Bem Vindo às Cousas
Puri, se tchigou às COUSAS, beio pur'um magosto ou um bilhó, pur'um azedo ou um butelo, ou pur um cibinho d'izco d'adobo. Se calha, tamém hai puri irbanços, tchítcharos, repolgas, um carólo e ua pinga. As COUSAS num le dão c'o colheroto nim c'ua cajata nim cu'as'tanazes. Num alomba ua lostra nim um biqueiro nas gâmbias. Sêmos um tantinho 'stoubados, dàs bezes 'spritados, tchotchos e lapouços. S'aqui bem num fica sim nos arraiolos ou o meringalho. Nim apanha almorródias nim galiqueira. « - Anda'di, Amigo! Trai ua nabalha, assenta-te no motcho e incerta ó pão. Falemus e bubemus um copo até canearmos e nus pintcharmus pró lado! Nas COUSAS num se fica cum larota, nim sede nim couratcho d'ideias» SEJA BEM-VINDO AO MUNDO DAS COUSAS. COUSAS MACEDENSES E TRASMONTANAS, RECORDAÇÕES, UM PEDAÇO DE UM REINO MARAVILHOSO E UMA AMÁLGAMA DE IDEIAS. CONTAMOS COM AS SUAS :
domingo, 27 de novembro de 2011
O arroz da D. Joaquina - Volúpias de dominicais pretéritos
Despertava o franzino imberbe, alheado ainda de lipídicas acumulações, vulgar pau de virar tripas, atlético porém, sublinhe-se, envolto em estremunhado olhar, destro óculo dessintonizado com oposto sestro, e o quase irreprimível desejo de permanecer no aconchego do ninho, embrulhado em ásperos, mas reconfortantes, lençóis de flanela. A atmosfera tresandava a Inverno nessas dominicais alvoradas, o bafo pulmonar decorava o feixe de luz que o candeeiro irradiava, infantis jogos fantasmagóricos da ingenuidade. Do exterior chegavam rumores da agrestia de Bornes, galinácea algazarra omissa e os suídeos em inusitado silêncio. Estranheza pela ausência de animal azáfama, tomava o petiz de assalto a varanda, perscrutar de horizontes com a velhinha figueira vergada pelo peso dos anos e as oliveiras do "Patchalica" em ranger de dentes, amparando com invulgar estoicismo a fina película de "carambelo" que lhes enrugava o fruto. Fugaz arrepio da espinha, extremidades enregeladas, era Domingo! Era dia de enfarruscar o sossego do patriarca, camuflava-se o moço enquanto desatava em heróica correria direccionando a voracidade de mimos para o quarto no lado oposto. Invariavelmente, era recebido com incomparável sorriso, malícia de confronto com a progenitora, cúmplice abraço protector. De soslaio, emboscado no leito paterno, espreitava as figuras do "Comércio do Porto" ou do semanário "Tempo", enquanto o aparelho debitava aquela estridência de imaterialidade patrimonial da humanidade ou, alternativas outras, sentia uma náusea provocada por alienígenas musicalidades de não menos alienígenas autores - "Berdi", "Putchini", "Mozarte" ou "Betoben" - cujos nomes esquisitos não conseguira ainda decifrar. O desfilar orquestral feria uns tímpanos mais habituados ao "Atirei com o pau ao gato" ou, épocas obliquamente douradas, heroicizada era a conterraneidade do "Arrebita", do "Carimbó Português" ou do "Bate o pé"... Tempos outros em que o país parava para deglutir os "Festivais" da Tonicha, do Mendes, do Carvalho ou do Tordo... A matriarcal voz de comando interrompia o efémero éden, anunciando o "mata-bitcho" servido, inesquecíveis "carólos" de pão centeio atormentados pelas brasas, afagados pela textura de lácteo derivado que os amansava com gordurosa relíquia. Era hora de transferência para o vetusto "scano", pendente mesa do improviso, pratos recheados a inconfundíveis e eternos aromas a torrada, o café do pote de ferro a contribuir para aromática orgia. Dispensava o leite - ah pois!, dispensava o leite - até os protestos confundirem a irredutibilidade do rapaz. E, abono da verdade, a espessa camada que preenchia a superfície da leiteira era irresistível! Emoldurava-se o alvo líquido a pó de cacau, incessante rodopio de frustradas tentativas de provocar o desaparecimento da nata. Soava a estranha magia, talvez fossem efeitos de calor emanado pelo "strafogueiro", ou contivesse alguma druídica poção o "caldeiro da bianda" pendurado nos "lares". Viriam as pressas, afinal era Domingo, dia do Senhor. Empertigado em domingueiro traje, "proa" da mãe, botas aprumadas com a verticalidade dos plátanos que engalanavam o terreiro, duo em procissão, talvez ao cortejo aportassem a D. Marquinhas, a D. Deolinda, o Sr. Pinheiro, ou ocasional vulto de dominical romaria à Igreja de S. Pedro. Na serenidade da Avenida das Flautas - jocosa corrupção de idos tempos da toponimicamente intragável Alexandre Herculano - era o centro transposto, a farmácia do Dr. Bento Marques a um lado, a sapataria do "Fernandico" a outro, a tabacaria do "Maldonado" de seguida. Mentais trajectos, não sem antes cumprir o ritual de verificação do termómetro da "Singer", haveria de chegar a "Casa do Pobo", a "Albertina Mendonça", o "Armando Mendes" e a saudosa "Cobrinha", respeitável senhora de infatigáveis respostas a impropérios da miudagem. Pecaminosas composturas em compensação, seria medalha de bom comportamento acolitar o sacerdote, velhas batalhas de correrias outras, fita da meta cortada muito antes do incontornável "Litcha" se digladiar com os sinos. Talvez um dia o S. Pedro tenha em consideração as manifestações do "puto" em eucarísticas celebrações... Culto finalizado, cumprimentos de circunstância, geral debandada, estômagos em aflitivos acordes, retrocedia o passo por idênticos caminhos em inverso percurso. Algures, lá pelo centro, haveria de estar o patriarca em solene espera, que o homem era pouco dado a públicas manifestações. Traçados destinos, escalava-se o "Monte-Mel", inebriante atmosfera de culinários efeitos, haveria a mesa de adornada ser por inconfundíveis iguarias, irrepetível arroz como só a D. Joaquina sabia confeccionar. O "arroz da D. Joaquina"... A estupefacção de assistir à aspiração de suculentos grãos, "tchitcha" quase esquecida, o rapaz entrava em indómito processo de voraz apetite apenas na presença dos vapores emanados daquela travessa de arroz, o "arroz da D. Joaquina"... Alternativas outras a risco de culinárias monotonias, avesso era o "puto" às ditas, ficava por vezes o "Pica-Pau" com as graças, glândulas salivares em desalinho pelo aspecto do magnífico "Bife na Caçarola". E havia sempre uma incursão ao "Café Central", parietais pinturas irrepreensíveis, ficava o petiz deslumbrado pela recriação da lavoura, figuras que o tempo e a modernidade apagaram e a memória não obliterou. Depois, a cadência de futebolístico calendário o permitisse, chegaria a hora de rumar ao velhinho campo pelado. Era a euforia das correrias do "Manel Fininho" ou das defesas do "Pardal", das bolas que perdiam o tino e voavam para as casas dos juízes, do desfilar de insultos às mães dos jogadores adversários e ao árbitro, os incessantes gritos de "Macedo, Macedo"... E a inesquecível figura do "Sô Capela" sempre "en garde" com o seu inseparável guarda-chuva... Eram volúpias de dominicais pretéritos...
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