
O Azibo é, definitivamente, mais que uma área de lazer e recreio. Muitas referências ocorrem, nas mais diversas publicações, acerca dessa paisagem única e ambiente inimitável que constituem o pulsar da Albufeira. Num breve recurso à memória, assaltam-me os arrepios causados por descrições com uma abrangência paradoxal, que vai de "lago alpino" ao oposto "ambiente mediterrânico". Este local de eleição é um fiel depositário de um pedaço indelével da minha história. Ainda "puto", assisti às dores do parto quando as máquinas invadiam os campos para transformar o minorca rio Azibo num mar de cristal interior. Ouvia, extasiado, os relatos que apontavam a "barragem" como uma das maiores da Europa em "terra batida" (mesmo que não percebesse "peva" sobre o significado de tal expressão). Diziam-me que era para melhorar a rega e o abastecimento de água, mas eu já sonhava arranjar substituto para a Carvalheira como área de mergulhos estivais.

Ainda "teenager", tratei de sacralizar o espaço, transformando-o no meu local de eleição para as aventuras do estio. As "escadinhas" foram eleitas como o santuário terminal para as incursões do grupo de "chavalos" que se colocava de polegar ao alto nas imediações do "Bosque", à espera que uma alma gentil se disponibilizasse a dar boleia até à "barragem". Os tempos eram outros e conseguia-se sempre atingir o objectivo, sem receio de qualquer percalço de permeio. Por vezes, mesmo ocorrendo à "tardinha", o percurso entre o cruzamento do IP4 e Santa Combinha era uma verdadeira penitência. Mas valia a pena e o esforço!

Mesmo que esse esforço envolvesse uma descida final por uma estrada poeirenta e, numa das situações, com um ataque de cães de gado. As sensações obtidas e as aventuras vividas eram compensadoras. Ainda que a testosterona limitasse a capacidade cerebral e levasse uns malucos a cometer a proeza da travessia a nado até às "escadinhas" do lado de Vale de Prados. Com bilhete de ida e volta... A primeira tentativa foi um sucesso! À segunda, com os "bofes" a darem sinal do excesso tabágico, já não houve regresso pela mesma via. Valeu o tractorista que deu boleia a dois "tchotchos" que deixaram as toalhas, as t-shirts, os chinelos e o tabaco do outro lado. À noitinha ainda lá estavam!

Se fosse hoje... Se fosse hoje, restaria o sítio... E já havia parque de merendas, ancoradouro, praias, bares e estrada asfaltada. E já se estariam a discutir as primeiras tacadas no novo eco-campo de golfe...

Falta o parque de campismo e uma unidade hoteleira... A evolução tratará de os trazer. Mesmo que contribuam para a descaracterização da "barragem" original. Todavia, deveriam os governantes deste país efectuar um estágio no Azibo. Seria uma aprendizagem sobre descaracterizações que valem a pena... Incluam as mesmas alterações fisionómicas a uma das minhas paixões, ou não. O essencial permanece, assim como as emoções que me desperta, após tantos anos. O Azibo é inigualável, assim como Fernando Pessoa... "Ó LAGO SAGRADO, QUANTO DO TEU SEGREDO SÃO SAUDADES DE MACEDO!"...
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