
Escolha-se, aproximadamente, 1/3 das freguesias do concelho: 13, mais concretamente. Não uma escolha aleatória, mas territorial, ainda que os critérios possam entrar na esfera do discutível. Recaiu a mesma nas 13 freguesias que abarcam o norte da “bota” concelhia, a partir de uma linha imaginária que une, na parte mais estreita do concelho, o Poente com o Nascente: Lamalonga, Vilarinho de Agrochão, Murçós, Soutelo Mourisco, Vilarinho do Monte, Arcas, Ferreira, Espadanedo, Edroso, Ala, Corujas, Lamas e Podence. Numa análise primária, constata-se que, com maior ou menor vantagem, a “laranjada” voltou a pintar o mapa em 11 delas, sendo as excepções Soutelo Mourisco, colorido a “rosa” e a já anteriormente mencionada Corujas, a propósito das Europeias, a relembrar, uma vez mais, ao “rapaz das feiras” que deveriam por lá realizar a festança de se terem alcandorado a 3ª força política da nação (mesmo que a digna Corujas tenha contribuído apenas com 0,011% para esse resultado). Por sua vez, a freguesia de Ferreira que, há 4 anos, ocupava o lugar de Corujas em termos “centristas”, passou, desta vez, a ser o bastião dos “laranjas” a norte, brindando-os com 61,54% dos votos (já houve um “Cavaquistão”, agora passa a existir um “Ferreiristão laranja” - será uma homenagem ao apelido da líder?). Já Soutelo Mourisco deve merecer a atenção do próximo “quase futuro ex-primeiro-ministro”, olhando para os 46% com que os eleitores deram a vitória aos “rosas”. A mesma freguesia deu, de igual forma, o maior score a outro partido, o da “estrelinha vermelha”, com 10% (dois dígitos que o auto-proclamado líder da esquerda não desdenharia). A já célebre Corujas deu o primeiro lugar do pódio aos das “duas setinhas com um bola ao centro” com uns magníficos 47,01%!

Descaracterizando a tendência que se verifica por estas nortenhas bandas, Murçós é o bastião “da foice e do martelo”, com 5,83%. O campeonato dos pequeninos foi, neste quadrado territorial, ganho pelos outros “foice e martelo” e pelos dissidentes do já mencionado “rapaz das feiras”, tendo ambos conseguido 0,39% das intenções de voto. Quanto ao primeiro, a sua mensagem consegue atingir 5 freguesias, sendo que em três delas só convence 1 eleitor (Edroso, Vilarinho do Monte e Podence), em Espadanedo dá um duo e finalmente, em Lamas, existe um trio de “trabalhadores portugueses”. Já o segundo passa a mensagem a mais uma freguesia, ocorrendo, em quatro delas, o mesmo fenómeno de “ascetismo”: Arcas, Vilarinho do Monte, Corujas e Podence. As duas restantes, Lamalonga e Vilarinho de Agrochão, representam os duos. A “esperança” conseguiu tocar meia dezena de freguesias, sendo o fenómeno mais visível em Lamalonga, com um trio de “esperançosos”. Vilarinho de Agrochão, Espadanedo, Ala e Podence viram apenas um votante atingido pela “onda verde”. Ainda resistem 4 “monárquicos” a norte: 2 em Ala e 1, respectivamente, em Ferreira e Lamas (dados os números, podem os ditos passar a ser, na região em apreço, o “partido do táxi“).

Caso a designação partidária fosse levada à letra, estaríamos com um grave problema concelhio: teríamos 2042 “nortenhos” numa postura “anti-vida”, já que só um trio é que é “pró-dita” (1 em Edroso, outro em Ala e outro mais em Podence). Novas tecnologias só chegam a Ala, Lamas e Podence, com três votantes a não receberem só as vulgares SMS. Estranho que só haja um ecologista-humanista em Espadanedo e outro em Podence. Os “radicais dextros” quase desapareceram do mapa, restando um feroz resistente em Vilarinho do Monte. E já não há “operários”… Como que num passe de mágica, esfumaram-se… Agora mais a sério… Dois partidos políticos apresentam, nesta região norte, uma percentagem superior de votação, relativamente aos valores concelhios. O PSD e o CDS-PP superam-nos em pontos percentuais, respectivamente, 5,74 e 1,85. Já os partidos da chamada “esquerda” mostram tendência contrária: PS, BE e CDU com menos, respectivamente, 3,50, 2,54 e 1,18. Numa leitura superficial, estes números reflectem o carácter mais conservador-tradicionalista na zona norte, numa analogia à imagem política do país. O mesmo fenómeno se verifica na contribuição desta região para os resultados totais concelhios. No que respeita a eleitores inscritos, os mesmos representam 21,65% do total concelhio.

Já no referente aos votantes nestas eleições (equivalendo a uma taxa de abstenção de 50,98%, ligeiramente superior à concelhia), perfazem 21,05% do total de votantes concelhios nestas eleições. Este valor, numa situação de distribuição equitativa, deveria representar a contribuição do conjunto das 13 freguesias em questão para o total de votos verificado no concelho por cada organização partidária. Obviamente que, a tal se verificar, representaria uma anormal coincidência. Da análise à participação para o universo de votos macedenses, ressaltam alguns dados interessantes. O primeiro dos quais nada tem a ver com organizações partidárias. Ou antes, terá a ver, ainda que como manifestação em forma de protesto: os votos em branco. Atingem os mesmos a fasquia de 27,21% do total concelhio, o que supera o número que deveria ser a média, ou seja, os já referidos 21,05%. Sendo subjectivo o critério, este dado poderá apontar para um superior fenómeno de não identificação com o quadro partidário vigente. Em contrapartida, a contribuição dos votos nulos cifra-se nos 18,24%.

Daqui se poderá inferir, alternativamente, ou um eventual maior grau de alfabetização, ou a menor utilização dos boletins de voto para protestos “alternativos”. No âmbito dos chamados partidos com assento parlamentar, mantém-se a tendência conservadora-tradicionalista já apontada. Os votos no PSD perfazem 23,99% do total concelhio e os do CDS-PP, 23,74%, valores acima do que deveria ser a média. Já no que concerne ao PS, 18,66% dos votantes socialistas encontram-se nesta faixa territorial. A acentuar a tendência de menor peso da esquerda nesta região, o peso percentual de votos no BE restringe-se a 12,37% da totalidade do concelho, ficando a CDU, por sua vez, com uma representatividade de apenas 9,52%. Deste quadro podem reter-se algumas tendências, passíveis do complemento de outras, eventualmente, mais aprofundadas. Sublinhe-se a que aponta para uma natural alternância entre os chamados partidos do centro, histórica e tendencialmente com supremacia para o PSD.

Note-se a posição do CDS-PP como inequívoca terceira força política, alcançando este partido votações acima da média nacional e concelhia, nalguns casos, com uma posição que o coloca entre os dois lugares cimeiros. A soma dos dois partidos vulgarmente associados à direita ultrapassa, em média nesta região, votações bem acima dos 60%. Este facto é, sem dúvida, o reflexo de um carácter tendencialmente conservador no concelho de Macedo de Cavaleiros, particularmente mais evidenciado na sua região setentrional. No outro extremo, é possível constatar a evolução do BE, cuja votação quase triplicou, comparativamente às Legislativas anteriores, ainda que os valores não ultrapassem o valor “marginal” de 3,62%. Quanto à CDU, a mesma não atinge, sequer, o dígito neste território, quedando-se por 0,98%, espelho da pouca implantação que, historicamente, se reflectiu numa região marcada pela pouca penetração de valores que atentavam contra uma corrente marcada por algum dogmatismo. Por último, uma referência para a natural queda em valores absolutos e percentuais do PS, com a correspondente subida generalizada das outras forças políticas, incluindo, salvo raras excepções, as residuais forças partidárias de segunda linha. Os restantes 2/3 das freguesias que compõem o tecido concelhio serão objecto de “dissecação” noutro dia. Num qualquer próximo amanhã…