Bem Vindo às Cousas

Puri, se tchigou às COUSAS, beio pur'um magosto ou um bilhó, pur'um azedo ou um butelo, ou pur um cibinho d'izco d'adobo. Se calha, tamém hai puri irbanços, tchítcharos, repolgas, um carólo e ua pinga. As COUSAS num le dão c'o colheroto nim c'ua cajata nim cu'as'tanazes. Num alomba ua lostra nim um biqueiro nas gâmbias. Sêmos um tantinho 'stoubados, dàs bezes 'spritados, tchotchos e lapouços. S'aqui bem num fica sim nos arraiolos ou o meringalho. Nim apanha almorródias nim galiqueira. « - Anda'di, Amigo! Trai ua nabalha, assenta-te no motcho e incerta ó pão. Falemus e bubemus um copo até canearmos e nus pintcharmus pró lado! Nas COUSAS num se fica cum larota, nim sede nim couratcho d'ideias» SEJA BEM-VINDO AO MUNDO DAS COUSAS. COUSAS MACEDENSES E TRASMONTANAS, RECORDAÇÕES, UM PEDAÇO DE UM REINO MARAVILHOSO E UMA AMÁLGAMA DE IDEIAS. CONTAMOS COM AS SUAS :







quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O Alustro num reino de esquecimento... (Sendas-Vale da Porca)


Na fugacidade dos dias, renovadas apetências para albardar o costado com merenda e demais apetrechos, máquina fotográfica a adornar pescoços ávidos por aliviar o peso de matinais geadas.

A Estação de Sendas como ponto de encontro para uma incursão à selva desconhecida onde um dia, a braços e dinamite, se esventrou a terra para passagem dar ao cavalo a vapor. E hoje, 18 de Dezembro de 2013, se cumprem 108 anos sobre a abertura do troço entre Macedo e Sendas... Sonhos de um século, nesta pungente dor que aviva fantasmas do Conselheiro Beça, enquanto se alivia o fardo das memórias de tantas incursões à capital de distrito... Arrojados Alustros estes, incautos parecem, na quase intransponível passagem para o lado de lá. Mas passam! Ou circulam, intrépidos, por paralelas vias. Valdrez há-de estar ali, e o apeadeiro, ou o que dele resta. Pelo caminho, um orgasmo vivo de cores e aromas, numa via que, de férrea, pouco mais lhe resta que uns parafusos esquecidos, aqui e ali, ou uns vestígios de madeira apodrecida. Amputada de ser, já não cheira a silvos, cheira apenas a um aterrador silêncio de morte. Até as pedras padecem de uma putrefacção semeada por carrascos do esquecimento...
São os acordes da impunidade, que a pétrea acumulação que sustentava as travessas queimada não pode ser... Ou "sucateada", de inventados verbos a sessão. Mas restam imagens de um tempo que não deve esquecer-se. A sordidez não se apaga, nem se oblitera a essência. Uma macieira perdida interrompe o périplo, ou venham discussões sobre a flora que, nada tendo de ré, invadiu pacatamente a linha. Paragem para apreciar a suavidade alcoólica de medronhos invasores, incentive-se o apetite para as sandes que massacram o lombo. Há-de chegar Salselas, e o amontoado de paredes assombradas pelo crepitar que, tempos idos, terá invadido o par de lareiras que por lá repousam. Subitamente, um arrepio temporal na espinha, pressente-se a azáfama de um pretérito quase esquecido, gente terá por ali morado, numa época em que nem o telhado nem os sonhos se desmoronavam com a agrestia do alheamento. Isto é nosso, talvez seja nosso, o diz a ingenuidade de um querer movido a desejos...
O Azibo anuncia a sua presença, característico borbulhar de indomáveis águas domadas. Há que atravessá-lo, está a jornada quase terminada, gente afoita para a travessia, encantos outros em oposta margem. Perdem-se as mentes nos reflexos do rio do olvido, Lima não é, que este de esquecimentos lendários não padece... Pinturas a pastel de folhas de Outono, telas de pureza que intensificam o olhar, a perdição de minutos tornados horas, um registo mais para uma posteridade que desconhecemos se existência terá. Pressente-se a chegada do frio, arrepia-se caminho nesta jornada emoldurada a lágrimas não vertidas.
Talvez o Azibo seja o choro da crónica de um finar anunciado no longínquo ano de 1905. Ou resquícios do suor lavado a pás e picaretas, no trinar de esforços de incógnita gente que, um dia, desbravou este reino do esquecimento para que os vindouros não carregassem o peso da distância ao litoral, ou à capital do império... "Atenção aos comboios... Pare, Escute, Olhe... Proibido o trânsito pela linha"... Qual trânsito?...     .
      


sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Ideias Natalícias



O Natal, ainda que destituído do universo mágico que carimbou a infância, persiste no encantamento dos sentidos. Mesmo que não seja fácil "botar" explicações acerca deste estado hipnótico, luzinhas para um lado, enfeites para outro, músicas de embalar o espírito, aculturações em forma de "oh, oh, oh" a partir do refrigerante que não fez voodoo ao mal parido sósia do mal amado candidato ao "balon d'or"...
Adaptações dos tempos, tinha mais apreço pelo "M'nino Jasus", cuja omnipresença deixava prendas em todos os sapatinhos do mundo e arredores. Porém, Natal é Natal, nem que as contingências obriguem a naturais contenções de bolsas e almas. E, de facto, sou um crente da época natalícia... Serei sempre um crente, não obstante o massacre de troikas que me constranjam a deixar de acreditar em trenós. O São Nicolau deverá saber como vir montado em renas, desconforto dos dias. Não continuarão as renas com invisíveis asas? "Que mai fai"! 
Como  me dizia um amigo, quando não se podem fazer omeletes com ovos, façam-se com cascas. E, inúmeras vezes, há omeletes com cascas que surpreendem o paladar, exaltam os sentidos, petrificam o olhar. Divagações gastronómicas à parte, aplaudam-se os empreendedores de ideias! Agrada-me esta ideia da "Cidade Natal". A sério que agrada! Porque, repetições muitas, sou um crente. Obstinadamente crente, descaradamente crente... E confesso que gosto desmesuradamente das decorações natalícias. Afagam-me as agruras, retemperam-me a escuridão, moldam-me o carácter para a persistência. E renovam-me! Pelo tempo que duram os efeitos, mais não seja, até à chegada do fogo dos Caretos... 
Hão-de vir os do costume, os que não "coisam nim saim de cima", descrentes de coisa nenhuma, crentes em coisa alguma. Estarão lá, à espera, afoitos por soltar impropérios à geada, que no tempo dela deveria estar o sol no zénite, e nos trópicos é que se estava bem, ou na Lua, que vento não tem e está sempre virada para o Sol... "Quem mo dixo foi um belho do Restelo, ou lá o q'staba scrito por o poeta birolho q'era mim guitcho pra botar uas ideias de doutore im forma de strofeze"... 
"Ma sim, q'a nha bila tchêa de luzinhas fica mim pimpona! Or sim? Digo ou, bá, que fico tchêo de proa mesmo quando se m'ingaranh'ó narize pra bêr'a câmbera co as jinelas á'lumiar a neite"... 
Dizia eu que me agrada esta ideia da "Cidade Natal". E, convictamente, vou tentar participar, ainda que tenha reservas relativamente ao meu (des)apurado gosto para enfeites. Sejam eles de que âmbito forem... E gosto de ver os segadores com vida renovada, mesmo que alguns insistam em apelidá-los de "cegadores", saiba eu que as "seitouras" também serviriam para tirar olhos quando "s'ingaliabam" uns tantos... Mas Natal não é tempo de "bulhas". Até o burrinho e a vaquinha permanecem em sossego no presépio. E por falar em presépio... Que tal um pequeno desvio até ao Museu de Arte Sacra?...
     

terça-feira, 26 de novembro de 2013

De regresso... Porque dizem que em Macedo não há nada para fazer...

Há fins-de semana que nos despertam da letargia, como se um qualquer relâmpago nos trespassasse a alma, penetrando em todas as latitudes e longitudes do ser. Talvez a rosa-dos-ventos traga, agora, um ponto cardeal chamado Renascente... Pode assemelhar-se a um efémero murro no estômago, e tudo volte à "normalidade", à tão apregoada "normalidade" dos dias que correm. Porque dizem que em Macedo não há nada para fazer... E talvez não haja...
A não ser que que se passe uma agradável noite de Sexta-feira a divagar sobre coisas tão desinteressantes como as marcas da presença dos cristãos-novos, tão nossos marranos, por terras de "trás-do-sol-posto". Envolvendo, pelo meio da tertúlia, coisas tão básicas como o orgulho de ser detentor de hemoglobina xística, ou granítica, "bá", ou coisa que o valha proveniente deste reino pétreo. Como não havia nada para fazer, fui a uma tertúlia literária... Mas poderia ter ficado a fazer coisas muito mais interessantes... Protestar num qualquer café acerca de não haver nada para fazer... Por exemplo...Mas fui a uma desinteressantíssima tertúlia literária... E, azar de um "rais'ma partam", ainda tive o privilégio de rever um grande amigo. Rever grandes amigos é não ter mais nada para fazer..
Desbaratada a essência do ser, gravidade dos factos, o Sábado seria preenchido por um percurso fotográfico, indelével marca Alustro, às entranhas da Linha do Tua, essa coisa mal amada por onde, um dia, de barba rija os homens, se dinamitou a pedra para passagem dar ao cavalo a vapor. Mas não havia nada de mais interessante para fazer... E não havendo nada de mais interessante para fazer, verguem as solas do calçado, reúna-se um grupo de "tchalotecos", arrase-se com o gelo matinal, vontades tantas estas, as de nada ter para fazer. Calcorrear o silêncio, onde um dia reinaram silvos que esventraram a terra, olhar para o vazio preenchido a memórias, escutar cada silva a ranger sempre que pisada era para dar passagem. E os risos, aquela coisa pecaminosa de quem nada tem para fazer. Haverá pior forma de ultrapassar um lúdico Sábado? "Tchotchos", estes Alustros são mesmo "tchotchos"...
Após um mais que insípido matinal e vespertino Sábado, e nada mais havendo para fazer, energias balofas essas, rumo às "Memórias da Maria Castanha", preferível é o colapso de um "bilhó" entalado na garganta ao engasgar do nada haver para fazer... Ouvidos cansados pelo estridente disparo de obturadores, escutam-se histórias da "Maria Castanha", esse tão nosso fruto, batata dos soutos. E ficamos encantados por nada haver para fazer... Porque, de seguida, haverá que rumar a outras paragens. Dizem que a Companhia de Dança do Norte terá um espectáculo no Centro Cultural. Centro quê? Blheargh!... Não têm mais nada para fazer?...
De repente, uma alucinante viagem que nos transporta, paralelismos outros, ao "The Wall"... Corpos em movimento, entrelaçar de coreografias, dança das emoções. Bailar de vontades, encanta-se o olhar em trepidantes sonoridades. Termina a sessão com um natural e unânime aplauso, de pé a gente, mãos aquecidas pela alegria de nada haver para fazer. São assim os dias, malfadados ponteiros de um tempo em que, nada havendo para fazer em Macedo, se fecham brevemente os minutos num desperdício de acordes em forma de teclas. Monótono, muito monótono... Agora, regresso feito, apetece-me ir fazer alguma coisa... Nesta terra em que, dizem os crentes, não há nada para fazer... E não haverá... Até ao próximo fim-de-semana em que nada farei...

 


  


sexta-feira, 19 de abril de 2013

Alustrices


Diz o incomparável que "Deus quer, o homem sonha, a obra nasce". Por bandas de Terras de Cavaleiros, não façam os da casa milagres, que de milagreiros está exógeno espaço cheio, Deus quis, o homem sonhou, a obra nasceu. Numa qualquer conversa de rua, emanada do circunstancial, pacatez dos dias, abane-se o estabelecido, o diziam os líricos, rubrique-se verbal acordo a manifestação de vontades e avance-se para a reunião de desconhecido exército. Não um qualquer exército, apenas um batalhão de sonhadores que nutrem, em simultâneo, inusitada paixão por disparos sem vítimas. Ou vítimas haja, sorrisos ou rugas gravados a recolhas de luz, obturadores em acção, permaneçam em paz momentos do pretérito, ou falem as pedras, surja quem disponibilidade tenha para as escutar. Da procrastinação dos dias não é feita a vontade. É vê-los, visão em riste, poetas de imagens, artesãos do olhar, perscrutando a noite ou sugando o tutano dos dias. Talvez o efémero do pormenor ganhe, subitamente, eternidade. 
Ou, vozes da reacção, o Restelo longínquo, não funcionarão, por bandas estas, da desgraça profecias. Queiram os feiticeiros recriar antídotos de fé muita, dobrar o das Tormentas e desbravar sentidos muito para lá da Taprobana. Deva o céu ser o limite, lá para um mar de estrelas nunca dantes navegado, onde os horizontes se diluam a metafísica. Querer é poder, o dizem os entendidos. "RAIS'PARTA" os ALUSTROS!!! Da resignação não desenham cartazes, telas formatadas a carolice, reinventam o tempo quando tempo não há. E sorriem, simplesmente sorriem, faces moldadas a sonho, que os olhos nunca se cansem e nunca fine a vontade. Depois, é só correr até à próxima paragem. Espíritos desenfreados em busca do nunca visto, irmandade da imagem, voam com os pássaros e lançam privadas orações aos altares da memória. Dizem que querem preservar o património e as gentes, planar como milhafres, entrar no estranho bailado nupcial de mergulhões, imiscuir-se nos aromas de selvagens orquídeas, disputar território a répteis e anfíbios. E captam afectos, na desumanidade da persistência, o dirão os escravos do medo. Talvez as paixões sejam mesmo assim, refrear do racional na irracionalidade do querer. 
Não se explicam, sentem-se. Apenas e tão só, sentem-se. Digo eu, mero Cavaleiro Andante, sonhador de letras e imagens, é assim que vejo os sonhos. 
Só os entendo esquissados a lápis sem cor, coloridos a giz de paixão. Numa qualquer lousa perdida no tempo e partida em partilháveis pedaços. Gostava de ser Alustro, a sério que gostava, ser parte de um bando de pardais à solta. Provavelmente, convidar-me-ão, tudo tem um preço afinal... Julgo já ter a ficha de inscrição, especial impresso para anónimos sócios, Macedo tem vida, ou vida quer ter. E tem património, gente, potencial, atmosfera... E tem Bornes, Nogueira... E Monte de Morais... E tem Azibo... E tem Alustro - Clube de Fotografia A. M. Pires Cabral... Venham mais cinco...    




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domingo, 7 de abril de 2013

Escuteiros - ou regressões ao 602...



Sermos tomados por uma quase incontrolável emoção, olhar perdido num quase infinito, violações ao tempo presente por um pretérito com irrazoáveis tonalidades a futuro. Fixações numa armação decorada a amarelo, verde, azul e encarnado, tremeluzentes ornamentos, no finito de um colorido derretido a esperança. Relembrei nós, acampamentos, fugazes recordações, de mochila às costas, fogos de conselho, não adiadas promessas. A controlada comoção, num assomo de passado, inesquecível, como inesquecíveis são as memórias. Ao vê-los, perfilados, alinhadinhos, no temor de uma qualquer falha de protocolos tantas vezes treinados, repetidas promessas de avanço etário. Tão pequeninos os Lobitos, encantadores. Lembrei-me da primeiras reuniões no piso inferior da "casa do padre". E da adrenalina do primeiro acampamento, liderado pelo saudoso Rui Santos, lá para os lados da ponte ferroviária de Vale da Porca. Áureos períodos da Linha do Tua, era o "cavalo" ainda a vapor, tremia a ponte à sua passagem enquanto eliminávamos os resíduos de gordura nas límpidas água do Azibo. Os "putos", os indomáveis "putos" de lenço amarelo... 
De repente, dei por mim a celebrar a Promessa. «Prometo, pela minha honra e com a graça de Deus, fazer todo o possível por: cumprir os meus deveres para com Deus, a Igreja e a Pátria; auxiliar os meus semelhantes em toda as circunstâncias; obedecer à Lei do Escuta»... As gavetas da memória abriram-se, sem aviso prévio, marcas da nostalgia, talvez. Alerta, sempre Alerta. Ou, Escuteiro por um dia, Escuteiro para toda a vida... Era hora de apadrinhar a promessa do futuro Explorador. Emocionei-me, a sério que me emocionei... 
Ficava a voz embargada, quase castrando a repetição do que ao microfone ouvia. Talvez fosse o eterno espírito de Baden Powell a provocar o estremecimento. Ou o incontrolado desejo de revivescência... Senti um orgulho imenso no 602, semelhante àquele que sentia enquanto entoava a "Radiosa Floração" de tempos idos, no indómito grito de "Escuteiros leais, avante, avante!"... Os Chefes Rui, Fátima, Afonso, Manuel Joaquim... A minha Patrulha Lobo, ou a Veado de avanços outros, lá longe, já ao virar da Associação de Socorros Mútuos para o Bairro de São Francisco. De súbito, lembrei-me de umas fotos que vi, algures, pela rede social... Faces que, evoluções celulares, perderam naturalmente a graciosidade de epidermes esticadas pela juventude. Mantêm-se graciosas, de igual forma. Tal como graciosa ficou a minha vontade de regressar... De repetições também se desenha a vida... Escuteiro por um dia, Escuteiro para toda a vida. Não fiz a Promessa... Mas prometi a mim mesmo o regresso, enquanto assistia a um inenarrável e comovente esvoaçar de lenços ao vento...

(Fotos "surripiadas" da autoria de Alexandra Mascarenhas)


    

     

quinta-feira, 28 de março de 2013

Bô! Dunde carbalhitchas s’indrominou o folare?


Coisas há que nos acicatam esta soberba de às pedras ter pertença. Como se os desafios se sucedessem, numa amálgama de formas aparentemente desconexas, entre prefixos e sufixos, radicais tantos de heranças latinas, árabes, helénicas e outras que tais, bárbaras até, os clássicos o diriam. De quando em vez, sofro deste achaque de contrariar o estabelecido. Demência, o dirão os intelectuais que, avantajado pedantismo, se servem à sobremesa do que vomitado é pela plebe… Afinal, Chacim não era adaptação linguística do arcaico “porco selvagem”, nem chacina de Árabes seria… Solte-se o porco ou tire-se coelho da cartola, não o derivado das pedras, antes o parido na humildade de ter a pretensão de contrariar o estabelecido. Repiquem os sinos da mente!... E recensões académicas venham à causa…
Mas deixemos o “Flacco” de lado e esqueçamos a “villa Flaccini”, outras que tais, que de sericicultura foram outras épocas desenhadas. É tempo da suavidade sedosa de folares a tecerem o êxtase de gustativas papilas, adornados a inconfundíveis aromas desprendidos pela “tchitcha” que recheio lhes dá. É a tradição a marcar pontos neste infame jogo de gula ancestral. E a eterna e histórica dúvida sobre “dunde carbalhitchas s’indrominou o folare”?
Descansem culinários peritos, imiscuir não me vou na excelência do que excelente é. De receitas quero saber-lhes apenas o resultado… E o registo das etapas… Ou inventá-las… Mas ao que interessa vamos…
Qual o significado de folar? Dúvida dos tempos, incisiva questão, dicionaristas se consultem, na embasbacada postura de possuir o dito folar uma origem obscura, especialistas dixit, impossível sendo atribuir-lhe, com segurança, um étimo latino... Como só acreditarei incondicional e piamente na ida à Lua quando lá “botar as patas”, de S. Tomé influências, pruridos me gera esta coisa de os ditos especialistas “botarem” obscurantismo na paternidade do vocábulo “folar”. Quando provo a iguaria, sabe-me a tudo menos a filho de pai incógnito… Ou a resquícios de germânico bolo, “flado” o diz o insuspeito Moraes, como se o mel algo tivesse a ver com o folar. Ou “poularde”, como o afirmam Faria e Lacerda. O folar derivado de frango?! De frango?... Creio mais nas derivações lendárias de Mariana e Amaro, mais o fidalgo sem nome, “floralis” o dizem os entendidos. Creio mas não acredito! Insuficiências de descrente… Só porque, raridade legada pelo “Tabellião” da excelsa vila medieval de Ferreira de Aves, lá para finais do séc. XIII, feito foi um “emprazamento” de metade de um moinho localizado em Folares. Onde? Folares??? Hummmm…. Dizem actuais cartografias que a dita Folares do documento evoluiu para Forles. Auscultem-se, de novo, os entendidos em toponímicas questões e de Folares a Forles influência terá tido a antroponímia de Froila derivada. 
Coisa em que, massa de farinha e ovos pelo meio, não acredito. Mais coisas da descrença… E adiante que, suspeitas da gula, lá me conduziu o folar à fogaça, iguarias de Terras de Santa Maria. Daqui a terras da península itálica foi um salto de pulga… E apareceu a “focaccia” a esgrimir argumentos. Mergulhe-se nas “Etimologias” do célebre Isidoro, lá para meados do séc. VII, e já por lá se vê a “focaccia”, meandros do fogo, “focus” para os pais da latinidade. Do fogo sairá, mundo pagão dos Deuses Lares a acrescer, no feminino de “focácius”. Talvez me “botasse” agora a um “carólo” do bem latino “panis focacius”… Há-de ter evoluído, tê-lo-á feito, seguramente, ou não teríamos hoje o “focolare”… Digo eu, na insapiência vertida de uma qualquer adquirida ignorância. Ou não nos dissesse a De Laude Virginitatis que
o conduto se “coctura in focularibus praeparata”… Derivações de paternidade em “foculare”…
Avance-se até ao medievo, das trevas lhe chamaram, erradamente o direi. Voemos até à Baixa Latinidade, ao “focagium”, imposto de feudalistas timbres, por cá derivado em fumádego, direito de fumagem ou fogaça. Lá teria de haver explicação para se contarem fogos ao invés de casas… E já se pagava uma imberbe forma de IMI… Aos desgraçados dos contribuintes, «alem do foro a que sam obrigados e concertados com o senhorio oyto alqueres de fogaça»… Só para um exemplo citar… 
Ou outro, lá para o séc. XII: «…Et in servicium unam fogazam de duobus alqueiris tritici…». Por estas bandas, também os ilustres donatários do infeliz Mosteiro de Castro de Avelãs se rogavam ao direito de considerar os que em suas terras moravam «bassalos do mosteiro» e «pagam mais de fumadego cada hum para acender foguo quatro dynheiros e meio». E das obrigações seculares, dos tempos evoluções, se terá passado para as religiosas. Como diz o inestimável Abade de Baçal, «Também na mesma semana gloriosa os párocos visitam as casas dos fregueses, lançando-lhes água benta e suplicando a Deus que prospere bem os moradores, ao mesmo tempo que levantam o FOLAR.» Ou resquícios do «focagium»… Pagamentos em «focolare»… Ou em «fo(co)lar(e)»… Digo eu…
        

quarta-feira, 27 de março de 2013

Rumando a Nordeste


Estar e não estar... No refugo do tempo, partículas que teimosamente permanecem agarradas à pele rugosa rasgada por geológicos encantos. Por vezes, apetece-me apagar a história, friamente, de macabra forma, sem pudor. "Albidei" a quadra natalícia, reformei antecipadamente o Entrudo, ocultei dias e passagens de repetidos e brilhantes fenómenos  da pátria xística. Condicionalismos dos instantes que se sucedem a alucinantes ritmos. Apetecia-me apagar a história... Mas não apago... "Cousas"...
Seria um desplante o homicídio a este umbilical fio que me une às pedras. Bem vistas as coisas, tornar-me-ia num assassino da essência. E não me apetece... Desculpem-me o incómodo... Prefiro manter este rumo a Nordeste. Mesmo que o Nordeste tenha deixado de ser um ponto colateral considerado na rosa-dos-ventos. Está lá algures, entre o nada e o nenhures, escondido onde visível é para toda a gente, obliterado por inexistentes remorsos de pedras tornadas artificialmente diamantes. Ou julgar-se-ão... 
Crónicas de um definhar anunciado... Prenúncios de uma eternamente adiada moribundez, enquanto nos anunciam que o butelo deve ser matamorfoseado em "Wurst", e umas casulas adulteradas em qualquer coisa assemelhada a  "getrocknete Bohnen"...  Digo eu, que nada sei do linguajar das terras da Wehrmacht, olhares de supremacia em direcção a Sudeste, contágios a "Lissabon"... 
Entre este nada e este nenhures, raio de repetição tantas neste meu algures, de apetência desenhados os genes, não me apetecia, apenas, apagar a história... Também me apetecia um "cibo de folar"... É tempo "deis", de "botar farinha n'ámassadeira", reviver, como num temporal orgasmo, a ancestralidade de uma tradição orquestrada a "massa mim marelinha" e a uns "bôs cibos de tchitcha" a ornamentar-lhe a alma... Resisto e não desisto, rumando a Nordeste...