Trailer Cinema "Pare, Escute, Olhe" from Pare, Escute, Olhe on Vimeo.
Veiga de Lila - Valpaços… Vilar de Maçada - Alijó… Vila Real… Poder-se-ia acrescentar Lagoa - Macedo de Cavaleiros… Ou, recuando um pouco no tempo, Grijó – Macedo de Cavaleiros… Com o firme propósito de preservar a terra-mãe de implícita corrosão, restrinjo-me ao vizinho distrito… As hierarquias assim o ditam… E, afinal, trata-se de um gémeo, mesmo que a modernidade das NUTS tenha adulterado, ao de leve, a tradição. Contudo, Trás-os-Montes é Trás-os-Montes e não há adulterações que corrompam esta essência de transmontano ser, seja de bragançanas terras ou de vila-realense território. Fala-se de abandono, há abandono… Escalpelizar as causas resultaria numa perda de tempo… As transmontanas gentes, mais que sabê-las, sentem-nas. Ou vão-nas sentindo, ao sabor do ruído atroz gerado pelo silêncio de quem destas terras brotou e, sabe-se lá porquê, renega as origens, esquecendo-se desta cada vez mais esquecida gente. Terras do olvido… Impenetráveis fraguedos, desoladas terras, resignações de bravia gente… Como me dói olhar o meu mundo, sabendo que as raízes do mesmo se estendem à Presidência da Comissão Europeia, à Chefia do Governo Português e à Liderança da Oposição… Como me dói sentir os enganos de quem parece desprezar o ventre transmontano que vida lhe deu… Como corrói olhar para hipócritas sorridentes faces imunes aos pedidos de gente simples que apenas quer sentir que é gente como qualquer outra. A Linha do Tua é apenas uma das muitas faces do monstro que comeu xisto e granito, e os cospe em forma de betão… Mais que discutir barragens ou encerramentos de linhas férreas, dever-se-ia estancar a hemorragia da resignação e da passividade. Dão-nos “cabo do coiro” e nós retribuímos com ingénua amabilidade. “Comem-nos de cebolada” com falsas e adiadas promessas e nós recorremos a um incompreensível mutismo, alicerçado numa qualquer tradição que diz sermos um povo hospitaleiro. Como é possível ter hospitalidade para quem nos espeta, sucessivamente, facas nas costas? Encerram-nos serviços básicos e nós sorrimos? Ou limitamo-nos a uns fugazes protestos, rapidamente apagados pela próxima campanha eleitoral… Onde alimentamos “pançudos” a alheiras, presunto, enchidos e posta à mirandesa, sabendo, de antemão, que vão digerir as genuidade e bondade transmontanas para um qualquer corredor de S. Bento, Bruxelas ou Estrasburgo, arrotando a convicção de que os irredutíveis estão amansados de novo… A interioridade não se paga cara pela prepotência dos que de lá saem em direcção ao “El Dorado”. O elevado preço resulta da devolução em forma de silêncio ao silêncio que nos dão… Não irei ver o “Pare, Escute, Olhe”… Para derramar “rios Tua” movidos a raiva, já me bastou o “trailer”… Sensibilidades escondidas por detrás de uma aparente couraça de frieza, coisas humanas ou, simplesmente, transmontanas… E não irei ver porque, no país que merecemos, não consigo alhear-me da constante adulteração que faço ao título do documentário. Olho para a película, assisto ao desfilar de caras e sinto que vivo no país do “Quero, Posso, Mando”… E a esse país que abandona um pedaço do que seu é, que me desculpem as mentes mais sensíveis, digo, transmontanamente falando com tempero a eufemismo, “carvalho ma racontracosa”…
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