Bem Vindo às Cousas

Puri, se tchigou às COUSAS, beio pur'um magosto ou um bilhó, pur'um azedo ou um butelo, ou pur um cibinho d'izco d'adobo. Se calha, tamém hai puri irbanços, tchítcharos, repolgas, um carólo e ua pinga. As COUSAS num le dão c'o colheroto nim c'ua cajata nim cu'as'tanazes. Num alomba ua lostra nim um biqueiro nas gâmbias. Sêmos um tantinho 'stoubados, dàs bezes 'spritados, tchotchos e lapouços. S'aqui bem num fica sim nos arraiolos ou o meringalho. Nim apanha almorródias nim galiqueira. « - Anda'di, Amigo! Trai ua nabalha, assenta-te no motcho e incerta ó pão. Falemus e bubemus um copo até canearmos e nus pintcharmus pró lado! Nas COUSAS num se fica cum larota, nim sede nim couratcho d'ideias» SEJA BEM-VINDO AO MUNDO DAS COUSAS. COUSAS MACEDENSES E TRASMONTANAS, RECORDAÇÕES, UM PEDAÇO DE UM REINO MARAVILHOSO E UMA AMÁLGAMA DE IDEIAS. CONTAMOS COM AS SUAS :







segunda-feira, 17 de maio de 2010

Desconexões nostálgicas

"...Trás os Montes é um berço onde tenho de nascer todas as horas e morrer um dia..." - Miguel Torga



Trás-os-Montes é um berço onde renasço... E onde tenho de regressar um dia... Nem que para finar seja... A cada incursão, sinto que, tal como Torga, vou para lá receber ordens, dos meus antepassados. Não é um vulgar chamamento, antes é uma purga da alma, desinfestação interior que me livre dos patogénicos agentes que me corrompem as entranhas de xisto. A verdade é que a terra bravia me regenera o espírito, como se a natural sequência fosse exposta a uma regressão de rejuvenescimento. Pode soar a humana insanidade, mas uma travessia do Marão (ou do Alvão, enquando o IP4 assiste à sua sentença) representa um vínculo com a eterna juventude. Não há druidas ou poções mágicas, apenas resistem os seus fantasmas. Em forma de vento que irrompe do nada para fustigar serranias, ou de um simples pardal que lhe faz frente num desaustinado movimento alado. Ou a canícula que faz gotejar uma face esgotada, sede de um retemperador mergulho em riachos com histórias para contar. Ou no Azibo, simplesmente... Formas temperadas a ser, misturas de nada onde reina o tudo. E um velho que passa, sorriso terno, desconfiado, rugas do tempo marcadas num semblante tostado pelo sol. "Atão, num é de cá, peis não?"... "Ah carvalho ma racosa, atão é filho de fulano? Já mu pudia ter dito! Bote lá comigo que puri inda bubemos um copo! Olhe q'a nha pinga num se fica atrás dessas murraças que se bendim no Lidére, ou lá no que caralhitchas é! Num sei pur onde anda a minha, mas já lu digo que fica mim contcha si'u lebo lá a casa!"... Mas não, fica sempre para uma qualquer outra vez, que os "pur dentros" já não estão vocacionados para abusos do passado, recuadas épocas em que negação não haveria à hospitalidade do copo. Lascas de presunto por companhia, navalhas afiadas pelo esmero, ancestrais funções de pedras "afiadeiras" resguardadas do esquecimento, num qualquer canto à beira da adega. "Carabunhas" lançadas no vazio, poço de infindados desejos sem mácula, sonhos de uma infância sempre revivida e nunca perdida. É a perdição do espaço, num tempo que dá razão a Einstein, porque os ponteiros entram numa greve de zelo, retardando o sol no zénite ou prolongando o estremecimento do silêncio das constelações que nos cobrem. Como se o sol reinasse de noite e as estrelas se espraiassem num dos areais do Azibo. Contrastes de um longínquo uivo com um bramido perdido, sombras que pairam num Reino Esquecido. Como se Banreses tivesse estendido os seus braços do abandono, suspiro de uma ressuscitação sempre adiada, num abraço fraterno entre iguais. Mais não seja, em jeito de profecia... Talvez isto seja a antítese do transmontano que sou... Gosto de brindar a minha terra com um sorriso mas, por vezes, a saudade amputa-me da capacidade de distender os lábios e a pena limita-se a desenhar desconexos signos de nostalgia... Amanhã passa... "Ou num tu dixo?"...

5 comentários:

Anónimo disse...

Bom dia.
Caro Transmontano(permita-me que assim o trate)nao sou nascido no Reino Maravilhoso mas hà vinte anos descobri-o e como qualquer pessoa de bom senso ,apaixonei-me por T.M.
Todas as manhas ao peq. almoço (bebo )as palavras que o sr. aqui "bota". Bem haja e continue sempre. É de gente como o sr que essa terra foi feita.
Saudaçoes Transmontanas.
José Vicente (Lourinhã)
jeusebiov@hotmail.com

Antero Neto disse...

Fantásticas palavras. Dignas do Mestre invocado, que concerteza nãos a rejeitaria. Essa do copo de vinho traz-me à memória o meu vizinho da frente, em Bruçó. "Atão num bubemos um copo? Estano está bem bô!"
E eu a desculpar-me, a dizer que tenho que conduzir até à "bila". Mas não adianta. Lá tenho que emborcar, de golada, um copo de zurrapa azeda, que me é servida como se fosse o último dos requintados néctares vínicos.
Felizmente ainda há gente assim...

deep disse...

Partir é, muitas vezes, uma necessidade - para se voltar em paz, para se dar valor ao que se "perdeu".

Por norma, o transmontano é acolhedor e fica ofendido se não se aceita o que oferece de coração.

Bom resto de semana. :)

António Magalhães disse...

Costumo dizer que me fai munto bem e num sei de mézinha tão boa para as minhas costelas de Brunhoso como ir à ladeira no Inverno à azeitona. Ao longo da minha vida e sempre que posso lá vou um dia por ano.
Como a ladeira é lonje do pobo e o meu pai era um bocado pesado, para não ocupar uma besta à vinda para casa, passou o comando do rancho ao filho mais velho que fazia de capataz. Quando o capataz ia para a tropa passava o testemunho ao seguinte. Quando chegou a minha vez, já gandulo, assumi também a função! O trabalho era igual ao dos outros irmãos mais novos, estender as mantas, mais tarde o tolde, barejar, "tolde fora", limpar a rama (quase fazíamos a poda da oliveira com as varas!), ensacar e ir para outra oliveira.
No final do dia, quando só já houvesse uma hora de sol, o capataz tinha ainda a função de limpar a azeitona. Era aquele jeitinho que se tinha que dar à pá para o vento arrastar as folhas e a azeitona cair toda juntinha na manta.Esta tarefa só era possível porque estava sempre ao lado a bota do binho!
Mais tarde apareceram aqueles aparelhos que já permitiam que se limpasse no pobo. Agora já nem é preciso que os lagares fazem isso. Dizem os mais velhos que ozeite já não é o mesmo por deixarem as folhas juntas com a azeitona!
Já nem falo das merendas, porque com aquele ar e com esforço físico, não havia melhor!

Já vou longo, mas são as saudades!

A Magalhães

Cavaleiro Andante disse...

Caro José Vicente, fico bastante grato com o seu comentário. E tem toda a permissão do mundo para me tratar por Transmontano. É um orgulho! :)

Caro Antero, espero que o Mestre não ande às voltas no túmulo com o comentário. Sem ainda estar no túmulo (espero que ainda tarde longos e bons anos), fiquei eu às voltas. Envaidecido por tão elogiosas palavras... :)

Cara Deep, pões-me sempre a sorrir... :)

Caro António, são sempre fantásticas as suas partilhas! :)