defeito), palmas das mãos aquecendo para ânimo dar a muitas faces talhadas a esquecimento. E, excelentíssimo reverendíssimo senhor presidente do INEM, minhas faço as palavras de quem, gentilmente, lhe endereçou o convite para um pitoresco percurso de ambulância (pode ser uma VMER, uma SIV ou qualquer outra coisa de quatro rodas) entre Miranda do Douro e Bragança. Se tem os "arraiolos" no sítio, bem presos "ó meringalho", "bote cá buber ua pinga"!
No tempo em que decorrer a confortável viagem, para que não sinta a angústia de curvas e contracurvas, sua ilustríssima excelência terá à disposição um inexcedível serviço de tradução, não só do sentir de um povo, mas também do significado de "arraiolos" e "meringalho" (com versão extendida para eunucos), assim como, enquanto "enfarda o bandulho" com umas agradáveis alheiras (ou tabafeias, se aceitar a sugestão de partida), lhe será gentilmente explicado o significado de "alombar", "stadulho", "seitoura", "aixada" e, especialmente, "mangar". Porque, "mangação" é algo pelo qual os Nordestinos têm pouco apreço... Por isso ontem saí à rua!!! Junto do Heliporto Municipal, local onde, a troco de um digno serviço que a actual ladroagem quer retirar, foram gastos uns parcos milhares do erário público, enquanto se me embargava a voz ao som da união de um Hino, lembrava-me dos tempos que passei por "Al-Lixbuna". Um dia, alguém da sua estirpe, com toda a certeza, mandou-me calar em termos menos próprios, dignos de uma certa e característica altivez: «- Cale-se lá, Sr. Trasmontano! Acaso não sabe que Lisboa é Portugal e o resto é paisagem?»... Nesta humildade de calhau parido atrás dos montes, afectuosamente respondi: «- Não, Senhora Professora! O Norte é que é Portugal! O resto são conquistas»... A História tem sempre a particularidade de poder repetir-se... Por isso ontem saí à rua!!!

  

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Umas hélices como simbologia

Por vezes, o burro cansa-se de vergastadas. O verdugo que maneja o chicote, habituado à mansidão do jumento, vai imprimindo ascendentes movimentos, logo seguidos dos contrários descendentes, silvo a irromper na pacatez e, zás!, sem que conste dos manuais do despotismo a desfaçatez da indignação, soltam-se amarras e voam uns cascos que atordoam o abutre. Logo virão outros, crentes na efemeridade do processo de levantamento de ferraduras... A não ser que a persistência dos indómitos resista à afronta... Mas já o dizia o grande Torga nos seus Diários, lá por tempos de passado século: «É um fenómeno curioso: o país ergue-se indignado, moureja o dia inteiro indignado, come, bebe e diverte-se indignado, mas não passa disto. Falta-lhe o romantismo cívico da agressão. Somos, socialmente, uma colectividade pacífica de revoltados.» De quando em vez, agitam-se as águas, muito de quando em vez... Cumprida a revolta, hão-de suceder-se as pastas da Saúde (ou doutro qualquer Ministério), numa prolongada odisseia que, Homero por cá andasse, azo daria a mais uns quantos volumes. Vão os cleptómanos acicatando a soberba, apenas pela inevitabilidade de, fenómenos da geomorfologia, ter ficado um Reino Maravilhoso empoleirado no alto de Portugal. Episodicamente, serve o dito Reino para completar os manuais de estatística ou, eleitorais alternativas, cumpra-se ufana obrigação, alheiras e demais acepipes à disposição, caravanas de promessas do não esquecimento. Depois, apresse-se a retirada de medalhas e retorne-se ao oficial Reino do Olvido. Após o desmembramento das linhas estreitas, estreite-se ainda mais a gente, ampute-se o Reino de básicos serviços, definhe-se a saúde, a educação também, esvazie-se a alma que, de alma desprovido, o povo, essa cambada de anónimos energúmenos, povo deixa de ser. Até um dia... Os Filipes também por cá andaram 60 anos... Talvez precisemos de uma nova Restauração, à traulitada não diria... Mas é premente restaurar a crença, o orgulho, a pertença, esta estranha forma distinta de estar, exuberantemente retratada por Torga: «Onde estiver um Trasmontano está qualquer coisa de específico, de irredutível... Corre-lhe nas veias a força que recebeu dos penhascos, hemoglobina que nunca se descora». Prometeram-nos um helicóptero em troca do desassossego, querem retirar-nos o dito para incrementar o mesmo desassossego. Podem roubar-me a comida, mas jamais me roubarão a fome... Por isso, a 15 de Setembro, lá estarei num fraternal abraço ao veículo das hélices. Ainda que seja simbólico... Porque do pouco se faz muito e muitos não farão, seguramente, pouco.         

domingo, 2 de setembro de 2012

Arrepios e encantos de um Grupo Coral Macedense


Talvez se trate apenas de uma exaltação derivada desta permeabilidade aos encantos do que proveniente é do Reino Pétreo... Afinal, detentor não sou de musicais dotes que permissão dêem a doutas avaliações. Mas de receptores auditivos posse tenho, e tal me basta para "botar uas palabrinhas" acerca de um tal de Grupo Coral Macedense. Lá por épocas natalícias, ser padrinho também tem destas cousas, fui presenteado com uma compilação musical do dito coro. À medida que o disco ia centrifugando, tomava a agradabilidade conta dos segundos, recostava o banco, deleitava-me com a simbiose de tons debitada por cada uma das colunas. De mansinho, absorvia o conjunto de afinadas vozes, em simultâneo percorrendo a lista de nomes e conhecidas caras, facto que, confesso, me acariciava, com emoção, os genes da pertença. Naquele baú especial onde se amontoam impalpáveis artefactos, como as recordações ou a saudade, aquele mesmo que alberga tudo o que um dia morrerá connosco, elevou-se uma pontinha de orgulho, "proa a tchamam", sobressaindo o desejo, ténue talvez, de um dia aspirar aquela orquestra de vozes ao vivo. Esse dia chegou, sem antecipada previsão, dizem que o melhor encanto dos sentidos é a surpresa. E que surpresa! Apresta-se a gente para o culto, religiosidade dos dias, por vezes, lá para os lados de Corujas, homenagem a ímpar figura da terra, perfilam-se simpáticas faces na lateral de mor altar, encantadoras, elas, pose cavalheiresca, eles. De repente, uma catadupa de estranhas sensações enquanto, ao fundo, a harmonia de vozes entoava louvores. De súbito, pareço ter remetido causas terrenas para um poço sem fundo e, revoluções outras, desencadeou-se um estranho bailado de eriçados pelos braçais, epiderme de superiores membros em ebulição, o êxtase de eléctricos choques dorsais, cerebral controlo sucumbindo a celestial momento. Tudo não passou de uma efémera, quase indisfarçável, comoção dos dias. São aqueles segundos que passam deixando o rasto dos momentos... Que não me leve a mal a Mariza, obrigado, "oh gente da minha terra"!...