Bem Vindo às Cousas

Puri, se tchigou às COUSAS, beio pur'um magosto ou um bilhó, pur'um azedo ou um butelo, ou pur um cibinho d'izco d'adobo. Se calha, tamém hai puri irbanços, tchítcharos, repolgas, um carólo e ua pinga. As COUSAS num le dão c'o colheroto nim c'ua cajata nim cu'as'tanazes. Num alomba ua lostra nim um biqueiro nas gâmbias. Sêmos um tantinho 'stoubados, dàs bezes 'spritados, tchotchos e lapouços. S'aqui bem num fica sim nos arraiolos ou o meringalho. Nim apanha almorródias nim galiqueira. « - Anda'di, Amigo! Trai ua nabalha, assenta-te no motcho e incerta ó pão. Falemus e bubemus um copo até canearmos e nus pintcharmus pró lado! Nas COUSAS num se fica cum larota, nim sede nim couratcho d'ideias» SEJA BEM-VINDO AO MUNDO DAS COUSAS. COUSAS MACEDENSES E TRASMONTANAS, RECORDAÇÕES, UM PEDAÇO DE UM REINO MARAVILHOSO E UMA AMÁLGAMA DE IDEIAS. CONTAMOS COM AS SUAS :







domingo, 17 de julho de 2011

IP4 - A imolação dos inocentes

Um dia despertei de uma infundada letargia. Inquietei-me com esta estranha sobrevivência à aleatoriedade de uma roleta russa pintada a bréu, cor de asfalto, cheiro a tinta de morte. Troquei de peúgas, não fosse a sacanice disfarçar-se a putrefacção, sobrepujando-se aos aromas a vilipêndio, forjados encantos trajados a sanguíneas manchas. Chamem-se os bovídeos pela nomenclatura... O IP4 foi um abjecto render de guarda, adocicado presente adornado a embrulho de veneno, cicuta injectada em venosas saliências de gente habituada a sorrir com a solenidade de procissões de migalhas. A ilusão de um engodo na aparência de um anzol dissimulado a prenúncio de desfile de destroços, óbvias e nauseabundas profecias de vozes que repousam no incómodo de endeusados seres que projectaram a morte alheia. Na inconsciência de uma poupança que vidas não vem poupando... Incúria das gentes? Adrenalínicos excessos de gente acostumada ao ostracismo, pacata populaça cujas únicas vias de comunicação se resumiam ao parentesco com as rugas cravadas em faces rasgadas a arduidade dos dias? Cometer-se-ão etílicos excessos, o afirmam iluminadas mentes que se demitem do crime apelando à impunidade? Seremos uma cambada de irredutíveis seres esboçados a irresponsabilidade? Não creio, não creio, senhores doutores... O IP4 foi uma artimanha mal engendrada, pedaço de pouco a quem nada tinha. Hoje, mortes muitas, amputações tantas, é filho de pai incógnito e a mãe é uma anónima filha da rua, puta de esquina, descendente dos desvarios de uma mal sucedida prática coital entre comunitárias verbas e aversões ao porvir. Ou talvez tenha sido apenas uma artificial inseminação lavrada a obscuro futuro... Hábitos de país à bancarrota plantado... Hão-de vir novas Vera Cruz, ou Palops outros, CEEs outras haverá, talvez o Mercosul nos aceite, ou se descubra ouro negro nas Berlengas. Instância última, por espaços nunca dantes navegados, a lusofonia colonizará Marte até novo grito do Ipiranga em alienígena vocalização... Sonhos do desenrascanço, talvez o túnel avance... Ou cesse a penitência de circular Marão acima, alheias terras a desejada A4, esventradas a insanidade de quem alternativas não pensa. É o tormento dos dias, flagelo da espera, angústia da probabilidade. Talvez a amputação não me bata à porta, extensíveis desejos, di-lo a ansiedade de ver um Reino rasgado a quase impossibilidade de frontais choques. Até lá, reze-se ou creia-se, domine-se a arte de sentidos extra, olhos atentos a impróprias sinalizações, pasme a alma pelo confronto com necessários desvios decorados a sinalética terceiro-mundista, redobrem-se cuidados, sonhe-se com risonho futuro. Alternativamente, louvem-se os réus, doseiem-se os dias a paciência, gratidão muita a atrasadas justiças. Amargas trovas da injustiça, pelem-se os "coisos", haja quem fruta tenha para irrigar, ou pruridos muitos para coçar. Mantendo superiores extremidades em permanente simbiose com o volante, e periscópios da alma em focalização de oitavo sentido. Somos ludibriados em acordes de silêncio, resignações a pentagrama musical desprovido de claves, bemol ou sustenido, sem um gemido sequer, abafados protestos de aparente inexpugnabilidade. Ouve-se uma sonata de alheados instrumentos, escuta-se uma cantata de afónica voz, sentados na poltrona do "faz de conta", em estranha aquiescência do desbaratar do pouco que sobra. Entretanto, as rotativas vão-se preenchendo a imolação dos inocentes... E não encontra a culpa véu para o casamento...

domingo, 10 de julho de 2011

A sustentável riqueza do ser

Um Museu de Arte Sacra... ou a (des)sacralização de um povo parido com arte... A cultura ter-se-á democratizado, numa peculiar forma de livre acesso com vedações na conveniência, permanente beliscabilidade na independência de metamorfoses de Ministérios em Secretarias. Falácias da inversão de cadeiras... O resgate do fantasma, féretro transformado em arte, foi, emancipação de grupelhos, uma obra de arte em si. Subjectivas visões, o Museu de Arte Sacra de Macedo de Cavaleiros é um ícone. Lavrado a emoções reguladas por um paternal poder, ainda que o parricídio pareça soar a prática comum. É um jogo de sedução onde o arado revolve a terra numa plena fusão, coitos da alma, que se dane quem por baixo está, ou a subversão em nome da táctica. Talvez sejam reminiscências de astrais cultos legados pela ancestralidade Zela, revivescências de humano heliocentrismo, irradia calor na efemeridade de um convencimento das massas, habituadas que estão ao despotismo do asfalto ou à ditadura do betão. Infames tabuleiros de protagonismo rubricados a presumível hipoteca de futuro... "Ma racosa o carbalhtchas, que já stou a infiar a seitoura unde num debo e inda m'astrebo a que me capim. Bô, q'isto num é Intrudo e num me bou disfraçar de berrão"... Devaneios à parte, pinceladas de acidificação da alma, reconheço esta embriaguez pela absorção de culturais vapores com proveniência na Casa Falcão. Olha-se uma vez, duas, ou a infinidade de um permanente olhar, refreia-se o exacerbado ciúme da Maria da Fonte, paixão de anos muitos, sente-se o transtorno do eriçar da pelagem. Irremediavelmente, surge este invulgar apelo de entronização da génese. Parece não haver regressão possível nesta inusual atracção que parece corroer os dias de fora para dentro. Paradoxalmente, aprecia-se a corrosão... "Cada tchotcho co'a sua panca"... Haverá sempre um qualquer abafado grito da crítica, mais não seja pela possibilidade de a mesma fazer parte de um inatismo como filosófica corrente, mas sinto uma irreprimível vontade de aplaudir a visita de Francisco José Viegas, Secretário de Estado da Cultura. Não exclusivamente pela cultura em si. Afinal, as navegações pelas injustiças ao desterrado povo encravado atrás de serras e penedias têm tributos destes. Efémeros, é certo, mas cheira a sublimação de migalhas para quem faminto está. Honra seja prestada a esta espécie de vénia aos representados, sublinhe-se o invulgar, louve-se a pedrada no charco. Mesmo que a heterogeneidade dos representados se resuma a uma singular homogeneidade... Subtilezas de "cancelos cerrados c'um carabelho qualquera", ou um "guitcho ólhar pur cima do scano"... « - Fetcha lá a matraca, atão num bês que stás a ser mim lorpinha? Inda te racoses cum esse'strejeitos de quem sprita lacraus»... « - Bai-t'ós poulos! E frias-te no crutcho, q'ou num m'acagaço s'o feitor s'imbutchinar! Nos'Senhor num me dou miólos só prós bitchinhos os cumerim!»... Folga o vilipêndio, entretanto, e exalta-se a essência. Ou tenta-se... Revivescências do pretérito, ressuscitações do que parece moribundear. Serão vãs tentativas de vida dar ao que finado parece estar? Ou paliativos cuidados brotados desta inexplicável sedução pela terra que deve o nome às maçãs. Fosse a excepção do solar uma regra e visibilidades outras ressumariam. Intransigências do ser, a distinção da terra-mãe resumida não está à excepcionalidade de um soberbo reaproveitamento de um solar condenado ao cadafalso. Ainda que visibilidade outra tivesse com original acesso, deslumbramentos de alpendre precedido de aristocráticos degraus. Mas isso são contas de rosários meus, afinidades com a beleza em detrimento da operacionalidade... Não será obstrução a renovações de investidas, tal o encanto. As paixões explicação não têm, deixam-se fluir ao abrigo de repetidas catarses da alma. São arrepios que se fundem no âmago, vivências que penetram no impenetrável, abalos de metafísica justificação. O Museu de Arte Sacra é detentor desse encanto. Está lá, brilhante, ao virar da esquina do abandono, baú de memórias, depósito de luzidios e inanimados seres contadores de histórias, resgatados ao desprezo de atrozes adulterações pela obstinação de um punhado de gente que lê a herança a indecifráveis símbolos. Tiro-lhes o chapéu... À Autarquia, porque em boa hora adquiriu um imóvel e o iluminou a orgulho; à Diocese, porque incentivou a inventariação e o restauro das peças; e à Associação Terras Quentes, inexcedível parceiro na empreitada de rejuvenescer a moribundez. E a Francisco José Viegas porque, interpretações de leituras várias, homenagem prestando à municipalidade museológica, mediatizou o que mais mediatizado poderia estar. Mesmo na fugacidade de digna passagem de périplo que transfigurou este pedaço de terra assemelhado a enclave... Na brevidade de umas horas reassumimos o papel de efectivo território do soberano país parido pela pertinácia da afronta do Afonso à progenitora. E vergo-me perante esta obstinação de repudiar a insustentável pobreza do ser que me tentam impor os vendilhões do templo...

sábado, 2 de julho de 2011

Um Museu do Azeite e outras cousas de Cortiços

Era uma vez uma paixão por Zoelas, seduções inentendíveis para aqueles que não perscrutam a ancestralidade como um dinâmico legado que decifra a ponte para o futuro. Não é História, são "cibos" de rude raça; não é Arqueologia, são pedras que falam; não é Antropologia, é um "tantinho" de genética do espírito. São estranhas palpitações a cada rebusco, corpos acossados por tórrido sol, extensões auriculares processadas pelos protestos de insectos que vêem o seu reino invadido. Sente-se um arrepio nas vértebras, doce e profundo arrepio, e o entusiasmo cresce a cada partilha de comuns interesses, descendência em deslumbramento por um pedaço de "tegulae" mais. Ocasionalmente, muito ocasionalmente porém, o destino, ou - quem sabe - o livre arbítrio, coloca-nos defronte de gente que partilha e entende, gente que sente as pedras com distinto sentir, gente que não se importa de expor esta rudimentar atracção pelo legado que, como Torga dizia, nos faz ter "hemoglobina que nunca se descora". E nada tem de afinidades com ácidos fólicos, vitaminas B12, ferros, ferritinas ou transferrinas. Como se a anemia não afectasse os descendentes das pedras... Analíticos conceitos arrumados a um canto, uma singela partilha do universo Zoela conduziu ao desafio de confrontação com similitudes de apresentados cultos solares. E abriu-se, escancarada, a porta para desafios outros. Desmazelo dos dias, há anos não me aventurava pela freguesia de Cortiços, terra de Fidalgos, extinta sede concelhia por reformas de finais de XIX. Por lá permanecem testemunhos de glórias outras, o tempo não lhes apaga o rasto ou, adulterando-o, transforma vestígios do passado em esqueleto de muros. Histórias outras... Depois, a obra de visionários, gente que culto presta às vozes que voz lhe deram. Entrar no Museu do Azeite é abdicar do tormento de pensar que o abandono da génese é geral. Ainda há resistência à perda de identidade! É como se penetrássemos num inexpugnável castelo, feito de pedras como elevadas eram muralhas, permissão dando aos sentidos para invadidos serem a cada estocada de idos tempos.
Permaneceu o voraz apetite de um regresso, mais calmo, menos efémero. Em cada canto do espaço sente-se o pulsar de cada fenómeno nele retratado, como se por ali permanecessem os homens e mulheres que vida lhe deram. O cicerone, privado conhecedor de cada pedaço do recheio, contagia-nos com a simplicidade do seu entusiasmo, elevando cada peça a um patamar de quase idolatria pela história que nela repousa. E sentimo-nos escoltados por resistentes da Monarquia, ou por Zoelas que do Cramanchão fizeram habitat, ou por gente simples que afagava azeitonas tranformando-as em ouro líquido. Depois, não resisti ao desafio de observar de perto plágios de "rodas de raios curvos" esculpidas em santo lugar, ou exemplar outro lá para o abandono de uma casa na Cernadela. De permeio, a escalada a um muro, por lá se encontra incrustado pedaço de pedra que de mó manual serviu e, altaneira, a que a tampa de sepultura medieval se assemelha, gravados caracteres para futura decifração. É um estranho apelo este... Alicerçado num não menos estranho sentir. Cousas... Cousas que impelem a um desvio ao Cramanchão, riqueza guardada por espessa vegetação, num silêncio quebrado pela azáfama de vizinha pedreira. Eram os Zoelas, romanizados Zoelas, aculturações do desfilar do tempo, algures perdidas por entre rebentamentos da modernidade. É um arrepio da alma... Hei-de regressar a "Vallis de Cortisis"...