“Olea prima omnium arborum est”
A adversidade carrega consigo, por vezes, a surpresa. O ano não correu de feição a uma das grandes culturas mediterrânicas que herdámos: o olival. Surpreendentemente, ainda que com condições climatéricas aziagas, a colheita de azeitona da última campanha superou, a crer nas notícias provenientes da Cooperativa Agrícola, o expectável para oliveiras expostas ao rigor de um Inverno anómalo (se atentarmos que, no último decénio, tivemos 6 dos anos mais quentes do último século). Ao olhar, em pleno séc. XXI, para esta árvore pela qual nutro uma estranha paixão, não resisto a uns breves apontamentos sobre este ser vegetal híbrido, Olea europaea para os entendidos. Um híbrido ser que, ainda que cantado desde imemoriais tempos («E com um ramo de oliveira o homem se purifica totalmente.» Eneida de Virgílio), com vestígios neste recanto luso desde a vetustez das épocas, elevado ao Olimpo por Gregos, idolatrado por Romanos, popularizado por Árabes, só na história recente teve o seu auge por transmontanas terras. É difícil imaginar a Terra Quente privada de olivais, nas suas cotas abaixo dos 700m. Contudo, os apreciadores do aurífero líquido gratos devem estar à filoxera do séc. XIX. A dita praga da vinha foi o mote para um revestimento distinto das encostas da Terra Quente. Não que já em pleno séc. XVIII não existissem freguesias, como a dos Cortiços, referidas como terras que produziam «azeite em abundância». Não que, na primeira metade do séc. XVI, surjam as primeiras efectivas referências à nobre oliveira por terras transmontanas. Basta crer em João de Barros quando diz «…e muito pouco tempo há que ali se plantàrão as primeiras oliueiras, e agora há muito azeite na terra», referindo-se ao termo de Mirandela. Ou no Contrato dos Maninhos relativo ao termo de Miranda, de 1532, «nos lugares onde isso possa ser, plantar dentro de quatro annos quarenta oliveiras». Contudo, se recuarmos à época medieval, a economia rural estava despida de olivais. Pode dizer-se, sem relutância, que a ementa desses nossos antepassados estava desprovida do tão apreciado azeite. Os diplomas e documentação medieval são quase omissos em referências à oliveira e ao azeite. Predominam as relativas à vinha e aos cereais, nomeadamente no que aos textos das Inquirições diz respeito. E, mais dúvidas houvesse, em nenhum exemplar de forais transmontanos surge o azeite como produto passível de pagamento de portagem. É-me difícil imaginar a vida sem “ua seladinha” temperada com azeite, o de “berdade”, não aquele que nos impõem com galináceos de duplo L. Mais difícil é tragar o obscurantismo em que vive o Azeite DOP Trás-os-Montes. Nada de exclusivo… Não me apetece falar de Terrincho, de Churra Badana, de Batata, de Castanha… Mas apetece-me dizer uma verdade irrefutável: somos incomensuravelmente bons e negamos a exploração do bom que temos!
Bem Vindo às Cousas
Puri, se tchigou às COUSAS, beio pur'um magosto ou um bilhó, pur'um azedo ou um butelo, ou pur um cibinho d'izco d'adobo. Se calha, tamém hai puri irbanços, tchítcharos, repolgas, um carólo e ua pinga. As COUSAS num le dão c'o colheroto nim c'ua cajata nim cu'as'tanazes. Num alomba ua lostra nim um biqueiro nas gâmbias. Sêmos um tantinho 'stoubados, dàs bezes 'spritados, tchotchos e lapouços. S'aqui bem num fica sim nos arraiolos ou o meringalho. Nim apanha almorródias nim galiqueira. « - Anda'di, Amigo! Trai ua nabalha, assenta-te no motcho e incerta ó pão. Falemus e bubemus um copo até canearmos e nus pintcharmus pró lado! Nas COUSAS num se fica cum larota, nim sede nim couratcho d'ideias» SEJA BEM-VINDO AO MUNDO DAS COUSAS. COUSAS MACEDENSES E TRASMONTANAS, RECORDAÇÕES, UM PEDAÇO DE UM REINO MARAVILHOSO E UMA AMÁLGAMA DE IDEIAS. CONTAMOS COM AS SUAS :
1 comentário:
Se este ano a colheita foi melhor não sei dizê-lo, mas que foi mais difícil... disso tenho a certeza.
Esta manhã, na biblioteca, veio parar-me às mãos um livro sobre a Rota do Azeite, com fotografias de olivais transmontanos ( alguns dos quais do concelho de Macedo) muito bonitas.
Bom fim-de-semana. :)
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