Tudo não passaria de um favor… Um daqueles favores que se fazem às pessoas que nos alimentam a alma a carinho e disponibilidade.
- Não queres ser meu vizinho?...
- Não quero o quê???
Mas, então, como assim?... Vizinho? Mas agora a amizade vai necessitar de andar de mãos dadas com a vizinhança? E, viperina língua a minha, ainda há vizinhos? Essa espécie não está no mesmo catálogo do lince ibérico? Pelos vistos, não… Quer dizer, em termos práticos, de vivência real, está. No mundo em que a gente se esconde por detrás de um monitor, onde as cordas vocais são substituídas pelo monocórdico tom de um teclado e os afectos se manifestam por “dois pontos, parêntesis”, há vizinhos, imensos vizinhos. Solidários, sorridentes, disponíveis… Desconhecidamente desconhecidos… Agradavelmente agradáveis…
Estranhos amigos estranhamente amigáveis… Como dizia, tudo não passaria de um favor… Depois, o contagiante entusiasmo de alguém que leva metade da minha existência fez o resto. Foi um pequeníssimo passo até à adesão a algo que me provocava incontáveis pruridos. As redes sociais… E, particularmente neste caso, um tal jogo de agricultura e pecuária virtuais… A coisa começou com aquele olhar de soslaio, sobrancelhas franzidas, desconfiança à deriva. Prosseguiu com uma postura de petulância, tipo “isto não é para mim”, desprezo a roçar o absoluto. Entretanto, a intriga apossou-se de mim: o que terá algo para deter a capacidade de já ter contagiado 76 milhões de pessoas? Resolvi baixar do meu pedestal e investigar o âmago, entender o umbigo, percepcionar a abrangência. E surpreendi-me… Mais que um jogo, relativamente bem elaborado, utópico porque se colhem morangos 4 horas após a sementeira e convivem pinguins com bananeiras, é um fenómeno sociológico. Que deveria ser passível de uma leitura profunda a uma certa realidade social em que vivemos mergulhados. A dependência do estatuto e dos conceitos materialistas ao mesmo associados conduziu ao isolamento social. Cada um por si e fé em Deus… Como adepto incondicional da pureza das emoções, da amizade, da entreajuda, da solidariedade… - ok… pausa… sei que sou lírico, mas gosto deste lirismo - … espantou-me, e espanta-me, aquilo a que venho assistindo ao abrigo de um simples jogo e de uma rede social. Recebo e envio pedidos de amizade a desconhecidos (simplesmente porque são amigos de amigos de amigos…). É anómalo, porque a amizade não se constrói a pedido, mas é real… Como se a gente vivesse numa incessante sede de contactos. E, pelo que posso apurar, vive! Em pouco tempo, sem saber muito bem como, tenho quase 200 amigos!!! Desses, cerca de 5% são meus Amigos na real vida que levo. Outros tantos, são pessoas que me “desconhecem” e às quais “desconheço” nas minhas incursões macedenses. As restantes, simplesmente foram aparecendo. Contudo, na vida virtual são meus amigos e vizinhos… Pedem-me ajuda, peço-a eu igualmente. E há sorrisos, conversas, comentários… E a insignificância de uns e outros reduz-se, de forma quase mágica, a um valor residual. Os seres com os quais me cruzo por Macedo, carrancudos, isolados, entregues a si próprios, surgem, invariavelmente, dotados de sorrisos nas suas imagens de perfil. Haverá alguma proibição que iniba as pessoas de sorrir pessoalmente? Que raio de medo colectivo este que se apoderou da gente, que a leva a recear expor-se quando incarnam um personagem real! E que, quando fazem de conta que são o “Zé da rede social”, se transfiguram, enviam presentes, sorriem de “dois pontos parêntesis”, são solidários, dizem “olá!”, partilham pontos de vista, geram cumplicidades! E, no que respeito me diz, nada como recorrer ao chicote da auto-flagelação, porque, a bem da verdade, também não fujo propriamente à regra. Outra coisa mais me espanta… Numa época de progressivo abandono das actividades agrícolas e pecuárias, o que conduz toda esta gente (eu incluído) a transformar-se em “agricultores virtuais”? Serão as afinidades pela terra? Serão estas conjugadas com o isolamento? O que conduzirá milhões de pessoas a “criar” galinhas, patos, porcos, coelhos, cavalos e outros animais mais? O que as levará a “lavrar”, “semear” e efectuar a respectiva “colheita”, quando o sector primário está votado ao abandono? O que motiva tanta gente a passar horas, por vezes, a “catar ovos” e “mugir vacas”? E, se um dia, a abandonada província transmontana se transformasse numa “farmville”? Poção mágica…
Bem Vindo às Cousas
Puri, se tchigou às COUSAS, beio pur'um magosto ou um bilhó, pur'um azedo ou um butelo, ou pur um cibinho d'izco d'adobo. Se calha, tamém hai puri irbanços, tchítcharos, repolgas, um carólo e ua pinga. As COUSAS num le dão c'o colheroto nim c'ua cajata nim cu'as'tanazes. Num alomba ua lostra nim um biqueiro nas gâmbias. Sêmos um tantinho 'stoubados, dàs bezes 'spritados, tchotchos e lapouços. S'aqui bem num fica sim nos arraiolos ou o meringalho. Nim apanha almorródias nim galiqueira. « - Anda'di, Amigo! Trai ua nabalha, assenta-te no motcho e incerta ó pão. Falemus e bubemus um copo até canearmos e nus pintcharmus pró lado! Nas COUSAS num se fica cum larota, nim sede nim couratcho d'ideias» SEJA BEM-VINDO AO MUNDO DAS COUSAS. COUSAS MACEDENSES E TRASMONTANAS, RECORDAÇÕES, UM PEDAÇO DE UM REINO MARAVILHOSO E UMA AMÁLGAMA DE IDEIAS. CONTAMOS COM AS SUAS :
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