terça-feira, 17 de agosto de 2010

Sufocos da impunidade

Talvez seja o restolho da penitência de almas que vagueiam por pecados nunca tidos. Ou a impunidade reduzida a um nevoeiro assassino onde mal se vislumbra o negro de morte. Mas cheira! A homicídio, a declarado homicídio! Por enquanto, por nobres terras aconchegadas a Bornes e a Nogueira, o atroz inferno tem-se resumido à aspereza dos três do ditado. E à efemeridade de uns fogachos que apenas chamuscam a terra sedenta. Por enquanto... Não sei quanto mais haverá para arder no Gerês ou na Estrela. Os ventos da morte virar-se-ão, mais dia menos dia, para o reino olvidado. Não são as mediáticas imagens televisivas que me alimentam a angústia. Este tormento da alma tem causas que residem muito para lá das mãos assassinas de quem queima o meu país. O pão bolorento que dá alimento a esta estranha ansiedade é fermentado em inacessíveis corredores onde se cozinha fósforo e rastilho, fervilhantes mentes que ainda hão-de legislar contra os lobos que fumam de madrugada, contra coelhos em algazarra por patuscadas nocturnas com javalis por companhia, contra veados que ateiam fogos para suavizar a digestão das herbáceas... O que me sufoca não é a atmosfera pintada a cinza, nem o intragável cheiro a pulmão verde queimado. O que verdadeiramente me sufoca é a política de terra queimada, onde sobrevivem iluminados seres que não têm os "armazéns genéticos" no sítio para pôr cobro a uma calamidade anunciada. Viva a política do "termo de identidade e residência"! Entretanto, pode ser que vejamos mais ministros em hipócritas condolências por bravos que tombam assassinados por obscuros interesses que não me obscurecem o discernimento. Incendiárias formas de não deixar prostrar a voz que ecoa da revolta das cinzas...

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