Havia tempos em que a época pascal possuía outros encantos. Até a meteorologia parece ter-se prostituído aos ventos da modernidade… Ainda estarei longe da caducidade. Não me espanta, por isso, que o meu sistema neuronal persista em associar a Páscoa ao período primaveril. Flores, verdejantes campos, aves chilreantes, presságios de Verão… Estou atolado, até aos superiores extremos capilares, da chuva, do vento, do ar fresco que persiste em encarcerar-me… Em jeito de compensação, distracções ao avesso, decidi adaptar-me à permeabilidade, que inflexibilidades não conduzem a lado algum. Troquei as tradicionais amêndoas de Páscoa, aquelas mesmo, artesanais, duras como as extremidades de bovídeos, pintarolas de tripartidas cores: branco, azul e rosa… E cedi à tentação, a provinda da publicidade que inunda os écrans, numa infernal sequência de consumismo natalício, seguido de carnavalescos acessórios, com paragem no apeadeiro do Dia do Pai, estações pascais, veraneantes férias, regresso às aulas… Blheargh… Finalmente, aderi aos “óbos de tchiculate”! Diz o marketing que o seu recheio detém a capacidade de divertir pais e filhos… Bem Vindo às Cousas
Puri, se tchigou às COUSAS, beio pur'um magosto ou um bilhó, pur'um azedo ou um butelo, ou pur um cibinho d'izco d'adobo. Se calha, tamém hai puri irbanços, tchítcharos, repolgas, um carólo e ua pinga. As COUSAS num le dão c'o colheroto nim c'ua cajata nim cu'as'tanazes. Num alomba ua lostra nim um biqueiro nas gâmbias. Sêmos um tantinho 'stoubados, dàs bezes 'spritados, tchotchos e lapouços. S'aqui bem num fica sim nos arraiolos ou o meringalho. Nim apanha almorródias nim galiqueira. « - Anda'di, Amigo! Trai ua nabalha, assenta-te no motcho e incerta ó pão. Falemus e bubemus um copo até canearmos e nus pintcharmus pró lado! Nas COUSAS num se fica cum larota, nim sede nim couratcho d'ideias» SEJA BEM-VINDO AO MUNDO DAS COUSAS. COUSAS MACEDENSES E TRASMONTANAS, RECORDAÇÕES, UM PEDAÇO DE UM REINO MARAVILHOSO E UMA AMÁLGAMA DE IDEIAS. CONTAMOS COM AS SUAS :
terça-feira, 30 de março de 2010
Portuguinder Sorpresa
Havia tempos em que a época pascal possuía outros encantos. Até a meteorologia parece ter-se prostituído aos ventos da modernidade… Ainda estarei longe da caducidade. Não me espanta, por isso, que o meu sistema neuronal persista em associar a Páscoa ao período primaveril. Flores, verdejantes campos, aves chilreantes, presságios de Verão… Estou atolado, até aos superiores extremos capilares, da chuva, do vento, do ar fresco que persiste em encarcerar-me… Em jeito de compensação, distracções ao avesso, decidi adaptar-me à permeabilidade, que inflexibilidades não conduzem a lado algum. Troquei as tradicionais amêndoas de Páscoa, aquelas mesmo, artesanais, duras como as extremidades de bovídeos, pintarolas de tripartidas cores: branco, azul e rosa… E cedi à tentação, a provinda da publicidade que inunda os écrans, numa infernal sequência de consumismo natalício, seguido de carnavalescos acessórios, com paragem no apeadeiro do Dia do Pai, estações pascais, veraneantes férias, regresso às aulas… Blheargh… Finalmente, aderi aos “óbos de tchiculate”! Diz o marketing que o seu recheio detém a capacidade de divertir pais e filhos… segunda-feira, 29 de março de 2010
Ramos de Domingo
Entretanto, cresci. Com o crescimento, surgiu outra visão e, com esta, outra consciência. Que para aqui chamada não é... Hoje, já não vou entregar o ramo aos padrinhos. Aliás, desconheço se ainda tenho padrinhos. Mas tenho afilhadas e afilhados! Que persistem no inigualável sorriso da tradição. E, como não devo ser um mau diabo, continuo a ser presenteado com o "ramo", ainda que o dito, em algumas circunstâncias, não seja em formas florais.
terça-feira, 23 de março de 2010
O João Semana de Talhas
sábado, 20 de março de 2010
Abril, helicópteros mil
A pausa de uma semana pode trazer o estarrecimento pela complacência do verdugo. Será breve, eu sei, que as vergastadas no depauperado Reino do Esquecimento, vulgo Trás-os-Montes, regressarão com uma rapidez superior ao tempo que as costas aliviam da descida do chicote. Mas, enquanto o dito rasga o ar no sentido ascendente, deleite-se o espírito transmontano com o anormal, quase alienígena, fenómeno de redobrada atenção à agonia porque vai sendo tomada a saúde do moribundo Reino. Contrariando as mais pessimistas (e realistas) expectactivas, Macedo vai ser dotado de uma Clínica Oncológica, ao abrigo de uma parceria entre o CHNE e o IPO. Os maus ventos que anunciavam a catástrofe sofreram uma alteração de rumo...
Esta chamada aqui não ocorre pela simples dotação de um serviço de saúde. Ocorre porque não merecemos ter que nos deslocar 200km através de um IP4 mal parido e mal conservado, quando sofremos as agruras de uma visita indesejável. Já basta a malfadada visita... Ainda no universo da saúde, ou no da falta dela... As célebres hélices do INEM reencontraram a trajectória da sua viagem aos confins da galáxia e aterrarão, com um atraso de 2 anos, algures por Macedo, num qualquer próximo mês de Abril. Digo "num qualquer próximo" porque o ano não está especificado...
E, gato escaldado de água fria tem medo... E porque de água falei, aguardo, impacientemente, que as ditas hélices não tenham estado expostas à intempérie e não tragam o epíteto de "enferrujadas"...
sexta-feira, 12 de março de 2010
Preciosidades de uma Lamas de encanto
quarta-feira, 10 de março de 2010
Fome de terra
A lugubridade dos dias pareceu ter atingido o seu expoente máximo nesta Sexta-feira. A chuva caía num incessante lacrimejar dos céus, como se a condensação tivesse acumulado décadas de tristeza. O vento assobiava a sua melancólica melodia, lançando as gotículas de chuva num caótico estado de louca correria, numa aleatoriedade direccional de deixar qualquer trauseunte próximo da insanidade mental. O vizinho curso de água tresandava a excesso da mesma, deixando o imponente arvoredo transfigurado em isoladas ilhotas no meio da mancha castanha que corria desenfreada.
sexta-feira, 5 de março de 2010
A safra do az-zait
“Olea prima omnium arborum est”
A adversidade carrega consigo, por vezes, a surpresa. O ano não correu de feição a uma das grandes culturas mediterrânicas que herdámos: o olival. Surpreendentemente, ainda que com condições climatéricas aziagas, a colheita de azeitona da última campanha superou, a crer nas notícias provenientes da Cooperativa Agrícola, o expectável para oliveiras expostas ao rigor de um Inverno anómalo (se atentarmos que, no último decénio, tivemos 6 dos anos mais quentes do último século). Ao olhar, em pleno séc. XXI, para esta árvore pela qual nutro uma estranha paixão, não resisto a uns breves apontamentos sobre este ser vegetal híbrido, Olea europaea para os entendidos.
Um híbrido ser que, ainda que cantado desde imemoriais tempos («E com um ramo de oliveira o homem se purifica totalmente.» Eneida de Virgílio), com vestígios neste recanto luso desde a vetustez das épocas, elevado ao Olimpo por Gregos, idolatrado por Romanos, popularizado por Árabes, só na história recente teve o seu auge por transmontanas terras. É difícil imaginar a Terra Quente privada de olivais, nas suas cotas abaixo dos 700m. Contudo, os apreciadores do aurífero líquido gratos devem estar à filoxera do séc. XIX.
A dita praga da vinha foi o mote para um revestimento distinto das encostas da Terra Quente. Não que já em pleno séc. XVIII não existissem freguesias, como a dos Cortiços, referidas como terras que produziam «azeite em abundância». Não que, na primeira metade do séc. XVI, surjam as primeiras efectivas referências à nobre oliveira por terras transmontanas. Basta crer em João de Barros quando diz «…e muito pouco tempo há que ali se plantàrão as primeiras oliueiras, e agora há muito azeite na terra», referindo-se ao termo de Mirandela. Ou no Contrato dos Maninhos relativo ao termo de Miranda, de 1532, «nos lugares onde isso possa ser, plantar dentro de quatro annos quarenta oliveiras». Contudo, se recuarmos à época medieval, a economia rural estava despida de olivais. Pode dizer-se, sem relutância, que a ementa desses nossos antepassados estava desprovida do tão apreciado azeite. Os diplomas e documentação medieval são quase omissos em referências à oliveira e ao azeite. Predominam as relativas à vinha e aos cereais, nomeadamente no que aos textos das Inquirições diz respeito.
E, mais dúvidas houvesse, em nenhum exemplar de forais transmontanos surge o azeite como produto passível de pagamento de portagem. É-me difícil imaginar a vida sem “ua seladinha” temperada com azeite, o de “berdade”, não aquele que nos impõem com galináceos de duplo L. Mais difícil é tragar o obscurantismo em que vive o Azeite DOP Trás-os-Montes. Nada de exclusivo… Não me apetece falar de Terrincho, de Churra Badana, de Batata, de Castanha… Mas apetece-me dizer uma verdade irrefutável: somos incomensuravelmente bons e negamos a exploração do bom que temos!
A adversidade carrega consigo, por vezes, a surpresa. O ano não correu de feição a uma das grandes culturas mediterrânicas que herdámos: o olival. Surpreendentemente, ainda que com condições climatéricas aziagas, a colheita de azeitona da última campanha superou, a crer nas notícias provenientes da Cooperativa Agrícola, o expectável para oliveiras expostas ao rigor de um Inverno anómalo (se atentarmos que, no último decénio, tivemos 6 dos anos mais quentes do último século). Ao olhar, em pleno séc. XXI, para esta árvore pela qual nutro uma estranha paixão, não resisto a uns breves apontamentos sobre este ser vegetal híbrido, Olea europaea para os entendidos.
Um híbrido ser que, ainda que cantado desde imemoriais tempos («E com um ramo de oliveira o homem se purifica totalmente.» Eneida de Virgílio), com vestígios neste recanto luso desde a vetustez das épocas, elevado ao Olimpo por Gregos, idolatrado por Romanos, popularizado por Árabes, só na história recente teve o seu auge por transmontanas terras. É difícil imaginar a Terra Quente privada de olivais, nas suas cotas abaixo dos 700m. Contudo, os apreciadores do aurífero líquido gratos devem estar à filoxera do séc. XIX.
A dita praga da vinha foi o mote para um revestimento distinto das encostas da Terra Quente. Não que já em pleno séc. XVIII não existissem freguesias, como a dos Cortiços, referidas como terras que produziam «azeite em abundância». Não que, na primeira metade do séc. XVI, surjam as primeiras efectivas referências à nobre oliveira por terras transmontanas. Basta crer em João de Barros quando diz «…e muito pouco tempo há que ali se plantàrão as primeiras oliueiras, e agora há muito azeite na terra», referindo-se ao termo de Mirandela. Ou no Contrato dos Maninhos relativo ao termo de Miranda, de 1532, «nos lugares onde isso possa ser, plantar dentro de quatro annos quarenta oliveiras». Contudo, se recuarmos à época medieval, a economia rural estava despida de olivais. Pode dizer-se, sem relutância, que a ementa desses nossos antepassados estava desprovida do tão apreciado azeite. Os diplomas e documentação medieval são quase omissos em referências à oliveira e ao azeite. Predominam as relativas à vinha e aos cereais, nomeadamente no que aos textos das Inquirições diz respeito.
E, mais dúvidas houvesse, em nenhum exemplar de forais transmontanos surge o azeite como produto passível de pagamento de portagem. É-me difícil imaginar a vida sem “ua seladinha” temperada com azeite, o de “berdade”, não aquele que nos impõem com galináceos de duplo L. Mais difícil é tragar o obscurantismo em que vive o Azeite DOP Trás-os-Montes. Nada de exclusivo… Não me apetece falar de Terrincho, de Churra Badana, de Batata, de Castanha… Mas apetece-me dizer uma verdade irrefutável: somos incomensuravelmente bons e negamos a exploração do bom que temos!
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