Bem Vindo às Cousas

Puri, se tchigou às COUSAS, beio pur'um magosto ou um bilhó, pur'um azedo ou um butelo, ou pur um cibinho d'izco d'adobo. Se calha, tamém hai puri irbanços, tchítcharos, repolgas, um carólo e ua pinga. As COUSAS num le dão c'o colheroto nim c'ua cajata nim cu'as'tanazes. Num alomba ua lostra nim um biqueiro nas gâmbias. Sêmos um tantinho 'stoubados, dàs bezes 'spritados, tchotchos e lapouços. S'aqui bem num fica sim nos arraiolos ou o meringalho. Nim apanha almorródias nim galiqueira. « - Anda'di, Amigo! Trai ua nabalha, assenta-te no motcho e incerta ó pão. Falemus e bubemus um copo até canearmos e nus pintcharmus pró lado! Nas COUSAS num se fica cum larota, nim sede nim couratcho d'ideias» SEJA BEM-VINDO AO MUNDO DAS COUSAS. COUSAS MACEDENSES E TRASMONTANAS, RECORDAÇÕES, UM PEDAÇO DE UM REINO MARAVILHOSO E UMA AMÁLGAMA DE IDEIAS. CONTAMOS COM AS SUAS :







terça-feira, 22 de dezembro de 2009

A efemeridade das cousas e a manutenção doutras

Chove… No exterior, as gotículas cadenciadas enfeitam a atmosfera em redor do candeeiro cuja tonalidade faz inveja às laranjeiras. Qual depurativo do manto branco, a chuva insiste na sua queda, constrangendo-me à suave preguiça de permanecer envolto em leituras adiadas, alimentadas a crepitar e a nicotina. Timidamente, vou desviando o cortinado, numa desesperada busca de revivescências da noite anterior. Não cheira a neve. Os aromas desvaneceram-se ontem. Paciência… Já tive a minha dose de loucura precoce na pretérita noite, na companhia da enlouquecida descendência, em deambulações a horas impróprias pelas artérias do centro. Ficaram os registos e a gravação na retina de inolvidáveis minutos de faces fustigadas pelo chicotear do vento e da neve. Ao ontem branco, seguiu-se o hoje cinzento. Seguir-se-á um amanhã de tonalidades idênticas. E o Natal está quase aí, pronto a bater às portas humedecidas pelo tempo. Antes que tenha possibilidade de sentir na pele os alertas amarelos relacionados com previsão de chuvas e ventos fortes, hoje foi dia de antecipadas visitas natalícias. Aventurei-me pelas estradas ainda pintadas a branco, velocidade de lesma, olhando à esquerda e à direita, atafulhando os sentidos com a alternância dos verdes com o branco. Aqui e ali, uma curva mais abrigada retarda o olhar, deslocando a atenção para a melhor trajectória. Depois vêm aqueles abraços e beijos, renovação de laços, partilha de sangue comum. É a família, aquela “cousa” que foi substituída pela sinalética da modernidade. Ancestralidades do ser, manietadas pela galopante crise, não a económica, a outra, aquela que se instalou nos valores. Quando era “puto”, havia crise económica, mas não havia crise familiar. Não havia centros comerciais onde éramos entrevistados, vendo invadida a nossa privacidade por perguntas incompreensíveis… “Quanto pensa gastar neste Natal?”… Eu penso gastar uma “carrada” de sorrisos, outra de renovação de afectos… Tenho o orçamento preenchido com abraços, beijos, apertos de mão… E também dou umas prenditas, só para manter a tradição. Ontem já recebi algumas das melhores deste Natal… Uma sempre indescritível incursão às imediações do Azibo. O frio esquecido pelo calor de uma amena cavaqueira em torno de ancestralidades e descendências macedenses, aquecida com um divinal licor de medronho. E o meu futuro afilhado veio ver-me. Desde que nasceu trouxe, como por magia, um novo sorriso à amargura futebolística dos últimos anos. Ontem não se fez rogado e… É melhor não ferir susceptibilidades… O supremo condimento veio, seguidamente, pintado de branco. Com sequência no dia de hoje. Revi tios e primos, senti o calor de quem tem sempre um sorriso tímido para dar (e uma couves, umas maçãs, uma qualquer coisa com sabor a terra). E que insiste sempre “pra buber um copito”… E recebi aquele inigualável sorriso da minha afilhada mais velha. E umas parcas palavras do afilhado mais novo que hoje cumpriu mais um aniversário. Fico contente com pouco? Não, fico contente com muito! Especialmente se o contentamento for complementado com iguarias que só encontro na abrangência destas terra de encanto e sonho… Uma alheira ou uma linguiça das “de berdade”… Um coelhinho do monte… O lombinho e a costela “d’adôbo”… O pão do “Ti Luís”… Umas inigualáveis compotas elaboradas pelo saber tradicional da avó… Hoje “obrigou-me” a carregar com uma “cabaça pró doce”. E a impulsioná-la, violentamente, contra o solo. Há que desfiá-la, sem a presentear com o gume da faca… Cousas… Boas… Tão boas…

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