Não
vou contar nenhuma história alicerçada num plágio ao Gabriel Garcia Márquez, nem
me atreveria a alvitrar crónicas de anunciadas mortes, antes preferindo o
sensacionalista feliz Verão da senhora Forbes, em versão contentamento restrito
com o título. Poderá a senhora Forbes não se lembrar do “São Pedro”… Eu
lembro-me…
…da
1ª edição, no longínquo 1983, a mente não me atraiçoe, rapazola esguio, nada
habituado a hercúleos esforços do músculo, de “ocupação de tempos livres” a
época, adveio a fava na rifa das selecções. A bem da verdade, talvez me tenha
saído o prémio, esquissos da memória, lembro-me do saudoso “João Ginja”, de
longa data amigo da família, em solene anúncio na forma de um «Rapaz,
arranjou-se uma ocupação para as tuas férias. É pertinho de casa, mas vai ser
duro.» E foi… Ou não, de acréscimo à experiência a recordação. Construíam-se as
actuais Biblioteca Municipal e Junta de Freguesia. Era só saltar o muro para o
olival que ainda por lá restava, era dos Padres Marianos, diziam. Erguia-se o
esqueleto da obra a cimento e tijolos, escaldava, por esses dias, em quase
impossibilidades de respiração, ia valendo o armazém de sacos de cimento onde
as agruras eram, ainda assim, dificilmente suportáveis. Por lá rondava o
encarregado, o simpático “Sô Joaquim”, dizia-se ainda meu primo, «Não te
esforces, rapaz, que tens mãos macias.» Mas eu esforçava-me. Desajeitado, mas
esforçava-me.
Era uma espécie de “pintche”, sem saber bem o significado de tal
coisa para lá da associação ao alcatrão. Tinha ouvido os homens que tiraram o
pó do Toural a chamarem “pintche” à dita substância negra… Cheguei a pensar que
ironizavam por apresentar características dos “copinhos de leite” provenientes
de latitudes nórdicas… “Santa inocência”… Um dia, já depois de ter aprendido a
fazer uma parede (que, qual milagre, ainda hoje se mantém hirta na
Biblioteca!), disseram-me para ir com o “Manel Lázaro” para a “Feira”. Pensei
que iria montar tendas, ou coisa que se lhes assemelhasse. Mas o “Manel”
perguntou-me se conseguia aguentar com o peso dos ferros que serviriam de
estrutura às “barracas da feira”. Seria a “Feira de São Pedro”…
Bem
vistas as coisas, isto é presunçosamente histórico! Julgo, não me atraiçoe a
mente, repetições de parágrafos outros, que terei participado, a ferros,
parafusos, excessivo calor, porcas e chaves-de-porcas, na primeira edição da
Feira de São Pedro! “Rais’partam as alembraduras”!
Avolumaram-se
as experiências, em universos outros, rasgaram-se folhas de calendário,
irreversíveis marchas do tempo. Da pureza a essência, de alguns nomes e formas
ficam as letras, as memórias, a gratidão, o desenho mental de sorrisos e
vocalizações, idos tempos de conceitos outros. Soam a longínquos, em paradoxos
de permanência sob valores distintos, maleficamente distintos, onde se apregoa
o umbigo em detrimento do cordão umbilical. Talvez pelo absurdo mantenha esta
ligação às figuras que ajudaram a desenhar o lírico que sou. “Roubem-me a
comida, mas jamais conseguirão roubar-me a fome”. Lirismos abjectos, o
proclamarão os de anticorpos detentores… Fomes outras…
Transformaram-se
os parafusos, de metamorfoses em inevitável evolução, o imberbe certame ultrapassou o acne, as dores do crescimento, as crises existenciais. Surgiram as luzes da ribalta, as mediáticas refregas intestinas, os passos menores, ou os maiores que a perna, os sucessos e insucessos. Repentinamente, ou talvez não, despertaram os Nostradamus, que Restelo não tendo e vozes havendo, encomendaram o féretro, anunciaram a cerimónia fúnebre aos cinco ventos, porque insuficiente o dobro do par. De súbito, em desenfreadas corridas, apressaram-se a mudar a cor das gravatas… “Ninguém escreve ao coronel”
…
…
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