
Ao lusco-fusco, o horizonte apareceu carregado a homicídio. Uma negra coluna de fumo erguia-se assustadoramente, impregnando o ar daquele putrefacto aroma a vida queimada. E as televisões regozijam... Neste país de profecia da desgraça, interessa preencher os telejornais com situações catastróficas, forma acabada de manipular as mentes através do medo. Anestesie-se a gente, bloqueie-se a capacidade de pensar e castre-se a segurança. Porque é isso que interessa... Ao olhar para mais um exemplo da impunidade que permite que continuemos a arder, lembrei-me de Bornes, do verde da serra e dos momentos que por lá passei a percorrer-lhe as entranhas.

E fiquei impaciente, anormalmente impaciente. Atrevi-me a emoldurar os arrepios numa qualquer meditação que me afastasse os maus pensamentos. Mas os ditos persistiram até ter resolvido colmatar a angústia revendo as muitas fotos através das quais fui captando o tutano da serra. Serviram de bálsamo ao tormento de fazer futurologia catastrófica... Afinal de contas, a "minha" serra ainda está (por enquanto) virgem no que respeita aos malfadados incêndios. Até quando? Na minha pacata forma de estar até consigo compreender a existência de pirómanos. Para o que não tenho compreensão é para aqueles que revelam uma atroz incapacidade de deter o monstro. Interesses paralelos... Eu só não quero que queimem a "minha" serra, nem as serras dos outros... E, já agora, caso não seja pedir muito, apanhem os incendiários e mandem-nos para umas prolongadas férias nas Berlengas... Ou nas Desertas... De preferênica com as mãos amputadas. Assim mesmo!
Sem comentários:
Enviar um comentário