Bem Vindo às Cousas

Puri, se tchigou às COUSAS, beio pur'um magosto ou um bilhó, pur'um azedo ou um butelo, ou pur um cibinho d'izco d'adobo. Se calha, tamém hai puri irbanços, tchítcharos, repolgas, um carólo e ua pinga. As COUSAS num le dão c'o colheroto nim c'ua cajata nim cu'as'tanazes. Num alomba ua lostra nim um biqueiro nas gâmbias. Sêmos um tantinho 'stoubados, dàs bezes 'spritados, tchotchos e lapouços. S'aqui bem num fica sim nos arraiolos ou o meringalho. Nim apanha almorródias nim galiqueira. « - Anda'di, Amigo! Trai ua nabalha, assenta-te no motcho e incerta ó pão. Falemus e bubemus um copo até canearmos e nus pintcharmus pró lado! Nas COUSAS num se fica cum larota, nim sede nim couratcho d'ideias» SEJA BEM-VINDO AO MUNDO DAS COUSAS. COUSAS MACEDENSES E TRASMONTANAS, RECORDAÇÕES, UM PEDAÇO DE UM REINO MARAVILHOSO E UMA AMÁLGAMA DE IDEIAS. CONTAMOS COM AS SUAS :







domingo, 1 de novembro de 2009

Balada invernal

De regresso... A mais uma sequência de dias nos quais ocorrerá a digestão de nova estadia por terras macedenses. Algures no tempo, a fome renovar-se-á, fazendo crescer o vazio da ausência. O Inverno pareceu acordar hoje. Qual mensagem vinda dos céus, a permanência na cerimónia foi interrompida por uma bátega de água. Talvez mais não tenha sido que uma sinalética celeste para despertar as mentes dos muitos que só se recordam uma vez por ano dos que já partiram. Nunca fui um grande apreciador desta exposição de arranjos florais e desfile de velas que, para a grande maioria, mais não é que o cumprimento de um ritual de aceitação social. Depois, são mais trezentos e tal dias em que as últimas moradas ficam ao sabor do apodrecimento floral e ceráceo gerado pelas intempéries do tempo e do abandono. Desisti, definitivamente, da participação nesta manifestação pública da vaidade a partir do dia em que dela saí ensopado. Talvez tenha sido o pretexto de que necessitava para dar voz à minha discordância... Sou mais adepto das visitas efectuadas de forma quase incógnita, pautadas pela simplicidade de uma "conversa" com os meus "velhotes" (o real e os adoptivos), dando-lhes conta de como vai a sua herança em forma de 3ª geração. Prefiro a "insanidade" desta proximidade na forma de um ascetismo efémero, à efemeridade insana de um cemitério cheio de vivos uma vez por ano. Posturas... De alguém que olhou para o negro céu, de estômago cheio, após mais um almoço marcado pela genuína pureza da terra transmontana, com sabor a posta, batatas a murro e uma couve divinal, aconchegadas por um não menos divinal pudim de ovos elaborado pela experiência materna... De alguém que, às primeiras manifestações da física do ciclo da água, andava, feliz e contente, empoleirado a colher diospiros. Há "tchotchos" para tudo... Afinal, havia a lareira para secar o costado... E já estava com saudades do Inverno, ainda que o frio não seja, para já, cortante. Cortante é olhar para os espécimes que amadureceram nos ouriços. Mesmo já tendo provado o resultado do tradicional "magosto", devidamente regado com um "copetcho" de "girupiga", mete dó olhar para estas castanhas em formato infantil. Resquícios da prolongada ausência de chuva... Talvez "pró ano" voltem ao seu tamanho normal... Até lá, aproveite-se o que de bom tem esta terra para dar. Como são exemplos o Museu de Arqueologia e a envolvência natural que o rodeia. Não é vulgar ter a oportunidade de se respirar História e Natureza em simultâneo. Nem de se ser presenteado com uma reconfortante simpatia pela parte de quem nos recebe. Ou ainda percepcionar a amplitude ganha, subitamente, pelos reflexos da passagem de antepassados por estes territórios que hoje fazem o desenho do concelho macedense. Bem como o esforço envolvido na preservação desse património único que nos foi legado pela distinta gente que descobriu os encantos desta terra muito antes da concretização do sonho concelhio. Faltam as palavras para descrever a localização do Núcleo Arqueológico. Um local onde se ganha em isolamento, e na paz que daí advém, o que se perde em visibilidade. Ganha-se na envolvência deslumbrante o que se perde em notoriedade. O que não se perde, seguramente, é o espólio, testemunho, com uma vida muito própria, de vidas passadas e das actividades, inúmeras vezes intrigantes, daí resultantes. Seja qual for ou venha a ser o seu local de repouso, o património arqueológico-histórico deste concelho possui uma riqueza que supera toda e qualquer expectativa gerada pela letargia de lendas de cavaleiros e das suas maças... Letargia felizmente quebrada por quem passou a olhar para o concelho com outras lentes que não exclusivamente as do betão e do asfalto. E que, em simultâneo, teve a capacidade para olhar para a Cultura com outra visão que não a do restrito elitismo cultural, reservando uma porção para levar essa mesma cultura às massas. Nem que, para isso, seja necessário ir buscar essas mesmas massas para apreciarem, in loco, o esplendor de um Museu de Arte Sacra. É reconfortante perceber que Macedo está vivo no dia em que se celebram os mortos...

2 comentários:

deep disse...

E, enquanto ouvi, deliciada, "Glory Box" dos Portishead, fui lendo estas "cousas"...
Por cá, está um daqueles frios cortantes que não deixa margem para dúvidas: o Inverno chegou. As noites já não estão "mim ambrosinhas".

Também eu não sou adepta dessa "exposição de arranjos florais e desfile de velas". A manifestação da saudade pelos que partiram não tem (deve) que ser pública.

Bom resto de semana. :)

Cavaleiro Andante disse...

Há letras que são papéis... Pedaços que nos conduzem a olhar o infinito de uma forma em que o desconhecido se transforma em algo saborosamente conhecido... Bom resto de semana, também. Com a retribuição de um :)