Assemelha-se a um pesadelo da invariabilidade dos dias. Ou talvez tudo não passe de um contrapeso à eternidade de um sonho trajado a lirismo, ressuscite-se Freud, adrenalina se inocule em Jung, ou requisição civil se imponha aos Sigmund em parceria com os Carl. Não é trampa mas defecou-a o felino (sempre soa melhor que o mais vulgar "não é merda mas cagou-a o gato")... Será uma alucinação dos dias, derivações em pasta de papel numa amálgama de difusos eucaliptos sem raízes sequer. Definitivamente, algias da alma, se é que almas há, somos um povo triste, macambúzio o dizia Junqueiro, vergado às traulitadas de quem convencimento nos deu de que a imprecação é arma de arremesso da inutilidade. A minha "vila" tem vida, por vezes, vezes outras engalanada é a foguetório de insonoridade para lá dos bandos alados que se guerreiam pelas melhores vistas sobre a Maria da Fonte e o Jardim toponimicamente marcado a luta de classes, reclusões de tempos outros que preferência têm pela omissão dos seus heróis numa qualquer gaveta do olvido. Fantasmagórica ou pejada de vida, o meu apreço por Macedo não se dilui pela insistência na volatilização, pinturas de altaneiras vozes de profecias com tonalidades a desgraça. Sorrateiramente, deixo-me envolver pela atmosfera Macedense. Ouço daqui, ausculto dali, e não fosse esta incomensurável paixão pelas raízes de xisto, arriscar-me-ia a marcar-me com um sinete de desenraizado. Pondero seriamente na consulta a um qualquer discípulo do progenitor da psicanálise. Demente devo estar, seguramente, ou terá a demência sido epitetada a valores outros que inclusão não dão à insanidade. Começo a ofegar com esta constante peregrinação de apóstatas. A cada passo que dou, a cada cadeira onde me sento, a cada inspiração deste impoluto ar, deparo-me com uma incrementada classe constituída por gente colonizada pelos ares que vêm do litoral, ou doutro telúrico espaço qualquer, desde que a léguas do vetusto "Villar de Masaedo". Aprecio particularmente os risos adornados a sarcasmo sempre que regurgito este sublime conduto com sabor a orgulho trasmontano. Soa-me a altivez decorada a hastes bovídeas ou, frequente-se a diplomacia, a mais elaborados e presunçosos chifres cervídeos. Depurações do espírito, talvez sirvam para disfarçar a impotência ou, instância última, "ignis fatuus" de proclamado pedantismo em pedestal com epígrafe "Amicos pecuniae faciunt"... Não que verdade não seja, que os euros íman são para as amizades, para degraus outros, quiçá, folga o carácter enquanto transpira a hipocrisia. Amanhã substitui-se a palmada lombar por afiado gume, que "mai fai", entretanto agucem-se viperinas estocadas de ofídeos, descanse o ego pela exaltação de pretensa maldade alheia. Oculte-se a própria inépcia na simultaneidade da vociferação da imbecilidade dos ausentes, há-de chegar o dia de vassalagem prestar aos que presenteados são com desdém. Sintomas dos dias... Aprecio esta dissolução, perversão de costumes, critique-se apenas, que as soluções são apanágio dos inexpugnáveis. E amanhã, os que hoje me falam, retribuir-me-ão com a singeleza do silêncio, numa qualquer esplanada em que a falta de amor-próprio parece falar mais alto, ou seja o pretensiosismo de um sociedade adulterada pelo conceito de "nouveau-riche", unhas calcinadas pelo ardor de trabalhos muitos, subjugadas a verniz, limadas a escuridão do pretérito. Transcrevo algo que li na edição deste mês de um exemplar da imprensa local: «O que hoje pode ler-se, nitidamente, no tecido urbano de Macedo, sobre a história de amor à cidade pode resumir-se deste modo: até 1960 Macedo foi amada pelos seus habitantes; de 1960 a 1980 foi amada pelos visitantes; de 1980 para cá deixou de ser amada.» Não arriscaria tanto, porque de 1980 para cá, ou de 1990, ou desde a viragem de milénio, não prescindi do amor à minha "vila", cidade a dizem. Mas paulatinamente me apercebo do desprezo a que os Macedenses a vão votando, tratando-a como uma manta de retalhos que talvez seja, mirando-a com o lancinante olhar de filhos pródigos. Depois ainda há um outro colapso... Em renovado recurso ao mesmo exemplar jornalístico, subscrevo inteiramente nova passagem, de novo autor: «O exercício cultural, o saber considerar e apreciar um acto de cultura, é apanágio dos povos mais evoluídos e representa um cume civilizacional protagonizado pelo homem. Sem cultura não há sociedade que evolua, não há democracia que se aguente. Sem cultura há crise, de certeza.» Qual presságio da frontalidade, sinto-me contagiado, num estranho constrangimento pela ofuscação pela realidade. Somos detentores de muito, provando pouco. Remetemos o legado entulhando-o num poço sem fundo, destituimos as pedras da realeza colocando no trono "voitures et maisons", "haus und auto", "coches y casas"... Talvez o que venha de fora seja indubitavelmente bom... Mas o que vejo cá dentro é indubitavelmente óptimo. Daí a intragabilidade da compulsão de ouvir insistentemente que "Macedo é ua merda"... É uma permanente recusa na deglutição. Se Macedo é "ua merda", aconselho os dignos apologistas de tal a irem viver para "Vila Nova de Trás da Salada". Como é exterior a Macedo, será segura e inquestionavelmente melhor... Quanto a mim, permanecerei nesta demência de acreditar que os defeitos são o primeiro passo para enaltecer as qualidades. Talvez um dia esta compulsiva paixão tenha cura. Até lá, remeto-me à insignificância desta estranha adoração pela terra que me pariu, seja ela pintada a laranja, a rosa, ou a outra qualquer cor... Cousas... Ou distintas degustações...
Bem Vindo às Cousas
Puri, se tchigou às COUSAS, beio pur'um magosto ou um bilhó, pur'um azedo ou um butelo, ou pur um cibinho d'izco d'adobo. Se calha, tamém hai puri irbanços, tchítcharos, repolgas, um carólo e ua pinga. As COUSAS num le dão c'o colheroto nim c'ua cajata nim cu'as'tanazes. Num alomba ua lostra nim um biqueiro nas gâmbias. Sêmos um tantinho 'stoubados, dàs bezes 'spritados, tchotchos e lapouços. S'aqui bem num fica sim nos arraiolos ou o meringalho. Nim apanha almorródias nim galiqueira. « - Anda'di, Amigo! Trai ua nabalha, assenta-te no motcho e incerta ó pão. Falemus e bubemus um copo até canearmos e nus pintcharmus pró lado! Nas COUSAS num se fica cum larota, nim sede nim couratcho d'ideias» SEJA BEM-VINDO AO MUNDO DAS COUSAS. COUSAS MACEDENSES E TRASMONTANAS, RECORDAÇÕES, UM PEDAÇO DE UM REINO MARAVILHOSO E UMA AMÁLGAMA DE IDEIAS. CONTAMOS COM AS SUAS :
2 comentários:
Rui, bem hajas pela tua devoção ao nosso reino maravilhoso. Quem dera mais gente pensasse como tu...
Beijinhos
(e o texto está fantástico, claro)
Acrescento-lhe um bem haja a quem partilha da devoção. E talvez haja mais gente a pensar como eu. Provavelmente a diferença residirá na exposição...
Se uma das minhas poetisas favoritas acha que o texto está fantástico, nada mais me resta que acreditar... E agradecer o encómio... :)
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