Bem Vindo às Cousas
Puri, se tchigou às COUSAS, beio pur'um magosto ou um bilhó, pur'um azedo ou um butelo, ou pur um cibinho d'izco d'adobo. Se calha, tamém hai puri irbanços, tchítcharos, repolgas, um carólo e ua pinga. As COUSAS num le dão c'o colheroto nim c'ua cajata nim cu'as'tanazes. Num alomba ua lostra nim um biqueiro nas gâmbias. Sêmos um tantinho 'stoubados, dàs bezes 'spritados, tchotchos e lapouços. S'aqui bem num fica sim nos arraiolos ou o meringalho. Nim apanha almorródias nim galiqueira. « - Anda'di, Amigo! Trai ua nabalha, assenta-te no motcho e incerta ó pão. Falemus e bubemus um copo até canearmos e nus pintcharmus pró lado! Nas COUSAS num se fica cum larota, nim sede nim couratcho d'ideias» SEJA BEM-VINDO AO MUNDO DAS COUSAS. COUSAS MACEDENSES E TRASMONTANAS, RECORDAÇÕES, UM PEDAÇO DE UM REINO MARAVILHOSO E UMA AMÁLGAMA DE IDEIAS. CONTAMOS COM AS SUAS :
terça-feira, 31 de maio de 2011
Cousas de Morais
Não será incomum assistir ao despertar do interesse pelas raízes, sempre que delas fazemos parte. Aconteceu, recentemente, com gente de Morais... Dedico-lhes esta partilha do acumular de paixão pelo concelho que carrego nos genes... "Bem m'ou finto que num me paguim um copo, de torna-jeira, quando me der na catchimónia d'ir ber calhaus ó Monte de Morais outra bêze"! Mas adiante... Numa banalidade não chocante, será lícito começar qualquer história com "era uma vez"... A bem da retórica, não é de descartar que tudo tenha começado por ter sido uma vez, acrescida de tantas outras, e outras mais. Como tal, era uma vez um povoado, gémeo de tantos outros brotados da conquista de montes e vales, gerado provavelmente nas entranhas das tentativas de povoamento encetadas nos primórdios dos da dinastia de Borgonha. Remetam-se as lendas para o imaginário popular, ocultem-se Árabes que pouco devem ter respirado os ares do "umbigo do mundo" e avance-se no tempo, até aos Moraes, talvez, dizem-nos provindos de terras de "nuestros hermanos", Morales sendo. Dizem os nobiliários que o primeiro dos Moraes (Gonçalvus Roderici - ou Ruiz - de Moralis) vassalo foi do pai da nacionalidade (e do filho e do neto). Afirmam-no descendente dos Senhores de Soria, cidade espanhola que teve Fortún Lopez como seu primeiro Senhor. «E todo achesto confirmamos in Soria, delant el sennor Fortún López, e delant sua mullier donna Sancia, e delant sos fillos el archidiacon don García e donna Navarra e donna María». Vulgaridades muitas de medievais épocas, a "donna Maria" do documento transfigurou-se em D. Leonor Fortunes, de núpcias celebradas, mãe foi do 7º Mestre da Ordem de Calatrava, Rodrigo Garcez de seu nome, pretenso progenitor do nosso Gonçalo Rodrigues, epitetado de 1º Senhor de Morais. Porém, a História da Casa de Lara nos pinta como descendentes do dito Mestre de Calatrava, Gomez Ruiz, Fernan Ruiz, Garcia Ruiz e Leonor Ruiz, nada constando acerca da paternidade do nosso Gonçalvus Roderici (ainda que o Ruiz soe a familiar). Verdade é que não deve descartar-se uma qualquer bastardia, fenómeno banal à época. Mas o Mestre de Calatrava não circulou por estas bandas, detendo-se em incursões mais meridionais às "turras com a mouraria", bem como por terras do Reino de Aragão. Morais poderá efectivamente ter sido fundada por um descendente do Senhor de Soria. Ou talvez não... Ter-se-á passado o inverso, dando o fitotopónimo (terra de amoreiras) nomenclatura à família que o povoou? Subjectivamente, creio mais na segunda das hipóteses. O resto soa-me a histórias encantadas... Mas é inegável que os Morais assumiram algum protagonismo a partir de inícios do séc. XIII. Facto consumado pelos registos da assumpção do neto de Gonçalo Rodrigues, Ruy Martins de Moraes, ao posto de alcaide-mor de Bragança pelos finais do séc. XIII - inícios do XIV. A posição de destaque é-nos confirmada pelas Inquirições de D. Dinis, mostrando-nos o "Roy Martyns cavaleiro" como digno "filho d'algo" proprietário de duas quintas em "santandre de moraaes". E prossegue a saga do hábito de alcaidaria, já que o neto, o célebre João Afonso Pimentel, o tal que afinidades gerou com Castela e conduziu, por tal, o Mestre de Avis, o Condestável e o nosso Martim Gonçalves de Macedo a estacionamentos por terras de Castelãos, de igual forma o foi. Mas, estranhas leituras, por meados do séc. XIII, na nobilíssima freguesia de Morais parece ainda não ter sido adoptado o apóstolo André como padroeiro, constando a mesma como "parrochia sancte Marie de Moraes". Recuará a esta época a adoração à Senhora do Monte? Conjecturas, apenas... Conjectural não é observar que os donatários da excelsa paróquia nada teriam a ver com os Morais. Se acreditarmos piamente nos depoimentos dos moraenses "Michael ferndanj", "Menendus petri", "Petrus iohannis", "Andreas petri" e "Johanes martinj", a propriedade de "tota ipsa villa fuit de Petro ayrie milites et de suis germanis". Mais acrescentam que Morais era, ao tempo em que decorreu o inquérito, propriedade da descendência de Pedro Aires. Estranha esta peremptória afirmação quando, a ser verdade a proemimência dos Morais, a "villa" deveria ter como proprietários, ou o seu pretenso fundador, Gonçalo Rodrigues de Morais, ou o seu filho, Martim Gonçalves de Morais. Acresce que, para lá da família Aires, os detentores de direitos territoriais em Morais eram os Templários e os Hospitalários, por doação dos pais do conhecidíssimo Meirinho-mor de Portugal, Nuno Martins de Chacim. Por mencionar o primeiro verdadeiro "polícia do Reino", e para incrementar as dúvidas, o senhor "Andreas domingo" de Talhinhas diz-nos que metade da "villa de Moraes" era do dito meirinho-mor. Nada que espante, atentando nas usurpações territoriais do Senhor de Chacim... Coisas... Curiosidades outras, a quando remontará a fundação de Morais? Ficamos a saber, pela dita doação às Ordens do Templo e do Hospital, que Morais já teria existência segura desde o reinado de D. Afonso II (1211-1223). Mas, provavelmente, até já a teria de período anterior, pela referência, em duplicado, relativamente à igreja que "fuit facta de vetero", ou seja, já era antiga (não sendo possível, obviamente, estabelecer o quão antiga). Mas, se dúvidas houver relativamente à antiguidade, fica a saber-se que, por inícios do séc. XIV, Morais já deveria ter uma dimensão considerável para a época. Basta determo-nos na informação constante da listagem de contribuições para a guerra marítima à "mourama", por 1320: nas Igrejas correspondentes à Terra de Lampaças, a de "Santo André de Moraes" figura no terceiro lugar dessa mesma lista, apenas suplantada pela de Izeda e, tempos outros de magnificência outra, pela de Castro Roupal. Pense-se apenas que Morais foi taxada em cem libras e Macedo em trinta... E, já agora, será desta época a Igreja da Senhora do Monte? Impossível afirmá-lo, pelos dados disponíveis. Saber-se-á com segurança, pelos pouco elementos visíveis da sua configuração arquitectónica, que será um templo de características medievais-cristãs, presumivelmente construído na Baixa Idade Média. E sabe-se, ainda e provavelmente, que não lhe terá estado associado nenhum povoado, tal como é referido pela memória popular. Nas suas imediações não são visíveis quaisquer vestígios que para isso apontem, nomeadamente testemunhos de estruturas habitacionais ou resquícios de actividades associadas a um aglomerado populacional, nomeadamente cerâmicas. A hipótese interpretativa mais viável, atendendo aos paralelismos com outros povoados, residirá na implantação deste que poderá ter sido o templo principal de Morais numa área marginal ao povoado. Ao que tudo aponta, por finais do séc. XVII - inícios do XVIII, a área de culto ter-se-á deslocado para o interior do povoado. A última notícia efectiva relativa à existência de culto na Igreja da Senhora do Monte remonta a 1755, ainda que haja nota da sua existência como ermida nas Memórias Paroquiais de 1758. Mas desde o primeiro quartel do séc. XVIII se pode antever o seu progressivo abandono. Data de 1720 o aviso de um dos Visitadores, ameaçando o templo de demolição caso os mordomos não procedam às reparações devidas, colocando no seu lugar uma simples cruz para perpetuar a sua existência. É um facto que, poucos anos após lhe é dada a benesse de ser considerada um templo decente, sem necessidade de novo benzimento. No entanto, o presente é testemunha do prenúncio de morte... Falemos um pouco da actual igreja de Morais... Diz-me um notável moraense dos sete costados que nela consta a data de 1705. Nada mais normal, atentando na referência anteriormente feita de transladação do templo para o interior do povoado por finais do séc. XVII - inícios do XVIII. De facto, é ponto assente que o actual local de culto já existia, seguramente, em 1701. Creio, no entanto, que a sua fundação poderá recuar até ao último quartel do séc. XVII, pela referência a uma visita de verificação à igreja de Edroso levada a cabo em 1681 pelo Reitor de Santo André de Morais. No que respeita à data de 1705, a mesma deve referir-se, com toda a certeza à conclusão das obras necessárias no edifício, já que em 1703 é imposta aos fregueses de Morais a execução de um novo púlpito com escada em cantaria. Nesse mesmo ano o Bispo de Bragança, D. João Franco de Oliveira, efectua uma visita à igreja de Santo André (com o intuito de verificaçao das condições do templo). A configuração actual da igreja resultará das constantes alterações nela efectuadas, ao abrigo das anomalias descritas pelos diversos Visitadores da diocese. A título meramente exemplificativo, em 1716 é referido que as paredes e o tecto da capela-mor se encontram em ruínas... O resto são as memórias das pedras... E da gente... Acrescidos do particular desejo de um mecenas que ressuscite o magnífico templo ignorado pelo desprezo humano. Ouvi por lá as preces dos tetravós de Morais... Em sua memória perscrutei o solo, homenagem prestando aos resquícios plantados a pedaços de telha de meia cana que povoam as imediações da igreja da Senhora do Monte. Ou a sorte da detecção de um isolado e abençoado prego que deve ter servido de amparo a uma qualquer porta da Senhora do Monte... Guardo-os, religiosamente, para a posteridade... Partilhando-os, numa divina simbiose com as consequências da minha adorada ignorância...
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