Dizem
que todos deveríamos ser criança uma vez por outra, alternativamente, num
sôfrego alternativamente que conduz a ser criança vez nenhuma. Por isso, ser
criança está irremediavelmente restringido às crianças. Ponto final… Sofrer
alegremente numa regressão à infância é saudosismo, é descurar um qualquer futuro
cuja existência se desconhece, revivalismos bacocos apregoados como sintomas de
irresponsabilidade, num endémico processo que menospreza a aparência. Não pode
menosprezar-se a aparência, em jeito de retrocessos a tempos que convém apagar
da biografia. Ou deturpações do carpe diem… Nutro desprezo pela aparência, num
crónico “as iludências aparudem” gerado na infância, inversões de quotidianos
muitos, ingénuas aprendizagens, repentinos laivos de uma rebeldia conscientemente
controlada.
O
ser ao invés do ter, sem receios de represálias por frustradas tentativas de idolatria
pelas aparências, propósitos na incontrovérsia responsavelmente assumida de ausência
de fenómenos alienígenas a que, quais líderes de matilha, rosnam como rabos-de-palha,
ou incontidas indignações apregoadas sem qualquer pejo de atingir cumes pisando
e repisando mãos. Não sobrarão dedos na queda…
Amanhã
serei criança. Hoje sou criança. Ontem fui criança. Numa nostalgia pela pureza
dos pontapés na bola, da porrada que ainda não equivalia a “bullying”, das “lapadas
q’abriam a cabeça ó berde”. Ou pelos imperdíveis episódios da Heidi ou do
Vickie, vistos inúmeras vezes nas casas dos vizinhos do Toural, num tempo em que, nessa vizinhança, as únicas fogueiras que existiam não eram as das vaidades. Cresceram esses vizinhos, passaram, salvo raras excepções, a epopeias-fantasma de
convenientes desconhecidos, ou convenientes conhecidos quando as conveniências
assim são convenientes. E capazes são de por nós na rua passar, saudando quando
são previsíveis proveitos, ou ignorando quando o futuro vizinho é detentor de
uma taxa de juro que supera os rendimentos da saudável saudação. Apetece-me ser
criança, nessas alturas apetece-me ser inconvenientemente criança, numa “bárbara
agressão” com uma “fisga de grampos”, “pernas pra que te quero”, indomáveis
correrias a contar as peripécias aos parceiros de “terrorismo”. E, “rais’partam”
as saudades, tenho mesmo saudades… dos malucos dos carinhos de rolamentos, sem
pretensões de um carrinho ser melhor do que o do vizinho, apenas numa algazarra
que incomodava os saudosos “Sô Joaquim”, “Sô Alberto” ou o “Sô Carlos”, porque
lhes surripiavam as ferramentas, os parafusos, as tábuas ou os rolamentos.
Depois riam-se e apreciavam a alucinante forma de incipiente Fórmula 1 imberbe.
Mais pé esfolado, menos calça rasgada… Mudam-se os tempos… Hoje perguntam-me se
é verdade que temos um “Umbigo do Mundo”. Invariavelmente, respondo: «Só um?»…
Resposta infantil…
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