Desdobra-se o tempo vagueando pelas vielas, sob um sol escaldante, a insanidade de correrias tantas em busca de um qualquer éden. O batimento dos ponteiros a acabrunhar-se perante adrenalínicos ritmos respiratórios, a expiração lançando atoardas à inspiração, desregulam-se os passos num vai e vem, sobe e desce de invisíveis degraus. Os sonhos são, inúmeras vezes, dotados de crença... É lançado o repto, fasquia de intransponíveis altitudes, alterna-se o "rewind" com o "forward", entra-se em "pause" vezes outras, sustém-se o inadiável em incursões de querer, monte acima, monte abaixo, param os grãos de areia numa inventada ampulheta redesenhada a xisto e granito. Ao longe, o paraíso, ondulação pétrea entrecortada por vales de um qualquer esquecimento - mas vale a pena o olvido! É só mais um cheirinho a vento, uma pitada de rajadas no escalpe, aspira-se o pó das nuvens, o Encontro é já ao virar do próximo fraguedo. Incrementa a intensidade dos dias, há aquele pormenor a não esquecer - «- Aponta aí na "check list"!» - fugacidade de instantes sobrepostos a instantes, vulgarizam-se pegadas da memória, amontoam-se pausas de fé, lá dizia o poeta dos heterónimos aquela coisa sobre o sonho e a obra... E a dita nasce!
Apruma-se literário adro, mais para a esquerda, desvia à direita, graves e agudos afinados, inunda-se o espaço a vocalizações de ensaio, prenúncio de imagens de um Reino, espanta-se a gente com azáfama tanta, vai a noite alta, que amanhã é dia de "satcho"... «- Bá, bou-m'à deita q'amanhã tânho que star guitcho!»... Soam os últimos impropérios às bruxas, saem figas de bom comportamento, despedidas de breve trecho, que o dia há-de começar a energias de letras, contos, ditos e... feito! A suave ânsia de ansiado dia, tudo a postos, alinham-se as mentes para o inusitado. Venha a envolvência dos dias, revejam-se velhos amigos, saúdem-se desconhecidas faces, surpreenda-se a alma com o inesperado. Abafa-se o burburinho com o trovão, repentina entrada com o Reino Maravilhoso a aplacar a sede de pertença, toma a emoção conta do aglomerado, faces em desalinho de sorrisos, preenche-se a alma a tonalidades de encanto. De súbito, "Trás-os-Montes", na versão de Teodoro & Cia., incursões à inocência da malvadez do estranho ritual de passagem da infância à adolescência. Memórias de um tempo aldeão readaptado a pena de Tiago Patrício, solenidade de um préstimo a um pretérito futuro. Correm os instantes ao sabor da essência, molda-se a atmosfera a conversa, sente-se o intimismo do espaço, agruras do âmago temperadas a gosto. Mais prosa, menos prosa, saia da ementa um "Alustro", sequências de retratos de um sentir trasmontano, seja lá o que isso for, sente-se, não se explica, corre nas veias, eritrócitos moldados a hemoglobina dos penhascos. Ressuma a seiva, o dizia Torga. Parada e resposta, cheira a uma qualquer transplantação para cá do Marão, a capital do Reino em genética translocação. Sai mais uma Posta à Cavaleiro, condimentada a ancestrais sopros, o António não deixa o dedilhar na gaita-de-foles apagar a memória de idas jornadas acolitadas a sons de arrepio. Entretanto, contam-se as espingardas, o fulgor das horas amansado por amena batalha de um inexplicável querer, talvez tenha sido reinventada uma forma de estar. Afinal, Macedo está vivo, não o Martim de estocadas outras, rejubilam os crentes de ousadia tamanha. E Trás-os-Montes vivo está, juntem-se as pedras que castelos se erguem... Tempos haverá para toque a finados... Por enquanto, siga o cortejo de um estranho sentir, é uma doença que se pega e apega, por contágio, quiçá, o dizem os adoptados, que não basta nas pedras parido ser para o Reino engrandecer. "Trallosmontes" é assim, entranha-se, insondável genótipo talvez. Clamores do crepúsculo, vêm "os anjos nus", pirilaus na amálgama, abafam-se pudores com o mágico comunicar da mestria do inigualável A. M. Pires Cabral, metamorfoses em "anjas nuas", navegam indisfarçáveis sorrisos por ilustre assistência. Venham de lá os autógrafos, lavra para a posteridade, revelam-se sons outros, a Sara e a Helena, violino em desafio ao piano, cumplicidades de clássica euforia, adultere-se o adágio, que filhas de escritor sabem tocar, não fora a pauta rabiscada a uma qualquer demanda do ideal. Terminem literárias incursões, folguem os costados de tertulianos debates, hora da descompressão, brinde-se à vivência numa harmonia esquissada a sabores da terra. Dizem-no "mata-bitcho", deslocado, certo é, mas isto de matar o dito que rói estomacais paredes é quando um homem quer ou, para radical não ser, quando o cerebral centro de controlo se estabelece de armas e bagagens no local onde prolifera clorídrico ácido. Reconforte-se o troar do "butcho" a alheira, tempere-se a um "cibo" de presunto, um "carólo" por companhia, um "tantinho" de divinal queijo. Excitem-se gustativas papilas a incomparáveis doces da Lu, anime-se a gula a inesquecíveis bolachas de Lu outra, acomode-se alimentar bolo a néctar dos deuses, reconforte-se a alma a verdes caldos. Assim, na simplicidade de um inimitável espaço, na intimidade de gente com quem se gosta de estar. Poderia ter-se passado numa livraria. Mas não... Passou-se na Poética...
1 comentário:
Perfeita descrição de uma aventura onde couberam tantos momentos e emoções - e até algumas palavras novas!
Eu não saberia contá-la melhor.
Beijinhos, Rui :)
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