Bem Vindo às Cousas

Puri, se tchigou às COUSAS, beio pur'um magosto ou um bilhó, pur'um azedo ou um butelo, ou pur um cibinho d'izco d'adobo. Se calha, tamém hai puri irbanços, tchítcharos, repolgas, um carólo e ua pinga. As COUSAS num le dão c'o colheroto nim c'ua cajata nim cu'as'tanazes. Num alomba ua lostra nim um biqueiro nas gâmbias. Sêmos um tantinho 'stoubados, dàs bezes 'spritados, tchotchos e lapouços. S'aqui bem num fica sim nos arraiolos ou o meringalho. Nim apanha almorródias nim galiqueira. « - Anda'di, Amigo! Trai ua nabalha, assenta-te no motcho e incerta ó pão. Falemus e bubemus um copo até canearmos e nus pintcharmus pró lado! Nas COUSAS num se fica cum larota, nim sede nim couratcho d'ideias» SEJA BEM-VINDO AO MUNDO DAS COUSAS. COUSAS MACEDENSES E TRASMONTANAS, RECORDAÇÕES, UM PEDAÇO DE UM REINO MARAVILHOSO E UMA AMÁLGAMA DE IDEIAS. CONTAMOS COM AS SUAS :







sexta-feira, 27 de maio de 2011

A santidade das pedras

Repousam na execrabilidade da incúria, fustigados pela intempérie da rejeição. São pétreas árvores apodrecidas que um dia albergaram humanos frutos desenhados a alma, fontes de benta água que, diabolizada a antrópica essência, de oásis lhes resta a vegetação que oculta o deserto. Por vezes, penetrar nas entranhas deste maravilhoso reino equivale a verter secas lágrimas pelo odor a putrefacção das pedras, oco aroma a vazio do que preenchido foi. Talvez seja um asfáltico vírus potenciado a betoneiras, ou a selvajaria de um certo sonambulismo arbitrário, soporífera conexão de digestivos sistemas ao armazém do espírito, quiçá. Cosam-se os anéis, remendem-se os dedos, toque-se ao de leve a textura do abandono. Facultem-se óculos a dimensões muitas, veja-se um mundo de oculta densidade debruada a fantasia. Perscrute-se a seiva das pedras, ouça-se-lhes o silêncio, sensibilizem-se os ouvidos para o eterno gemido que paira numa ruminante tela de desprezo. Há fantasmas assim, ascetas de empilhados calhaus, teimosamente resistentes na sua periclitância de audaz verticalidade. Num passado não muito distante ouviram as preces da anónima gente de Morais ou Banreses, pagadores de promessas à Senhora do Monte ou a São Geraldo, círios acesos, corações ao alto, paramentos na exultação do divino. Um dia, humanas comodidades, ou microbianas tentações, volta-se as costas ao aconchego, fecham-se as portas, se as há, alteram-se votos, veneram-se santos outros. Talvez seja assim a espécie, ingrata, despudor dos tempos. Encerra-se um ciclo, choros de despedidas muitas, o suponho pelo secreto rumor do resistente xisto. Olho extenuado para o altivo campanário da igreja da Senhora do Monte, rosto de virtude perdida, orgulhoso do seu passsado apagado a chuva e vento, a agrestia de neve e geada, a sufoco de escaldante sol, em ténue equilíbrio de vilipendiada majestade, esquissada a patranhas de ignominiosa negligência de quem não sabe honrar os testemunhos da ancestralidade. Em Banreses saboreio, por breves instantes, o eco das orações de gente simples, talhada a campo, vergada a rugas do tempo, mãos calejadas pelo tormento de agrícola faina, domingueiros fatos de respeito ao culto. Na efemeridade de um devaneio, regresso à civilização, histórias tantas por desvendar, realidades do desrespeito por fantasmas que pacientemente aguardam por condigno féretro. Ou, ingénuos desejos de ressuscitação patrimonial, despertar um dia vassalagem prestando à musicalidade dos sinos de um indómito campanário de xisto, inexpugnável reduto de glorioso passado. Talvez me tenha ouvido a pretensa santidade das pedras...

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