Bem Vindo às Cousas

Puri, se tchigou às COUSAS, beio pur'um magosto ou um bilhó, pur'um azedo ou um butelo, ou pur um cibinho d'izco d'adobo. Se calha, tamém hai puri irbanços, tchítcharos, repolgas, um carólo e ua pinga. As COUSAS num le dão c'o colheroto nim c'ua cajata nim cu'as'tanazes. Num alomba ua lostra nim um biqueiro nas gâmbias. Sêmos um tantinho 'stoubados, dàs bezes 'spritados, tchotchos e lapouços. S'aqui bem num fica sim nos arraiolos ou o meringalho. Nim apanha almorródias nim galiqueira. « - Anda'di, Amigo! Trai ua nabalha, assenta-te no motcho e incerta ó pão. Falemus e bubemus um copo até canearmos e nus pintcharmus pró lado! Nas COUSAS num se fica cum larota, nim sede nim couratcho d'ideias» SEJA BEM-VINDO AO MUNDO DAS COUSAS. COUSAS MACEDENSES E TRASMONTANAS, RECORDAÇÕES, UM PEDAÇO DE UM REINO MARAVILHOSO E UMA AMÁLGAMA DE IDEIAS. CONTAMOS COM AS SUAS :







segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Lagoa das Furnas e Caldeirão do Corvo

Mas o que fazem duas belíssimas "cousas" açoreanas numa página transmontano-macedense? Servem, tão só, de aperitivo para o que se lhes segue, na página 53 da última edição da revista "Sábado". Ver o "meu" Azibo referenciado como um dos passeios com as melhores paisagens deste Outono, deixa-me embevecido, e mais uma quantidade de sensações extasiantes que não consigo descrever por ter as minhas capacidades bloqueadas pelo arrepios de orgulho gerados por um simples página. O Azibo é um daqueles locais de onde emana uma magia indescritível e inenarrável. O Azibo não se descreve, sente-se, absorve-se, dá-se-lhe permissão para que nos invada os sentidos... Como se o mundo coubesse na palma da mão e não houvesse mão que abarcasse o mundo. Muito menos cabe esse mundo numa só página... Sem exageros de descrição... Ou com um que não posso deixar de referenciar. A Sala-Museu de Arqueologia é um peculiar mundo dentro da Paisagem Protegida da Albufeira do Azibo. Possui uma configuração e uma abrangência únicas. Tem expostos objectos e artefactos com um interesse arqueológico-histórico apreciável. Mas daí a fazer remontar alguns ao Paleolítico, tal como vem descrito no final do artigo... "Adonde"? Bem vistas as coisas, é verdade que uma passagem pelo Azibo nos marca de tal forma os sentidos que somos autorizados a sonhar...

domingo, 29 de novembro de 2009

Inbernia'ze

Quando a grave canção do vento deixa o meu vizinho arvoredo em êxtase, num bailado que desmorona os castelos de folhas que ainda subsistem de anteriores intempéries, mais não apetece que apreciar o calor que emana do aconchego caseiro. Um rápida incursão ao lado oposto permite vislumbrar, através das bátegas que, enfurecidas, teimam em esvoaçar descontroladamentente, o espectáculo de magia em que os intérpretes são os raios que ziguezagueiam, aleatoriamente, no horizonte escuro onde o dia me diz que deve ficar o Atlântico. Há espectáculo, mas não há neve... Essa, chegou de novo, mais para leste, mais para o local onde andam obras que hão-de ser suspensas pelo temporal gerado por recusas do Tribunal de Contas... Não fossem os efeitos ainda presentes de uma recente aventura de bloqueio no manto branco, cujo epílogo foi uma estadia forçada em Vila Real, a estas horas já teria estado a efectuar novas experiências de disparos fotográficos lá para os lados do Marão. Mas, gato uma vez bloqueado, de neve escorregadia tem medo... Não me impede a restrição de sentir saudades do vento gelado e da face fustigada por alvas pintas esvoaçantes. Especialmente do palco branco onde repousam os bailarinos no período pós-espectáculo. E especialmente, ainda, caso o palco seja naquela terra que aguarda, pacientemente, há dois anos, pelo concretizar de uma promessa adiada. Sejamos justos... Com este temporal, não há helicópteros que obtenham permissão para voar... Nessa mesma terra decorrerá uma próxima Assembleia Municipal com temas quentes (uma forma de poupança de energia, face às temperaturas que vão, gradualmente, baixando), isto a crer naquele semanário em cujo rol de passatempos favoritos cabe o "verrinol" (uma espécie de modalidade em que os adeptos da casa agridem os jogadores da própria equipa, distribuindo "sarrafada a torto e a... torto", isto é, sempre para o mesmo lado). Na pretérita semana, a "sarrafada" foi distribuída à rectificação orçamental que privou algumas freguesias de verbas que lhes estariam atribídas. Nesta semana, a fava coube aos 19 mil euros que a Câmara teve que desembolsar para os Bombeiros de Mirandela e Torre D. Chama, pelo serviço de abastecimento de água às populações na época estival. Diz um anónimo macedense que isso é ilegal. Em matéria de legalidades, neste caso, só conheço uma: a sede e a necessidade imperiosa de água para sobreviver. Caso o anónimo macedense que faz a queixa vivesse em Argana ou Vila Nova da Rainha (só para citar dois exemplos), consideraria ilegal o abastecimento de um bem de primeira necessidade? E estaria importado com o "braço-de-ferro" mantido entre a Autarquia e os Bombeiros de Macedo? Desconheço de que lado está a razão (ou não estará em lado algum), mas sei que estará algures num copo vazio que se enche de água quando temos sede. Não seria hoje o caso, tal a abundância... E lá fora mantém-se a grave canção do vento... Acompanhada pela percussão das gotas que embirraram de vez com as minhas janelas... Vale que, por vezes fazem uma pausa na embirração... E resultam momentos destes...

Nim d'aprupósito!

Muito recentemente, ao abrigo da pesquisa de outras "cousas", fui dar de caras com uma dissertação apresentada como Tese de Mestrado em Linguística à Universidade do Minho. Versava a dita sobre o "falar da região da Terra Quente" e a "cousa" despertou-me, naturalmente, a atenção. Como somos um concelho com umas especificidades muito próprias, caso a Tese remetesse para o "falar da região da Terra Fria", a "cousa" geraria idêntico fenómeno. Penso que já por aqui disse que o concelho de Macedo é um género de hermafrodita edafoclimático, parte Terra Fria, parte Terra Quente, parte Zona de Transição. E ainda temos um "umbigo do mundo" e duas serras acima dos 1000m, uma a norte e outra a sul, para confundir mais a coisa. E um microclima encravado na freguesia de Sesulfe que origina uma "pinga" de se lhe tirar o chapéu (ou, neste, caso, a rolha) e outro, lá para os lados do noroeste concelhio, de onde sairia a rima "De onde são as uvas que tão bons vinhos dão? Arcas, Nozelos e Vilarinho de Agrochão". Acrescentando-lhes a ilha ambiental que representa o tão nosso Azibo ("tão nosso" porque vou ouvindo e lendo "alguas cousas" que o fazem derivar para um concelho do setentrião). Como em termos geográficos, ou se cai para um lado, ou para outro, estamos incluídos na Terra Quente, e não há discussão. Mesmo que, fazendo uso do conterrâneo Pires Cabral, nem que o diabo viesse ao enterro um habitante de Soutelo Mourisco, Bousende ou Murçós ficaria convencido que faz parte da Terra Quente. Mais não fosse, pela "carambina", pelos "candiólos" ou pelas "scarabanadas". Mas pronto... Também temos Pauliteiros e não fazemos parte da Terra de Miranda... Retomando a Tese e o falar... Vem agora a Associação Portuguesa de Linguística a atribuir o prémio de Melhor Trabalho de Português a um tal «Unidades e Processos Fonológicos da Região da Terra Quente: contributos para a Linguística Forense». Soou-me a familiar... E não é que é a dita Tese que tanto tinha enchido de orgulho o meu pulsar transmontano? E que, para lá dessa particularidade, ainda me facultou a possibilidade de diminuir um pouco mais a minha ignorância? Particularmente no que respeita a algo que, há cerca de três meses, transmitia com paixão ao grupo no qual estava inserido, numa "tertúlia de copos e lembranças de velhos tempos": vamos preservar o "Dialecto Transmontano"? Fui olhado como se tivesse descoberto, casualmente, a pólvora. Mas não... Já no séc. XVII, o emigrado Manuel Faria e Sousa dizia, na sua «Epitome de las Historias Portuguesas», que «Los transmontanos hablan nuestro idioma con grande corrupción». Não sei o que o "Manel" queria dizer com "corrupción" mas, com ou sem a dita, o que os transmontanos falam é Português escorreito, com umas derivações que não se restringem à fonética. Já o grande Leite de Vasconcellos, a finalizar o séc.XIX, nos legava, no seu "Mapa dialectológico", as diferenças que representam o falar transmontano (e ainda lhe acrescentava um subdialecto, ao qual apelidava de "Falar de Macedo e Mogadouro"!). Caso algum interessado pretenda perceber o alcance da existência de um dialecto transmontano, basta fazer uma incursão a algumas aldeias e abeirar-se de algum ancião. Ou, caso não se queira dar ao trabalho, poderá dedicar uns parcos minutos às boas-vindas das Cousas... Caso opte por esta alternativa, perderá, contudo, a oportunidade de provar, in loco, os frutos das tradições transmontanas. Algo que, a manterem-se as tendências dos últimos anos, há-de ter o mesmo destino que teve a tradição da cultura da seda. Já não hão-de ficar nenhumas ruínas de um qualquer "Real Filatório", mas hão-de restar outro género de vestígios, mais não seja por via das novas tecnologias digitais. A génese das "Cousas" está, precisamente, aí. Nasceu "pra botar ó mundo as cousas que bão sendo albidadas". "Pra q'num s'albidim"... Mesmo que, por qualquer eventualidade em que a persistência finasse, finassem por inerência as "Cousas", vai surgindo quem aprecie a falta de "erudição" na forma de um "parolo" falar para que a mortalha não surja... Particularmente para o tal Dialecto Transmontano ou, como dizem os meus descendentes, de forma orgulhosa, quando me apanham com expressões que me brotam dos genes: «- Estás a falarE à MacedUE!!!». «- Cum munto gostoE!». O mesmo gosto que me adveio do incentivo que representou um recente mail: «Para mim sem dúvida o uso daquelas palavras que eram a expressão dos nossos antepassados deixam-me fascinada». Com "compensação" infeliz no desgosto dos autóctones que me dizem não perceber metade das boas-vindas... Entre "mortos e feridos", se não se salvar o Dialecto Transmontano, que se salve, "ó menos", o Fumeiro Transmontano. "Caralhitchas, q'mim bôs stão o butelo e as casulas secas!" P.S. - Já quase me esquecia de duas "cousas"... Dar os parabéns à Joana Aguiar (Escola Superior de Educação do IPB) pela magnífica Tese! E agradecer à "minh'ábó" por me ter ensinado o que era uma "gabela de guiços", um "carólo de centêo", um "cibo d'áuga", e um "assenta-t'aqui nu mou colo que te quero intcher de mimos". E pelas "cincrôas" que me dava para "ua chicla" ou "prós doces", pela paciência com que aturava as perguntas da impaciência de menino enquanto íamos "prá Canêlha". E agradecer, de igual forma, ao "Ti Guardiano", que sempre vi como o "bó" que nunca tive, por ter tentado ensinar-me a diferença entre "ua aixada e um satcho, entre ua fouce e ua seitoura", "cmu se botaba um baraço n'ua saca de batatas" e, já que menciono batatas, por me ter mostrado o prazer de substituir um copo de refrigerante por "ua pinga no mata-bitcho d'árranca"... E que, seja lá o que isso for, descansem em paz dos trabalhos que tiveram em vida. E dos ensinamentos do Dialecto Transmontano, também...

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Kings Cross, exclusões, Goleman e emoções

Poderá parecer uma aberração a incongruência visível na sequência que titula esta "cousa". E, provavelmente, até é. Ou não... Há dias em que nos apetece estabelecer uma ligação desconexa com o mundo. Como se nesse mundo se tivesse operado uma trancendental reviravolta, qual efeito de uma rápida inversão da tectónica de placas que nos colocasse (de novo) no Gondwana e passássemos, efectivamente, a estar de pernas para o ar. Seria, apenas, a prática aplicação do que já sofremos em teórico-práticas... Mas, afinal, o que tem uma região londrina a ver com esta repentina desconexão? Desfaça-se o nó... Já por aqui trouxe, em duplicado, segundo o que a minha memória me permite alcançar (vá, uma das situações ainda está pintada de fresco...), o nome de Pedro Pires. O tal ex-futuro físico que se transformou num presente coreógrafo e bailarino e que, para lá da excelência de ter nascido no concelho de Macedo, adquiriu uma boa parte das suas capacidades "vagueando" por Kings Cross, facto que o levou a homenagear a dita região londrina através da atribuição da sua nomenclatura ao espectáculo que, actualmente, dirige. Por muito que tenha na família próxima uma promissora futura bailarina (mais virada para voos de cisnes tchaikovskyanos, que para dança contemporânea), e não deixando de considerar a dança uma arte suprema, confesso que o bailado propriamente dito, seja na vertente clássica, seja na contemporânea, não me seduz. Mas não deixo de celebrar as vitórias de quem lhe dedica uma vida, da mesma forma que não deixo de apreciar outras vertentes da dança. Seja isso, ou não, (in)cultura. Bem vistas as coisas, o facto de apreciar mais o Impressionismo que o Cubismo não faz de mim um melhor ou pior apreciador de pintura... Digo eu... Pois o Pedro Pires, para lá de excelente bailarino, revela-se, de igual forma, um excelente crítico. E não posso deixar de aplaudir a denúncia que o mesmo faz ao afirmar que a região do Nordeste Transmontano é a única do país que está excluída da atribuição de incentivos à criação cultural. No entanto, não me importaria que esta fosse a única exclusão. Espero e desejo que a persistência do Pedro seja a força motriz para a sua não desistência. Infelizmente, Pedro, o Nordeste Transmontano é uma coutada de excluídos, excluindo, passe o pleonasmo, os incluídos numa cidade que também fica a Nordeste, mas apenas caso seja olhada a partir de uma das Regiões Autónomas. Mais infelizmente ainda, quando os excluídos passam a auferir dos rendimentos de incluídos, excluem da inclusão os que, através do "poder do povo", os excluíram da exclusão. Estamos excluídos? Queria dizer, estamos entendidos? Porque, a exclusão não se resume à criação cultural representada pela dança. É extensível a muitas outras áreas, num perímetro de tal forma abrangente que perderia o resto da noite a relatar o que o mesmo abarca. O que seria desejável é que, dentro desse perímetro, surgissem mais vozes a denunciar o esquecimento. Mas isso seria atentar contra os bons costumes de quem recebe os excluídos da exclusão com foguetes, bandas de música, alheiras e posta à mirandesa. «São tão hospitaleiros aqueles "tansos" lá de cima... Sugamos-lhes o que têm e ainda nos recebem com palmadinhas nas costas.» Pois este "tanso" que por aqui escreve subscreve as críticas do Pedro Pires e aplaude-o, pela sua arte e pela sua frontalidade. Venham mais "Pedros" a "botar" o dedo na ferida e a exporem o que lhes vai na alma de excluídos. Para isso, é necessário aprender a exteriorizar emoções. Algo que, a meu ver, nao é apanágio dos meus conterrâneos. Não é de admirar: somos um povo enclausurado pelo esquecimento de séculos a fio. Aproveitando o facto de a Escola Superior de Saúde do IPB ter criado uma associação para fazer face à incipiência do desenvolvimento de competências emocionais neste país, deixo o pedido para que a PAIDEIA leve os ensinamentos de Goleman aos cantos e recantos do distrito bragançano. Entre outras coisas, seria uma boa forma de ensinar que um protesto, de vez em quando, efectuado com a devida assertividade, mais não seja, geraria um pouco da auto-estima que parece andar, inúmeras vezes, arredia no "meu" povo transmontano. Porque será que, como um orgulhosamente genuíno transmontano, sinto que aquilo a que, simpaticamente, chamam de hospitalidade transmontana, não passa da manifestação de uma postura subserviente tão do agrado dos que a apelidam de simpática? Porque será?...

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Roubos, arte e tradição

Há coisas caricatas neste país onde cada vez mais me convenço que vale a pena a "ladroagem". A começar pelas altas esferas. Seguindo pelo exemplar comportamento que demonstram ao país, a coberto de processos obscuros que acabam sempre por ilibar as ditas esferas, continuando a rolar as mesmas sem que rolem cabeças (rolam escutas, e já é um pau...). A arraia-miúda vai-lhes seguindo as pegadas. Como faço parte desse complexo mundo cinzento, começo a equacionar seriamente a minha postura de cidadão. Vem isto a propósito de uma declaração proferida pelo proprietário de uma agência de seguros macedense, na sequência da terceira visita dos amigos do alheio. No que a mim diz respeito, não é de pasmar: «Não vou apresentar queixa porque fi-lo da última vez mas nunca se chega a conclusão nenhuma. É uma carga de trabalhos.»... Sem mais comentários... Por referir comentários, já sentia saudades das verrinas. Para desilusão minha, as mesmas foram substituídas pelas suspeitas em forma de "dúvida pública". A crer na notícia que dá origem à "dúvida", o executivo camarário procedeu a uma alteração no Orçamento, retirando às freguesias de Talhas e Macedo de Cavaleiros, respectivamente, 82 e 53 mil euros. Considerando que estas freguesias deram, nas últimas Autárquicas, a vitória ao partido "oposicionista", não deixa de constituir um daqueles aromas que despertam a sensação de cheiro a esturro. Contudo, e porque prefiro, indubitavelmente, os juízos de facto aos equivalentes de valor, gostaria, numa próxima oportunidade, de saber o que aconteceu relativamente às freguesias de Talhinhas, Vilarinho de Agrochão, Lamalonga e Ala. Só por "causa das cócegas"... Por outro lado, como já estou habituado ao facciosismo de quem, a coberto de um periódico flaviense, trata de "cascar" na própria terra (e sempre no mesmo sentido), deixo sempre uma margem de manobra alargada para conclusões precipitadas. Especialmente porque, caso eu fosse o "ministro das aldeias" (tal qual é apelidado o vereador em causa pelo jornal em causa) e tivesse "levado nas trombas" em plena campanha eleitoral, enquanto decorria uma festa lá para os lados do "umbigo do mundo", não duvido sobre qual seria a minha posição em relação à aldeia de onde foi originário o "aquecimento do costado". Ou será que o senhor jornalista dá benesses a quem lhe "acerta o passo"? Adiante, porque da dita aldeia que, pelos vistos foi mesmo prejudicada, sai gente que leva o nome de Macedo ao mundo. Falo de Pedro Pires e da forma como se perdeu um físico para se ganhar um bailarino. Em boa hora há pessoas que possuem a capacidade de perceber que não estão talhados para uma determinada actividade e, contra ventos e marés, aplicam as suas potencialidades em áreas diametralmente opostas. E, depois de tudo isto, o que me apetece mesmo é um café com umas torradinhas (de trigo, porque o centeio já se foi), antes de me entregar ao mundo de Morfeu. A ideia do café levou-me à recordação de umas imagens que vi recentemente no segundo da listagem das "Outras Cousas de Villar de Masaedo". E tenho pena não poder saborear um café daqui saído...

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Cousas do Mogrão

O Mogrão é uma pequena aldeia encravada entre Ala e as Arcas. Por tal, já pertenceu, em termos de jurisdição territorial, a ambas, sendo que neste momento se engloba na segunda das freguesias. Terá muitas histórias para contar (talvez um dia aqui as traga), mas não é isso que me está a "inquietar" a escrita. Espanta-me, por vezes, verificar a grandeza dos pequenos. Não posso deixar de registar a vitalidade com que algumas aldeias desafiam o destino do abandono. A que aqui me traz, para além de possuir a sua Associação Cultural, Desportiva e Recreativa do Mogrão, instituição que dá azo a imensas actividades, ainda tem a capacidade de manter uma página electrónica onde transmite as novas aos seus conterrâneos (e não só). Pois foi a essa mesma página que fui surripiar a prova que a seguir apresento. Já tínhamos escritores, políticos e bailarinos cuja assinatura no pátio da fama só poderia encher os macedenses de orgulho. Agora temos outro que, assim o bafeje a sorte e a arte, a tal poderá aspirar num futuro próximo: Rafael Corujo, o prodígio do Mogrão que, saído do Clube Atlético, foi parar ao ninho das águias.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Homenagens à Castanha da Terra Fria

Diz a tradição que deveríamos estar a aproveitar uns dias de uma descontextualizada mini-época estival. Porém, o S. Martinho resolveu, extraordinariamente, antecipar o seu habitual Verão. Já lá vai o Verão, e já lá vai também o S. Martinho, ofertando-nos a sua capa, à semelhança do que ao mendigo fez, só que, desta vez, na originalidade em forma de céu carregado. Haja chuva e hajam castanhas, mesmo que de tamanho diminuto. Em tempos longínquos, ainda a meninice era minha companheira de correrias e tropelias, estes dias eram marcados por um qualquer “magosto” comunitário, fosse o dito em frente ao adro da minha Lamas-paixão ou no terreiro do meu Toural-nostálgico. Nos dias que correm, o dito “magosto” restringe-se à comunidade do ambiente familiar. Procura-se renovar o transe de uma “infurretadela”, tentando-se transmitir aos “cavaleirinhos andantes” as emoções de risadas infantis que acompanhavam cada “stourote” de uma castanha que saltava, aleatoriamente da fogueira, numa trajectória que, por vezes, ia de encontro a um qualquer desprevenido que se abeirava em demasia do calor das chamas. O fim-de-semana que se aproxima trará a Lamas a revivescência das tradições do S. Martinho. A VII edição da Feira da Castanha por lá andará, com encontros e desencontros, particularmente no que ao “vai à adega e prova o vinho” respeita. Por lá não estarei… E por cá me ficarei, na esperança do sucesso de tal edição. Não só porque a castanha constitui um dos principais meios de subsistência económica da região macedense, mas também pela apreensão que me vai gerando o flagelo da doença da tinta e do cancro do castanheiro, que tanto têm afectado os soutos transmontanos. Mesmo que, a dados de 2006, Portugal não represente mais que 3% e 9%, respectivamente, da produção e da área mundiais, o “meu” Trás-os-Montes, segundo o Recenseamento Agrícola que antecedeu o que agora está a decorrer, detinha 75,8% das explorações e 89,9% da área de castanheiros do país. Números que evidenciam a importância e o impacto que os soutos têm para a região. No que concerne ao concelho de Macedo, o mesmo encontra-se abrangido na região de produção da DOP Castanha da Terra Fria, sendo que a variedade predominante, acima dos 70%, é a Longal, ainda que seja possível encontrar outros espécimes, como a Judia, imagem de marca da vizinha Padrela. Não é de estranhar que a paisagem concelhia, especialmente na sua parte setentrional, seja pintada a soutos e, nalguns casos, a castinçais. De igual forma, não admira a proliferação, no concelho, de fitotopónimos como souto, soutinho, soutilha, castanheiro e castanheira. Ou a decisiva contribuição para a nomenclatura de Soutelo Mourisco. Este apego ao castanheiro europeu (Castanea sativa Mill) vem de tempos imemoriais. Contrariando a ideia veiculada durante muitos anos, não foram os Romanos os originais introdutores do castanheiro na península e, mais especificamente, em Portugal. Terão sido o percursores do seu cultivo… De facto, os avanços nos estudos palinológicos e antracológicos sugerem que esta espécie teria existido no território português, particularmente a norte, na fase prévia da vulgarmente apelidada de Idade do Gelo. A última Era Glaciar, o Würm, cujo máximo terá sido atingido há cerca de 18.000 anos, terá obrigado ao recuo do castanheiro para refúgios ecológicos, como parece ter ocorrido com a região cantábrica. É provável que, com este recuo, o castanheiro se tenha, entretanto, extinguido na área compreendida pelo actual Portugal. A partir desta provável extinção, será necessário avançar até há cerca de 3700 anos para detectar as primeiras provas incontestáveis do cultivo do castanheiro pelo homem. As mesmas são provenientes de regiões abrangidas pelo Mar Negro, nomeadamente a região nordeste da Grécia ou a Anatólia. As qualidades detectadas na madeira e nos frutos terão conduzido os Gregos a difundir esta magnífica árvore, atingindo essa mesma difusão as colónias helénicas na Península Itálica. Serão autores clássicos, como Plínio, a enaltecer a versatilidade da madeira, evidenciando a sua especial aptidão para material de suporte das tão amadas videiras dos Romanos. A posterior romanização da Península Ibérica traz consigo, entre muitos outros legados, a difusão do castanheiro sem, contudo, existirem evidências de uma plantação exaustiva e sistemática. Será necessário aguardar pelo séc. XI para, até ao séc. XVI, se assistir à proliferação da cultura de castanheiros, especialmente na zona norte do país. Este auge de cinco séculos traduz-se na representatividade que a castanha passa a ter na dieta de um povo que vive na austeridade de uma das regiões mais remotas do país. O mesmo fruto passa, inclusive, tal a proliferação que atinge, a fazer parte do cardápio da doçaria conventual. Uma análise superficial aos relatos paroquiais de meados do séc. XVIII permite atestar a importância, nas freguesias do concelho de Macedo, dos soutos, juntamente com a vinha e o centeio. Contudo, a introdução do milho e, de forma mais acentuada, a da batata, a partir de finais do mesmo século, conduz ao primeiro fenómeno de decréscimo da produção de castanha. Outros se lhe seguiriam, desde o abandono dos campos, até ás pragas que vão atingindo os castanheiros. No entanto, um pouco á imagem da resistência intemporal desta árvore, o fruto castanho, desde o aconchego do seu ouriço, persiste em estruturar um pouco da identidade transmontana, bem como a sua paisagem. “Bai um copetcho de girupiga c’um bilhó?”

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Legalidades

Quando a velhinha N15 entrava na sua agonia de substituição de tráfego pelo IP4, suspirei... De alívio e de nostalgia... Ainda a novidade do novo traçado se encontrava à espera da respectiva inauguração e decidi passar as barreiras legais, cometendo a proeza de circular por onde a ausência do cortar de fitas ainda não permitia. Nesse dia, prometi a mim mesmo que um dia haveria de me despedir decentemente das "Curvas de Murça". Entretanto, a adrenalina foi-se dissipando e a paciência foi-se esvaindo ao sabor do conforto. E nunca mais chegou o dia da despedida... Mas o conforto foi sendo tomado de assalto pelas insuficiências do IP4 e pelo desafio em que se transformou, numa negra e sangrenta pintura de "roleta russa". Até que um dia alguém teve vergonha na cara e decidiu avançar para a reposição de uma elementar justiça (mesmo que os transmontanos residentes sejam cada vez menos). A A4 vinha a caminho, rodeada de duas cerejas: o nascimento do IC5 e a transformação do IP2. Como parecia "fruta" a mais, o Tribunal de Contas decidiu recusar o visto prévio aos contratos das concessões rodoviárias. Legalidades... Ou uma ilegalidade mais cometida sobre "aqueles gajos de lá de cima que nos recebem com posta á mirandesa e bandas de música quando lá vamos em período eleitoral"... Manobras de diversão de legalidades à parte, não há nada que reponha uma vida. Recentemente tinha feito menção, em conversa familiar, às ausências de punição para os gangs que vão proliferando neste país que, dizem, conquistou a liberdade. A maior conquista foi, contudo, a da insegurança... Isto a propósito do João Melo. Já se esfumaram oito anos... E, finalmente, contrariando o meu pessimismo, houve condenação para quem perpretou um hediondo crime, alvejando um jovem que se limitava a cumprir o seu dever. 25 anos não é pena máxima, é pena mínima. Porque não vão ser 25 anos... E porque os anos que vão ser sê-lo-ão, também, à custa da família do João, a qual, com os seus impostos, contribuirá para sustentar quem lhes ceifou um filho. Infelizmente, nada há que o traga de volta. Contudo, discordo da completa privação de liberdade, assim como discordo, na grande maioria dos casos, da aplicação da pena de morte. Não seria muito mais profícuo para a sociedade impor a quem, sabe-se lá se por motivos genéticos, culturais, educacionais ou sociais, se colocou à margem, um regime de trabalho compulsivo, em jeito de compensação a essa mesma sociedade, através de um qualquer serviço comunitário? Não há matas para limpar? Não há estradas para asfaltar? Porque temos que pagar em triplicado?

sábado, 7 de novembro de 2009

2-hidroxi-1,2,3-propanotricarboxílico…

A pátria transmontana é notícia por liderar o ranking de apreensões de ficheiros musicais. Das três, duas… Ou finalmente adquiri a percepção da proveniência do meu gene melómano, ou a Inspecção-Geral das Actividades Culturais não possui delegações nos distritos do litoral, ou a dita IGAC tem que justificar de alguma forma a existência da Inspecção de Espectáculos e Direito de Autor nos distritos transmontanos… A melomania que atacava, de forma vil, as minhas parcas poupanças, constrangia-me a visitas periódicas às grandes superfícies musicais que têm nome de uma ex-marca de ar condicionado… Depois… Bem, depois descobri que a minha ingenuidade monetária poderia descer uns degraus com uma simples visita às feiras dominicais que proliferam neste distrito costeiro onde vim aterrar (que, pelos vistos, não tem IGAC-IEDA). “Atão, déze Cds pur déz’ouros, quando gaztaba mais q‘ua nota só num‘e? Boa jeira!“ E quando a busca se enquadra no elitismo musical, pela módica quantia de “muntos poucos ouros”, há uns sites originários do lado de lá daquele mítico muro que oferecem uma inaudita variedade… Arrisco-me a ser considerado um criminoso, só por se limitar a fugir do crime que sobre ele é cometido através dos exorbitantes preços de um mero CD (ou DVD, que “mai fai”), taxados com um imposto, também ele exorbitante. Dizem por aí que quem tem vícios, sustenta-os… Plenamente de acordo… Todavia, jamais o meu vício musical poderá suportar os vícios alheios. Por mencionar vícios, à minha memória assoma uma notícia mais com estreitas ligações à dita pátria transmontana. É a tal, notícia, porque existe um filho dessa esquecida pátria que, dizem às más línguas, tem uma face oculta. Ou, em última instância, é um dos aparelhos auditivos dessa “benta zcundida”. Até pode ser… Ou não… No país “nim” em que vivemos, seja ou não seja parte integrante do ocultismo, há-de ser apenas um exemplar transmontano a enquadrar-se num alargado grupo onde outros exemplares, dizem de novo as más línguas, “parece” que “comiam meninos ao pequeno-almoço” e a digestão apenas lhes custou a pena de se candidatarem à presidência de algumas autarquias... E como as más línguas se restringem à monotonia da faca e alguidar, não é que outros exemplares há que por lá se enquadram, isto a crer apenas nos testemunhos provindos de terras de Sua Majestade, um tal território sem credibilidade alguma, não só por ser a pátria dos hooligans como também a dos tablóides? Mas também porque chamam “port“ a um porto e porque, sabe-se lá porque carga de água, dizem que, após o 25 de Abril, o povo português ficou “free“ ao invés de se limitarem a livre… Dizem as boas línguas… Conveniências inconvenientes… É ainda a pátria transmontana notícia porque quando a esmola é grande, a pátria pobre deve desconfiar… Andava feliz e contente pelos avanços na A4, no IP2 e no IC5. Confesso que me apeteceu, variadas vezes, beliscar os excessos lipídicos para me conformar com a ideia da futura existência de vias de 120 km/h no único distrito onde, legalmente, não se pode ultrapassar a ultra-sónica barreira dos 90 km/h. Qual apóstolo incrédulo, não deixava, contudo, de me alegrar com a efusividade de um ex-ministro na inauguração da dinamitação do Marão. Até surgir outro ex-ministro com explicações sobre a recusa de visto às concessões rodoviárias que rasgariam o distrito esquecido e o aproximariam do mundo. Nada de que não suspeitasse já… Afinal, o período eleitoral já é passado… Mas diz o Sr. Presidente do Tribunal de Contas que as obras podem continuar. Até quando?… Legalidades à parte, e porque este fim-de-semana decorre um curso micológico, o DN traz a notícia da ameaça que paira sobre o negócio dos cogumelos florestais transmontanos, pela prolongada ausência de chuva. Pluviosidade que parece estar de regresso e a congestionar a segurança do troço da N102 entre o Pontão de Lamas e Macedo. Enquanto os bate-chapas vão arranjando trabalho extra, a Estradas de Portugal afirma que, obras neste acidentado troço, só no segundo trimestre de 2010. E depois ainda há a EDP a querer amansar os depauperados transmontanos com Energy Bus, projectos solidários feitos de migalhas e trocas de lâmpadas… Só não entendo a publicidade feita no site institucional da autarquia… Pode ser que Macedo ganhe alguma coisa com isso… Macedo que se insere na tal pátria transmontana… Dadas as circunstâncias, já não sei se, por ser um filho da pátria, não me sinto cada vez mais tratado como um filho da “pútria”… Ou é apenas o ácido cítrico que deu título a este post a exercer os seus efeitos…

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Roteiros macedenses


O frio bateu à porta, qual porta-voz de boas vindas a um fim-de-semana mais. A chuva que lhe faz companhia escreve um convite à permanência no aconchego caseiro, defronte do conforto de um “strafogueiro” consumido pelas chamas, ajudado por um “capão“ sobre o qual se vai manuseando o assador que nos há-de presentear com uns “bilhós“. Contudo, os eventos permanecem imunes aos contratempos do termómetro e vão desfilando ao sabor do lado prazenteiro de cada um. A começar, já amanhã, às 09h30, através da “Lição de Joana”, uma acção de formação para a qual o Centro Cultural terá as suas portas abertas. Uma oportunidade para os profissionais da educação e da animação sócio-cultural absorverem uma forma distinta de leitura, envolta em encenação. Igualmente numa vertente diferente, está acessível em alguns cafés uma outra abordagem aos livros, através das “Leituras com Cafeína”. Saúde-se esta tentativa de promover hábitos que, normalmente, andam arredios. Hábito ancestral reside no consumo de cogumelos silvestres. Recentemente, li algures uma frase que, pela sua originalidade, ouso transcrever: “Todos os cogumelos são comestíveis… Alguns, apenas uma vez”. Já lá vão uns largos anos desde que ouvi uma história macabra acerca dos ditos espécimes comestíveis em dose única. Segundo o relato, perante a suspeita de “intragabilidade”, aquilo que seria uma refeição mais, foi despejada para o curral. O atrevimento guloso dos galináceos que por lá andavam redundou num precoce tombar… Para evitar males maiores, decorre, a partir de amanhã, lá para os lados da capital dos Caretos, um curso de identificação de cogumelos silvestres. Uma forma de, em contacto com a Natureza, aprender algo mais sobre esse divino manjar que, inúmeras vezes, já trouxe dissabores. Já o Parque Municipal de Exposições acolhe, no Domingo, o já aqui mencionado Concurso de Churra Badana. Uma oportunidade para apreciar uma raça ovina em vias de extinção e cujo território mais marcante reside no concelho de Macedo. Ainda no Domingo, pelas 15h, a população de Ferreira poderá assistir à exibição dos dotes vocais do Grupo de Cantares da Casa do Professor. Para os que apreciam outros encantos, como a beleza que a paisagem transmontana toma com a chegada dos dias invernais, fica o conselho para uma deslocação de pouco mais de 10km até à antiga e histórica Salselas. Não que as condições meteorológicas dêem permissão a investidas à ancestralidade dos locais que marcam esta freguesia. Por aqui são visíveis exemplares que testemunham a passagem desde tempos imemoriais. Todavia, esta incursão a Salselas possui uma vertente mais etnográfica que propriamente histórica, ainda que uma e outra sejam indissociáveis. O Museu Rural de Salselas é um exemplo vivo de preservação de uma cultura que vai sendo apagada pelo tempo. No mesmo são retratados as actividades tradicionais relacionadas com labores agrícolas, bem como nos é apresentada uma fiel reprodução dos modos de vida dos nossos avós, bem vincada na presença e na disposição de artefactos que mais não fazem que relembrar a típica casa transmontana. É de louvar o esforço colocado por uma freguesia nordestina e macedense na recriação de modos de vida que, paulatinamente, vão sendo abandonados a favor dos valores da modernidade e da deserção para outras paragens. O futuro faz-se hoje…

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Territoria Ordinum

Os nossos vizinhos espanhóis estão na vanguarda em imensas coisas (mais que as desejáveis, "tugamente" falando). Entre as ditas encontra-se a criação do "Proyecto Territoria Ordinum". O alcance deste projecto está muito para além da abrangência histórica das Ordens Militares que nos deixaram uma herança que extravasa a singularidade provinda de exemplares arquitectónicos. É, sem dúvida, indiscutível o legado que foi deixado, inclusive na nossa própria identidade. É-o, de igual forma, nos contornos da influência exercida nos processos de reconquista e repovoamento, bem como em torno da jurisdição territorial, ainda que a mesma tenha sido, inúmeras vezes, objecto de abusos e usurpações. Obviamente, não venho aqui para uma exaltação dos feitos dos freires guerreiros... O que motiva esta superficial abordagem reside na notícia constante da última página do "Boletim Municipal" do pretérito Setembro: «MACEDO INTEGRA REDE INTERNACIONAL DE ROTAS MILITARES». Confesso que me causou algum espanto, não desprezando as recentes ligações estabelecidas com a Fundação Aljubarrota e com a preponderância de um herói macedense para o desfecho da tão celebrada batalha. E não menosprezando as incursões do Condestável e do Mestre de Avis a colocar em ordem o Alcaide de Bragança, mais virado para as intenções do João do outro lado de lá da fronteira. Ou as equivalentes de Sancho I quando teve que colocar o sobrinho Afonso IX em sentido pelos seus abusos em terra bragançanas. Fiquei a saber que integramos a Rota dos Cavaleiros de Malta. Regressando aos exemplares arquitectónicos, diz-me a minha suprema ignorância que o mais próximo que temos do concelho (e com efeitos tardios) é o que resta do castelo de Algoso. Contudo, pensar em Cavaleiros de Malta remete-nos de imediato para a actual freguesia dos Olmos e para a antiga aldeia de São Cristóvão que, lá para os séc. XVII ou XVIII viu o seu nome adulterado para Malta. À semelhança de outras Malta que marcam a toponímia deste país (e tenho uma aqui bem ao lado da minha terra adoptiva), a do concelho macedense deverá a sua nomenclatura à Ordem que, até ao séc. XVI, foi a dos Hospitalários. Uma tal Ordem de monges guerreiros que teve o primevo beneplácito da trisavó de Afonso, o terceiro. O tal através do qual ficámos a saber, por via das suas Inquirições, que a dita Ordem do Hospital já era detentora dos direitos sobre a "vila" de São Cristóvão desde, pelo menos, o tempo do seu avô, o Sancho "velho", ou seja, o primeiro. Se a esta parcela acrescentarmos as de Castro Roupal, Morais, Talhas, Salselas, Valdrez e a extinta Banreses (só para citar as possessões com semelhante âmbito territorial), ficamos a saber que a futura Ordem de Malta era possuidora de uma larga fatia territorial no leste do actual concelho. Contudo, não estando esta porção de território abrangida pela cintura fronteiriça com o vizinho Reino de Leão, não foi bafejada pela construção de baluartes defensivos, contrariamente ao sucedido nos exteriores concelhos limítrofes. Se encontro justificação para o "Territoria Ordinum" em cidades onde as Ordens de Cavalaria deixaram bem vincado o seu testemunho, nomeadamente no urbanismo, fico um pouco surpreendido com esta adesão de Macedo a um projecto de âmbito supranacional. É verdade que, para lá dos Hospitalários, os Templários também por cá andaram a distribuir "traulitada", bem como os não menos "trauliteiros" monges beneditinos de Castro de Avelãs, entre outros do lado de lá da fronteira. É também verdade que, ainda que indirectamente, por cá foi deixada a marca da Ordem de Avis. Mas daí a uma "Rota Militar" vai uma grande distância... Distância menor é aquela a que se encontra a minha pulga atrás da orelha, acrescida do sorriso que é gerado por esta adesão a um projecto internacional que, sendo conhecedor do que se passa por bandas de Castela, Leão, Aragão e afins, me deixa com uma saborosa ansiedade em relação às implicações futuras que um "Territoria Ordinum" possa ter na minha terrinha que já tem uma Rota dos Cavaleiros de Malta, os quais, curiosamente, têm um dos seus expoentes máximos bem aqui ao meu lado, na freguesia onde produzem um fermentado cerealífero que tem na sua constituição um tal de lúpulo que, dizem-me, é maioritariamente proveniente da minha paixão além-Marão... Não é por nada, mas "stou cada bez mai contcho cum a nha terra"... E não é pelo Campo de Golfe...