Bem Vindo às Cousas

Puri, se tchigou às COUSAS, beio pur'um magosto ou um bilhó, pur'um azedo ou um butelo, ou pur um cibinho d'izco d'adobo. Se calha, tamém hai puri irbanços, tchítcharos, repolgas, um carólo e ua pinga. As COUSAS num le dão c'o colheroto nim c'ua cajata nim cu'as'tanazes. Num alomba ua lostra nim um biqueiro nas gâmbias. Sêmos um tantinho 'stoubados, dàs bezes 'spritados, tchotchos e lapouços. S'aqui bem num fica sim nos arraiolos ou o meringalho. Nim apanha almorródias nim galiqueira. « - Anda'di, Amigo! Trai ua nabalha, assenta-te no motcho e incerta ó pão. Falemus e bubemus um copo até canearmos e nus pintcharmus pró lado! Nas COUSAS num se fica cum larota, nim sede nim couratcho d'ideias» SEJA BEM-VINDO AO MUNDO DAS COUSAS. COUSAS MACEDENSES E TRASMONTANAS, RECORDAÇÕES, UM PEDAÇO DE UM REINO MARAVILHOSO E UMA AMÁLGAMA DE IDEIAS. CONTAMOS COM AS SUAS :







quarta-feira, 10 de março de 2010

Fome de terra


A lugubridade dos dias pareceu ter atingido o seu expoente máximo nesta Sexta-feira. A chuva caía num incessante lacrimejar dos céus, como se a condensação tivesse acumulado décadas de tristeza. O vento assobiava a sua melancólica melodia, lançando as gotículas de chuva num caótico estado de louca correria, numa aleatoriedade direccional de deixar qualquer trauseunte próximo da insanidade mental. O vizinho curso de água tresandava a excesso da mesma, deixando o imponente arvoredo transfigurado em isoladas ilhotas no meio da mancha castanha que corria desenfreada. A névoa surgia como um fantasma pairando, ameaçador, indutor de previdência, aconselhando a uma daquelas Sextas-feiras de ficar pelo aconchego caseiro. Ao fundo, o som rouco das ondas assemelhava-se a um trovejar sem raios. Mas a voz da saudade abafou o agudo sibilar do vento, a contínua percussão da chuva e o batuque da espuma branca. Quais Ulisses, simples gente do xisto, armada de vontade de enfrentar o Cíclope. Sem armas, com bagagens, tempo de cumprir a penitência de duas horas enfrentando a tempestade. E que tempestade! O contínuo movimento das escovas do pára-brisas quase hipnotizava o condutor. O vento, desalmado, perseguia-nos, quais fugitivos, sempre no encalço, provocando uma perigosa dança no asfalto. A transposição da ponte de Vila Pouca de Aguiar constituíu uma das mais arrojadas acrobacias a que alguma vez havia sido exposto. A subida do Alvão assemelhou-se à uma qualquer encenação teatral a que assistimos sentados na primeira fila e onde a cortina branca nunca mais abre para vermos o espectáculo. Alguém deixou as janelas do teatro abertas... Que ventania! Que chuva! Que nevoeiro! Que tridente!!! Valeu pelo suspiro da chegada, pelos calorosos sorrisos que aquecem até a mais penada alma... E pela magnífica galinha caseira estufada que tinha à espera para reconfortar a adrenalina da jornada! Seguida da incursão ao "meu" tasco da aldeia de anos, onde residem mais uns sorrisos abertos pela chegada de um filho pródigo, um café bem tirado e mais um "copetcho" para reavivar espíritos enregelados. E ainda tive direito a bónus de coelho do monte. A ementa do almoço do dia seguinte não foi passível de discussão! O Sábado acordou com as mesmas tonalidades dos dias anteriores. Taciturno... Gosto de Macedo pintado a sol... Aquele ambiente soturno, monotonia do cinza, transforma-me num asceta da lareira. Aprecio passear pela minha "vila" debaixo do quase anonimato iluminado a astro-rei. À falta de melhor, recolhe-se mais "ua gabela" para colmatar o frio e colhem-se, entretanto, umas folhas de tomilho e alecrim para animar o desgraçado do Oryctolagus cuniculus que haveria de servir de repasto. O mais novo da descendência saiu das imediações ao ser confrontado com o Bugs Bunny que jazia, inerte, na bancada, aguardando que lhe extirpassem o que lhe restava de aspecto de coelho. Diga-se que, para o progenitor, também não é espectáculo que lhe encha as medidas... Haveria de saber melhor que o proporcionado pela vista, cozinhado na ancestralidade de um pote de ferro. Divinal... Magistral... Indescritível... Quase irrepetível... Sabores a monte e a terra, que entram na suprema esfera do inesquecível... Estômago reconfortado, hora de zarpar para a aldeia, que a gente vai sofrendo as agruras da passagem do tempo e as marcas vão-se acentuando. Por vezes, há que dar um "cibinho" de calor humano à gente que nos marca a vida e carrega carga genética semelhante à nossa. Particularmente quando as energias se vão esvaindo pelo peso dos anos. Irremediáveis contingências da vida... Vida que deve ser celebrada. Mais não seja com uma visita ao Centro Cultural para uma revivescência de velhos tempos... E já vai o monólogo longo...

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