Bem Vindo às Cousas

Puri, se tchigou às COUSAS, beio pur'um magosto ou um bilhó, pur'um azedo ou um butelo, ou pur um cibinho d'izco d'adobo. Se calha, tamém hai puri irbanços, tchítcharos, repolgas, um carólo e ua pinga. As COUSAS num le dão c'o colheroto nim c'ua cajata nim cu'as'tanazes. Num alomba ua lostra nim um biqueiro nas gâmbias. Sêmos um tantinho 'stoubados, dàs bezes 'spritados, tchotchos e lapouços. S'aqui bem num fica sim nos arraiolos ou o meringalho. Nim apanha almorródias nim galiqueira. « - Anda'di, Amigo! Trai ua nabalha, assenta-te no motcho e incerta ó pão. Falemus e bubemus um copo até canearmos e nus pintcharmus pró lado! Nas COUSAS num se fica cum larota, nim sede nim couratcho d'ideias» SEJA BEM-VINDO AO MUNDO DAS COUSAS. COUSAS MACEDENSES E TRASMONTANAS, RECORDAÇÕES, UM PEDAÇO DE UM REINO MARAVILHOSO E UMA AMÁLGAMA DE IDEIAS. CONTAMOS COM AS SUAS :







quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Neites de Berão

Tenho uma relação conflituosa com o calor. Particularmente com aquele que habitualmente impera por terras macedenses no mês que foi inventado para homenagear o imperador Augusto. No entanto, confesso que já estranhava a anormalidade de temperaturas amenas ao cabo de 12 dias de estadia. De igual forma, soava-me a contra senso ainda não ter tido a necessidade de andar meio “couratcho” por casa, bem como a não restrição das minhas tardes ao fresco possível no interior de quatro paredes, tornando-me num quase eremita-morcego que toma mais duches que o aconselhado por dermatologistas (bem, ainda tenho pele, o que significa que posso persistir em refrescar-me debaixo do chuveiro)... Vulcano resolveu-se a dar sinais de actividade. Regressou a normalidade… E com ela alguns rituais que estavam prestes a apagar-se da memória. Um deles é reflectido pelas andanças nocturnas, de compartimento em compartimento, em busca daquele que ofereça alguma amostra de uma geada perdida que me arrefeça o excesso de metabolismo. Não é fácil expor a imagem que deixo transparecer para as moscas que, aqui e ali, desafiam a minha pontaria. Esses chatos, mas úteis, seres voadores, caso extrapolassem o meu exemplo para caracterizar a espécie humana, brindar-nos-iam, à cabeça da lista de características, com algo semelhante a “tolos”. Porque, verdadeiramente, é a algo parecido que me assemelho quando acossado pelo excesso de calor. Todavia, “não há senão sem bela” (só para inverter a lógica)… E a “bela”, neste caso, é a própria beleza das “neites de berão” - “as de berdade“ - em Macedo. A começar pela abóbada celeste. E pela forma como se apresenta visível em locais não influenciados pela poluição luminosa. Foi com o intuito de assistir a esse espectáculo único que me dirigi a Salselas na noite em que por lá decorreria a “Astronomia no Verão”. Mesmo que não tivesse estado mais perto de Júpiter, das estrelas, das nebulosas, dos enxames, já teria valido a pena pela quantidade de estrelas cadentes que vi de “papo para o ar” virado e pela nitidez assombrosa com que se percebia o desenho celeste. A suprema delícia foi, no entanto, quase ter conseguido agarrar a Lua, aquele corpo que vai mudando de forma ao longo do mês e que, sabe-se lá se por reminiscências genéticas de cultos de ancestrais, exerce um enorme fascínio neste “lunático”. Ou talvez esta atracção exista, simplesmente, pelo facto de a Lua não emitir calor e só despontar no horizonte quando o termómetro já se encontra abaixo dos trinta graus… Não seria essa a temperatura na inauguração do “Macedo ComVida”. Mesmo tendo ocorrido quando os ponteiros já se encaminhavam para as onze da noite. Horários da “portugalidade”… Foi espantoso embrenhar-me no meio do calor humano para assistir a um espectáculo de fados. Especialmente porque o mesmo ocorria numa terra situada bem na periferia dos centros donde emana a tipicidade da dita canção portuguesa (como se Portugal fosse apenas o Ribatejo, a Estremadura ou o Alentejo). Para lá do consagrado António Pinto Basto, foi uma oportunidade para ouvir e ver, ao vivo e a cores, a nova coqueluche da canção macedense. Já aqui lhe tinha feito elogiosa referência anteriormente. A Ana Rita Prada tem, verdadeiramente, uma voz divinal. No entanto, parece-me talhada para outros voos que não a canção herdada dos resquícios da aculturação árabe. Opiniões… E hoje há resquícios da aculturação celta… Soam-me melhor esses sons… Tal como o fazem os provenientes do incomparável concerto nocturno de grilos, acompanhados, ao longe, pelo latido de seres caninos que vão conversando numa linguagem que este humano tentava perceber… Até ter desviado a atenção para uma coruja pousada na antena do telhado em frente. Atenção que a fez zarpar a outras paragens, num quadro inimitável, desenhado à magnificência do bater alado e pintado aos tons alaranjados provenientes da iluminação pública. Magníficas “neites de berão”!…

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