Bem Vindo às Cousas

Puri, se tchigou às COUSAS, beio pur'um magosto ou um bilhó, pur'um azedo ou um butelo, ou pur um cibinho d'izco d'adobo. Se calha, tamém hai puri irbanços, tchítcharos, repolgas, um carólo e ua pinga. As COUSAS num le dão c'o colheroto nim c'ua cajata nim cu'as'tanazes. Num alomba ua lostra nim um biqueiro nas gâmbias. Sêmos um tantinho 'stoubados, dàs bezes 'spritados, tchotchos e lapouços. S'aqui bem num fica sim nos arraiolos ou o meringalho. Nim apanha almorródias nim galiqueira. « - Anda'di, Amigo! Trai ua nabalha, assenta-te no motcho e incerta ó pão. Falemus e bubemus um copo até canearmos e nus pintcharmus pró lado! Nas COUSAS num se fica cum larota, nim sede nim couratcho d'ideias» SEJA BEM-VINDO AO MUNDO DAS COUSAS. COUSAS MACEDENSES E TRASMONTANAS, RECORDAÇÕES, UM PEDAÇO DE UM REINO MARAVILHOSO E UMA AMÁLGAMA DE IDEIAS. CONTAMOS COM AS SUAS :







segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Portugal Farm

Certo dia, fazia ainda parte dos recenseados na lisboeta freguesia de Santa Isabel, resolvi efectuar uma visita aos meus vizinhos de S. Bento. Os verdes anos de luta política na guelra ainda estavam bem presentes, e conhecer, in loco, as caras daqueles que contribuíra para eleger, representava uma espécie de troféu e uma divisa mais para apresentar aos companheiros de algazarras e comícios nocturnos. Terá sido nessa longínqua tarde que começou a derrocada da minha ingenuidade política… Dois deputados, em lados opostos da barricada, digladiaram-se verbalmente, até atingirem a fronteira da obscenidade, tal o tom atingido naquilo que se assemelhava mais a ataques pessoais que a uma refrega de ideais políticos. Não fosse a queda um obstáculo de respeito e teria saltado para as bancadas em defesa de um dos meus ídolos. A idolatria, entretanto, haveria de desvanecer-se… Porque as minhas expectativas saíram goradas, por uma espécie de “ignis fatuus” parlamentar. Os dois seres, que pareciam estar nos preliminares do que seria um duelo exterior, resolveram arrecadar a hipocrisia para as massas e, num assomo de bom senso de salvaguarda de interesses pessoais, foram detectados, por esta alma penada, em amena cavaqueira, acompanhada de gargalhadas que roçavam a histeria, num dos espaços públicos confinantes com a Assembleia. Local onde, momentos antes, tinham presenteado os assistentes com uma das mais degradantes manifestações a que tive o “privilégio” de assistir… Senti apossar-se de mim um sentimento de humilhação, nascido da fraude, combustível para a quase indomável vontade de desafiar, eu próprio, os senhores para um duelo. Esta encenação fez-me repensar a postura que tinha na defesa dos meus ideais. Persisti na crença dos mesmos, desligando-me, no entanto, de qualquer força política e desvinculando-me daquela à qual tinha dado tantas das minhas noites de descanso e pela qual me tinha transformado, inúmeras vezes, num ser afónico. Os anos tratariam de refinar, ainda mais, as consequências do episódio. Ainda que possa provocar acusações de inconstância, a verdade é que, ao longo dos anos de cumpridor dos direito e dever cívicos, já coloquei a cruzinha em cinco organizações partidárias diferentes. Mas, pela primeira vez, a pouco menos de uma semana das Legislativas, encontro-me integrado no pelotão dos PI. Não o dos números irracionais… Nem o dos irracionais seres… Mas o dos que fazem parte do Partido dos Indecisos… Nunca, como hoje, a minha memória foi assaltada por Orwell e o seu “Animal Farm”. Não pela versão do título na língua camoniana… Ainda que o mesmo possa ser identificado pelos mais radicais como uma adequação à realidade que vivemos, parece-me saído daquele rol de traduções descabidas com que se vai fazendo a nomenclatura literária e cinematográfica. E nada tenho contra os “laregos cebados”, particularmente no que ao presunto diz respeito… Mas tenho contra os Snowball e Napoleon que infestam este país… Mais contra os segundos… Ora se ouve bradar aos céus pelo apoio aos agricultores, brado efectuado pelos senhores que “submarinizaram” montados em proveito próprio… Ora ouvimos falar de “coesão nacional” e “redução da diferença entre litoral e interior” - e por isso percebo agora as vantagens de um deputado do Douro Litoral pelo interior círculo de Bragança… Ora se desanca nos PPR’s e se defende a nacionalização, por aqueles que são detentores dos PPR’s propriamente ditos e de acções, nomeadamente na PT… Ora se luta pelas classes e pela eleição de um deputado por Bragança oriundo da vereação de Almeirim… Ora se tenta afogar a Linha do Tua, provavelmente para aproveitamento de carris para o TGV, se fecham serviços, provavelmente para financiar a OTA, ou se constroem “Portos Livres” em reservas naturais, lá para as bandas da margem esquerda do Tejo … E já não acredito na boa vontade de PRD’s e PSN’s… Daí a indecisão… Como ainda não existe o PT (não o Trabalhista, mas o Transmontano)… E como continuo a assistir ao nomadismo dos frequentadores de comícios, resgatados das suas terrinhas para, em autocarros fretados com o nosso dinheiro, irem em excursão até ao local de onde sairá uma proclamação de vitória porque, a título exemplificativo, “4000 pessoas no Palácio de Cristal mostram a vitalidade do partido na cidade do Porto” (e arredores, e arredores, e arredores…). Entendo agora o porquê de uma marca de refrigerantes ter lançado o slogan “não sejas ovelha, bebe «qualquer coisa» groselha“! Porque nem só dos repetidores de lemas de Orwell vive este país, continuam a existir os leais “cavalos”, incansáveis lutadores pela causa até serem, como Sansão, atirados ao covil quando as forças se lhe esvaíram… As “galinhas” que se dispersam nos seus cacarejos… Os “cães” que, fanaticamente, guardam os seus “Napoleon”… E os “burros” e as suas verdades… O Burro Benjamim é o meu personagem favorito, por isso me devo incluir nos “burros“… Quando instigado a falar, pelos outros animais da quinta, limita-se a um “quando não tenho nada para dizer, prefiro ficar calado”. Da minha parte, quando tenho algo para dizer, prefiro não manter o silêncio… Já que peguei em Orwell, pego também em Huxley e no seu “Admirável Mundo Novo”. Sinto-me cada vez mais integrado numa sociedade de castas, onde os valores familiares e de moral vão sendo erradicados e onde somos manipulados através das subtilezas de outras versões de “Soma”, a droga descrita por Huxley para manter os humanos na ilusão de felicidade. Regressando ao Burro Benjamim de Orwell, diz o dito ser asinino: “Deus deu-me uma cauda para enxotar as moscas, mas preferia não ter cauda nem moscas”. Como eu gostaria também de não ter “cauda” nem “moscas” para enxotar… Isso leva-me à utopia… Esta, por sua vez, conduz-me a Eduardo Galeano… “A utopia está lá no horizonte. Aproximo-me dois passos, ela afasta-se dois passos… Por mais que caminhe jamais a alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isto: para que eu não deixe de caminhar”…

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