O maior mal não é o analfabetismo, é o iletrismo das classes dirigentes (Ricardo Jorge)
Para os mais desprevenidos... Há, reconhecidamente, um dialecto de "Tráze duje Monteje", com as suas especificidades regionais, sublinhe-se. Para os que, humildemente, o desconhecem, talvez tivesse sido mais eficaz ter no título "Pedradas, pontapés e estalos" (e para os que, com sobranceria o renegam, fica, simplesmente, "ua lapada, um biqueiro e ua lostra" para a renegação). Já para os afoitos dos neologismos, talvez a substituição do "iletrismo" por "iliteracia" se revelasse mais conveniente. Contudo, não pretendendo ser mais papista que o Papa, procuro - nem sempre conseguindo, é verdade - elevar a desbaratada Língua Portuguesa a um delicioso purismo, temperando a ousadia com um "cibo" de orgulho nas raízes. Conquanto, nos tempos que correm, lhe veja a pureza desvirginada por "atos de corrução" paridos por quem, numa "ação" de desvirtuar o ditado, aceitou que fosse ensinado o Pai-Nosso ao padre. Andarão o Luís, o Fernando, a Florbela, o Ary e outros mais "práguêjando ná séputura", a aviltar semelhante homicídio?

Que pensará El-Rei D. Dinis, tresloucado poeta-lavrador que impôs o bárbaro Português como língua oficial dos diplomas? Que se dane, ainda se desconhecia a existência das terras de Vera Cruz e as traulitadas resumiam-se a ser sanadas por Tratados de Alcanices, e Tordesilhas ainda se anunciava longe... E, reconheça-se o factualmente indesmentível: os polegares apenas detinham desenvoltura para manejar espadas, maças e demais artefactos bélicos medievais para "infiar uas catchouçadas" nos do lado de lá, e para se defender das ditas, também. Hoje, dizem os especialistas em genética, o futuro será sorridente para uns tendencialmente mais extensíveis polegares, muito à custa da massiva utilização de novas tecnologias. Nada de anormal, nada de pecaminoso... O pecado mora ao lado, bem ao lado da correcta utilização de um tal de camoniano idioma, adulterado a "kstões de kem axa k ixo d screver é 1a xpriêxia dkls k tb é 1 xpetakulo" transcendente, mesmo que a transcendência se transforme num vocábulo inentendível. Adiante, que o Sabor ainda corre selvagem e o Tua ainda não inundou a linha...

E adiante que, ocasionalmente, vão surgindo motivos para sorrir! Como uma tal de "Associação Potrica" ("Axoxiaxão Potrika" em "Portecladês", cabal demonstração de poliglota!), uma infame organização que, pasme-se, quer revigorar hábitos de leitura. Em cafetarias!!! Mas que "dexk/xideraxão" para quem apenas encara determinados locais como um vínculo à cafeína ou a etílicas formas de arejar a mente! Mas que atentado à liberdade de "xprexão"!!! Mas este rapazola, detentor de uma linguística insanidade de Cavaleiro Andante, aplaude, aplaude, e volta a aplaudir, aplaudindo novamente, numa prolongada ovação a mais esta tentativa de não anuir com a ostracização a que a Língua Portuguesa vai sendo votada através de ignominiosas formas de barata prostituição. Amparem-se os superiores membros, rubicundos que estão de tanto aplauso, limitem-se as suas extremidades a transfigurar os signos de um teclado em vocábulos de louvor a tão impagável iniciativa. Todavia, vou sendo assolado por uma inenarrável tristeza...

Macedo estará à distância de um pulo, mas a minha dose de cafeína foi deglutida algures num "tasco" à beira mar plantado onde, em substituição do delicioso silêncio de um livro, ecoava pela atmosfera a aculturação de uma pronúncia que, não desmerecedora de crédito pela sua beleza, se inflitrou em forma de "á-cô-ré-dô" desde que uma Sónia de cravo e canela invadiu o mar português. Foi ontem, lá longe, a preto e branco... E foi hoje, bem perto, a cores... Nesse hoje apenas desejei, temporal arrepio dos sentidos, aspirar uma macedense atmosfera, temperada a Torga ou Junqueiro, condimentada a Pires Cabral ou Trindade Coelho, ou adoçada a monstros outros. Limitei-me à leitura da saqueta de sacarose, reli a saudade e tentei decifrar uma forma de aplaudir uma tal de "Associação Potrica", essa tal que convida para uma "Pausa para a leitura" nos cafés macedenses. Bem-haja! Porque o analfabetismo não reside naqueles que não sabem ler; mas sim naqueles que, sabendo-o, não o fazem... Impavidamente extensível ao iletrismo de certas classes...
1 comentário:
Vão, ainda e gráceis, surgindo, por entre aqui e ali, algumas, louváveis, ideias em contracorrente ao desgoverno e labéu da "última flor do Lácio".
Ovacionemos com rejúbilo e alor o ensejo de tão egrégia iniciativa.
Ou:
inda s fazem umax cenax nices pelo tuga. alta/
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