Bem Vindo às Cousas
Puri, se tchigou às COUSAS, beio pur'um magosto ou um bilhó, pur'um azedo ou um butelo, ou pur um cibinho d'izco d'adobo. Se calha, tamém hai puri irbanços, tchítcharos, repolgas, um carólo e ua pinga. As COUSAS num le dão c'o colheroto nim c'ua cajata nim cu'as'tanazes. Num alomba ua lostra nim um biqueiro nas gâmbias. Sêmos um tantinho 'stoubados, dàs bezes 'spritados, tchotchos e lapouços. S'aqui bem num fica sim nos arraiolos ou o meringalho. Nim apanha almorródias nim galiqueira. « - Anda'di, Amigo! Trai ua nabalha, assenta-te no motcho e incerta ó pão. Falemus e bubemus um copo até canearmos e nus pintcharmus pró lado! Nas COUSAS num se fica cum larota, nim sede nim couratcho d'ideias» SEJA BEM-VINDO AO MUNDO DAS COUSAS. COUSAS MACEDENSES E TRASMONTANAS, RECORDAÇÕES, UM PEDAÇO DE UM REINO MARAVILHOSO E UMA AMÁLGAMA DE IDEIAS. CONTAMOS COM AS SUAS :
sábado, 26 de setembro de 2009
Esquissos histórico-toponímicos de Lamas (a que já foi de Podence)
Caso algum conterrâneo me questione acerca da antiguidade de uma povoação que já pertenceu a 4 distintos concelhos e que, em 40 anos, perdeu 35% da população residente, digo que… É consideravelmente mais velha que eu… Em termos meramente comparativos, eu nunca fiz parte de “totam Braganciam et Lampazas cum suis terminis” e Lamas terá, quase seguramente, tido enquadramento no “suis terminis”. Fazendo parte, dessa forma, da Terra de Bragança e Lampaças, nos primitivos tempos da nacionalidade. A existência da vetusta Lamas é atestada pelas Inquirições de 1258, mandadas tirar pelo Bolonhês, de forma a tapar, no caso transmontano, os caminhos usurpadores dos senhores da estirpe dos Braganções (mesmo que por via bastarda) e das “pobres” ordens clericais constituídas pelos Beneditinos de Castro de Avelãs, mais os Hospitalários, Templários e outros parceiros do lado de lá da fronteira. Contudo, a antiguidade do povoado deve remontar a outras eras. Não que o mesmo possa ser confirmado arqueologicamente, mas eu sou um crente nos factos históricos oriundos de outras disciplinas que não a Arqueologia (mesmo que esta tenha a última palavra…). Caso contrário, não arranjaria justificação para a existência do topónimo “Cristelos”, ainda hoje vigente entre os habitantes lamacenses, e local onde já andei a experimentar veículos agrícolas. Mesmo que o dito topónimo tenha proveniência na desaparecida “villa de Crastelos”, lugar pertencente à “Parrochia Sancte Marie de Lamis”, onde morariam os senhores Durandus Roderici e Ffernandus Froyle, à altura das Inquirições Afonsinas. Predecessoras das homónimas Dionisinas, 32 anos após, onde a “aldeya de Crastelos” faria parte da “freguesia de Santa Maria de Lamas”. Esta “aldeya” terá subsistido, pelo menos, até ao séc. XV, já que, num documento do reinado da “Ínclita Geração”, “Crastellos” surge como fazendo parte do espólio dos “paupérrimos” monges da terra que terá servido de sede à Civitas Zoelarum. Isto leva-me à associação aos povos pré-romanos, decisores do empoleiramento no alto dos montes, dando origem à proliferação de castros, cujas ruínas preenchem algumas elevações nortenhas. Pois “Crastelos” ou “Cristelos” têm origem, precisamente, em castro! Localizando-se a actual “Cristelos” numa zona elevada, não é difícil levantar a suposição da remota existência de um antigo castro no local, que lhe tenha servido de baptismo, mesmo que assassinados os seus eventuais vestígios pelos arroteamentos feitos ao longo dos séculos. É certo que, ao contrário de outros exemplos, como a Terronha de Pinhovelo, não existem testemunhos arqueológicos da existência de tal povoado. Mas, que eu saiba, também não os há relativamente à documentalmente comprovada “aldeya” de Crastelos (a não ser, talvez, na obscura menção ao topónimo “Casinhas” - que, dizem-me os aldeões, já entra nas contas do termo de Gradíssimo). Assim como só conheço as capelas de S. Sebastião e da Sra. do Campo e já ninguém se lembra da existência da capela dedicada a Sto. André, mencionada nas “Memórias Paroquiais de 1758”. No entanto, subsiste a memória da “Eira de Santo André”. Um destes dias, tenho que acompanhar o “mou Ti João” a Cristelos e às resistentes lajes da tal eira comunal… “P’ra bêre se me chaldra algua cousa, armadu im Indiana Jouneze”… Abandonando, por agora, a “Banrezes” da terra da Sra. do Campo, detenhamo-nos na dita terra de Lamas. A qual, ao longo dos séculos, adoptou diversas designações. A começar pela já mencionada “Sancte Marie de Lamis” em 1258. Quase 30 anos após, o Arcebispo de Braga, num documento sobre os direitos do Mosteiro de Castro de Avelãs, troca um “i” por um “a”, e surge “Lamas”. Algo que haveria de subsistir até meados do séc. XV, período até ao qual a povoação surge como “Santa Maria de Lamas”, como são exemplo as Inquirições de D. Dinis de 1290 ou o Catálogo de Todas as Igrejas de 1320 (ainda que a lista seja do séc. XVII). Numa sentença de D. Afonso IV, aparece-nos com uma pequena derivação, voltando ao “Sancta”, para, numa confirmação do pároco apresentado pelo Abade de Castro de Avelãs por parte de D. Gonçalo, Arcebispo de Braga, vir referenciada somente como “Lamas”. Em 1435 surge, no rol das aldeias com bens pertencentes ao já citado Mosteiro Beneditino, com a nova designação de “Lamas de Podence”. De novo, 27 anos volvidos, surge como “Lamas”, numa nova confirmação de nomeação de pároco pelo arcebispado bracarense para, já no séc. XVI vir mencionada, numa Bula do Papa Leão X, como “Lamas em Terra de Lampaças”. No final deste mesmo século, a propósito das Comendas da Ordem de Cristo, vem mencionada como “Lamas” e “Santa Maria de Lamas”. A partir do “Tombo dos Bens da Comenda de Algoso”, a finalizar o séc. XVII, assume, definitivamente, a nomenclatura de “Lamas de Podence”. Assim vem designada, sucessivamente, na lista dos “Bens do Cabido de Miranda” de 1691, numa sentença que a iliba do pagamento do foro das oitavas ao concelho de Bragança em 1698, na “Corografia Portugueza” de 1706, no “Diccionario Geographico” de 1862 ou na “Chorographia Moderna” de 1879. Curiosamente, no “Portugal Sacro-Profano” de 1768, surge com a grafia “Lamas de Podense“, sendo que, no início do séc. XVIII aparece já a designação de “Nossa Senhora da Assumpção” associada à povoação lamacense. Uma nota mais para as “Memórias Paroquiais” de 1758, onde o reverendo a designa como “Lugar de Lamas, Freguesia de Nossa Senhora da Assumpção”, sendo donatário da povoação o Conde de Avintes. Diz o dito reverendo que “tem em abundância de pão e vinho; castanha, maçãs e peras de tudo isto medianamente”. E que se cultiva centeio e castanha na Serra do Facho, onde há coelhos, perdizes e lebres. Entrados no séc. XIX, vêm as sucessivas alterações administrativas sobre o território, fazendo com que a freguesia de Lamas de Podence se inclua no concelho de Bragança, até à sua passagem para o concelho dos Cortiços em 1842. Neste haveria de perdurar até transitar para o novíssimo concelho de Macedo de Cavaleiros em 1855. Nova alteração haveria de surgir em 1867, transformando Lamas de Podence numa Paróquia Eclesiástica, da Paróquia Civil de Macedo de Cavaleiros, do concelho de Chacim. A partir de 1890 passa, definitivamente, a constituir uma freguesia do concelho da qual, na actualidade, faz parte. O epílogo, por enquanto, da história do nome da freguesia, reside no ano de 2003, quando se vê, finalmente, amputada do “de Podence”, passando a ser dona de si própria… AH! E a onomástica? Qual será o tortuoso caminho etimológico de “Lamas”? E, já agora, e “Podence”?… Como isto é uma intricada teia que envolve Geografia, Religião, Linguística, Antroponímia e… suposições q.b… Voltamos à história do “garnizo do b’zinho, mêmo q’ámanhã num seija dia de satcho”…
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2 comentários:
Era com muito gosto que o poderia acompanhar, assim como ao “Ti João” a “ cristelo”, este topónimo foi de facto apanhado nos registos cadastrais da repartição de Finanças de Macedo, mas não foi prospectado. O “Facho” foi, mas o resultado da prospecção foi quase nulo, para além de umas cerâmicas comuns nada mais nos disse.
Claro que a sua suspeição é perfeitamente legítima, o palimpsesto encontrado na área geográfica de Macedo no respeitante a assentamentos pré-históricos ou no mínimo do período clássico é claro, são pelo menos 32 que se conhecem, Lamas por certo está neste pacote, agora onde ele está?
Todas as entradas que enumera estão correctas, já o nosso amigo Balcão Vicente no seu livro dos forais menciona, num quadro anexo, a existência de Lamas nas inquirições de 1258, propriedade de Afonso Lopes de Baião e de Castro de Avelãs. Mas, de certeza já existiria em 1257 e por aí abaixo.
Aliás como se verifica, das 38 freguesias hoje existentes, já estão referenciadas em 1258, penso que 33.
Existe um outro sítio que se encontra registado na BD a merecer atenção “Cedelais”. Na prospecção efectuada encontrou-se vestígios de ter aí andado gente, fala-se num sítio de concentração de tropas, encontrou-se cerâmicas e alguns metais, mas é da voz popular ter-se encontrado em tempos muitas moedas e outras cousas.
Vamos andando, cavalgando. A propósito cumprimentos à Genoveva.
Na verdade, para lá das batatas, nunca me tinha dado para olhar doutra forma Cedelais. Obrigado pela dica, que a dita já há-de passar a fazer parte do meu extenso rol de prioridades. Quanto ao Facho, por mera curiosidade, as prospecções foram efectuadas no outeiro da Sra. do Campo, ou no adjacente? Em relação a Cristelos, seguramente que haverá oportunidade de calçar umas botas todo-o-terreno e ir munido de algumas ferramentas agrícolas para desbastar matagal... Cousas do campo... A Genoveva não pôde agradecer as saudações porque ainda não dispõe de novas tecnologias. Não me esquecerei da próxima vez que a encontrar nas suas pastagens.
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