terça-feira, 21 de junho de 2011

A ansiedade das pedras


As pedras, perscrute-se-lhes o âmago, insondáveis palpitações de vida o clamará a descrença, dotadas que estão da lucidez de um cúmplice afago. Encoste-se-lhes o ouvido no lado contrário do paradoxo, de mansinho, sem recurso a brusco despertar. Resgate-se o estetoscópio de sublime fantasia, invisibilidade no seu eterno mergulho nos recônditos da alma, activem-se sensibilidades auditivas pela genética contrariadas, apele-se à fugacidade de um efémero beliscar dos sentidos. E estarão lá, bem ao lado do oposto, esquivos, camuflados, numa arredondada esquina do nunca, cardíacos batimentos pétreos, ténues, imperceptíveis, indecifráveis formas de vida onde diz a lógica repousar o inerte. Afinidades que compêndios de Geologia decifrar não sabem... Sabem-no os estreitos e impalpáveis caracteres desenhados a pactos de sangue, xísticos, graníticos, quartzíticos, "íticos" outros mais, petrificados à nascença numa inverosímil geminação que naturais leis contrariam. É a essência do metafísico, do inentendível, linguajar do silêncio, como se da obliteração do som rompessem lexicais formas intraduzíveis, sem recurso a universal dicionário que lhes aclare o significado. Bastante é ser efectivo membro da Confraria das Pedras, intrínseca adesão ao choro primeiro, para carregar esta estranha simbiose que me dota da infame capacidade de escutar a mudez das pedras, falando para surdos seres. Há demências piores... Sirva-lhe a assumpção de atenuante ao juízo dos mortais. Não desminto orgulhosas insanidades: fito em desmesurada estupefacção a fisiologia das pedras, permissão dou a proibida paixão, acossado por estranhos e penetrantes olhares de volúpia, inenarrável desejo pelo que indesejável é, o dizem os manuais dos bons costumes e de não menos boas maneiras. É a perversidade de ser filho das pedras, estranha prole o sou, enraizado na imobilidade, vergado a um pétreo sagrado, altares muitos de monotonia pouca, na grandeza desenhada a formas tantas, altivas por vezes, rastejantes outras. É controverso tentar explicar o inexplicável, abala os sentidos apenas, talvez seja uma arquitectura com arcos de imperfeita volta, ou encavalitados pedaços de petrogénese vergados ao suor dos homens. Sei lá o que é! Ou sei, de privadas confissões de imperfeitos amores, secretas confidências que auscultam a ansiedade das pedras... E a suave angústia de lhes tocar os sentidos... Amanhã...

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