quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Crónica de umas férias anunciadas


Ano após ano o ritual repete-se, assumindo uma forma de deja-vu. Elabora-se a lista das coisas a não esquecer (esquece-se sempre alguma coisa…), atulha-se a mala do carro de forma a assemelhar-se a uma viatura com destino a alguma feira (cabe sempre mais alguma coisa de última hora…) e inicia-se a aventura para mais um estágio por terras macedenses. A etapa de quase 200 km é efectuada em modo de piloto automático, seguindo o trajecto de sempre… Utilizando os protestos de sempre, com as “lesmas” que tornam o IP4 ainda mais lento… E sentindo a mesma ansiedade de sempre em rever as gentes e os locais que contribuem para o desenho daquilo que sou. Apesar da repetição de procedimentos, uma qualquer ida a Macedo não perde o encanto. A emoção da subida do Marão e o vislumbre das barreiras que serviram de baptismo à minha região transportam-me para um mundo onde não sinto os efeitos dos males da vida moderna. Internar-me em Trás-os-Montes equivale a uma terapia cujos frutos são representados por uma paragem no tempo. Não fico mais jovem, mas também sinto um bloqueio no envelhecimento. A visão de mares de pedras, de rios de cores e de montes e planaltos que ondulam no horizonte, desafia o carrasco que o tempo é, silenciando-lhe o tic-tac dos ponteiros. A chegada a Macedo é sempre revivida com o entusiasmo que sentia quando a mala do carro era substituída por uma mochila às costas e a entrada não se dava pelo lado de Travanca mas sim pelo da Estação… Seja tarde ou cedo, a “avó” tem sempre à espera os “miminhos”, um inigualável sorriso e uma qualquer novidade para contar. Renovam-se afectos e histórias antigas… E revisitam-se as obras de arte que ela vai produzindo no jardim, apreciando-se as novidades, reapreciando-se as que o não são. Estranhamente, está fresco. Não se sente a entrada no genuíno mês do estio. A manhã de Sábado brinda-nos com um cocktail de vento e chuva intensos, ocultando o astro-rei que, pela lógica da sucessão de estações, deveria estar a contribuir para a canícula que se encontra arredia. Para esta alma que se sente mal com o excesso de calor é uma bênção… No entanto, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. A viagem matinal até Bragança traduziu-se num desafio ao equilíbrio na trajectória do IP4, tal a intensidade com que as bátegas investiam contra o pára-brisas, deixando no asfalto a imagem de um rio negro selvagem. Na noite de Sábado alguém se lembrou de ligar a ventilação no frio e o largo de Lamas transformou-se num arca congeladora para os que pretendiam assistir ao despique entre bandas filarmónicas. Valeu pelos reencontros com velhos amigos e conhecidos… E pelas promessas de novos reencontros de carácter dominical, com prática desportiva de “halterocopia” como treino para o derby futebolístico que haveria de ocorrer no dia seguinte…

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