Bem Vindo às Cousas
Puri, se tchigou às COUSAS, beio pur'um magosto ou um bilhó, pur'um azedo ou um butelo, ou pur um cibinho d'izco d'adobo. Se calha, tamém hai puri irbanços, tchítcharos, repolgas, um carólo e ua pinga. As COUSAS num le dão c'o colheroto nim c'ua cajata nim cu'as'tanazes. Num alomba ua lostra nim um biqueiro nas gâmbias. Sêmos um tantinho 'stoubados, dàs bezes 'spritados, tchotchos e lapouços. S'aqui bem num fica sim nos arraiolos ou o meringalho. Nim apanha almorródias nim galiqueira. « - Anda'di, Amigo! Trai ua nabalha, assenta-te no motcho e incerta ó pão. Falemus e bubemus um copo até canearmos e nus pintcharmus pró lado! Nas COUSAS num se fica cum larota, nim sede nim couratcho d'ideias» SEJA BEM-VINDO AO MUNDO DAS COUSAS. COUSAS MACEDENSES E TRASMONTANAS, RECORDAÇÕES, UM PEDAÇO DE UM REINO MARAVILHOSO E UMA AMÁLGAMA DE IDEIAS. CONTAMOS COM AS SUAS :
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
Paulitadas na Dança de Palotes
A propósito de outras andanças, um amigo sentenciou uma pequena discrepância com o seguinte comentário: "Na vox populi quase tudo o que é antigo, ou é romano ou mourisco"... «Oh, Santa Prepotência!» - dirão os mais arreigados a essa elevação a digitais impressões de Júlio César ou Al-Mansur, e afins sucedâneos, de tudo (ou quase tudo) o que velho é. «Oh, Santo Alívio!» - direi eu, enclausurado que estou nesta infame anormalidade, que me conduz ao protesto sempre que vejo indumentária medieval pintada a togas ou turbantes... "E ós depeis, ou num sou capaze de fitchar a matraca! Habium de me puntear as beiças, cmu fazim ós miótes rotos!... Bô, ma num m'amoutchaba na mesma, q'as idêas habiam d'sbarar dos miólos pró cumputadore. Tchintcha-l'aí, home do catantcho!"... Haverá contestação, na certa. Contudo, prefiro a alheia contestação, à equivalente da própria alma. Toda esta verborreia a propósito de outras "cousas" que vão decorrendo lá para os lados das redes sociais, "cousas" essas que servido têm para rebarbar os excessos da minha ignorância. Em simultâneo, também têm sido o rastilho para este mau feitio que me atormenta a alma e impulso me dá para embrulhar a realidade a comentários quando algo prazenteiro não é, ou de esquiva forma se furta à verdade, ou de mansinho a deturpa. Ingenuamente, inúmeras vezes, a deturpa... Como se este meu transmontano povo se furtasse à hibridez em que vive, sem percepção ter. Por isso transforma em romanas ou árabes, coisas que têm um "cibeco" mais de meio milénio. E acredita nisso, porque lhe faz bem a um ego historicamente maltratado. Afinal, seja por mutação genética ainda não estudada, seja antes por nos terem compulsivamente enclausurado na pobreza (material e de espírito), a cada nova esternutação histórico-cultural remetemo-nos a uma supérflua grandeza, espirrando para o ar gotículas de inverdades que, de tão repetidas, correm o risco de se transformar em verdades. Universais e irrefutáveis!!! E, estranhos pruridos na alma, este meu anestesiado povo trata de empurrar a outra grandeza, a que naturalmente possui, para patamares não consentâneos com o orgulho que deveria ostentar. Bastaria uma limitação à identidade, não valorizando em demasia quem de pouco tempo dispôs para, sequer, deixar registos de ADN nas águas do Azibo ou do Sabor; nem sobrevalorizando tudo aquilo que é mais fruto de fantasiosas falácias que de provadas realidades... Como dizia anteriormente, a propósito de alguns encantamentos noutras bandas que fazem parte da prole das novas tecnologias... Vieram os Pauliteiros à baila. Sei que não se nota muito, mas sinto uma desmesurada paixão por tudo o que se relacionando vai com aquela leira a nordeste do rectângulo a que alguém se atreveu a chamar de Reino, abusando do atrevimento ao caracterizá-lo de Maravilhoso. Ah Grande Adolfo!!! (não o de Braunau - livra! - mas sim o de S. Martinho da Anta, vulgo Torga)... E como os Pauliteiros são uma das dignas imagens de marca da leira, obviamente se enquadram nessa tela de paixão... Só que... Ao ler uma das muitas publicações que recheio vão dando à teia, vulgar "net", soou o alarme! Como tinha sido transcrita, na íntegra, de uma página institucional, fiquei a saber que a existência das danças dos Pauliteiros ocorre há mais de 2000 anos, no Norte de Portugal, na Galiza e em Castela-Leão e que agora só se dança no distrito de Bragança... Como a coisa me fazia colapsar todas as tentativas que tenho feito para minorar a minha ignorância, resolvi dar mais umas voltas por outras páginas, institucionais umas, particulares outras. E o estarrecimento foi crescendo... Como é possível que, depois de tantos ilustres nos terem deixado como legado o fruto das suas dedicação e sapiência à cultura Mirandesa (Vasconcelos, Deusdado, Alves, Gallop, Giacometti, Mourinho, entre outros), se persista em exacerbar o que necessidade não tem de exacerbado ser? A "dança de palotes", como correctamente é designada pela cultura Mirandesa, é uma herança ancestral cujo valor é indiscutível. É difícil precisar as suas origens, dividindo-se os eruditos quanto à génese desta estranha forma de dança de acompanhamento a "lhaços" tocados a gaita-de-foles, tambores, castanholas e, eventualmente, "fraita" (a modernidade introduziu-lhe, recentemente, os ferrinhos e a pandeireta). Se uns lhe vêem reminiscências das danças pírricas gregas, trazidas pela romanização, outros encontram o seu eco nas pantominas medievais derivadas da encenação de lutas entre cristãos e mouros. Outros ainda buscam o seu nascimento a partir de influências indo-europeias, retratadas provavelmente nas "danças de espadas" do centro europeu. Com bastante segurança, a atentar na Geografia de Estrabão, os povos pré-romanos que habitavam a Península Ibérica já excecutavam danças em honra dos seus deuses, assim como se exercitavam através de simulacros de combate, possivelmente assemelhados a danças. O que parece indubitável é que o estranho bailado em que se entrelaçam "paulitos" será uma expressão de origem pagã que a Igreja se encarregou de incorporar em festividades religiosas, à semelhança de muitas outras manifestações. Provavelmente, com intuito guerreiro, ou como culto de fecundidade, ou como manifestação de celebração a alguma divindade, algo que é denominador comum a diversos povos e religiões, desde os Egípcios aos Hebreus, passando por Gregos e Romanos. O que é inegável é que, talvez por influência Leonesa, a "danza de palos" ou "paloteo" se instalou nos concelhos da raia transmontana, particularmente em Terras de Miranda. Do lado de lá da fronteira, para lá do "paloteo", recordo-me do "ball de bastons" na Catalunha, o "palotian" em Aragão e a "ezpatadantza" no País Vasco. E, subindo até ao Reino Unido, não é difícil verificar as afinidades entre os Pauliteiros e as célebres "morris dances"... Contrariamente ao que acontece em Espanha, com referências explícitas a estas danças na literatura (por exemplo, Cervantes faz-lhes referência na sua obra-prima), em Portugal a notoriedade dos Pauliteiros só tem eco em finais do séc. XIX, levando um grupo a actuar, pela primeira vez em Lisboa. Quando em meados dos anos 30 do século passado, actuam no Royal Albert Hall de Londres, ganham dimensão internacional. Os anos 40 e 50 representam a revitalização pela mão de António Maria Mourinho, mas será só a partir da década de 70 que os Pauliteiros ganham nova vitalidade, chegando aos dias de hoje como um dos ícones da cultura transmontana. Um ícone que temos obrigação de preservar! Sem exacerbar... (Foto: AFCML)
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