Desmazelo dos dias, há anos não me aventurava pela freguesia de Cortiços, terra de Fidalgos, extinta sede concelhia por reformas de finais de XIX. Por lá permanecem testemunhos de glórias outras, o tempo não lhes apaga o rasto ou, adulterando-o, transforma vestígios do passado em esqueleto de muros. Histórias outras... Depois, a obra de visionários, gente que culto presta às vozes que voz lhe deram. Entrar no Museu do Azeite é abdicar do tormento de pensar que o abandono da génese é geral. Ainda há resistência à perda de identidade! É como se penetrássemos num inexpugnável castelo, feito de pedras como elevadas eram muralhas, permissão dando aos sentidos para invadidos serem a cada estocada de idos tempos. Permaneceu o voraz apetite de um regresso, mais calmo, menos efémero. Em cada canto do espaço sente-se o pulsar de cada fenómeno nele retratado, como se por ali permanecessem os homens e mulheres que vida lhe deram. O cicerone, privado conhecedor de cada pedaço do recheio, contagia-nos com a simplicidade do seu entusiasmo, elevando cada peça a um patamar de quase idolatria pela história que nela repousa. E sentimo-nos escoltados por resistentes da Monarquia, ou por Zoelas que do Cramanchão fizeram habitat, ou por gente simples que afagava azeitonas tranformando-as em ouro líquido. Depois, não resisti ao desafio de observar de perto plágios de "rodas de raios curvos" esculpidas em santo lugar, ou exemplar outro lá para o abandono de uma casa na Cernadela. De permeio, a escalada a um muro, por lá se encontra incrustado pedaço de pedra que de mó manual serviu e, altaneira, a que a tampa de sepultura medieval se assemelha, gravados caracteres para futura decifração. É um estranho apelo este... Alicerçado num não menos estranho sentir. Cousas... Cousas que impelem a um desvio ao Cramanchão, riqueza guardada por espessa vegetação, num silêncio quebrado pela azáfama de vizinha pedreira. Eram os Zoelas, romanizados Zoelas, aculturações do desfilar do tempo, algures perdidas por entre rebentamentos da modernidade. É um arrepio da alma... Hei-de regressar a "Vallis de Cortisis"...
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