Bem Vindo às Cousas

Puri, se tchigou às COUSAS, beio pur'um magosto ou um bilhó, pur'um azedo ou um butelo, ou pur um cibinho d'izco d'adobo. Se calha, tamém hai puri irbanços, tchítcharos, repolgas, um carólo e ua pinga. As COUSAS num le dão c'o colheroto nim c'ua cajata nim cu'as'tanazes. Num alomba ua lostra nim um biqueiro nas gâmbias. Sêmos um tantinho 'stoubados, dàs bezes 'spritados, tchotchos e lapouços. S'aqui bem num fica sim nos arraiolos ou o meringalho. Nim apanha almorródias nim galiqueira. « - Anda'di, Amigo! Trai ua nabalha, assenta-te no motcho e incerta ó pão. Falemus e bubemus um copo até canearmos e nus pintcharmus pró lado! Nas COUSAS num se fica cum larota, nim sede nim couratcho d'ideias» SEJA BEM-VINDO AO MUNDO DAS COUSAS. COUSAS MACEDENSES E TRASMONTANAS, RECORDAÇÕES, UM PEDAÇO DE UM REINO MARAVILHOSO E UMA AMÁLGAMA DE IDEIAS. CONTAMOS COM AS SUAS :







sábado, 21 de julho de 2012

Segadas de intenso sentir por terras de Morais

Volatiliza-se o tempo, ensimesmado, o peso das pálpebras parece flutuar na excitação de revivescências que aproximação têm. Dentro de horas poucas, há que madrugar, o diz gente de árduas tarefas, ajeitam-se electrónicos ponteiros de um duo de despertadores, não vá Morfeu tecê-las. Desperta-se, ainda o galo não cantou, pois se galináceos já a "vila" não povoam, neurónios em agitação, descoordenados movimentos de uma falsa percepção do dia que há pouco a noite abandonou. Na refrega de uma batalha entre a vontade de ir e o peso do conforto de um leito, vence a primeira, saber-se-á lá por que armas. «Tá a despatchare, meninos, c'um catantcho, bamos prá segada!!! Drumis na biaige»... Tenta-se avivar a ancestralidade com tonalidades nascidas das pedras... O breve percurso pedestre até ao Jardim reaviva a noção, matinal frescura a sacudir o escalpe, incrementa a força que parece finar. Já esperam os companheiros de jornada... Estremunhadas mentes em alvoroço, à direita, metálico e alvo arvoredo da serra em saudação, Castelãos já lá vai, palavra puxa palavra, o Santo Ambrósio nunca pareceu tão perto, Limãos em recepção a crentes nas tradições. Penetra-se num distinto planeta de terras coloridas a sangue, parece aqui residir xística hemoglobina, Umbigo do Mundo, o Rheic suprimido por sequências de um qualquer sei lá, alóctones às "carritchas" de autóctones, geológicas linguagens, ou pedras que contam a estratigrafia do tempo. Há milhões de anos não havia segadas... Ao virar da curva, "santandre de moraaes", refastelado ao abrigo da Paixão, histórias muitas de lonjuras tantas, a Senhora do Monte as guardará. O ajuntamento grande não é, aqui e ali, um vestígio do que se seguirá. Talvez a camarada de segadores fotógrafos tenha dado corda em demasia ao relógio... Subitamente, o aglomerado ganha outro colorido, olhares de soslaio aos forasteiros, chega o Sr. Joaquim para fazer as honras da casa, distinto defensor da terra, venha de lá a "mãozada" de virtual amigo de sociais redes! A descendência insiste em abstrair-se do mundo, sonos por dormir, há sempre um improvisado banco para refastelar o peso de uma noite mais breve que o habitual. Arrancam as tropas, chapéus de palha a condizer, típicos trajes de outrora, afiam-se foices para cerealífera guerra, segue o jumento no cortejo, regalam-se as vistas com o que inusual vai sendo. Sorrisos em riste, um apetrecho aqui, outro acolá, vinho há-de haver para refrescar os "por dentros", que a faina enrijece os músculos mas desgasta o estômago. Começa a refrega, discutidos preços, pareceu-me ouvir "setent'e cinco scudos, bôs tempos que bu-jiu digo ou!". Agora é tudo "im ouros"... Ah, valentes! Vai tombando o cereal, avança o pelotão sem grande resistência, merecido retemperar de forças a vínico sentir, ou água para compensar. Chegam retardatários, faces emolduradas a vontade, um sorriso mais, distinta gente que aquece a alma. De súbito, ouvem-se vozes ao desafio, cantarolar aqui, uma piada que surge do nada, gargalhadas entrecortadas por mais um copo para amansar a dureza de ressequidas gargantas. Vai-se erguendo o astro, despoja-se o corpo das vestes protectoras de matinal brisa, vão-se debatendo inferiores extremidades com as estocadas do restolho. Quem por gosto corre, não cansa... Saltita-se para direita, apressa-se o passo para a esquerda, tenta obter-se o melhor ângulo. Desatam-se as cordas do fascínio, poderosos momentos que apaixonam, inexplicável intensidade de um Reino, saudades do futuro ou qualquer paradoxo que não cabe no universo das palavras. Acaricia-se o orgulho nestas terras com sorrisos em alternância com desregrada emoção, talvez apeteça soltar uma qualquer lágrima, regressões ao pó da infância. Desvia-se o olhar para hábeis mãos que o tempo curou, marcas que apetece registar, é indescritível a "proa" que vai assaltando o que escreve. Soltam-se registos nunca registados, perenidade de memórias que se julgavam caducas, um trinar de inexistentes cordas desafinadas, talvez sejam alinhados "stadulhos", corre-se desenfreadamente em direcção àquela melodia tão familiar, canto de carpideira, o chiar de um carro de bois! Sente-se um estranho aperto no peito, atroz felicidade, se a há. Arrepiante, inenarrável, vulgariza-se o tempo na efemeridade de um segundo, o sabor da eternidade guardado num frasco desenhado a objectiva. Fui bafejado pela lotaria da imortalidade, gravada naquele momento de um concerto a duas rodas! Alguém tivesse percebido o olhar de criança e veria o resgate do encantamento de uma qualquer infância passada entre montes e vales. Cousas de um Reino Encantado... Pegue-se na "spalhadoura", desafie-se a gravidade, mansa junta em apego à terra, orgulho dos donos, que "mim contcha" que estava a gente! O alvoroço dos dias... Carros carregados, arfam os bichos para a posteridade, sorriem segadores com a colheita. Hora de retemperar energias, há-de o almoço chegar, avolumam-se conversas na permanência de uma sombra. Afaga-se o dorso da imponência, num Trás-os-Montes que definhando vai, abre-se um ficheiro especial para recuperar memórias no porvir. Um registo mais, apenas, e outro mais de seguida, parecem as opções exceder a capacidade de retenção. Inclui-se um plano mais, só mais outro, e ainda outro mais. Aproxima-se o calor da hospitalidade, convidados estamos para o repasto. E que repasto! Opíparo, suculento, saboroso! A simplicidade das coisas inesquecíveis: as sopas da segada! «-E atão num bota ua pinga?»... Claro que sim, para aconchegar! Ainda há lugares assim, onde se aplaca a sede com a pureza de gestos simples. Ainda há gente assim, que nos aconchega a alma com a sua grandeza. São sentimentos que apenas se sentem... A gratidão é um deles... Obrigado, gentes de Morais! Talvez para o próximo ano possa ficar para a malhada, "pra buber mais ua pinga"...    

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Azibo - a Oitava Maravilha


Engrandecer o que à nascença detentor já era de enormidade poderá soar à tecelagem de uma pegajosa teia justificável pelo apego à génese. Corre-se o risco de sublimar o sublime, metamorfoses em aracnídeo que emaranha fios de letras, desconexas, em suave deambulação pelas pedras do éden... Talvez agora engrosse o pelotão dos crentes no Inferno; afinal, o Paraíso existe... O Azibo nem é, sequer, um local... é um entrelaçado de coisas que roçam o intangível, fronteiras traçadas a imaginário, solo opaco de transparências tantas, o infinito alcançável na inatingibilidade do finito. Talvez tudo não passe de uma incestuosa paixão, na lascívia do pecaminoso, fusões de água e fogo, indistinto corte de umbilical cordão, tal a incapacidade do tempo para ocultar a ligação. Sentir-me-ei um Carlos da Maia em luxuriante apreço pela inconfundível beleza de Maria Eduarda... Ou, contemporâneas contenções, um Sete-Sóis em amena contemplação a Sete-Luas. Seja o que for, é uma paixão de imberbes sinaléticas, indómitos arrepios e um palpitar de saudade sempre que a distância temporal supera o emocionalmente razoável.
O Azibo é uma sequência de emoções intraduzível, transpiração do âmago, sente-se ou não se sente ou, de anciãos a herança, quem a feio ama, bonito lhe parece... Suspeito serei, nesta incontrolável chama que consome, fogo ardente, história de vida que inúmeras vezes se confunde, vigores da adolescência amansados por inolvidáveis finais de tarde. Nesses idos 80, novidade da paixão, loucuras tantas, a insanidade de travessia da albufeira de "escadinhas" a "escadinhas", intempéries de um querer não amestrado, rebeldia em fusões de corpo e água. Era assim, não poderia ser de forma outra, os meses de inferno clamavam pelo que lhes aplacasse a fúria. Transfigurava-se o Azibo em bálsamo, aquática força bruta que acariciava epidermes ressequidas pelo fulgor do estio, tapa-vento líquido, parecia ensandecer a adolescência em arriscadas manobras de tropelias de anfíbios.
Cresceu a dona, da maturidade se fez o deslumbre, magnificência adornada a voos de rapina, sons de orquestra em polifónico timbre, surpresa aqui, arrepio dos sentidos acolá. Ou a redescoberta de incontidas paixões, o tempo bloqueia por lá, e regride-se. A inenarráveis tempos nunca existidos, súbitos desejos de saltar para a Ilha do Fidalgo e absorver indecifráveis histórias gravadas nas rochas, petroglifos da memória, ritualizações do endeusamento do espaço. Devagar, sem pressas, com asas discretas, planadas incursões a telas abraçadas pelo beijo do sol poente. Sente-se a brisa de lendas muitas, mitos em alvoroço, remoinhos de danças ao demo, Lua Cheia nas encruzilhadas espelhada, o dizem as crenças. Prende-se o horizonte com o olhar, sobre a Fraga da Pegada mirando, inala-se a atmosfera dos dias, a praia da Ribeira ao fundo, corre a imaginação pela superfície de calmas águas, sorve-se gelada bebida na esplanada batida por refrescantes imagens de coloridos navegadores em permanente algazarra. Policrómico tecido de água entre montes encravado... Breve intensidade de um desenho em prolongamento de uma qualquer fragilidade do ser, sinto-me pequeno na presença de ambientes assim... Limito-me a penetrar-lhe nas entranhas, apenas porque se entranha. Talvez seja uma das 7 Maravilhas. Para mim, é a Oitava, insistentemente diferente...  

domingo, 1 de julho de 2012

Poetizar a província...


De mansinho, somos sonegados à pacatez da Pereira Charula. Uma estranha e profética visão apodera-se dos sentidos, rumores da diferença, apega-se a alma a imagens outras, vulgarizam-se memórias de românticas varandas de um romântico tempo em que a Rua da Praça ir desembocar na Praça. Tempo de desencarcerar os pleonasmos, soltando eufemismos, e vivas dando a figuras de estilo sem estilo algum. São os recursos expressivos, ou coisa que o valha... Divorciei-me da gramática, separei-me da morfologia das letras, etimologicamente desprovido de sintaxe, peremptoriamente afirmam os iluminados que regressões tive a idos tempos de iluminações outras, a petróleo talvez, ou às avessas candeias. O candeeiro é, hoje, outro, furtem-me a comida, que a fome não roubam. Porque os livros estão lá, à passagem da esquina da difamação, penetra-se num mundo de ilusões, aspira-se a inebriante voz das letras. De repente, um idílico mundo em que as cepas se vêem adornadas a cachos de letras, doces ou amargas, verdes ou maduras, folheia-se o tempo que pára subitamente, à medida que um quadro de negra tela se vai ofuscando por detrás de pinceladas de giz, aquele mesmo que preenchia lousas em recuadas épocas em que os pais, ingénuos seres de outrora, amputados não eram da prole.
Por entre umas baforadas de capas e contra-capas, entorta o olhar para a esquerda, alterne-se com a direita, a fermentação de fonemas interrompida pela embriaguez de sorrisos, recatadas faces, a Alice, disponibilidade do ser, a Virgínia, mestre de letras, encantadora de serpentes da escrita, no seu mundo pintado a alvinegro, colorido pela inefável, por vezes, magnânime presença da contagiante D. Ana. Solitário remador na presença de navegadores em barcos de papel... Ou o universo traçado a pena, indecifráveis tintas, da China, ou doutro lado qualquer. Folga o costado de quotidianos sentires, aplaca-se a sede de indizíveis vazios, sorve-se o tempo num alienígena espaço, que a Física tudo não explica, venham o Hawking ou o Albert, conceptualize-se a relatividade da quântica, relativizem-se livrescos quasares, quantifiquem-se negros buracos literários. Opte-se, então, por descer a telúrico planeta, percorram-se os meridianos, pausa para simpático e reconfortante café, duas de letra o dizem, o conforto de uma troca, voam ideias. De tempos a tempos, poéticos saraus, afinidades na partilha ou, novos autores, consagrados outros, preencha-se o serão a velas, luminosidades de encanto, intimista, familiar, na proximidade de um circo de letras, sopa de feras de signos conjugados a sentir.
Vezes outras, empreendedorismo o clamam, ganha o ambiente nobres aromas, excitam-se estomacais fluídos, revisitem-se Isabel ou Laura, venere-se Afrodite ou retempere-se a alma a chocolate, cocktails de excêntricos sabores, ou o sabor das compotas da Lu. Tempera-se a noite a espasmos de gulodice, condimentos do exotismo da D.Virgínia, ou da descendente Joana, uma deglutição mais, poetiza-se a comida, como uma sequência de estrofes do paladar, saliva em ebulição, versos de sabor e alma. Encontram-se anormais rimas entre framboesa e maçã, nêsperas de outra galáxia, gustativas papilas em reboliço, funde-se a amálgama num vulcão rodeado de livros. 
Há espaços assim por Trás-os-Montes, bem no coração do Nordeste, ponto oitavo de Pires Cabral, Terras de Cavaleiros, no despovoamento povoada por locais de eleição, louvores ao sonho em realidade transfigurado. Há simbioses dos sentidos que valem a pena...