Bem Vindo às Cousas

Puri, se tchigou às COUSAS, beio pur'um magosto ou um bilhó, pur'um azedo ou um butelo, ou pur um cibinho d'izco d'adobo. Se calha, tamém hai puri irbanços, tchítcharos, repolgas, um carólo e ua pinga. As COUSAS num le dão c'o colheroto nim c'ua cajata nim cu'as'tanazes. Num alomba ua lostra nim um biqueiro nas gâmbias. Sêmos um tantinho 'stoubados, dàs bezes 'spritados, tchotchos e lapouços. S'aqui bem num fica sim nos arraiolos ou o meringalho. Nim apanha almorródias nim galiqueira. « - Anda'di, Amigo! Trai ua nabalha, assenta-te no motcho e incerta ó pão. Falemus e bubemus um copo até canearmos e nus pintcharmus pró lado! Nas COUSAS num se fica cum larota, nim sede nim couratcho d'ideias» SEJA BEM-VINDO AO MUNDO DAS COUSAS. COUSAS MACEDENSES E TRASMONTANAS, RECORDAÇÕES, UM PEDAÇO DE UM REINO MARAVILHOSO E UMA AMÁLGAMA DE IDEIAS. CONTAMOS COM AS SUAS :







quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Lampejos de ansiedade por Trás-os-Montes

Há locais assim, entranham-se, provocam um permanente regurgitar de saudade. Por vezes fazemos deles lana-caprina, mas é só na aparência de um quotidiano emoldurado a afazeres outros, contingências de migrante, edições diárias de acumular de uma fome que ganha proporções de monstruosidade. "Stou tchêinho de saudades de Macedo e dus mous ares stransmuntanos, c'um caralhitchas"!!! Foi só um efémero desabafo em forma de gargarejo da alma... Alivia, por instantes, o quase insuportável peso da distância, mas acalmar não faz a ânsia. Permanece o verdugo, qual atroz cumprimento de pena, sentença contra esta pregada impunidade de ter "botado tchôros ó mundo no mêo dos calhaus". É ineficaz, sei-o, mas tenho um anormal apreço por este tormento do espírito sempre que se aproxima uma incursão mais ao Reino das Fragas, Principado do Nada, Condado do Tudo. Regenera os dias, rejuvenesce o xisto que carrego nos genes, talvez seja acossado por "algu'alma do outro mundo, fique mêo spritado e tanham puri que me fazer uas mezinhas. Se calha ind'é a Maria que se desalapou da Fonte. Cmu quera"... Num breve mas intenso cerrar de pálpebras, percorre-me este arrepiante estremecimento de ubiquidade, duplo corpo com a metade de mim sentada numa qualquer esplanada da Agostinho Valente, a gémea a penar, longe sentada, incontido desejo de olhar o ponteiro dos segundos em hipersónica velocidade. Valham-me as letras... E valha-me esta aversão ao crescimento, muralha contranatura, numa volúpia dos sentidos de eterno retorno a infância nunca perdida. "Já le sinto o tcheiro ó Azibo, já se m'arregalum nas bistas co a Serra de Montemé, já se me botum os pur dentros desinquietos co a merenda na baranda do Ti Inberno, peliqueira a postos pra mais um carólo e um cibo de tchithco, ua pinga pur as goelas, um tantinho de queijo queimão e uns intremóços, seladinha de tomatos e pupinos, e tchítcharos puri, ua talhada de melão pra desinfastiar"... São os sons da terra parideira, desafinações de encantos tantos, orquestra em sinfonia de jamais inventados acordes. "Depeis, dixo-mo a intrenete - ua maringância dos cuputadores - hai uas festas por Macedo e um passêo ó luar no Azibo. E im Bregança aparece-se-me q'uns homes e uas mulheres bão fazer um triatro qualquera da Idade Mediebal no castelo"... Aproveitarei a deixa para uma visita ao Museu Abade de Baçal, exposição da ancestralidade, Ordo Zoelarvm a dizem. Correrá o tempo, ao compasso das águas do Azibo, do Sabor, do Tuela ou do Macedo. Ou de uma ribeira qualquer... O céu nocturno cobrir-se-á de ímpar beleza, concertos de grilos e noctívagos seres, algures onde a pacatez é abraçada a Nogueira e Bornes, saciada a Azibo, regada a fornalha do estio, num distinto aconchego do âmago. Como se a ternura fosse provida de regaço, e nos sentássemos no amparo de braços amputados das pedras. Ser Macedense e Trasmontano... Não se entende, não se explica, julgo nem se sentir também. Porque é sentimento a aguardar invenção de nomenclatura... Ou talvez se resuma à grandeza de uma distinta pequenez... Amanhã darei voz aos arrepios da epiderme, assim fale o tecido...


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