Ocasionalmente, reacende-se esta vela parafinada a dinamite, rastilhos de incongruências muitas, nesta contumácia que me impele, desafortunadamente por vezes, a vociferar contra a resignada postura de auto-comiseração, como se as vergastadas no orgulho inflingissem dor naqueles que, à distância de um gabinete, abocanham sarcasticamente a destreza com que somos ludibriados a migalhas de betão e asfalto. Haverá coisa mais regeneradora que o "nacional-coitadismo" que se alcandorou ao patamar de corrente ideológica predominante neste oitavo canto? Talvez creia na bússula de António, mago de lavradas letras, diabolizados olhares de quem «vê oito direcções de mundo, oito métodos de estar. O oitavo é o Nordeste». É a metamorfose dos dias... Sinto-me acolitado por uma qualquer víbora-cornuda, druidismo militante de mágicas poções que desenvoltura dão a esta viperina língua que não se acomoda ao silêncio do rebanho. Profilaxia desta aparente precoce insanidade, o dirão os Esdras Harpix, apeteceu-me viajar até Sancirilo. «Esdras Harpix era [...] esperto mas talvez não inteligente; seguramente inculto e primário. [...] Ele era também [...] manhoso, obstinado, aventureiro, velhaco e destituído de escrúpulos - cinco qualidades [...] contra as quais a finura natural, a erudição, o lastro doutrinário e o poder de argumentação de Judas Ormin não pareciam ser infelizmente arma bastante». Paralelismos tantos de (ir)realidades muitas, náusea dos dias... "Mas atão quem me manda a mim botar serradura onde num se arramou guerdura"? Pontuais devaneios de quem vê com elevado orgulho o débito de um prémio mais ao "home de Grijó, o do sô doutôre da fermácia", nascido um dia, literal e literariamente, «Algures a Nordeste». Desta vez foi a Associação Portuguesa de Escritores que reparou no perturbador "O Porco de Erimanto" e, analgésico para esta perenidade de uma desencantada dor complexada a inverosímil inferioridade, o agraciou com o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco.
"Peis que bus-jiu digou ou, bem m'ou finto que num haija pr'aí uns inbijosos duns lapardeiros imbutchinados pur u causa disto. Pra eis era bem milhore albidarim-se de beze q'inda hai gente pur Trásdusmontes»... E, frustração dos omniscientes, no âmago de "aldeana" gente, esquecida e vilipendiada gente, há pedaços tocados a Midas, como se de uma inusitada revolução das pedras brotassem uivos da consciência, em estranhos bailados de rebeldia do ser, ornados a excelência de descendentes Zoelas, que de epopeizados Lusitanos pouco devemos carregar. Rememore-se o Tio Zé das Candeias, a singeleza em contraponto à altivez dos que tentam transfigurar o Reino Maravilhoso em Merdosa Coutada: «Carvalho, senhor Visconde! Há [...] anos com o rei na barriga, não lhe parece que já eram muito boas horas de o ter cagado?»... Não fina a excelência em António Pires Cabral, seguem-lhe trilhados caminhos os do clã, Rui e Miguel. Ornamente-se a aparência de ficção em pinturas de letras de Manuel Cardoso, Fernando Mascarenhas ou, mais recentemente, Carla Ferreira. Decore-se a tempero de fluidez poética de Virgínia do Carmo e obtém-se um literário folar agridoce com sabor a distinção. E remeto Adriano Moreira ou Raul Rego para outras andanças... "Sêmos bôs, or sim? Atão purque caralhtchas andemos sempre a spremer a lágrima pur us cantos, cmu se tibéssemus q'andar sempre ápaijar uas abantesmas?"... Sou um inconformado, certo é, nesta jornada, inglória por vezes, de elevar a essência trasmontana, macedense por inerência, a patamares onde deveria estar acolhida. Serei apodado de lírico, ingenuidade minha, roubam-me a comida os Esdras Harpix, mas não me tiram esta fome de elevação a Tio Zé das Candeias. E pode ser, viscerais resquícios de uma ancestralidade que não renego, que contágios haja a distraídas mentes. Talvez tudo não passe de um "tiro na bruma" em "tempos cruzados", ou "vertigem" do "ti manel xeringa"... Ou serei o próprio diabo... Mas não serei recordado como o que veio ao enterro. Ainda que more nesta inexpugnável chama do ventre pétreo onde moram calhaus parideiros, não soçobrando pela "proa" imensa na excelência da terra e da gente... Mesmo que a dita esteja urgentemente necessitada de cuidados paliativos, médicos os não direi. De repente, assombro de passagens outras, tomou-me de assalto a popular sabedoria do tio Águsto Cordeleiro: «Rapazes, a saúde está nisto: pés quentes, cabeça fria, cu aberto, boa urina, merda para a medicina»...
Bem Vindo às Cousas
Puri, se tchigou às COUSAS, beio pur'um magosto ou um bilhó, pur'um azedo ou um butelo, ou pur um cibinho d'izco d'adobo. Se calha, tamém hai puri irbanços, tchítcharos, repolgas, um carólo e ua pinga. As COUSAS num le dão c'o colheroto nim c'ua cajata nim cu'as'tanazes. Num alomba ua lostra nim um biqueiro nas gâmbias. Sêmos um tantinho 'stoubados, dàs bezes 'spritados, tchotchos e lapouços. S'aqui bem num fica sim nos arraiolos ou o meringalho. Nim apanha almorródias nim galiqueira. « - Anda'di, Amigo! Trai ua nabalha, assenta-te no motcho e incerta ó pão. Falemus e bubemus um copo até canearmos e nus pintcharmus pró lado! Nas COUSAS num se fica cum larota, nim sede nim couratcho d'ideias» SEJA BEM-VINDO AO MUNDO DAS COUSAS. COUSAS MACEDENSES E TRASMONTANAS, RECORDAÇÕES, UM PEDAÇO DE UM REINO MARAVILHOSO E UMA AMÁLGAMA DE IDEIAS. CONTAMOS COM AS SUAS :
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1 comentário:
Rui, é um orgulho para mim que tenhas incluído a minha pequena poesia, uma criancinha de fraldas ao pé da escrita de outros nomes que citaste, nesta tua receita do brio transmontano, se assim lhe posso chamar :)
Mas sou-te grata, sobretudo, pela tua amizade e pela tua grandeza, a mesma que te permite ver grandeza nos outros.
Um beijinho e a minha amizade :)
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