Bem Vindo às Cousas

Puri, se tchigou às COUSAS, beio pur'um magosto ou um bilhó, pur'um azedo ou um butelo, ou pur um cibinho d'izco d'adobo. Se calha, tamém hai puri irbanços, tchítcharos, repolgas, um carólo e ua pinga. As COUSAS num le dão c'o colheroto nim c'ua cajata nim cu'as'tanazes. Num alomba ua lostra nim um biqueiro nas gâmbias. Sêmos um tantinho 'stoubados, dàs bezes 'spritados, tchotchos e lapouços. S'aqui bem num fica sim nos arraiolos ou o meringalho. Nim apanha almorródias nim galiqueira. « - Anda'di, Amigo! Trai ua nabalha, assenta-te no motcho e incerta ó pão. Falemus e bubemus um copo até canearmos e nus pintcharmus pró lado! Nas COUSAS num se fica cum larota, nim sede nim couratcho d'ideias» SEJA BEM-VINDO AO MUNDO DAS COUSAS. COUSAS MACEDENSES E TRASMONTANAS, RECORDAÇÕES, UM PEDAÇO DE UM REINO MARAVILHOSO E UMA AMÁLGAMA DE IDEIAS. CONTAMOS COM AS SUAS :







domingo, 29 de agosto de 2010

Pur u q'à neitinha fáze frezquinhu'e...

A saudade, enquanto deturpação do espírito, é um malabarismo estupidamente português. Dizem-na um fenómeno parido de uma qualquer metamorfose em que um pincel ganhou vida e desatou a calcorrear uma tela de cores garridas, adulterando-lhes a essência, enegrecendo-lhes as entranhas. Depois... Bem, depois nasceu uma aberração em que um inusitado fenómeno de lixiviação transformou umas tonalidades musicais alegres numa coisa a que deram o nome de fado. O fado português... O fado do destino... O fado das lágrimas... A triste, responsável e sensata forma de colorir um pedaço de terra assemelhado a um rectângulo. Colorir ou, inúteis vozes, enterrar a cabeça na areia, aguardando que o destino coloque a cauda a sarapintar o céu de corantes que façam lacrimejar a mais alegre das almas. Passada esta espécie de diarreia mental, hora de insanos acometimentos à verdadeira saudade, aquela que brota de uma irresponsável forma de estar, estranhas raízes "lusitanas" o afirmam, que sentir saudade não é conforme hábitos de alegre sentir. Desequilíbrios à parte, atentando nas leis do fado, também sinto saudade. Uma estranha saudade em que a alma não chora, antes cerra as pálpebras para recobrar os sentidos de efeitos de estadias por terras do Martim, de Macedo o dizem. Alegremente sentindo o pulsar de uma terra que marca a fogo e aço a vivência de um cavaleiro que, desmesuradas bocas, perdeu o anonimato da identidade. Que se dane! Foi-se a incógnita, permaneceu a vontade de vomitar palavras! Desenhadas a orgulho e a outras coisas mais. Ou cousas... Que tentam ludibriar, positivamente diga-se, este execrável fado que celebra a profecia da desgraça... Prefiro, indubitavelmente, a graça sem "des". É mais cómoda e confortável. Mais não seja, ajuda a aliviar o fardo do vazio que se aloja em nós quando nos vemos privados de um mundo que julgamos nosso e do qual nos vemos amputados. É um pouco assim que me sinto. Estendi as palmilhas por Macedo durante uma efémera temporada e as agulhas desmagnetizaram, virou o sententrião a meridionais latitudes e confundiram-se os sentidos. Como se o Nordeste se tivesse transformado num qualquer algures situado nos antípodas. Mas está lá, no mesmo sítio de sempre, aconchegado a Bornes e Nogueira. Eu é que já lá não estou. Mas é como se estivesse, ao virar da esquina, numa qualquer esplanada da Agostinho Valente. Aspirando respiráveis ares desprovidos de essência a combustão. Como se sente a ausência dos ares de Bornes! E nem a brisa marítima consegue disfarçar os aromas do corrupio dos círculos de borracha corroídos pelo asfalto. As narinas hão-de resignar-se... Novamente... Faz parte do ciclo, até à interrupção para uma nova incursão de fim-de-semana. Num qualquer Setembro, ali ao pé, virado o augustino mês, numa breve angústia temporal, revivescências de trajectos sempre tidos, ou quase sempre, que o Marão é feito de travessias muitas. Numa "bota" onde o Norte e o Leste se cruzam, cumplicidades geradas pela inconfundível paixão onde a Terra Fria se tornou amante da Terra Quente, gerando uma prole talhada a Inverno e Inferno. Desta vez, ficou para trás o sufoco das tardes regadas a forno, o suspiro pelas noites arrefecidas pelo brilho estelar. Há sempre o reverso da medalha. De um lado, as saudades... Do outro, um ansiado sossego nocturno, sem janelas abertas para que entre a atmosfera retemperadora da escuridão. O Atlântico tem destas coisas: "à neitinha fáze frezquinhu'e"... Ufa!!!

2 comentários:

Virgínia do Carmo disse...

Tenho uma ideia parecida da saudade! Aliás, não me considero saudosista! Gosto de me lembrar das coisas e das pessoas com sorrisos! E acredito que se isso nem sempre acontece, é porque nem sempre se viveu bem cada momento...
- Gostei muito do texto! -

Um abraço salpicado de sal do Atlântico, mas mais do sul!

Cavaleiro Andante disse...

Obrigado!
O saudosismo apenas é saudável quando acompanhado de um sorriso...

Curiosamente, o sal apenas chegou ao Atlântico Norte no dia em que começou a chover de forma copiosa... :)