
A nossa (in)Justiça vai funcionando... Mesmo que o funcionamento se resuma a funcionar mal na grande maioria das situações. Há uns anos, tal o mediatismo assumido, as televisões foram invadidas pelo "grito de Ipiranga" de uma aluna do Piaget. Revoltava-se a mesma pelos "actos humilhantes" a que foi sujeita na Praxe de 2002. Sou completamente a favor da tradição da Praxe. Também fui praxado e continuo por aqui sem me sentir traumatizado pelas brincadeiras a que fui sujeito. Na altura, representou uma forma de me integrar num ambiente completamente desconhecido. Contudo, a suprema humilhação a que fui sujeito resumiu-se a uma vertiginosa subida a uma estátua, sendo obrigado a decorar a respectiva representação bucal com dentífrico, dando-lhe um beijo de seguida. Qual foi a pior coisa que me aconteceu? Ter encostado os meus lábios na figura de um herói nacional morto, nunca mais ter usado aquela marca de dentífrico e a dificuldade, dadas as vertigens, de descer da dita estátua... Mas sobrevivi sem traumas... Comparar esta aventura com

ou

ou ainda

é pura ficção... E, por decoro, não me apetece colocar aqui outras barbaridades representativas da metamorfose que sofreu a tradição académica da Praxe... Como já dito, deveria ser uma forma de integração dos muitos que, como eu, saíam do conforto familiar da província para o desconhecido do bulício citadino. A transfiguração operada na, hoje, presumível integração traduz-se na mais elementar forma de transportar para o exterior, durante uns dias (e por vezes, por períodos mais longos), o acumular de frustrações, nomeadamente as de índole sexual. Mas porque raio a Ana Sofia Damião (a dita aluna do "grito de Ipiranga") teve que ser obrigada, entre outras coisas, a "simular orgasmos" perante uma assistência? Em primeiro lugar, os ditos existem para ser sentidos e não simulados... Em segundo, ainda que se simulem, não o devem ser para saciar as frustrações de quem, provavelmente, nunca foi presenteado com nenhum... Da parte que me toca, nada acrescentaria à minha vivência assistir a uma sequência de "ah, ui, oh", seguida da colectiva risada que acompanha os heróis que, isoladamente, não teriam os ditos no sítio para constranger uma aluna a tal acto... Em boa verdade, os "ah, ui, oh" só são fantásticos quando também provocam "ah, ui, oh"... Talvez não perceba a geração que me há-de governar um dia... E talvez não entenda que, no interior dessa mesma geração, possa existir um "ah, ui, oh" colectivo na presença de um "ah, ui, oh" simulado... Simulações de dissimulados?
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