Bem Vindo às Cousas

Puri, se tchigou às COUSAS, beio pur'um magosto ou um bilhó, pur'um azedo ou um butelo, ou pur um cibinho d'izco d'adobo. Se calha, tamém hai puri irbanços, tchítcharos, repolgas, um carólo e ua pinga. As COUSAS num le dão c'o colheroto nim c'ua cajata nim cu'as'tanazes. Num alomba ua lostra nim um biqueiro nas gâmbias. Sêmos um tantinho 'stoubados, dàs bezes 'spritados, tchotchos e lapouços. S'aqui bem num fica sim nos arraiolos ou o meringalho. Nim apanha almorródias nim galiqueira. « - Anda'di, Amigo! Trai ua nabalha, assenta-te no motcho e incerta ó pão. Falemus e bubemus um copo até canearmos e nus pintcharmus pró lado! Nas COUSAS num se fica cum larota, nim sede nim couratcho d'ideias» SEJA BEM-VINDO AO MUNDO DAS COUSAS. COUSAS MACEDENSES E TRASMONTANAS, RECORDAÇÕES, UM PEDAÇO DE UM REINO MARAVILHOSO E UMA AMÁLGAMA DE IDEIAS. CONTAMOS COM AS SUAS :







segunda-feira, 31 de maio de 2010

O reverso das medalhas… e das faixas de campeão

A inexplicabilidade de uma estadia macedense mora no andar de cima. Um piso de difícil acesso, sem escadaria ou elevador, sem janelas através das quais se possa levar a cabo um assalto de juvenis formas, ou sem portas para arrombar. A efémera felicidade mora, mesmo, no andar térreo. Aquele onde se absorve a singularidade das “cousas”, pressentindo o breve arfar de anciãs formas de respirar a transmontana vida. Os pulmões estão lá, mas não lhes é permitido dar voz à função para a qual estão destinados. E a respiração é ofegante, arritmada, dissonante, sem o arrojo que lhe deveria marcar a cadência. Como se tivéssemos lido num qualquer clássico autor que, para lá das barreiras que nos isolam, o acto não pecaminoso se resume a inspirar dióxido de carbono em vez de oxigénio, contrariando o que aplicável é pela química da vida. Somos diferentes, mas não tanto! O último fim-de-semana ficou marcado por dois actos que tipificam a nossa forma de estar. No Sábado, as Jornadas da Primavera… No Domingo, o jogo de consagração do Clube Atlético… Orgulhosamente, marquei presença em ambos! Orgulhosamente, absorvi o muito que tem sido feito em prol da elevação de uma certa auto-estima que parece andar arredia desta gente que prefere o fado de se sentir esquecida e abandonada. Orgulhosamente, bebi, no Sábado, de uma forma quase desenfreada, Xaires, a Fraga dos Corvos, Zoelas, vivências medievais, a notável figura de Nuno Martins de Chacim, o insubstituível Cónego Figueiredo Sarmento. Orgulhosamente, revivi, no Domingo, os inolvidáveis momentos do velhinho campo pelado, onde participava no coro que gritava, quase em uníssono, “Macedo, Macedo, Macedo”! Triste, mas não orgulhosamente, constatei uma forma de estar que, cada vez mais, aproximo do híbrido. Há uns anos, era insistentemente afirmado, em certos meios, que a mentalidade macedense era feita pela “nobre classe dos nouveau-riches”… Pelo que me apercebo, deixou raízes e espalhou sementes. Um estrato social marcado pela hibridez de quem não se sente capaz de se intrometer no núcleo que, ainda que sob pressupostos errados, elevam ao patamar do intelectual. Mas que também revela uma desmesurada presunção ao não se misturar com aquilo a que devem considerar a ralé, porque o “futebolês” é linguagem abusivamente recursiva da base da pirâmide. Parece-me que foi criada uma espécie de maçonaria holográfica, onde a única coisa palpável reside no umbigo de cada um, um revivalismo do “orgulhosamente sós”, com a agravante de as pseudo colónias ultramarinas se resumirem ao espaço delimitado por quatro paredes ou pelos “cavalos” cujo único objectivo é fazer salivar aqueles que sonham em ascender a tão indefinida classe. Viperina linguagem esta, de Cavaleiro Andante sem montada… Num regresso ao orgulho… Foi com um dito indisfarçável que conduzi a descendência ao contacto com uma realidade distinta, traçada a marcas de ancestralidade, onde se misturaram cerâmicas do Calcolítico, com artefactos da Idade do Bronze, epigrafia de “gens zoelarum”, formas de vida medievais, toponímias e genealogias do de Chacim, curiosas histórias de um Cónego. Com o mesmo dito indisfarçável, foi a dita conduzida à bancada do Estádio Municipal, equipada a rigor com a t-shirt comemorativa e com o cachecol que rodopiou ao sabor do golo de Luisinho. Macedo é Macedo, tenha o orgulho proveniência nos rios da História ou na singeleza de um festejo por uma subida adiada por um quarto de século! A semelhança entre um evento e o outro esteve nas cadeiras vazias… A enchente quedou-se pelo alheamento dessa “nobre” gente que ainda não entendeu que o futuro não surge, constrói-se!...

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Artes Sacras, Arqueologias e Histórias

Apelar ao bom senso torna-se, nos tempos que correm, hercúlea tarefa. A sociedade à qual demos permissão para nos corromper, vai trilhando caminhos pouco abonatórios, onde a mesquinhez, o egoísmo, o materialismo, entre outras coisas menos próprias, vão ditando as regras de um país sem escrúpulos à beira do abismo. Inconscientemente, deixamo-nos influenciar pela proliferação de super-heróis, como se cada um de nós fosse detentor de super-poderes que nos deixassem imunes à corrosão que vai grassando. Ou, alternativamente, acreditamos que passámos a integrar um qualquer especializado corpo de pára-quedistas civis, devidamente preparado para enfrentar o vazio. Mas isto sou eu a ter um dos meus delírios mensais… Há vida para lá destas momentâneas fases lunares, nas quais dou permissão ao “eu” contestatário para respirar um pouco de ar poluído… É efémero e é desnecessário bater com a cabeça de encontro a uma parede. Basta massacrar umas teclas com as cabeças das extremidades superiores durante alguns minutos, que isto passa… Já passou… Entretanto, dizia que havia vida para lá destes acessos de insanidade momentânea… E há! Como, por exemplo, a inerente ao Museu de Arte Sacra. Dizia, há dias, o Bispo de Bragança que o dito museu é “um pólo de atracção cultural para a cidade de Macedo de Cavaleiros e para o concelho, mas também para a diocese e para a região”. Ora aqui está algo em relação ao qual manifesto uma completa concordância! Não obstante esta manifestação, o tempo verbal utilizado não corresponde à realidade factual. Na verdade, o Museu de Arte Sacra DEVERIA SER “um pólo de atracção cultural…”! Infelizmente, os animadores números de visitantes no seu curto primeiro ano de vida reflectem uma triste realidade. A maioria dos visitantes é proveniente do exterior do distrito. Ou isto reflecte um alheamento dos autóctones ou, procurando ser positivo, as coisas elaboradas com ponderação e qualidade possuem o condão de servir de chamariz aos forasteiros. Das duas, três… Contudo, diz-me o meu privado agente secreto, vulgo “dedo mindinho”, que ainda subsiste gente macedense que desconhece a existência de um museu em pleno centro da “vila” (perdoem-me o revivalismo). Puro desinteresse ou a “pureza” de falta de divulgação? Sendo repetitivo: das duas, três… Três foram as vezes em que já coloquei o comodismo de lado para uma incursão a esse pedaço da nossa História. E não dei o tempo por perdido. Lá regressarei na primeira oportunidade para verificar, in loco, as mudanças de espólio entretanto operadas. No mesmo local onde vi as declarações do eclesiástico bragançano, outras me chamaram a atenção… Estas provenientes do Arqueólogo Carlos Mendes, da Associação Terras Quentes. A bem da verdade, sendo um dos admiradores do trabalho desenvolvido, em conjunto com a autarquia, por esta associação, em prol da ressuscitação da “História Perdida” do concelho, as ditas declarações não me causaram qualquer espanto. Honestamente, já as aguardava há imenso tempo. A possibilidade de criação de rotas vocacionadas para um turismo com uma vertente arqueológico-histórica não é uma utopia. O património está disseminado pelo território concelhio, possuímos uma riqueza que ultrapassa as cerradas fronteiras de maças e cavaleiros que, durante décadas, alimentaram o nosso imaginário histórico. Contrariamente ao que possa supor-se, o concelho de Macedo está dotado de marcas da passagem por estas terras de ancestrais gentes, antepassados que aqui aportaram desde, pelo menos, o Neolítico/Calcolítico (a Mamoa de Sto. Ambrósio ou o Povoado de Xaires assim o ditam). Mas podemos recuar ainda mais no tempo… Levada Velha dixit… Ou avançar… Até ao período medieval… Ou a posteriores períodos… Tem dúvidas? No próximo Sábado, no Centro Cultural poderá dissipá-las… Eu não perderei a oportunidade…

domingo, 23 de maio de 2010

Cousas que nos emocionam

Sei que o "futebolês" não é uma linguagem aceite unanimemente. É incontroverso que gera controvérsia... Orgulho-me de gostar de futebol, das (saudáveis) discussões inerentes ao mesmo, de o ter praticado e de ter começado a dar os verdadeiros primeiros pontapés na bola num tal de Clube Atlético de Macedo de Cavaleiros. Tomei-lhe as cores e tomei-lhe as dores. Desde os tempos do velhinho Campo de Futebol, pelado, rodeado de muros decorados a artesanais pinturas publicitárias, espécie de fortificações que facilmente se transpunham. Fosse pelo poste que se subia a partir da "Casa dos Juízes", pela elevação da "Catanga" ou do "Grémio", pelo olival do "Catita" ou pelos blocos camuflados que se deixavam perto da "santinha" da Rua Alexandre Herculano. Recordo na perfeição os contornos daquele mítico campo, do seu portão de grades em lagarta do lado da Cooperativa e da sua minúscula porta de entrada confrontando com as "Casas dos Juízes". Consigo rever o reduzido habitáculo de onde eram vendidos os poucos bilhetes para assistir a um "jogo da bola". E os dois espartanos bancos de suplentes... A escadaria em cimento mal amanhado que dava acesso a uns balneários, também eles mal amanhados e arcaicos. Quando terminava uma "jogatana", preferia fazer uma rápida troca de equipamento, numa estratégica retirada para o conforto de um banho caseiro. Deixava a camisola, os calções e as meias (as chuteiras e as caneleiras eram bens escassos) entregues ao esmerado cuidado da D. Maria. Haveriam de surgir estendidas num espaço onde um dia alguém se lembrou de construir uma caixa de areia para salto em comprimento... No decorrer dos treinos, olhava, enfeitiçado, para os "jerseys" que tinham os números 2, 5 ou 13 (aqueles que me lembro de ter utilizado). E sonhava ser convocado para o próximo jogo... No próximo jogo espero estar presente. No novo campo, para festejar algo inédito: o título de campeões da Série A da 3ª Divisão. E a subida, 25 anos depois, à 2ª Divisão. Pode não valer nada... A mim, hoje, valeu-me uma emoção enorme. Pela vitória em Ponte de Lima e porque me lembrei de alguém que exultaria com tamanha façanha... "Estou que num caibo im mim de cuntentu, que nim me cabe um tchítchro no cue! O mou Macedo stá na Sigunda, catano!!!"

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Espelhos de vida

Sou suspeito… Esta suspeição que sobre mim paira e me acompanha os passos, qual sombra eterna legada pela genética ou, mais não fosse, herdada por insubstituíveis visões de ondas planálticas rasgadas pela intrepidez dos que amputaram o Reino de Leão de um pedaço que julgava seu… Não renego o ser suspeito que sou. Seria trair a essência, o alicerce-gérmen, a pilastra que sustenta a inalienável crença que me sussurra ao ouvido que ser Macedense e, por inerência, Transmontano, não é melhor nem pior que outra qualquer coisa ser. É, tão só, ser diferente… Ser percorrido por insondáveis arrepios, como se a circulação sanguínea se transformasse numa torrente de eléctricos efeitos, sempre que o saudável monstro que este orgulho é, se alimenta a novas temperadas a rosmaninho e regadas a uma qualquer pinga saída directamente de uma pipa de ancestrais saberes. Sou chato, eu sei… Mais não seja, para o teclado, massacrado numa incessante sequência de transmontanos ritmos, queixando-se da transmissão para o monitor de alguns indecifráveis vocábulos, sublinhados a onduladas linhas encarnadas, por não constarem de indesmentíveis dicionários. E nem os acordos ortográficos lhes valem… «Peis é! Num sei a quem dianho botar a culpa de ficar tão contcho cum esta terra cum que m’amiguei. Arrebunhou-m’a alma, fêzu-m’ua burra no peito, scatchou-me o espírito, e fêzu-me sbarar cum a proa que nela tânho, q’até me pintcho. Até se m’aparece que m’stou a ingaliar comigo próprio!». Nos tempos “spritados” em que vamos (sobre)vivendo, reconfortam-me as razões para algumas manifestações de exaltação, sorvendo, de forma sôfrega e trôpega, as ondas brotadas do “Oceano Megalítico”. «E num se pense que fico imbutchinado por ficar todo imbuligadinho de xisto!». Pelo contrário… Permito-me deleitar-me com esta profusão de ventos pétreos, inalando-os até me sentir etilizado, neurónios dormentes, pernas trementes, sãs descoordenações lexicais, como se possuído por uma efémera “tchabasquice”. «Que mai fai! Todos tãim o dreito a um cibinho de tchotchice, de vez’im quando!»… O “meu” Azibo passou a ser detentor de duas praias decoradas a Bandeira Azul! A repetente (a sextuplicar!) Praia da Pegada e a sua nova acompanhante nestas andanças, a homónima da Ribeira. Não é para todos!... Entenda-se a minha insanidade momentânea… Estou inebriado… “Amantizei-me” com o Azibo desde o tempo em que ainda lhe rasgavam as entranhas. Deixei-me seduzir pela Ilha do Fidalgo quando uma incursão à “Barragem” mais não era que uma epopeia de adolescentes tomados pela indomável vontade de um mergulho de final de tarde. Foram incontáveis as travessias a nado, desde as “escadinhas” até à “ilha”. Era o almejado prémio para um grupo de “gandulos” que, quando a canícula já não investia desmesuradamente contra o escalpe, se aventuravam, de polegar em riste… Era o supremo troféu, após a descida da poeirenta estrada… Era o nosso canto, o nosso quase privado canto, espaço sagrado, onde podíamos dirigir impropérios à vida, solidariedades juvenis com aves de rapina por companhia… Não perco uma oportunidade para ir dar um mergulho às “escadinhas”. Ainda que o sacralizado lugar já esteja desprovido do encanto de outrora, vou erguendo as memórias dos seus recônditos esconderijos, transmitindo o ceptro à descendência. Fico embevecido por lhes descrever as invisíveis pegadas e as apagadas ondulações provocadas pela algazarra de gente imberbe. Em simultâneo, agradado fico com a renovação do espaço, com a preservação do mesmo, numa manifestação de cultura ambiental num país habitualmente privado dela. Como bem salientou o actual autarca macedense, «este sucesso deve-se não só ao empenhamento do município e aos investimentos realizados na Albufeira do Azibo, mas a todos os macedenses e visitantes.» Assim continue… Porque o Azibo não é só um magnífico “Espelho de Água”. É, também, um sublime “Espelho de Vida”…

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Desconexões nostálgicas

"...Trás os Montes é um berço onde tenho de nascer todas as horas e morrer um dia..." - Miguel Torga



Trás-os-Montes é um berço onde renasço... E onde tenho de regressar um dia... Nem que para finar seja... A cada incursão, sinto que, tal como Torga, vou para lá receber ordens, dos meus antepassados. Não é um vulgar chamamento, antes é uma purga da alma, desinfestação interior que me livre dos patogénicos agentes que me corrompem as entranhas de xisto. A verdade é que a terra bravia me regenera o espírito, como se a natural sequência fosse exposta a uma regressão de rejuvenescimento. Pode soar a humana insanidade, mas uma travessia do Marão (ou do Alvão, enquando o IP4 assiste à sua sentença) representa um vínculo com a eterna juventude. Não há druidas ou poções mágicas, apenas resistem os seus fantasmas. Em forma de vento que irrompe do nada para fustigar serranias, ou de um simples pardal que lhe faz frente num desaustinado movimento alado. Ou a canícula que faz gotejar uma face esgotada, sede de um retemperador mergulho em riachos com histórias para contar. Ou no Azibo, simplesmente... Formas temperadas a ser, misturas de nada onde reina o tudo. E um velho que passa, sorriso terno, desconfiado, rugas do tempo marcadas num semblante tostado pelo sol. "Atão, num é de cá, peis não?"... "Ah carvalho ma racosa, atão é filho de fulano? Já mu pudia ter dito! Bote lá comigo que puri inda bubemos um copo! Olhe q'a nha pinga num se fica atrás dessas murraças que se bendim no Lidére, ou lá no que caralhitchas é! Num sei pur onde anda a minha, mas já lu digo que fica mim contcha si'u lebo lá a casa!"... Mas não, fica sempre para uma qualquer outra vez, que os "pur dentros" já não estão vocacionados para abusos do passado, recuadas épocas em que negação não haveria à hospitalidade do copo. Lascas de presunto por companhia, navalhas afiadas pelo esmero, ancestrais funções de pedras "afiadeiras" resguardadas do esquecimento, num qualquer canto à beira da adega. "Carabunhas" lançadas no vazio, poço de infindados desejos sem mácula, sonhos de uma infância sempre revivida e nunca perdida. É a perdição do espaço, num tempo que dá razão a Einstein, porque os ponteiros entram numa greve de zelo, retardando o sol no zénite ou prolongando o estremecimento do silêncio das constelações que nos cobrem. Como se o sol reinasse de noite e as estrelas se espraiassem num dos areais do Azibo. Contrastes de um longínquo uivo com um bramido perdido, sombras que pairam num Reino Esquecido. Como se Banreses tivesse estendido os seus braços do abandono, suspiro de uma ressuscitação sempre adiada, num abraço fraterno entre iguais. Mais não seja, em jeito de profecia... Talvez isto seja a antítese do transmontano que sou... Gosto de brindar a minha terra com um sorriso mas, por vezes, a saudade amputa-me da capacidade de distender os lábios e a pena limita-se a desenhar desconexos signos de nostalgia... Amanhã passa... "Ou num tu dixo?"...

domingo, 16 de maio de 2010

O diabo veio ao enterro

Macedo é uma jovem donzela no mapa concelhio nacional. Durante largos anos as suas história e identidade foram confundidas com lendas de maças e cavaleiros. A bem da verdade, parece-me, honestamente, que a história e a identidade estavam omissas do quotidiano macedense. Contingências dos tempos ou ausência de quem tivesse a coragem para desenterrar o passado. O último decénio trouxe à tona uma realidade distinta. A obscuridade em que a história macedense viveu mergulhada durante décadas, sofreu um duro revés. Hoje, já é possível termos os nossos heróis, ressuscitados que vão sendo ao sabor da persistência e do labor de um punhado de gente que não se resignou ao fado das lendas. O dia 8 de Maio mais não foi que o fruto desse resgatar. Foi reconfortante perceber que, ainda que moribundo, Macedo caminha para a recuperação. Não se pode exigir que as arreigadas mentalidades sofram uma atroz metamorfose. Tenho fé que à próxima geração lhe seja permitido passear num qualquer Jardim Martim Gonçalves de Macedo, ou numa qualquer Avenida Nuno Martins de Chacim. E estou grato pela oportunidade de ter privado com um dos escritores que marcou a minha juventude, e vai marcando a minha vida adulta. A bem de Macedo e, porque não, de Trás-os-Montes, venham de lá mais diabos que venham ao enterro desta falta de orgulho em sermos feitos de xisto... Pena que os diabos ainda sejam poucos...

terça-feira, 4 de maio de 2010

Cousas de estarrecer!

Quando o tema é a Saúde, é expectável que o mesmo surja de mãos dadas com a polémica, quais gémeos agrupados após a nascença, contrariando a habitual expressão do senso comum. Para mal de pecados nossos, quando o dito se alia a terras transmontanas, ou vem dor, ou vem algia... Não é perlimpimpim, mas perlimpimpou-a o gato... Infelizmente, vêm sendo recorrentes as descoordenações na (des)Saúde que (não) temos. Não! Desta vez já não vou dilacerar as hélices holográficas! Tiveram o seu tempo, o seu momento de fama pelos consecutivos adiamentos. Também não me vou deter sobre maternidades. Recorro, excepcionalmente, à versão egoísta que vai marcando o ser social que o Homem (também) deveria ser: já não preciso de parteiras, obstetras e afins... E como só espero ser avô daqui por uns anitos, até lá terei tempo de me recompor e de cumprir a respectiva penitência... Ainda sobrariam os SAP, as Urgências, ou o que delas resta... Mas já estou cansado de bater no ceguinho... Desta vez, a incredulidade bateu à porta. Não sei se chore, se ria, ou se pegue num chicote de auto-flagelação, de forma a estancar esta vontade imensa de bater em alguém ou, masoquista e alternadamente, ir de encontro a uma parede com a caixa que alberga o órgão pensante. Não será necessário ser detentor de capacidades "sherlockianas" para encontrar exemplos anedóticos do funcionamento de algumas entidades que deveriam zelar pela nossa saúde, nomeadamente as que são responsáveis por dar resposta a casos urgentes. Basta procurar no "Youtube"... O que surgiu na imprensa desta semana relativamente à articulação entre os CODU (Centros de Orientação de Doentes Urgentes) e os diversos meios de socorro, mais que anedótico, é alarmante. Sem esmiuçar outros casos relatados, a ser verdade a ocorrência de uma chamada aos Bombeiros para acudirem a uma situação de paragem cardio-respiratória em Podence, quando a mesma, efectivamente, ocorrera em Limãos, faz-me pensar que este país, na verdade, está entregue ao deboche total... Afinal de contas, contas feitas, de números não passamos... Pelos vistos, alguém terá confundido "Podãos" com "Limence"... É desculpável... São fonética e geograficamente semelhantes. Caso tracemos um meridiano que atravesse a Ilha do Fidalgo no nosso Azibo, a distinção entre Podence e Limãos reside, tão só, numa letra... Uma fica a Oeste dessa imaginária linha, ficando a outra a Este. A diferença resumida a um "O". Que, neste caso, como em tantos outros, foi um "O" de óbito...