
Hoje tenho a benesse de um dia carregado de nuvens. As tonalidades que marcam o céu revelam o carácter ameaçador de uma trovoada de Verão, confundindo-se as imagens com um dos flagelos da época estival. Pelo meu parco conhecimento, só ainda houve efeitos adversos para os lados de Talhas. Desejo, ardentemente (fogos à parte, irra!), ser fustigado por umas bátegas de água enquanto entoo um desafinado e executo um desajeitado “singin’ in the rain"................................................. Os deuses estão comigo! A chuva foi efémera, mas foi propiciadora de um breve duche exterior, iluminado por uns ténues relâmpagos, fenómeno capaz de reduzir uns anos à “petroa”, tal o pânico que dela se apossa com estas manifestações da ira divina… “Oh mou filho! Atão stá a trubuar e a cairim uas pingas e tu andas aí, que pareces meio tchutchinho, a tirar f’tugrafias?” O meu pirralho também não se assustou com o troar celeste e andou atrás do progenitor com indicações preciosas sobre os melhores contrastes para obter registos para a posteridade… As tonalidades que pendiam sobre nós não foram obstáculo a mais uma churrascada, representada por umas “costelazinhas d’adôbo”. Pena que o jantar se tenha assemelhado a ceia e já não tenha dado permissão para assistir ao “Encontro dos Grupos Culturais”.

Deu para assistir ao majestoso final representado por um misto de espectáculo aquático e pirotécnico. E para refrescar a alma com uns “finitos” da “tasquinha” do Grupo Macedense, acompanhados por umas das melhores farturas que comi nos últimos tempos… Bem como pela partilha de umas “ideiotices” universitárias com a descendente do meu “mano adoptivo”, o “mou Bi”. “Inda l’arranquei umas lagrimazecas meiu’scundidas quando cunfessei q’ou churaba que nim um desalmado quando ele s’ia imbora quando andaba armado im grumete na Sagres”. “Bôs tempus!”

Nostalgias à parte, outras tasquinhas há que não se dedicam ao negócio da “alcoolização” do público. Umas podem amenizá-la com as já mencionadas farturas ou ainda com cachorros (ainda não percebi porque me sai sempre a mesma parte do “cutcho”…). Outras mostram o que resta do passado, seja através de velharias ou da persistência em mostrar o valor intrínseco da recriação artesanal de alfaias que fizeram de antepassados à maquinaria agrícola.

E há sempre umas conversas com os expositores, mesmo que se resumam a relembrar-lhes que eu era o “puto lourinho” que ia lá a casa comprar requeijões… Ou conversas com alguns transeuntes que, invariavelmente, me metralham com aquelas perguntas de quem tudo quer saber e apenas fica a saber pouco mais que nada… Mas também surgem aqueles abraços sentidos com gente que fez parte integrante das minhas infância e adolescência. Ou com os detentores do poder público (esses mesmos que são acusados de falta de democracia) e que, também, com maior ou menor grau, constituem elos com o meu passado.

A falta de democracia será representada por se misturarem com o “povaço”? É que, desculpem lá a linguagem viperina, porque não me cruzo eu com os “procuradores” e só vejo os “réus“? É que também gostava de distribuir uns “bacalhaus” pela oposição. Como já disse, tenho amigos de um lado e do outro da barricada. Será a luta tão aterradora que os amigos que tenho do lado rosado se transformaram na versão “n” do hollywoodesco “Desaparecido em Combate”? “Num les cunsigo pôr a bista im cima! Debim star todos de fériaze. Ou num gostum de festaze”… Ou, em última instância, “imbutchinarum-se” por já não reconhecerem o Jardim…
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